Os Presbíteros como homens de verdade escolhidos e capacitados por Deus

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 A propósito do dia do Presbítero Presbiteriano 

Quando o sogro de Moisés o aconselha a nomear auxiliares para julgar o povo, sugere o critério: “Procura dentre o povo homens capazes (hayil) (pessoas hábeis, honradas e de bem), tementes  (yare’) a Deus, homens de verdade  (‘emeth) (fiel, digno de confiança), que aborreçam a avareza….” (Ex 18.21).

 

Homens tementes a Deus

Esses homens são qualificados de “homens de verdade”; ou seja: são honrados, íntegros, dignos de confiança. De passagem, podemos dizer que aqui temos um indicativo do significado de hombridade: ser fiel, digno de confiança.

Moisés preparando o povo para entrar na Terra Prometida incumbiu aos sacerdotes de organizarem a Festa dos Tabernáculos, uma das três solenidades obrigatórias a todos os judeus.[1] Nesta solenidade o povo apresentava ofertas a Deus como reconhecimento de suas bênçãos (Dt 16.17):[2]

Quando todo o Israel vier a comparecer perante o SENHOR, teu Deus, no lugar que este escolher, lerás esta lei diante de todo o Israel.12 Ajuntai o povo, os homens, as mulheres, os meninos e o estrangeiro que está dentro da vossa cidade, para que ouçam, e aprendam, e temam  (yare’) o SENHOR, vosso Deus, e cuidem de cumprir todas as palavras desta lei; 13 para que seus filhos que não a souberem ouçam e aprendam a temer  (yare’) o SENHOR, vosso Deus, todos os dias que viverdes sobre a terra à qual ides, passando o Jordão, para a possuir. (Dt 31.11-13).

O temor do Senhor – o senso de sua grandeza e majestade – deve estar diante de nós, de nossos pensamentos, desejos, projetos e atitudes. Este deve ser o princípio orientador de nossa vida.

Calvino faz uma analogia pertinente e esclarecedora:

Visto que os olhos são, por assim dizer, os guias e condutores do homem nesta vida, e por sua influência os demais sentidos se movem de um lado para o outro, portanto dizer que os homens têm o temor de Deus diante de seus olhos significa que ele regula suas vidas e, exibindo-se-lhes de todos os lados para onde se volvam, serve de freio a restringir seus apetites e paixões.[3]

 

Santidade e Misericórdia de Deus

A educação bíblica é magnificamente completa, envolvendo o ensino sobre a santidade e a misericórdia de Deus. Mostra-nos o Deus absoluto e, o quanto carecemos dele.

Portanto, biblicamente, devemos caminhar dentro desta perspectiva: Deus é santo/majestoso, isto nos leva a reverenciá-lo com santo temor. Mas também, Deus é misericordioso, portanto, devemos amá-lo com toda a intensidade de nossa existência. A santidade nos fala de sua justiça. A misericórdia nos conduz a refletir sobre o seu incomensurável amor que fez com que Ele se desse a conhecer, consumando a sua revelação em Jesus Cristo, o Deus encarnado (Hb 1.1-4).

A eliminação de uma dessas duas percepções do ser de Deus nos conduziria a uma compreensão equivocada de quem é Deus e, consequentemente de nosso relacionamento com Ele. Uma teologia equivocada promove uma fé distorcida que termina por se frustrar em suas próprias expectativas estranhas às promessas de Deus. A genuína vida cristã parte sempre de uma compreensão adequada do Deus infinito e pessoal; o Deus que se revela.

O nosso amor a Deus começa pelo conhecimento de sua majestade. Downs enfatiza corretamente: “O amor por Deus deve estar enraizado apropriadamente no solo de nosso temor de Deus”.[4] Portanto, devemos não simplesmente temer o castigo de Deus, antes temer pecar contra Deus, o nosso Santo e Majestoso Senhor.

O salmista Davi depois de grande prova e livramento, escreve: “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei  (lâmad)[5] o temor  (yir’ah) do SENHOR” (Sl 34.11). Restaurado por Deus após ter pecado, confessado e se arrependido, Davi propõe-se a ensinar o caminho de Deus: “Então, ensinarei  (lâmad) aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores se converterão a ti” (Sl 51.13).

O ensino sobre Deus, envolve, portanto, a sua justiça e misericórdia perdoadora.

 

O temor a Deus como essencial         

O temor de Deus é algo essencial à vida cristã. A Palavra nos mostra em diversas passagens como este temor longe de ser algo que nos afaste de Deus  causando uma ansiedade paralisante,[6] é resultado do conhecimento de Deus, do seu amor, bondade, misericórdia, santidade, justiça e glória.[7] O temor do Senhor é uma relação de graça por meio da qual podemos conhecer a Deus, nos relacionar com Ele tendo alegria e gratidão por temê-lo. O amor como compromisso nos estimula a servir a Deus em alegre obediência. “A graça e o favor de Deus não abolem a solenidade do trato”, comenta Mundle.[8] O nosso santo temor a Deus se manifesta em amor obediente.[9]

O temor de Deus envolve o senso de nossa pequenez e da sua maravilhosa graça. O temor de Deus é um encantamento com a sua majestade e a consciência de nosso pecado e carência de sua misericórdia. Aliás, o Senhor é quem nos ensina a temê-lo e reverenciá-lo. Estou convencid