Um chamado de Deus para as famílias

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Um chamado de Deus para as famílias Gn 35:1-4¹

Alguns capítulos anteriores após a reconciliação entre Esaú e Jacó (Gn 33:4), Esaú convida seu irmão para ir até o monte Seir (Gn 33:12). O monte Seir é onde Esaú habitou juntamente com seus filhos (Gn 36:8) e onde ele formou o reinado dos Edomitas. E Jacó tenciona ir ao monte Seir para se encontrar com seu irmão Esaú (Gn 33:14). E nesta jornada até o monte Seir uma verdadeira confusão acontece.

Quando Jacó e sua família estavam indo em direção ao monte, eles chegaram em Siquém (terra de Canaã) e arrumou a sua tenda junto a cidade. Diná decidiu sair para ver as filhas da terra (talvez ela queria dar uma espiada na última moda do momento) e foi aí que ela foi tomada a força pelo príncipe Siquém. A confusão se generaliza! Os filhos de Jacó ficaram irritados, mas depois de muita conversa decidem fazer um acordo malicioso com o rei Hamor e Siquém seu filho. E daí então, depois de três dias, Simeão e Levi, irmãos de Diná, assassinaram todo mundo na cidade, com exceção das mulheres e das crianças. Jacó, tendo tomado conhecimento dos fatos se desespera, fica sem ter o que fazer e com grande medo de morrer.

Portanto, no texto de Gênesis 35:1-15, Deus aparece a Jacó e o manda de volta para Betel. E através do exemplo deste pai de família, Jacó, quero falar neste artigo sobre três lições que podemos aplicar em nosso contexto famíliar. Pois não podemos nos esquecer que o mundo está constantemente em oposição aos valores familiares. E por isso, nós precisamos da direção que vem de Deus e de coragem para enfrentá-lo!

Para ouvir o chamado de Deus em nossas famílias precisamos: 

1. NOS ATENTAR À VOZ E A ORDENANÇA DE DEUS

Disse Deus a Jacó: Levanta-te, sobe a Betel e habita ali; faze ali um altar ao Deus que te apareceu quando fugias da presença de Esaú, teu irmão. (Gn 35:1 )

Aqui nós vemos a intervenção de Deus. Deus intervém e redireciona Jacó que estava com sua família e todos quantos posteriormente com ele estava indo em direção para o monte Seir que é oposto à Betel. O texto diz: “Disse Deus a Jacó: Levanta-te, sobe a Betel e habita ali”. Entenda que Jacó tencionava ir para o monte Seir a pedido do seu irmão Esaú (Gn 33:12-14). Mas agora é Deus quem diz: “Levanta-te (imperativo), sobe a Betel e habita ali”. Uma ironia aqui: Deus está dizendo pra Jacó: Você não vai para o monte Seir, para ficar perto do seu irmão, meu plano para você é diferente, você vai para Betel!

Veja que Deus intervém trazendo a memória de Jacó algo muito importante: A aliança que Deus fez com ele e o voto do próprio Jacó (Gn 28:15,20-22). Mas Jacó, cerca de 20 ou 30 anos depois, estava indo em direção oposta. Ou seja, não estava cumprindo a sua parte no acordo. Mas Deus permanece fiel! Vimos que Jacó estava com medo do ocorrido (Gênesis 34:30), porém, Deus mostra que estava com ele. O texto diz: “faze ali um altar ao Deus que te apareceu quando fugias da presença de Esaú teu irmão”. Às vezes nostalgia é algo bom: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lm 3:21).

Que tipo de voz temos ouvido ao conduzir a nossa família? A voz de Esaú ou a voz de Deus? Vivemos, de fato, um tempo de verdadeira confusão em relação ao ouvir a voz de Deus. Pais que não sabem discernir entre a voz de Deus e a voz do mundo. Pais que confundem as vãs filosofias com a voz de Deus. Pais que estão sendo guiados e direcionados muito mais por vozes ideológicas e por todo tipo de conhecimento humano do que sendo guiados e orientados pela Palavra de Deus.

Para ouvirmos o chamado de Deus em nossas famílias, precisamos obedecer a voz e a direção de Deus! Deus é aquele que nos direciona e nos traz a memória sobre quem Ele é o que Ele tem feito por nós. Grandes coisas têm feito o Senhor por nós. Precisamos estar atentos a voz de Deus e as suas ordenanças sempre que Ele falar. Precisamos discernir a sua voz para não sermos confundidos e enganados.

Não se esqueça: ELE É O DEUS DA ALIANÇA! E por meio de Jesus fazemos parte dessa aliança! Aprendemos, portanto, a ouvir a voz de Deus senão em outro lugar através da leitura diária da Bíblia. Por ela Deus fala como seu povo!

Para a sua reflexão: Você está atento à voz e as ordenanças de Deus em seu lar? Você tem ouvido, crido e obedecido a voz e a direção de Deus? 

Por isso, para ouvirmos o chamado de Deus em nossas famílias precisamos:  

2. PURIFICAR O NOSSO LAR

Então, disse Jacó à sua família e a todos os que com ele estavam: Lançai fora os deuses estranhos que há no vosso meio, purificai-vos e mudai as vossas vestes (Gn 35:2)

Esta palavra do texto que diz: “Então” denota uma mudança de posicionamento. Uma disposição obediente. Nós vemos aqui o despertar de um homem! Um pai de família que estava dormindo, mas agora acordou!

Demonstra um contraste muito precioso na vida de Jacó: A 1ª fala de Jacó (Gn 34:30) demonstra um Jacó fraco e medroso. (Jacó estava com medo da possível aliança entre os cananeus, os ferezeus e os siquemitas). A 2ª fala (Gn 35:2) demonstra um Jacó destemido e pronto a obedecer a voz e a direção de Deus para a sua vida e para a sua família.

Sendo assim, após ouvir a voz de Deus e não mais com medo, ele vai ordenar o que tem que ser feito para a sua família e todos quantos que com ele estava. O texto diz: “lançai fora os deuses estranhos que há no vosso meio, purificaivos e mudai as vossas vestes”:

Quais foram as ordenanças de Jacó: Foram três ordens: Antes, um ponto importante aqui: Talvez em decorrência das andanças da família de Jacó e o contato com outros povos ou talvez seja especificamente os deuses do povo de Siquém (Gn 34:27-29) e também em decorrência de sua omissão como líder, falsos deuses e diferentes costumes foram sendo inseridos entre eles.

Mas de qualquer forma, seja um ou outro motivo, ou todos eles, o ponto é que havia falsos deuses e diferentes costumes entre eles. Então, agora não mais se omitindo da sua responsabilidade como cabeça do lar, Jacó vai dar estas três ordens: ordem: Se livrar dos deuses estranhos. 2ª ordem: De purificação. ordem: Mudança de vestes (algo literal como se despir de alguns objetos (brincos, etc.) supersticiosos; veremos mais adiante).

Você provavelmente já ouviu a história de uma determinada cidade em que os lixeiros fizeram greve e já não estavam mais recolhendo os lixos nas ruas. O prefeito desta cidade ordenou que os lixos fossem guardados dentro da própria casa até que a situação fosse resolvida. Mas dependendo da quantidade de pessoas dentro de uma casa, os lixos se acomulariam mais rapidamente. Um determinado morador desta cidade que tinha uma quantidade grande de pessoas dentro de sua residência, vendo os lixos se acomulando e não podendo jogá-los na rua, teve uma ideia. Ele foi até o mercado mais póximo de sua casa, comprou caixas de presentes e fitas e levou-os para sua casa. Chegando em sua casa, ele pegou os lixos e os colocou nestas caixas de presente. Com tudo pronto, pela madrugada, ele foi até a praça central da cidade e colocou estas caixas de presente expalhadas pela praça e se afastou. Ao amanhecer, as pessoas que transitavam pela praça, desconfiadas, não mexeram nas caixas de presente. Mas com o tempo, algumas pessoas pensaram que era presente do prefeito da cidade e então começaram a levar estas caixas para suas casas. E quando elas chegavam em casa e abriam tais caixas, surpreza! 

Pois veja, sabe quem está levando estes lixos para casa? Muitas vezes somos nós! Estamos levando para dentro do nosso lar toda sorte de lixos que a novidade do mercado nos oferece.

Infelizmente temos visto pais com muita voz fraca no lar. Sem santidade no lar! Pais que estão verdadeiramente sem autoridade. Pais em verdadeira omissão. Preferem deixar os filhos à mercê da internet, das ideologias, do que combater de frente!

Portanto, para ouvirmos o chamado de Deus em nossas famílias, precisamos purificar o nosso lar! Abandonar os nossos apegos internos e externos. Precisamos lançar fora do nosso lar todo falso ídolo e todo costume de origem mundana.

Para a sua reflexão: Você tem sido um pai com voz profética e santificadora em seu lar? Você tem se levantado como voz de Deus para instruir, corrigir e exortar sua esposa e  filhos quando necessário ou tem se acovardado?

Por fim, para ouvir o chamado de Deus em nossas famílias precisamos:

3. CONSAGRAR NOSSA FAMÍLIA NO ALTAR DE DEUS

Levantemo-nos e subamos a Betel. Farei ali um altar ao Deus que me respondeu no dia da minha angústia e me acompanhou por onde andei. Então, deram a Jacó todos os deuses estrangeiros que tinham em mãos e as argolas que lhe prendiam das orelhas; e Jacó os escondeu debaio do carvalho que está junto a Siquém (Gn 35:3,4) 

Depois de dizer o que deveria ser feito, ou seja, lançar fora os ídolos e mudar de vestes, agora ele vai dar dois comandos para a sua família e para todos quantos que com ele estava: 1º Comando: Comando de destino: O texto diz: “Levantemo-nos e subamos a Betel”. Veja que este é um comando para mudança de destino; mudança de viagem; ou seja, uma mudança completa de direção. 2º Comando: Comando de objetividade ou de proposito. Qual era a objetividade dessa mudança de direção? O texto diz: “Farei ali um altar ao Deus que me respondeu no dia da minha angústia”.

Ou seja, você já entendeu que o propósito era reestabelecer o altar de adoração! E quais foram os resultados do despertar de Jacó? O texto diz: Então, deram a Jacó todos os deuses estrangeiros que tinham em mãos e as argolas que lhes pendiam das orelhas”.

Você percebeu as consequências? Veja comigo: 1º Entregaram os falsos deuses. 2º Mudaram de vestes: deram a Jacó as argolas que lhes pendiam das orelhas (Brincos usados como superstição, amuletos).

O pastor João Calvino comentando esta passagem diz que:

Embora o homem santo tivesse sua casa em adequada subordinação; no entanto, como todos renderam tão pronta obediência ao seu comando, rejeitando seus ídolos, não duvido que tenham sido influenciados pelo medo do perigo. De onde também inferimos quão importante é para nós sermos despertados do sono pelo sofrimento. Pois sabemos quão pertinaz e rebelde é a superstição. Se, em um estado de coisas pacífico e alegre, Jacó tivesse dado tal comando, a maior parte de sua família teria ocultado fraudulentamente seus ídolos: alguns, talvez, teriam se recusado obstinadamente a entregá-los; mas agora a mão de Deus os exorta, e com mentes prontas eles se arrependem rapidamente. Também é provável que, de acordo com as circunstâncias da época, Jacó tenha pregado a eles sobre o justo julgamento de Deus, para inspirá-los com medo. Quando ele ordena que eles se purifiquem, é como se ele tivesse dito: Até agora vocês foram contaminados diante do Senhor; agora, vendo que ele nos considerou tão misericordiosamente, lave essa sujeira, para que ele não volte a desviar o rosto de nós.²

Esta foi uma pronta obediência originada do medo do perigo. Esta família foi despertada do sono por meio do sofrimento. Talvez se fosse um momento pacífico e alegre, não teriam entregado os ídolos. Mas agora a mão de Deus os exorta, e com mentes prontas eles se arrependem rapidamente: Será necessário o sofrimento para nos arrepender?

O texto segue dizendo que: “Jacó os escondeu debaixo do carvalho que está junto a Siquém” (Gn 35: 4). O que significa esta ação de Jacó em esconder estes objetos debaixo do carvalho? Alguns comentaristas dizem que, depois de quebrar em pedaços, talvez, ele cavou um buraco sob um carvalho e os enterrou, para que não fossem mais usados ​​de maneira idólatra. Isso significa, ainda segundo alguns comentaristas, para que ninguém mais os encontrasse ou reutilizasse estes ídolos e objetos supersticiosos. Há uma lição importante aqui no versículo 4: Devemos enterrar, sepultar os velhos hábitos e costumes e não mais busca-los.

Para ouvirmos o chamado de Deus em nossas famílias, precisamos restaurar o altar de adoração em nosso lar. Só a Deus devemos prestar culto e louvor! Este texto de Gênesis é um contexto do período de Moisés. E neste tempo já havia a lei e o sacerdócio estabelecido. Então veja que a grande mensagem de Moisés para o seu povo é clara: Era necessário manter o altar de adoração purificado de toda idolatria.

Para a nossa reflexão: Temos erigido constantemente o altar de adoração em nosso lar? Temos sido verdadeiros sacerdotes e mantido este altar purificado? Temos restaurado constantemente o altar de adoração em nosso lar, no seio de nossa família?

Estes são princípios para jovens que pretendem se casar ou estão no processo de casamento. Estes são princípios para os avós ensinarem seus filhos e seus netos. Estes são princípios para a esposa que é a ajudadora e auxiliadora do lar. Estes são princípios fundamentais para o pai de família, o cabeça do lar. Estes são princípios para o povo da Nova Aliança: Podemos obedecer, purificar-nos e santificar-nos por meio daquele que foi o Perfeito servo obediente, que promoveu a purificação e a santificação para o seu povo:

Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas. (Hb 1:3)   


REFERÊNCIAS

1- Os trechos bíblicos mencionados são da edição Revista e Atualizada de João F. de Almeida 2009 Sociedade Bíblica do Brasil.

2 – CALVINO, João. Genesis 35. Bible Hub. Disponível em: <https://biblehub.com/commentaries/calvin/genesis/35.htm>. Acessado em: 20/07/2022.