O temor do Senhor ensina a sabedoria, e a humildade antecede a honra. (Provérbios 15.33)
Se pensarmos sobre esse provérbio, talvez uma pergunta possa surgir: afinal, o que é temer ao Senhor?
Nós, cristãos, somos diversas vezes encorajados pelas Escrituras a abandonarmos o medo. Nós sabemos os problemas que o medo pode nos causar, as angústias geradas por ele e até mesmo a paralisia temporária, que nos impede de tomar simples decisões.
De semelhante modo, somos também admoestados a sentirmos temor. Temer a Deus, isto é, temer quem ele é e seu poder.
Mas qual a diferença entre esses dois?
Segundo o dicionário, essas palavras significam:
Medo
- estado afetivo suscitado pela consciência do perigo ou que, ao contrário, suscita essa consciência.
“m. ao se sentir ameaçado”
- temor, ansiedade irracional ou fundamentada; receio.
“m. de tomar injeções”
Temor
- falta de tranquilidade, sensação de ameaça; susto.
“assediados pelos selvagens, vivem em t. constante”
- sentimento de profundo respeito e obediência.
“t. a Deus”
Analisando-as bem, podemos perceber que, basicamente, a diferença entre elas está na sua causa, na origem de sua manifestação, algo que sempre devemos analisar quando diz respeito ao nosso estado emocional. Ambas as emoções produzem em nós reações parecidas, mas suas causas e suas consequências são completamente diferentes.
Os cristãos aprendem a vencer as causas do medo quando estão diante do verdadeiro amor.
Como isso acontece?
O amor de Deus, que é seguro e eficaz para nos salvar, dá-nos a segurança de que temos um Pai poderoso e fiel. Além disso, temos a esperança da glória, não temendo quem pode matar o corpo, mas Aquele que tem poder de matar a alma (Mt 10.28).
- Nós podemos nos libertar do temor da morte:
“Livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida.” (Hb 2.15)
- E também do temor dos homens:
“Assim, afirmemos confiantemente: O Senhor é o meu auxílio, não temerei; que me poderá fazer o homem?” (Hb 13.6)
- No entanto, somos encorajados pela Escritura a desenvolver nossa salvação com temor e tremor:
“Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor” (Fp 2.12)
- Devemos nos submeter uns aos outros no temor de Cristo:
“Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo” – Ef 5.21
Esse temor tem a ver com o medo de entristecer o coração daquele que primeiro nos amou e se entregou por nós. É um temor desenvolvido por uma consciência sensível e atenta à voz de Deus. O poder de Deus é assustador aos homens limitados como nós e deve sempre nos lembrar de quem somos diante dele e da sua soberania.
Temer ao Senhor nos dá anseio por conhecê-lo e saber como agradá-lo em sua santa Lei. Temer ao Senhor é sair do estado letárgico do pecado, que nos afasta de um coração piedoso, para entrarmos em um estado de expectativa por sua ética e sua moralidade.
Temer ao Senhor é a causa da sabedoria, pois nos leva a compreender que nossa estultícia está em amarmos muito mais a nós mesmos do que a Cristo, que nos salvou da morte e do juízo. Por causa do pecado, nós agora amamos muito mais a nós mesmos e tememos as pessoas, a quem deveríamos amar. Invertemos os valores primordiais do maior e mais importante mandamento que Jesus nos deixou:
“Respondeu Jesus: O principal é: Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.” (Mc 12.29-31)
Para sairmos desse estado de temer aos homens, devemos compreender que esse é o princípio da idolatria, que redireciona o amor a Deus, nosso Criador, para o amor às criaturas. Queremos defender nossa reputação, não queremos abandonar nosso orgulho e pedir perdão a quem nos ofendeu ou a quem ofendemos, queremos guardar nossa vaidade de ser ferida pela humildade exigida a nós por e com a qual ele mesmo nos tratou.
Amar ao Senhor com tudo o que somos nos redireciona, nos tira da insegurança de um mundo sem Deus. Compreender sua soberania eterna, sua presença no meio de nós, sua decisão de habitar em nosso corpo para nos santificar e nos fazer mais parecidos com Cristo, deve nos acalmar o coração, pois esse amor é o mesmo que nos convence do pecado e do juízo, mas também nos livra eternamente da ira e da condenação.
“No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor.” (1Jo 4.18)
Que possamos, acima de tudo, cultivar em nós o amor que ultrapassa quaisquer barreiras, quaisquer temores e que perdoa como fomos perdoadas.
Guarde isso em seu coração: você está perdoada e é muito amada pelo Senhor!
“Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados.” (1Jo 4.10)
Prova do amor de Deus pelos seus filhos é que ele está sempre pronto a nos ensinar e disciplinar conforme a necessidade, para que tudo coopere para o nosso bem e nos torne mais parecidas com seu Filho unigênito (Rm 8.28-30)
Não há nada que possamos fazer em secreto quando se trata do Senhor dos exércitos, portanto quem abandona o caminho do bem e odeia ser corrigido, morrerá (Pv 15.9-27). Seguir os passos de Cristo, andar corretamente, pensar antes de responder, deixar a acusação silenciar em nossa boca e alegrar-nos no Senhor, que nos torna agradáveis, só é possível aos que buscam a sabedoria com temor e diligência.
Do mesmo modo que pedimos o pão nosso de cada dia, devemos também pedir por sabedoria, pois somente assim a honra que procede da salvação eterna, e agora, será derramada sobre nós.
Aceite a correção do Senhor, que muitas vezes vem por meio de outras pessoas, pois ela traz sabedoria e nos ensina a sermos humildes; e quem é humilde é respeitado.
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