A providência celestial – Êxodo 16.1-12 – Parte 1/3

Irmãos, viajar cansa e dependendo da forma como você viaja é muito mais cansativo. É claro, que após um longo período de trabalho e estudos, uma viagem em família ou sozinho para descansar é muito proveitoso, porém, quando se viaja muito, longos períodos longe de casa isso se torna algo cansativo. No entanto, quero que você se coloque como viajante junto a aquele povo israelita no deserto, 40 anos viajando numa situação em que você dorme e acorda com as mesmas perspectivas, nas mesmas situações, de acordar, levantar e seguir rumo à frente e ao anoitecer, parar e dormir novamente. Foi assim, que o povo de Deus passou uma vida, 40 anos viajando pelo deserto.

Para alguns essa viagem durou a vida inteira, pois não tinham o conhecimento de uma situação de não viagem, visto que estamos falando de uma viagem que durou 40 anos e junto a isso temos aqui uma multidão de pessoas, tendas para todos os lados, animais amarrados, uma verdadeira multidão. O texto Bíblico, quando diz que as nuvens se moviam e os primeiros começavam a marchar, tudo indica que os que estavam muito atrás iniciariam sua caminhada horas depois ou talvez dias depois e a vida ela tinha sua dinâmica dentro desse contexto, uma multidão de pessoas marchando pleno deserto.

Insatisfação do povo no deserto – Versículos 1 ao 3

Com saudades da comida do Egito, Deus providenciou alimento caindo do céu, começou a cair do céu como uma escama branca, semelhante a uma semente de coentro, que caia todas as manhãs e forrava o arraial do povo de Deus e eles iam e juntavam as escamas brancas que eram cozinhadas que, consequentemente o povo fazia desse alimento os pães para comer. Essa foi a forma que Deus manifestou sustento para o povo naqueles dias. O povo perguntou para Moisés: [1] Maná, Maná em hebraico é o que é isto? É o pão que o Senhor nos dá para o vosso alimento. Mas o Maná meus irmãos, era mais que alimento, nós temos no maná uma riqueza de significados que apontam para o nosso Deus e mesmo nós, povo da nova aliança, povo de Cristo podemos ter lições preciosas sobre o maná.

A primeira lição que podemos ter sobre o maná é:

O Sustento do Senhor – Versículo 4

Nós temos aqui a discrição de que o povo de Deus estava no deserto. Assim, Êxodo 12. 37 nos fala em seiscentos mil homens e essa contagem de homens geralmente era feita de 20 anos acima, e contava-se os homens para saber a força do exército. Seiscentos mil homens de 20 anos para cima, sem contar crianças e mulheres. Nós, podemos imaginar, meus irmãos, naquele tempo em que eram muitos os filhos, que haveria ali no mínimo dois milhões de pessoas. Por sua vez, quando o povo sai do Egito, leva consigo comida, mas a comida vai sendo consumida e chega um dado momento em que essa comida acaba. Óbvio que no deserto não tem condições de haver sementes, plantações, então não havia como do deserto tirarem o seu sustento e provisão e conforme Dt 8. 2 – 3; expressa que eles passaram fome de fato.

Meus irmãos, o maná é o sustento que vem do Senhor, é o milagre, pois no deserto não tem alimento, mas Deus fez que o alimento caísse do céu de uma forma miraculosa. Deus foi o sustento do seu povo no deserto, as vestes, as sandalhas não se estragavam, não faltava água, visto de que havia uma fonte a jorrar, todavia não se sabe se essa rocha os acompanhava ou se tinha espalhadas pelo caminho, mas o fato é que o povo não passou sede, pois o Senhor providenciou e, note de que estamos falando em cerca de 2 milhões de pessoas sendo abastecidas no deserto. Não faltou luz; não faltou sombra – sabendo que a noite no deserto é muito escuro e frio, e, o dia é muito quente, e Deus providenciou uma nuvem de fogo durante a noite, aquecendo e iluminando o espaço onde eles estavam e uma nuvem durante o dia fazendo sombra para o povo.

Irmãos, apesar de todo esse provimento, o coração de muitos permaneceu incrédulo, a murmuração do povo, que é o ponto de partida deste capítulo, é um reflexo das incertezas e ansiedades humanas. Quando somos confrontados com circunstâncias adversas ou desconhecidas, é natural que busquemos algo ou alguém para culpar. No caso dos israelitas, eles lançam suas queixas contra Moisés e Arão, líderes designados por Deus para guiá-los. Quando olhamos para a história, veremos que esse povo saiu do Egito muito privilegiado, no tocante a forma como Deus os tirou da escravidão do Egito e todos os milagres que Deus tinha operado até aquele momento, como por exemplo: as dez pragas enviadas ao Egito, a passagem pelo mar vermelho, que em qualquer perspectiva humana ali era uma situação de fim, de desespero, porém Deus operou o milagre abrindo o mar. Assim como também provendo o alimento pelo deserto, água, sombra, fogo para aquecê-los. Portanto, veja que estamos falando de um povo que recebeu diversos sinais do amor e cuidado de Deus para com eles, porém continuavam as suas queixas.

Essa reação revela a tendência humana de procurar bodes expiatórios quando estamos insatisfeitos, muitas vezes ignorando o papel central da providência divina em nossa vida. Muitos preferiam ter os pratos e barrigas cheias no Egito do que serem livres no deserto sendo alimentados pelo Senhor. Deus promove libertação, porém o povo lembrar das panelas do Egito (dando vazão aos seus prazeres), resultado de uma incredulidade, de uma fome da alma. Assim somos nós em diversas situações, duvidamos que a mão poderosa do Senhor está sobre nós, cuidando da nossa vida e consequentemente agimos como o povo de Deus agiu no deserto.

Irmãos, somos testemunhas dos eventos de Deus em nossa vida diária, em nossos estudos no JMC, que por vezes somos levados por nosso coração a desdenhar do poder de Deus em nossa vida, assim insatisfeitos nos tornamos iguais aos israelitas, que traduzindo, disseram da seguinte forma [2] “Deus, dá-nos da liberdade ou dá-nos a morte”. A queixa desse povo vai muito além de uma insatisfação com o cardápio, eles estavam se revoltando contra Deus, contra o plano de Deus para a salvação deles. Meus irmãos, temos aqui uma descoberta importante sobre o pecado da murmuração. Todo o nosso desgosto e insatisfação se voltam, no fundo, contra Deus. Normalmente, descarregamos as nossas frustações em pessoas, no caso dos israelitas, apesarem de descontarem suas insatisfações em Moises, no fundo, estavam com raiva de Deus. Somos assim também, quando queixamos de situações diárias, bem como de nossos estudos e suas dificuldades, porém é preciso lembrar a nossa mente que estamos na verdade queixando aquilo que Deus escolheu para nós, estamos atribuindo toda culpa a Ele. Com isso, podemos compreender que o melhor remédio para a fome daqueles homens israelitas teria sido orar a Deus.

Queridos, quando diante de situações adversas nós nos lembramos desse Deus, que ouve as nossas orações, ao invés de reclamações e murmurações, seremos gratos pelo Deus sustentador. Quando olhamos para o passado, e vemos o sustento que Deus trouxe aos seus filhos, que estavam definhando em Canaã de fome em lugares férteis, descobriremos o Pai generoso, que promoveu aos nossos pais alimentos em meio a uma terra seca. Meus irmãos, é realmente surpreendente que homens miseráveis, a quem sua necessidade deveria ter humilhado, se levantaram insolentemente contra Deus, e que sua fome, longe de dobrar seus corações à gentileza, foi o próprio incentivo de sua arrogância. Todavia, esse comportamento é muito comum aos ímpios, porque eles não confiam que Deus está reconciliado com eles, negligenciaram a oração e diante disso, clamam em confusão, proferem suas maldições e correm como cães loucos. Este foi o caso de Israel no deserto de Sin.

Diletos irmãos, a falta de todas as coisas que se apresenta a nós é um convite de Deus para sentirmos o seu poder, pelo qual criou o mundo do nada, para ser independente de toda ajuda estrangeira para a manutenção da humanidade. Todo sinal de insatisfação que houver em nossos corações deve nos colocar de joelhos, humilhados diante de Deus, entendendo que todo o nosso sustento é provisão do Senhor.

[1] Alexander, T. Desmond – Êxodo / T. Desmond Alexandre; tradução de José Ribeiro Neto; organizado por Mark L. Strauss, John H. Walton; coorganizado por Kevin, Sherry Harney; com a colaboração de Adam Barr. – São Paulo: Vida Nova, 2023.

[2] Ryken, Philip Graham – Estudos expositivos em Êxodo / Philip Graham Ryken; traduzido por Markus Hediger. – São Paulo: Cultura Cristã, 2022. 1ª Edição.