Ora, porque Ele quis! – Sola Gratia

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Ora, porque Ele quis! – Sola Gratia

Se você perguntar qual foi o principal motivo para Deus ter orquestrado todo o plano de salvação – a Bendita Troca descrita no artigo anterior -, só haverá uma resposta: Ora, porque Ele quis!
Simples assim. Ele quis; Ele fez. Deus nos salvou porque Ele quis.
Claro que havia um propósito em sua mente. Falaremos sobre isso no penúltimo artigo. Mas uma coisa precisa ficar clara, desde já: o que moveu o coração de Deus não foi nada externo a Ele, mas, sim, somente sua vontade livre e soberana, que se fez propícia a criaturas caídas. Isso é o que chamamos de graça. Não merecíamos, mas, mesmo assim, Ele quis e fez.
Eis, portanto, o único motivo de sermos salvos: a graça livre e soberana de Deus. Sola Gratia.

Qual é a graça da graça?

Conforme explicado no artigo anterior, não haveria solução ao problema da humanidade, a menos que houvesse um ser humano perfeito, santo e disposto a trocar de lugar conosco.
Não preciso dizer que tal homem nunca existiria, por meios naturais. Mas Deus… ah, se não fossem os “mas” de Deus! – dizia Martyn Lloyd-Jones.
Não havia solução natural, mas Deus deu um jeito. Livre, espontânea e soberanamente, Ele decidiu dar um jeito. Não precisava fazê-lo; mas o fez mesmo assim. Não sendo compelido por nada fora de si, não possuindo nenhuma necessidade, Ele tomou as rédeas da situação e proveu uma solução.
A doutrina da salvação somente pela graça afirma que quem deu o primeiro passo foi Deus. O homem não tomou iniciativa nenhuma; foi o próprio Bom Pastor que buscou, encontrou e salvou suas ovelhas desgarradas. Não há mérito humano, apenas graça.
Do princípio ao fim, a salvação é uma obra soberana de Deus. E Ele nos oferece tal salvação de forma gratuita. Para ser nossa, basta Ele querer. É, afinal, um presente, uma dádiva – uma graça. A salvação é dada, não conquistada.

“Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus” (Ef 2:8, NAA).

A graça é de graça

É comum ouvir: “A salvação é pela graça, mas vai te custar tudo!”. Será?
Afirmo que isso é verdade em certo sentido, e mentira em outro. É verdade que o salvo terá sua vida radicalmente transformada pela graça, e, por isso, podemos dizer que a graça lhe custou tudo; afinal, tal salvo nunca mais será o mesmo. Mas a salvação não envolve nenhum custo real ao ser humano, no sentido comum da palavra; a mudança de vida (santidade) é consequência da salvação, e não sua causa, e, por isso, não representa nenhum custo ao salvo. Não perdemos nada para ter a salvação; apenas ganhamos. O lucro é total. A santidade só é custosa àqueles que já foram salvos sem custos.
Portanto, tal forma de expressão é danosa ao Evangelho, pois a palavra “custo” possui uma conotação de mérito – se eu paguei, eu mereço consumir.
Precisamos ter coragem de afirmar o que a Bíblia afirma. A salvação é de graça, mas… Mas nada! É de graça, e ponto final.
“Ah, Gabriel, mas e…” – Mas nada!
“Mas você esqueceu das…” – Mas nada!
A salvação é pela graça, e pela graça somente. Sem mais, nem menos. Sem mas, nem porém. Não precisamos fazer nada para conquistar a salvação, pois ela vem até nós por meio de uma ação livre e soberana do Salvador.
Será que temos roubado glória de Deus? Veja bem: a santidade é uma das belas dádivas que Ele nos concede, e nós a transformamos em moeda de escambo. Deixamos de louvá-lo por uma de suas obras, pois a atribuímos a nós mesmos… Ora, pro inferno com as minhas boas obras! Eu quero as boas obras de Cristo imputadas a mim; essa, sim, é a única e real esperança do crente.

As minhas próprias obras não são nada, e nunca angariaram méritos suficientes ao céu. A santidade é tão graciosa quanto a salvação; tudo procede de Deus, nada de mim.
Se tenho algum vestígio de santidade, é porque Deus está agindo. Se venço pecados, é porque a graça está agindo. Se ainda não estou no inferno, é porque Deus quis. Só isso, e nada mais.
É porque Ele quer. Sola Gratia.

COMO POSSO, ENTÃO, SER SALVO?

Já vimos, até aqui, que a salvação é uma obra livre e soberana de Deus (graça), que se dá por uma Bendita Troca – Jesus é tratado como nós merecemos ser tratados, a fim de que nós sejamos tratados como Ele merece ser tratado. Ou seja, a salvação é a dádiva gratuita da justificação.
Deus nos declara justos, porque Ele quis.
E como eu posso receber tal dádiva? Devo ficar parado, esperando? De forma nenhuma!
De maneira sobrenatural, miraculosa e incompreensível, a graça soberana age em harmonia com a nossa vontade livre. Deus não salva robôs, nem deuses. Ele salva seres humanos: seres de vontade livre, mas que precisam ser auxiliados pela graça.
Existe, portanto, uma responsabilidade ao crente. E é uma só: crer. A única maneira de recebermos a graça salvífica é pela fé no Evangelho – a mensagem de que Deus nos justifica, graciosamente, em Cristo.
A fé é o tema do nosso próximo artigo. Mas já posso adiantar que se trata de um assunto maravilhoso! Afinal, apesar de ser uma ação humana, a fé é, também, uma dádiva divina. É, também, graça. Se Deus não nos der o dom da fé, não creremos. Ou seja: a fim de recebermos graça, precisamos, antes, receber graça. Graça sobre graça.
Dessa forma, evitamos roubar qualquer parcela da glória de Deus. A graça não é uma ponte que atravessamos. A graça é a ponte, o chão, os pés, o céu, a origem, o destino. A graça é responsável por todos os aspectos da salvação, sem exceção.
A graça é a salvação completa, e não há nenhuma outra maneira de sermos salvos. Depende de Deus e de sua vontade soberana. Só isso, e nada mais.

“(…) Ao Senhor pertence a salvação!” (Jn 2:9, NAA)

Você crê nisso? Se sim, alcançou salvação. De graça. Por graça. Porque Ele quis.