A Reforma Protestante e Autoridade Absoluta das Escrituras: Algumas ponderações – 3

Tempo de leitura 21 minutos

Autoridade relativa de quem prega

A Reforma não inventou a pregação, contudo, a colocou no centro do culto e, esforçou-se por falar na língua nativa de suas congregações e, aos poucos, procurou preparar bem os futuros pregadores, crendo sempre na autoridade da Palavra e na total dependência do Espírito Santo.[1]

Quando um jovem pregador que, desanimado reclamava que não conseguia fazer sermões mais longos, achava que teria sido melhor seguir sua antiga profissão, Lutero aconselhou:

Tenha em vista apenas a honra de Deus e não os aplausos. Ore para que Deus lhe dê boca [para falar] e ouvidos à sua audiência. Posso lhe dizer que pregar não é obra de homens. Embora  eu já seja velho [ele estava com 48 anos de idade] e experiente, sinto medo toda as vezes que preciso pregar. (…) Por isso, ore a Deus e deixe todo o resto em suas mãos.[2]

Algo que  chama a atenção na teologia de Calvino, expressa em sua ampla e profícua obra composta por sermões, cartas, comentários, tratados e nas Institutas, é o  apego dele às Escrituras. Ele amava a Bíblia. As Escrituras não constituíam para ele um livro qualquer, sem relevância,  muito menos a colocava no mesmo nível de outras obras que ele mesmo apreciava. Não. A Escritura é um livro único e singular. Tem-se ali a Palavra de Deus para o homem em todas as épocas e para todas as suas necessidades.

Nas Escrituras, Calvino aprendeu sobre a soberania de Deus.  Ele aprendeu que o Senhor é sobre todas as coisas. A Escritura é o cetro de Deus por meio do qual ele governa e rege a Igreja.[3] Surge, daí, a necessidade  de se ler, meditar, ensinar e pregá-la de forma fiel, perseverante e sistemática. É por meio da Palavra que se é  instruído, corrigido e governado. Ela deve ser o  manual de vida e culto do cristão. A piedade começa pela instrução que  é fornecida por meio da Escritura. “A piedade está sempre fundamentada no conhecimento do verdadeiro Deus; e isso requer ensino”.[4]

A pregação é o meio estabelecido por Deus para conduzir o seu povo, portanto, a responsabilidade da igreja enquanto mensageira e ouvinte: “Devemos entender que Jesus Cristo deseja governar sua igreja mediante a pregação de sua Palavra, à qual nós devemos dar toda devida reverência”.[5]

Já nos primeiros meses de sua estada em Genebra (1536), Calvino lamenta a existência de tão poucos ministros para cuidarem da igreja do Senhor.  Na ocasião em que esteve em  Lausanne em companhia de Pierre Viret (1511-1571) e Guilherme Farel (1489-1565), tendo participado do Debate de Lausanne, iniciado no dia 2 de outubro, escreve ao seu amigo Francis Daniel no dia 13 de outubro de 1536:

Se os ventres preguiçosos que estão com você, que gorjeiam juntos tão docemente à sombra, fossem tão dispostos quanto são faladores, correriam juntamente para cá para tomarem parte do labor para si mesmos, visto que há tão poucos de nós. Quase não dá para acreditar no número tão pequeno de ministros, comparado ao tão grande número de igrejas que carecem de pastores. Como desejo, ao ver a extrema necessidade da igreja, que, embora sejam poucos em número, houvesse ao menos entre vocês alguns homens de coração reto que pudessem ser induzidos a ajudar! Que o Senhor o guarde.[6]

Devido à gravidade da mensagem do Evangelho, e a nobreza da tarefa que temos,  os pastores devem ensinar a Palavra com decoro: “Mantenhamos bem nitidamente conosco que, se os atores no palco observam o decoro, o mesmo não deve ser negligenciado pelos pastores em sua sublime posição”.[7] Do mesmo modo, em total dependência do Espírito: “O Senhor não quer que exerçam [ministros] seu ofício com tibieza e langor, senão que avancem com todo vigor, confiando na eficácia do Espírito”.[8] Portanto, a fiel perseverança é fundamental ao ministro bem como ao cristão em geral, no testemunho da verdade, Cristo ressurreto:

Toda verdade proclamada referente a Cristo é completamente paradoxal pelo prisma do juízo humano. Entretanto, o nosso dever é prosseguir em nossa rota. Cristo não deve ser suprimido só porque para muitos ele não passa de pedra de ofensa e rocha de escândalo. Ao mesmo tempo que ele prova ser destruição para os ímpios, em contrapartida ele será sempre ressurreição para os fiéis.[9]

Se, como vimos, o Espírito não pode ser separado da Palavra, da mesma forma, a pregação também não: “O ‘Espírito’ está unido com a Palavra, porque sem a eficácia do Espírito, a pregação do Evangelho de nada adiantará, mas permanecerá estéril”.[10]

Em 1546, no segundo prefácio à tradução da Bíblia feita pelo primo dele Pierre Olivétan (1506-1538), escreveu:

[A Escritura] é o mais importante e precioso bem de que dispomos nesse mundo, uma vez que ela é a chave que nos abre o reino de Deus e nele nos introduz para que saibamos qual o Deus que devemos adorar e para quê Ele nos chama; (ela) é o caminho certo que nos conduz de tal modo que não vaguemos errantes, de lá para cá, durante todo o tempo de nossa vida; é a norma verdadeira para que possamos discernir entre o bem e o mal e nos exercitar no correto serviço de Deus, para que não ajamos irrefletidamente, indo atrás de mesquinharias de nenhum valor e, por vezes, buscar nossa devoção em coisas que Deus condena e reprova como sendo maléficas.[11]

Calvino acentuou a responsabilidade do ministro: Deus se dignou em consagrá-los a si mesmo “as bocas e línguas dos homens, para que neles faça ressoar sua própria voz”.[12]  Assim sendo, os pastores não estão a seu próprio serviço, mas de Cristo. Eles não buscam discípulos para si mesmos, mas para Jesus Cristo.[13]

A esfera da autoridade do ministro é derivada da Palavra:

A primeira regra do ministro é não tentar fazer coisa alguma sem estar baseado nalgum mandamento.[14]

A Escritura é a fonte de toda a sabedoria, e os pastores terão de extrair dela tudo o que eles expõem diante do seu rebanho.[15]

Há uma regra prescrita para todos os servos de Deus: não tragam suas próprias invenções, mas simplesmente entreguem, como que de mão a mão, o que receberam de Deus.[16]

Porque, se acompanharmos a todos em ordem, não acharemos que foram dotados de qualquer autoridade de ensinar ou responder, a não ser no Nome e pela Palavra do Senhor. Ora, onde são chamados para o ofício, ao mesmo tempo se lhes ordena que algo não tragam de si próprios, antes falem pela boca do Senhor. Nem ele mesmo os põe diante do público, para que sejam ouvidos pelo povo, antes que lhes haja preceituado o que devam falar, para que nada falem senão sua Palavra.[17]

O segredo dessa fidelidade está nesse princípio: “Todos os verdadeiros pastores da Igreja devem ser discípulos, para que nada ensinem senão o que houver recebido”.[18] E mais. Eles devem crer no que ensinam:

Seria mera tagarelice, ou uma profanção da Palavra de Deus, caso alguém subisse a um púlpito para falar como um anjo; mas, simultaneamente, não estivesse movido no coração nem persuadido daquilo que diz. Ser-lhe-ia melhor ser afogado cem vezes do que dar o mais excelente testemunho da salvação e da verdade de Deus em todo lugar e, ao mesmo tempo, não estar convencido em si mesmo do que prega.[19]

Portanto, todo o ofício do ministro deve estar intimamente conectado com a Palavra:

Porque devemos ter como coisa resolvida que todo o ofício deles se limita à administração da Palavra de Deus, toda a sua sabedoria consiste somente no conhecimento dessa Palavra, e toda a sua eloquência ou oratória se restringe à pregação da mesma. Se se afastarem dessa norma, serão tolos em seus sentidos, gagos em seu falar, traiçoeiros e infiéis em seu ofício, sejam eles profetas, ou bispos, ou mestres, ou pessoas estabelecidas em dignidade mais alta.[20]

Os ministros são vocacionados por Deus não para pregarem suas opiniões, mas o Evangelho de Cristo. E mais, o Evangelho deve ser anunciado em sua inteireza, sem misturas, adições e cortes. Essas características distinguem essencialmente os ministros verdadeiros dos falsos mestres:

“A verdade do evangelho” deve ser considerada como sendo sua genuína pureza ou, o que vem a ser a mesma coisa, sua pura e sólida doutrina. Pois os falsos apóstolos não aboliam totalmente o evangelho, mas o adulteravam com suas noções pessoais, de modo que ele logo passava a ser falso e mascarado. Isso é sempre assim quando nos apartamos, mesmo em grau mínimo, da simplicidade de Cristo. Quão impudentes, pois, são os papistas ao se vangloriarem de que possuem o evangelho, pois ele não só é corrompido por uma infinidade de invenções, mas também é mais que adulterado por dogmas infindáveis e pervertidos.[21]

Mestre é aquele que aprende ensinando. Começa-se por pregar para si mesmos. Pregando sobre o livro de Jó, disse:

Quando eu subo ao púlpito não é para ensinar os outros somente. Eu não me retiro aparte, visto que eu devo ser um estudante, e a Palavra que procede da minha boca deve servir para mim assim como para você, ou ela será o pior para mim.[22]

Por meio dessa breve revisão de algumas de suas colocações, pode-se entender melhor a importância que Calvino atribui à pregação e à necessidade dela ser uma exposição fiel das Escrituras. A autoridade do ministro é determinada por sua fidelidade ao Espírito que nos deu a sua Palavra,

O conselho que o próprio Calvino emitiu no prefácio à edição francesa da Instituição (1541), permanece para todas as suas obras, também como princípio avaliador de qualquer labor humano: “Importa em tudo quanto exponho recorrer ao testemunho da Escritura, que aduzo para ajuizar da procedência e justeza do que afirmo”. Aqui Calvino revela o seu mais alto apreço pela Escritura. Ela procede de Deus, por isso, somente ela é infalível. Calvino cria nas reivindicações que as Escrituras fazem de si mesmas.

Consequentemente, a autoridade daquilo que ele dizia era relativa. A autoridade do teólogo é decorrente de sua seriedade para com a Palavra e interpretação fidedigna. Somente as Escrituras são absolutas.

Kruger capta bem o espírito dos Reformadores:

Os Reformadores (…) estavam bastante dispostos a confiar nos pais da igreja, nos conselhos da igreja e nos credos e confissões da igreja. Tal embasamento histórico foi encarado não apenas como um meio para manter a ortodoxia, mas também como um meio para manter a humildade. Ao contrário da percepção popular, os Reformadores não se viam como se estivessem trazendo algo novo. Em vez disso, eles entendiam que estavam recuperando algo muito antigo – algo que a igreja tinha acreditado inicialmente, mas que depois havia se torcido e distorcido. Os Reformadores não eram inovadores, mas escavadores.[23]

De forma decorrente, como temos insistido, a autoridade de quem prega, não é derivada do fato de ser pregador, mas de sua fidelidade na transmissão da Palavra. Portanto, não cabe à igreja nem ao ministro forjar nenhuma nova doutrina:

Todavia, entre os apóstolos e seus sucessores, como já disse, existe esta diferença: que aqueles foram infalíveis e autênticos amanuenses do Espírito Santo, e por isso seus escritos devem ser tidos como oráculos de Deus; os outros, porém, não têm outra função, senão que ensinem o que foi dado a conhecer e consignado nas Sagradas Escrituras. Concluímos, pois, não é permitido aos ministros fiéis que forjem algum dogma novo, mas simplesmente que se apeguem à doutrina à qual Deus a todos sujeitou, sem exceção. Ao afirmar tal coisa, meu intuito é mostrar não apenas o que se permite a cada indivíduo, mas também o que se permite a toda a Igreja.  (…)  Evidentemente, se a fé depende somente da Palavra de Deus, que somente para ela volvamos nossos olhos e nela reclinemos, que lugar fica para a palavra do mundo inteiro? Tampouco se poderá aqui hesitar, quem quer que conheça bem o que é a fé, pois importa que ela esteja sustentada por essa firmeza, mercê da qual subsista inquebrantada e destemida contra Satanás todas as maquinações dos infernos e o mundo todo. Esta firmeza só acharemos na Palavra de Deus. Além disso, é universal a razão que convém ter aqui em vista: que Deus por isso detrai aos homens a faculdade de proferir dogma novo, para que somente ele seja nosso Mestre na doutrina espiritual, como somente verdadeiro [Rm 3.4] é Aquele que não pode mentir, nem enganar. Esta razão diz respeito não menos a toda Igreja que a cada um dos fiéis.[24]

E para que os leitores entendam melhor em que repousa, acima de tudo, esta questão, exporei em poucas palavras que é que nossos adversários pretendem e em quê lhes resistimos. Sua afirmação de que a Igreja não pode errar, a interpretam nestes termos: quando ela é governada pelo Espírito de Deus, pode avançar com segurança sem a Palavra; para onde quer que avance, não pode sentir nem falar senão o que é verdadeiro; daí, se algo além ou fora da Palavra de Deus precisa ser preceituado, tem de ser considerado como se fosse oráculo direto de Deus. Nós admitimos que a Igreja não pode errar nas coisas necessárias para a salvação, porém deve ser entendido no sentido de que a Igreja, ao não fazer caso de toda sua sabedoria, se deixa ensinar pelo Espírito e pela Palavra de Deus. Esta, pois, é a diferença: esses colocam a autoridade da Igreja fora da Palavra de Deus; nós, porém, unimos ambas as coisas inseparavelmente. (…).

Agora é fácil concluir quão extraviados andam nossos adversários, os quais se gabam unicamente do Espírito Santo, para entronizar em seu nome doutrinas estranhas e muitíssimo contrárias à Palavra de Deus, quando o próprio Espírito quer ser associado à Palavra de Deus por um vínculo indivisível. E assim o afirma Cristo ao prometê-lo a sua Igreja, pois ele deseja que ela guarde a sobriedade que lhe tem recomendado, e lhe proibiu que acrescente ou tire qualquer coisa a sua Palavra [Dt 4.2; Ap 22.19, 20]. É este decreto inviolável de Deus e do Espírito Santo que nossos adversários tentam anular, quando imaginam que a Igreja é governada pelo Espírito Santo sem a Palavra.[25]

Entre tantos outros autores, Calvino também nos ensina sobre o mensageiro e a mensagem que ouvimos:

As únicas pessoas que têm o direito de ser ouvidas são aquelas a quem Deus enviou e que falam a palavra de sua boca. Portanto, para qualquer homem exercer autoridade, duas coisas são requeridas: o chamamento [divino] e o desempenho fiel do ofício por parte daquele que foi chamado.[26]

A Segunda Confissão Helvética (1566)[27] declara:

Cremos e confessamos que as Escrituras Canônicas dos santos profetas e apóstolos dos dois Testamentos são a verdadeira Palavra de Deus (…) Portanto, quando a Palavra de Deus é pregada atualmente na igreja por pregadores legitimamente vocacionados, nós cremos que a própria Palavra de Deus é anunciada e recebida pelos fiéis; e que nenhuma outra Palavra de Deus pode ser inventada, nem esperada que venha dos céus: e que hoje o que deve ser considerado é a própria Palavra anunciada e não o ministro que prega, pois, embora este seja mau e pecador, contudo a Palavra de Deus permanece boa e verdadeira. (I.1,4).[28]

A compreensão Reformada da autoridade bíblica, fundamenta-se na convicção de sua procedência conforme o próprio testemunho bíblico. A Escritura procede do único Deus da verdade. Por isso, ela não precisa de nosso testemunho para ser o que é. O nosso testemunho ilustra a graça de Deus que possibilita a nossa compreensão da Palavra, mas, nada lhe acrescenta. Por isso, ela é autoritativa porque Deus é o seu autor, quem lhe confere autoridade. A Palavra é autenticada por si mesma (au)to/piston). Ela é totalmente digna de crédito.[29]O Espírito de Deus é O intérprete e comunicador da Escritura. Portanto, compreender a Palavra é graça![30] Somente o Espírito pode de fato nos convencer da autoridade da Escritura.[31]

A Palavra é a verdade de Deus, quer creiamos, quer não, aceitemos ou não. A autoridade da Palavra é decorrente da sua origem divina. “Nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.21). Deste modo, a autoridade da Palavra é proveniente do Deus da Palavra, não daqueles que a proclamam.

A Confissão de Westminster declara com precisão:

A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu Autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de Deus.[32]

Calvino (1509-1564), atento a isso, escreveu em lugares diferentes: “É chocante blasfêmia afirmar que a Palavra de Deus é falível até que obtenha da parte dos homens uma certeza emprestada”.[33] Em outro lugar: “A Palavra do Senhor é semente frutífera por sua própria natureza”.[34]

Ainda que o papel do leitor jamais deva ser desconsiderado, eliminar o caráter objetivo das Escrituras em prol de uma subjetividade livre de referências do próprio texto, torna-se o caminho fácil e, como sabemos, perigoso, para cada um achar o que quiser. Uma espiritualidade “autônoma do texto”[35] produz uma fé vaga que se formaliza e se alimenta partindo de experiências e mais experiências, cada vez mais distantes da plenitude da revelação bíblica e, por isso mesmo, sempre vulnerável a crendices e superstições, alheias ao necessário e imprescindível exame e depuração bíblica. Uma fé que não se sustenta biblicamente, é mera crendice.

Os efeitos dessa compreensão Reformada das Escrituras e de  sua prática, podem ser em muitos aspectos no testemunho dos Puritanos. O sacerdote romano, Bruckberger (1907-1998), analisando os Puritanos nos Estados Unidos, concluiu: “Os nossos puritanos não estudavam a Bíblia como exegetas, ainda menos como racionalistas. Ela era a sua vida”.[36]

De fato, se, pelo Espírito recebemos a Bíblia como a Palavra autoritativa de Deus, não há lugar para relativismos. Ela é a nossa vida, a Constituição de nosso crer e agir. Quando a Escritura é levada a sério como Palavra autoritativa de Deus, os efeitos disso não tardam a aparecer em nossa vida como resultado desta cosmovisão.

O historiador Boorstin (1914-2004), analisando a importância do sermão entre os Puritanos na Nova Inglaterra, admite:

Era o púlpito, e não o altar, que ocupava o lugar de honra no templo da Nova Inglaterra. Por isso, o próprio sermão, a aplicação específica da Palavra de Deus, era o foco dos melhores espíritos da Nova Inglaterra. (…) A história do púlpito na Nova Inglaterra é, assim, uma crônica ininterrupta da tentativa levada a cabo pelos dirigentes do Novo Mundo para aproximarem firmemente a sua comunidade do modelo cristão.[37]

A teologia tem como propósito principal nos ajudar a compreender as Escrituras.[38] O valor da teologia está na mesma proporção de seu auxílio na interpretação da Palavra de Deus. Ainda que Calvino recorresse às interpretações dadas aos textos no decorrer da história da igreja, o foco da autoridade estava nas Escrituras.

Calvino sustentava que o mesmo Espírito que inspirou o registro das Escrituras, nos convence da autoridade de sua Palavra, concedendo-nos discernimento espiritual. O testemunho do Espírito é mais relevante e eficaz do que qualquer argumento ou arrazoado humano.[39]

Comentando 1Co 2.11, Calvino interpreta:

Paulo, aqui, pretende ensinar duas coisas: 1) que o ensino do evangelho só pode ser entendido pelo testemunho do Espírito Santo; e 2) que a segurança daqueles que possuem tal testemunho do Espírito Santo é tão forte e firme, como se o que creem pudesse realmente ser tocado com suas mãos e isto em razão do fato de que o Espírito é uma testemunha fiel e confiável.[40]

Em outro lugar:

A genuína convicção que os crentes têm da Palavra de Deus, acerca de sua própria salvação e de toda a religião, não emana das percepções da carne, ou de argumentos humanos e filosóficos, e, sim da selagem do Espírito, o que faz suas consciências mais seguras e todas as dúvidas resolvidas.[41]

Como temos insistido, a Palavra de Deus jamais poderá ser recebida salvadoramente sem o ensino do Espírito. É Ele quem de fato abre as Escrituras diante dos nossos olhos, nos capacitando a enxergar o Evangelho da Glória de Deus.

Calvino comentando o texto de 2Pe 1.3, diz:

A causa eficaz de fé não é a perspicácia de nossa mente, mas a vocação de Deus. E ele (Pedro) não se refere somente à vocação externa, que é em si mesma ineficaz; mas à vocação interna, realizada pelo poder secreto do Espírito, quando Deus não somente emite sons em nossas orelhas pela voz do homem, mas, pelo seu próprio Espírito atrai intimamente nossos corações para Ele mesmo.[42]

A autoridade da Palavra não depende do testemunho de nenhum homem ou instituição, antes, baseia-se na autoridade divina do seu autor que nos fala por meio da Escritura: “a credibilidade da doutrina se não firma antes que se nos persuada além de toda dúvida de que seu autor é Deus. Destarte, a suprema prova da Escritura se estabelece reiteradamente da pessoa de Deus nela falar”.[43] Portanto, não é o testemunho interno do Espírito – sem dúvida fundamental para a compreensão das Escrituras –, que a tornam autoritativa; antes a sua autoridade é proveniente da inspiração divina que a produziu e a preservou pelo Espírito. Portanto, o Espírito e a Palavra são inseparáveis.[44]

Sem a inspiração do Espírito não haveria o registro da Palavra; sem a iluminação do Espírito jamais seríamos persuadidos de sua autenticidade e nunca poderíamos compreender salvadoramente a revelação de Deus. Na Palavra temos uma ação retroalimentadora: O Espírito nos conduz à Palavra; a Palavra nos instrui sobre o Espírito.

No entanto, não nos enganemos. Calvino não ignorava os argumentos em prol da autoridade bíblica; ele simplesmente entendia que sem a iluminação do Espírito estes argumentos, por mais razoáveis que fossem (e ele os considerava convincentes), não produziria um conhecimento salvador.

Em síntese: Sem a inspiração do Espírito não haveria o registro da Palavra; sem a iluminação do mesmo Espírito não haveria evidência objetiva que se tornasse persuasiva ao homem. A verdade objetiva só se torna verdade subjetiva para o homem quando o Espírito o persuade, fazendo-o enxergar as evidências. Portanto, sem o Espírito, jamais seríamos persuadidos de sua autenticidade e nunca poderíamos compreender salvadoramente a revelação de Deus.[45]

Gerstner (1914-1996) interpreta:

O papel do Espírito Santo não é alterar a evidência (de insatisfatória para satisfatória) mas, sim, mudar as atitudes dos homens, da resistência à verdade para a submissão a ela. (…) Calvino não ensina que o Espírito é a evidência em prol da inspiração da Bíblia. Tudo quanto faz é levar as pessoas a crerem na evidência.[46]

Do mesmo modo Sproul (1939-2017) interpretando Calvino:

Para Calvino, o testemunho do Espírito Santo não é um sussurro interior trazendo uma nova informação ou um truque interno que transforme um argumento fraco em um bom argumento. O testemunho interno não nos leva a crer em oposição a uma evidência; ele trabalha em nossos corações para levar-nos à rendição diante de uma evidência objetiva. (…) O Espírito leva-nos a sermos persuadidos pela prova.[47]

Calvino, o teólogo da Palavra e do Espírito, escreveu magistralmente sobre este ponto certificando que o testemunho do Espírito é superior a qualquer arrazoado humano porque, na realidade, é mais elevado do que a  capacidade humana racional:

O testemunho do Espírito é superior a todos os argumentos. Deus na Sua Palavra é a única testemunha adequada a respeito de Si mesmo, e, de maneira semelhante, Sua Palavra não será verdadeiramente crida nos corações dos homens até que tenha sido selada pelo testemunho do Seu Espírito. O mesmo Espírito que falou através dos profetas deve entrar em nosso coração para convencer-nos que eles entregaram fielmente a mensagem que Deus lhes deu. (…) Sendo iluminados pelo Seu poder, já não devemos ao nosso próprio juízo, nem ao de outros, o fato de crermos que as Escrituras vêm da parte de Deus; mas, por razões além do julgamento humano temos perfeita certeza, como se nelas contemplássemos a glória do próprio Deus, que elas foram transmitidas a nós da própria boca de Deus, pela instrumentalidade dos homens. Não procuramos argumentos ou probabilidades sobre os quais fundamentar nosso julgamento, mas sim sujeitamos nosso julgamento e nosso intelecto a elas como sendo algo acima e além de toda disputa. Nossa convicção, portanto, é tal que não requer argumentos; nosso conhecimento é tal que é consistente com o melhor dos argumentos; porque nelas a mente descansa com mais segurança e firmeza do que em quaisquer argumentos.[48]

Em outro lugar, Calvino escreveu:

Deus não deu a conhecer a Palavra aos homens com vistas a momentânea apresentação, assim que de pronto a abolisse com a vinda de Seu Espírito; pelo contrário, enviou o mesmo Espírito, pelo poder de Quem havia dispensado a Palavra, para que realizasse sua obra mediante a eficaz confirmação dessa mesma Palavra. Desta forma, Cristo abriu o entendimento aos dois discípulos de Emaús (Lc 24.27,45), não para que, postas de parte as Escrituras, se fizessem sábios de si mesmos, mas para que entendessem essas Escrituras.[49] De modo semelhante, Paulo, enquanto exorta aos tessalonicenses a que não extingam o Espírito, não os arrebata às alturas, a vãs especulações à parte da Palavra, mas imediatamente acrescenta que as profecias não deveriam ser desprezadas (1Ts 5.19,20).[50] Com o que acena, longe de dubiamente, que a luz do Espírito é sufocada assim que em desprezo vêm as profecias.[51]

Em resposta ao Cardeal Sadoleto (1477-1547), Calvino diz:

Hás sido castigado pela injúria que fizeste ao Espírito Santo, separando-O e dividindo-O da Palavra. (…) Aprende, pois, por tua própria falta, que é tão insuportável vangloriar-se do Espírito sem a Palavra, como desagradável o preferir a Palavra sem o Espírito.[52]

Comentando 1Co 2.11, arremata: “Não há nada no próprio Deus que escape ao seu Espírito”.[53] E é o Espírito do Pai e do Filho o nosso orientador e guia pessoal que nos conduz por meio da Palavra em direção a Cristo. A Palavra é uma autoridade objetiva. O Espírito, ao nos capacitar a compreendê-la, fornece a autoridade subjetiva. Ou, como escreveu Warfield interpretando e aplicando o pensamento de Calvino:

A revelação especial ou a Escritura em sua forma documentada, fornece, como ponto de fato na visão de Calvino, somente o lado objetivo da cura que ele sabe ter sido providenciado por Deus. O lado subjetivo é efetuado pelo testimonium Spiritus Sancti. A Escritura providencia os óculos: somente o Espírito Santo no coração dos homens  abre os olhos para que vejam através das lentes.[54]

 

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

_______________________________________________

[1]“A pregação externa da Palavra é por si só infrutífera, a não ser que ela fira mortalmente os réprobos, de modo tal que os faça indesculpáveis diante de Deus. Mas quando a graça secreta do Espírito vivifica [a mente dos réprobos], todos os sentidos inevitavelmente serão afetados de tal maneira que a pessoa se sente preparada a ir aonde quer que Deus a chame. Devemos, pois, orar para que Cristo derrame em nós o mesmo poder do evangelho” (João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 1.43), p. 79). “A pregação é o instrumento da fé, por isso o Espírito Santo torna a pregação eficaz” (João Calvino, Efésios,  São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 1.13), p. 36). É muito esclarecedora a obra de George: Timothy George, Lendo as Escrituras com os reformadores: como a Bíblia assumiu o papel central na Reforma religiosa do século XVI, São Paulo: Cultura Cristã, 2015, p. 181-201.

[2] Citado em: Roland H. Bainton, Cativo à Palavra: a vida de Martinho Lutero, São Paulo: Vida Nova, 2017, p. 353.

[3]“O cetro pelo qual ele nos governa é seu evangelho” (João Calvino, Sermões sobre Tito,  Brasília, DF.: Monergismo,  2019, (Tt 1.1-4), p. 19). (Edição do Kindle).

[4]João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, v. 1, (Dn  3.28), p. 225. “Não existe piedade sem devida instrução” (John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), v. 19/1, (At 18.22), p. 198).

[5]João Calvino, Beatitudes; sermões sobre as bem-aventuranças, São Paulo: Fonte Editorial, 2008, p. 77.

[6]João Calvino, Cartas de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 30.

[7]João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 5.1), p. 129. Do mesmo modo: Juan Calvino, Autoridad y Reverencia que Debemos a la Palabra de Dios: In: Sermones Sobre Job, Jenison, Michigan: T.E.L.L., 1988, p. 203.

[8]João Calvino, As Pastorais,  São Paulo: Paracletos, 1998, (2Tm 1.7), p. 204.

[9]João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 6.1), p. 201-202.

[10]John Calvin, Commentary on the Book of the Prophet Isaiah, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, (Calvin’s Commentaries), 1996, v. 8/4, (Is 59.21), p. 271.

[11]In: Eduardo Galasso Faria, ed. João Calvino: Textos Escolhidos, São Paulo: Pendão Real, 2008, p. 34.

[12] João Calvino, As Institutas, IV.1.5.

[13]Veja-se: J. Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 3.5), p. 101-102.

[14] João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, v. 4, (IV.13), p. 52.

[15] João Calvino, As Pastorais, (1Tm 4.13), p. 123.

[16]John Calvin, Commentaries on the Book of the Prophet Jeremiah and Lamentations, Grand Rapids, MI.: Baker, 1996, (Calvin’s Commentaries, 9/1), (Jr 1.9-10), p. 43.

[17]João Calvino, As Institutas, 2006, IV.8.2.

[18]John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), v. 3, (Ex 31.18), p. 328.

[19]João Calvino, Sermões em Efésios, Brasília, DF.: Monergismo, 2009, p. 129-130. Veja-se também: João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 3.11),  p. 125-126.

[20]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, v. 4 (IV.15), p. 125.

[21] João Calvino, Gálatas, (Gl 2.5), p. 52. Dargan (1852-1930) comentando sobre o trabalho de Calvino como exegeta e expositor das Escrituras, diz: “Na pregação de Calvino o método expositivo dos pregadores da Reforma encontrou ênfase. Seus comentários eram frutos de sua pregação e aula, e seus sermões eram comentários ampliados e aplicados. (…) (O seu estilo) mostra-nos como o comentarista obteve o melhor do pregador. Contudo os seus sermões não eram meros comentários. Ali temos uma agilidade de percepção, uma firmeza no posicionamento, um poder de expressão que aliados fazem o pensamento da Escritura marcar e produzir sua impressão sem o auxílio da arte do orador” (Edwin C. Dargan, A History of Preaching, Grand Rapids, Mi.: Baker Book House, 1954, v.  1, p. 449). Para um estudo sobre a pregação de Calvino: método, estilo e mensagem, bem como sua influência sobre os pregadores de fala inglesa, Ver: T.H.L. Parker, The Oracles of God: An Introduction to the Preaching of John Calvin, Cambridge, England: James Clarke; Co. 1947, (2002) Reprinted, 175p.

[22]Sermão 95 Apud Bernard Cottret, Calvin: A Biography, Michigan; Cambridge, U.K.; Edinburgh: Eerdmans; T & T. Clark, 2000, p. 294.

[23] Michael Kruger, Sola Scriptura. Disponível: https://ministeriofiel.com.br/artigos/sola-scriptura/   . Acessado em 07.04.2024.

[24] João Calvino, As Institutas, (2006), IV.8.9.

[25] João Calvino, As Institutas, (2006), IV.8.13. Calvino comenta de forma mais genérica que, “os que são apóstatas na igreja e em seu frenesi rejeitam a Palavra de Deus, não obstante alegam que de boa vontade se submetem à santa mãe igreja, e em nome da humildade deflagram guerra, à semelhança de bestas dementes, contra Deus e contra sua Palavra. Todavia, querendo promover a honra de Deus, se submetem à tirania dos homens!” (João Calvino, Sermões sobre Tito, Brasília, DF.: Editora Monergismo, p. 15. (Edição do Kindle).

[26] João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1995, (2Co 1.1), p. 15.

[27] A Segunda Confissão Helvética, foi primariamente elaborada em latim, em 1562, pelo amigo, discípulo e sucessor de Zuínglio (1484-1531), Henry Bullinger (1504-1575).

[28] Segunda Confissão Helvética: In: Joel R. Beeke; Sinclair Ferguson,  Harmonia das Confissões Reformadas, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 11-12.

[29] Cf. François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 111.

[30] “O Espírito Santo abre nosso coração para confiarmos, crermos e obedecermos à Palavra de Deus na Escritura. A submissão continua sendo uma luta, inclusive intelectual. Devemos reconhecer nossas limitações, a realidade do mistério, a fraqueza de nossa fé, sem nos desesperarmos de todo o conhecimento e verdade” (Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Prolegômena, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 1, p. 389).

[31]“Não buscamos argumentos, nem evidências comprobatórias, sobre os quais se firme nosso critério. Pelo contrário, sujeitamos-lhe nosso juízo e entendimento como algo que está além do processo aleatório do juízo”  (João Calvino, As Institutas, I.7.5).

[32]Confissão de Westminster, I.4.

[33]João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 3.15), p. 98.

[34]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 3.6), p. 103.

[35] Devo essa expressão ao Dr. Michel Augusto B. da Silva F. Gomes, que a utilizou em sua tese de Doutorado,  O Drama da Pregação: do culto terapêutico à adoração baseada na exposição bíblica Teodramática, defendida no Programa de Pós-Graduação em Teologia das Faculdades EST, São Leopoldo, RS., no dia 12 de março de 2020, p. 186.

[36]Padre R.L. Bruckberger, A República Americana, Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1960, p. 31.

[37] Daniel J. Boorstin, Os Americanos: A experiência colonial, Lisboa: Gradiva, 1997, p. 23.

[38] Ver: Thomas F. Torrance, The Hermeneutics of John Calvin, Edinburgh: Lindsay & Co. Ltd., 1988, p. 70-71.

[39] Após redigir estas linhas, lembrei-me de uma pertinente constatação de Lloyd-Jones (1899-1981), que disse: “Não se pode levar ninguém à vida cristã pelo raciocínio. Vocês podem dar as razões para crerem, mas não pode levá-los a crer pela razão. Vocês podem pôr a causa diante deles, mas não podem prová-la como se fosse questão de um teorema de geometria. Devemos compreender que, enquanto os instruímos, devemos orar por eles também. É só quando o Espírito Santo lida com eles e os prepara e abre o entendimento deles, que eles podem receber a verdade” (D. Martyn Lloyd-Jones, As Insondáveis Riquezas de Cristo, p. 99). Vejam-se: também, J. Calvino, As Institutas, I.9.1ss.; Abraham Kuyper,  A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010,  p. 428-429.

[40] João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 2.11), p. 88.

[41]João Calvino, Efésios, (Ef 1.13), p. 36.

[42] John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1996 (reprinted), v. 22, (2Pe 1.3), p. 369. “Nós nunca conheceremos nada enquanto não formos ensinados pelo Espírito Santo, que fala mais ao coração do que ao ouvido” (C.H. Spurgeon, Firmes na Verdade, Lisboa: Peregrino, 1987, p. 72).

[43]João Calvino, As Institutas, I.7.4.

[44]Cf. João Calvino, As Institutas, I.9.3. Veja-se B.B. Warfield, Calvin and Augustine, Michigan: Baker Book House (The Work’s of Benjamin B. Warfield), 2000 (Reprinted), v. 5, p. 79ss. Do mesmo modo Ware: “O Espírito e a Palavra são inseparáveis na economia de Deus, e Jesus dá um testemunho glorioso desta verdade. Devemos aprender de Jesus que sujeição ao Espírito e devoção à Palavra são companheiros indispensáveis” (Bruce Ware, Cristo Jesus homem: Reflexões teológicas sobre a humanidade de Jesus Cristo, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2013, p. 84).

[45]Kuyper faz uma importante distinção que agora cito de forma mais completa: “‘Iluminação’ é o aclaramento da consciência espiritual que, no tempo por Ele escolhido, o Espírito Santo dá, segundo lhe apraz, a cada filho de Deus. ‘Revelação’ é uma comunicação dos pensamentos de Deus dada de maneira extraordinária, por um milagre, aos profetas e apóstolos. Mas a ‘inspiração’, totalmente distinta dessas duas, é aquela operação  pela qual Ele dirigiu a mente dos escritores das Escrituras no ato de escrever” (Abraham Kuyper, A obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010. p. 111).

[46] John H. Gerstner, A Doutrina da Igreja sobre a Inspiração Bíblica: In: James M. Boice, ed. O Alicerce da Autoridade Bíblica, São Paulo: Vida Nova, 1982, p. 41.

[47]R.C. Sproul, A Alma em Busca de Deus, São Paulo: Eclésia, 1998, p. 62.

[48]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1984 (Resumo feito por J.P. Wiles), I.7. p. 40. (Vejam-se, João Calvino, As Institutas, I.7.4-5). Hesselink (1928-2018) diz que “a contribuição mais original e duradoura de Calvino para uma compreensão evangélica da natureza e da autoridade da Escritura foi sua doutrina do testemunho interno do Espírito Santo” (I. John Hesselink, O Movimento Carismático e a Tradição Reformada. In: Donald K. McKim, ed. Grandes Temas da Tradição Reformada, p. 339). Pannier (1869-1945), do mesmo modo, escreve: “Esta doutrina especificamente calvinista, baseada na Escritura Sagrada, é o fio condutor que permite seguir de um extremo ao outro o plano geral e os diversos capítulos do livro”  (Jacques Pannier, Introduction à Institution de la Religion Chrestienne, Paris: Société Les Belles Lettres, 1936, v. 1, p. XXVI).

[49]Sproul (1939-2017) comenta: “Aqui a Palavra de Deus encarnada explica a Palavra de Deus escrita” (R.C. Sproul, A Alma em Busca de Deus, p. 71).

[50] À frente trataremos a compreensão da Calvino a respeito de profecia.

[51]J. Calvino, As Institutas, I.9.3.

[52]Juan Calvino, Respuesta al Cardeal Sadoleto, 4. ed. Países Bajos: Felire, 1990, p. 30. (Veja-se: também, a p. 29).

[53] João Calvino Exposição de 1 Coríntios, (1Co 2.11), p. 88.

[54] B.B. Warfield, Calvin and Augustine, Michigan: Baker Book House (The Work’s of Benjamin B. Warfield), 2000 (Reprinted), v. 5, p. 69-70.

 203 total views,  34 views today