O uso da maconha e os princípios bíblicos

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O uso da maconha e os princípios bíblicos

E nós que cremos em Cristo deveríamos nos ver deste modo: não mais como escravos do pecado corrompidos e perdidos, mas como pessoas que foram criadas de novo em Cristo Jesus.[1]

Um tema que recentemente ganhou destaque devido a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil: a descriminalização do porte de maconha para uso pessoal foi destacada. Essa decisão, que tem implicações profundas para nossa sociedade e para nós como cristãos, desafia-nos a buscar discernimento e orientação na Palavra de Deus.

Esse tema é de suma importância porque a maconha é a droga ilícita mais consumida[2], principalmente entre os mais jovens, em solo brasileiro. Isso significa dizer que há uma grande possibilidade de que haja uma quantidade significativa de pessoas que frequentam a nossa comunidade de fé, possuir algum tipo de problema relacionado ao uso pessoal da maconha.

Portanto, mesmo que a maconha ou outras drogas ilícitas não sejam mais consideradas um crime, será que o cristão poderá fazer livremente o uso de tais substâncias? Será que a Bíblia proíbe expressamente o uso de drogas ilícitas?

Inicialmente, é importante destacar que não há nenhum texto bíblico que diga algo do tipo “não usarás drogas alucinógenas”.[3] Mas dedutivamente podemos inferir que as Escrituras é terminantemente contrária ao uso de drogas alucinógenas. Em segundo lugar, vale ressaltar que este breve artigo não discute o uso da maconha medicinal[4], mas trata especificamente sobre o uso da maconha natural.

Vejamos, em síntese, alguns motivos pelos quais o cristão não deveria de maneira alguma se envolver com a maconha natural ou com qualquer tipo de droga alucinógena.

 

Um chamado à santidade

Em primeiro lugar, somos chamados à santidade. Em 1 Pedro 1.15-16, somos exortados à busca pela santidade. O texto segue dizendo: “pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (ARA).

O chamado à santidade é um convite de Deus para que Seus filhos vivam de acordo com Seus princípios, refletindo Seu caráter em todas as áreas da vida. A santidade não é apenas um estado de pureza moral, mas um compromisso contínuo de separação do pecado e dedicação total a Deus.

De acordo com a Bíblia, há um chamado para vivermos de forma santa e piedosa, buscando sempre glorificar a Deus em tudo o que é feito (1 Coríntios 10.31). Em Efésios 5.18, somos advertidos: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito” (ARA). Esse versículo aplica-se a qualquer substância que altere nossa mente e nos afaste da sobriedade necessária para viver uma vida cristã em santidade.

A santidade se manifesta em nossas ações, pensamentos e palavras. Devemos buscar a santificação em nossa conduta cotidiana, evitando práticas que levam ao pecado e adotando hábitos que promovam a santidade pessoal e a glória de Deus. Isso inclui a integridade com que nos comportamos em casa, na escola, faculdade, na vizinhança, no trabalho, bem como a pureza em nossos relacionamentos e a honestidade em nossas ações e palavras (Hb 12.14). O pastor e reformador de Genebra João Calvino diz que “[…] todos os piedosos devem aspirar à meta de um dia serem capazes de comparecer imaculados e inculpáveis perante a face de Deus. Mas, uma vez que a melhor e mais excelente expressão da presente vida é uma escalada progressiva, chegaremos finalmente a essa meta quando nos unirmos plenamente ao Senhor, despojando-nos desta carne de pecado”[5]

Buscar a santidade, portanto, é um desafio, especialmente em um mundo em que frequentemente valoriza o oposto. Para tal, devemos andar no Espírito (Gl 5.16).

Em suma, o chamado à santidade é um aspecto essencial da vida cristã. Somos chamados a viver de maneira que reflita o caráter de Deus, dedicando-nos inteiramente a Ele e sendo transformados diariamente pelo Espírito Santo.

 

A chamado à sobriedade

Em segundo lugar, a sobriedade cristã é um princípio fundamental da vida cristã que envolve moderação, temperança e vigilância espiritual. Em 1 Pedro 5.8 o texto segue dizendo: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” (ARA).

É importante destacar que viver uma vida de sobriedade não se refere apenas à abstinência de substâncias intoxicantes, mas abrange uma postura equilibrada e prudente em todos os aspectos da vida. Entretanto, o uso da maconha, assim como outras drogas alucinógenas, pode levar à perda de controle e clareza mental, o que é contrário ao chamado de Deus para sermos sóbrios e vigilantes. Além disso, nosso testemunho como cristãos deve ser considerado. Somos exortados por Paulo em 1 Coríntios 6.19-20 a lembrar que nosso corpo é templo do Espírito Santo e que fomos comprados por preço, devendo, portanto, glorificar a Deus em nosso corpo.

Em uma publicação no Blog Voltemos ao Evangelho, o Reverendo Valdeci Santos destaca seis considerações para se evitar o uso da maconha. Quero destacar apenas a primeira consideração. Ele diz que

[…] qualquer pessoa que recorre ao uso de uma substância psicoativa o faz na tentativa de fugir da realidade e criar uma situação mais aceitável aos seus desejos. Não importa se de início isso assuma o formato de busca por aceitação, modismo, curiosidade ou revolta. O fato é que ninguém recorre a qualquer subterfúgio se o seu mundo interior estiver “resolvido” e em “ordem”. Por essa razão, o consumo da maconha ou qualquer outra droga é, de fato, uma rendição aos desejos desordenados do indivíduo e uma busca por uma solução imediata que ao final poderá resultar em maiores sofrimentos.[6]

Veja, portanto que, pessoas que recorrem ao uso constante de drogas alucinógenas, o fazem com a tentativa de fugir da realidade. Todavia, há uma chamado bíblico para a sobriedade e a vigilância. Em Romanos 12.2, Paulo nos exorta a não nos conformarmos com este mundo, mas a sermos transformados pela renovação de nossa mente, para que possamos discernir a vontade de Deus. A sobriedade nos ajuda a resistir às tentações e fazer escolhas que honrem a Deus.

Nosso testemunho como cristãos é impactado pela maneira como vivemos. Em Tito 2.6, Paulo instrui os jovens a serem moderados em tudo. Quando vivemos de maneira sóbria, demonstramos o fruto do Espírito e refletimos o caráter de Cristo ao mundo. A sobriedade não apenas fortalece nosso testemunho pessoal, mas também edifica a comunidade de fé e atrai outros para a mensagem do Evangelho.

Manter a sobriedade em um mundo cheio de distrações e tentações é um desafio constante. No entanto, a Bíblia nos fornece recursos e instruções para vivermos sobriamente. Como já mencionado anteriormente, de acordo com Efésios 5.18 somo aconselhados a não nos embriagarmos com vinho, que leva à libertinagem, mas a sermos cheios do Espírito. A busca contínua por uma vida cheia do Espírito é essencial para manter a sobriedade cristã.

Em suma, a sobriedade cristã é crucial para uma vida de devoção a Deus. Envolve uma mente clara, uma vida equilibrada e um testemunho fiel. Que em todo tempo busquemos a ajuda do Espírito Santo para vivermos sobriamente, honrando a Deus em todas as áreas de nossa vida e inspirando outros a fazerem o mesmo.

 

Um chamado para a vida em comunidade

E por fim, em terceiro lugar, devemos levar em consideração o impacto do uso da maconha em nossa sociedade. Em Romanos 14.13-21, Paulo nos ensina a evitar qualquer coisa que possa ser uma pedra de tropeço para nossos irmãos. Mesmo que algumas práticas sejam lícitas, nem todas edificam (1 Coríntios 10.23).

Como veremos adiante, o uso de drogas alucinógenas pode não apenas prejudicar a saúde do usuário, mas também pode prejudicar a saúde e influenciar negativamente aqueles que estão ao seu redor.

Alguns fatores sociais, portanto, podem ser destacados. (1) A saúde comunitária é diretamente afetada pelo uso de maconha. A exposição à fumaça de maconha pode causar problemas respiratórios em não usuários, especialmente em crianças e idosos. Além disso, o aumento do uso da substância pode sobrecarregar os serviços de saúde com casos de dependência e problemas mentais relacionados.[7] (2) O uso da maconha tem impactos significativos na saúde pública. Estudos indicam que o consumo regular pode levar a problemas respiratórios, dependência e transtornos mentais como ansiedade e depressão. O uso em adolescentes pode afetar o desenvolvimento cerebral, resultando em prejuízos cognitivos e comportamentais a longo prazo.[8] (3) A legalização da maconha pode ter implicações econômicas significativas. A criação de um mercado legal para a maconha pode gerar receita através de impostos e criar empregos. No entanto, os custos relacionados ao tratamento de dependência e problemas de saúde mental também devem ser considerados. Além disso, embora a descriminalização possa reduzir a violência associada ao tráfico ilegal, ela também pode resultar em novas formas de criminalidade, como roubos e assaltos, para sustentar o vício.[9] (4) O uso de maconha pode afetar negativamente a dinâmica familiar. Problemas relacionados ao abuso da substância incluem conflitos familiares, negligência parental e aumento da violência doméstica. Esses problemas podem criar um ambiente instável para crianças e adolescentes, prejudicando seu desenvolvimento emocional e social.[10] (5) Em comunidades onde o uso de maconha é prevalente, há uma correlação com a diminuição do desempenho acadêmico. Estudantes que usam maconha frequentemente apresentam menores taxas de frequência escolar e piores resultados acadêmicos.[11] Isso pode comprometer suas oportunidades futuras e perpetuar ciclos de pobreza e marginalização.

Em suma, o impacto do uso de maconha na comunidade é complexo e multifacetado, afetando a dinâmica familiar, a educação, a segurança pública, a saúde e a economia. Uma abordagem equilibrada, que inclua a educação preventiva, suporte para tratamento e políticas públicas bem planejadas, é essencial para mitigar os efeitos negativos e promover o bem-estar da comunidade como um todo.

 

Conclusão

Questões complexas sobre a legislação, policiamento e o impacto social são levantadas pela descriminalização da maconha. Em locais onde a maconha foi legalizada, observou-se uma redução na criminalidade relacionada ao tráfico de drogas. No entanto, preocupações surgem sobre o aumento do uso entre jovens e os desafios de regular e controlar a qualidade e distribuição da substância.

Ao considerarmos o uso da maconha, a vontade de Deus deve ser buscada e os princípios bíblicos que promovem a sobriedade, a santidade e o amor ao próximo devem ser seguidos.

Em conclusão, que Deus nos conceda discernimento mediante o teu Santo Espírito para que sejamos vitoriosos na luta contra às tentações e para que vivamos de modo que honre o Seu nome entre os homens.

Que todo jovem diligentemente busque beber da clara e pura fonte da vida, que é o Senhor Jesus Cristo. Aquele que o faz será ensinado por Cristo como viver, como falar, como agir. Ele não mais considerará a si mesmo bom demais para exercitar a piedade e fazer o certo, ele nunca se desesperará. Ele crescerá em graça diariamente. Não obstante, ele observará que muitas vezes falha e vacila. Neste caminho ele fará rápido progresso, mas ainda contará a si mesmo entre os mais indignos. Ele fará o bem a todos os homens e não ultrajará a ninguém, pois assim Cristo deixou um exemplo. Por isso, será perfeito aquele que se empenha diligentemente em seguir unicamente a Cristo.[12]


[1] HOEKEMA, Anthony. Criados à imagem de Deus (Portuguese Edition) (p.180). Editora Cultura Cristã. Edição do Kindle.

[2] Para saber mais, acesse: https://portal.fiocruz.br/noticia/pesquisa-revela-dados-sobre-o-consumo-de-drogas-no-brasil.

[3] Contrário a esse argumento, estão aqueles que alegam que Deus permitiu o consumo de ervas com base em Gn 1.29. O Reverendo Valdeci Santos destaca que “o argumento frequentemente empregado nesse sentido é: desde que a maconha é uma erva que produz semente, segue-se que o seu consumo é sancionado desde a criação. Todavia, o que é omitido nesse argumento é que na criação o Senhor se referia a ervas comestíveis, enquanto que o meio mais usado para o consumo da maconha é fumando-a. Ainda que alguns misturem essa erva a comidas, como biscoitos e petiscos, etc., o propósito nesses casos não é alimentício, mas a obtenção dos efeitos sensoriais resultantes de seu ingrediente psicoativo (THC). Além do mais, qualquer interpretação correta dos textos bíblicos deve considerar o que foi ordenado antes da queda e o que foi pervertido após a mesma, pois a entrada do pecado no universo alterou a realidade tanto da fauna quanto da flora, micro-organismos e DNAs. De fato, nada é mais como antes!”. Disponível em: https://voltemosaoevangelho.com/blog/2016/07/o-cristao-e-maconha-6-consideracoes/. Acesso em: 08 de out. de 2024.

[4] Para saber mais, acesse: https://www.tuasaude.com/maconha-medicinal/.

[5] Institutas, III.17.15.

[6] Disponível em: https://voltemosaoevangelho.com/blog/2016/07/o-cristao-e-maconha-6-consideracoes/. Acesso em: 08 de out. de 2024.

[7] Para saber mais, acesse: https://www.tuasaude.com/efeitos-colaterais-da-maconha.

[8] Para saber mais, acesse: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/os-reflexos-do-uso-pessoal-da-maconha-no-poder-publico-e-o-principio-da-supremacia-do-interesse-publico-sobre-o-privado/460484416?msockid=090ec89fa473684e1cfeda33a5c2698f.

[9] Para saber mais, acesse: https://www.hojeemdia.com.br/gastos-do-sus-com-dependentes-quimicos-chegam-a-r-9-1-bilh-es-em-uma-decada-1.440635. / https://www.bbc.com/portuguese/brasil-57057664.

[10] Para saber mais, acesse: https://www.gov.br/mds/pt-br/noticias-e-conteudos/desenvolvimento-social/noticias-desenvolvimento-social/lancada-cartilha-que-mostra-os-riscos-do-uso-da-maconha-na-infancia-e-na-juventude. / https://www.scielo.br/j/psoc/a/6VY4n9gSPwmZqTDFhyJMKgF/.

[11] Para saber mais, acesse: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/uso-de-maconha-pode-afetar-capacidade-de-pensar-e-planejar-diz-estudo/. / https://www.boasaude.com.br/noticias/14048/adolescentes-que-usam-maconha-tendem-a-ter-piores-resultados-na-escola.html.

[12] ZUÍNGLIO, Ulrico. Breve Tratado Sobre a Educação Cristã (1523) (Portuguese Edition) (pp. 34-35). Edição do Kindle.