O salmista nos fala da prática bem-aventurada do homem que teme ao Senhor: “[…] o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite” (Sl 1.2).

Ouvir e meditar são os passos conducentes à prática. O meditar sincero aprofunda a leitura, propiciando uma compreensão mais ampla e piedosa da doutrina. Aquilo sobre o que meditamos molda nossa perspectiva da realidade e nosso comportamento. Essa sabedoria espiritual exige um laborioso processo de compreensão, entendimento e prática da verdade. Portanto, nossa sabedoria consiste em nos submetermos às Escrituras.
A obediência a Deus deve ser exercitada diariamente (Sl 1.1-2; 17.4-5; 119.1/Dt 30.14; Rm 2.13; Tg 1.22-25). No salmo 1, enquanto o ímpio persegue freneticamente o conselho dos ímpios, o fiel que tem na Palavra o seu prazer ocupa sua mente com a Lei do Senhor, de dia e de noite. A ênfase está no objeto da meditação (a Lei) e sua constância.
A meditação é centrada em Deus e sua Palavra — não é uma mera introspecção ou transcendência, mas é dirigida por Deus. Portanto, todo momento e circunstância são oportunos para tomar a Palavra como alvo de nossas reflexões.
Curiosamente, no salmo 2.1, o verbo “imaginar” é o mesmo de “meditar” no salmo 1.2. O verbo, usado de forma negativa e positiva na Escritura, tem o sentido de murmurar, gemer, meditar, planejar, imaginar. É possível que a Palavra fosse “murmurada”, lida à meia-voz durante a meditação contínua. Esse meditar objetivava adequar a vida aos ensinamentos divinos por meio da aprendizagem dos mandamentos, não sendo apenas um exercício intelectual (Js 1.8).
A questão está no que ocupa nossa mente: meditar na Palavra ou imaginar coisas vãs? Quando nossa imaginação navega sem rumo, pode se alimentar de coisas fúteis, tornando-se instrumento de destruição para maquinar planos de vingança e calúnia.
A imaginação mal utilizada cria estruturas mentais que se tornam pressupostos concretos para elaborações intelectuais equivocadas, conduzindo-nos a um comportamento distante da realidade, fundamentado em imaginação pecaminosa que constrói um mundo fictício e destrutivo.
Muitos pecados são fermentados no coração antes de se transformarem em hábitos e vícios. Uma mente livremente influenciada pelo pecado elabora planos pecaminosos e os racionaliza, criando o veneno e o que julga ser seu antídoto. Nosso pensamento precisa estar cativo à obediência de Cristo (2Co 10.5).
É impossível haver genuíno amadurecimento espiritual distante da Palavra. Por isso, meditar nas Escrituras é indispensável à nossa santificação.
Meditar na Palavra e nos atos de Deus é uma prática abençoadora porque ocupa nossas mentes e corações com o que realmente importa, estimula nossa gratidão e perseverança em meio às angústias, trazendo grande alívio.
Davi se confortava meditando nos feitos de Deus, nas expressões palpáveis do cuidado do Senhor em sua vida, levando-o ao canto jubiloso: “No meu leito, quando de ti me recordo e em ti medito, durante a vigília da noite. Porque tu me tens sido auxílio; à sombra das tuas asas, eu canto jubiloso” (Sl 63.6-7/Sl 77.11-12; 143.5).
Meditar na Palavra significa considerá-la em nossas decisões e refletir sobre seus ensinamentos. A meditação deve modelar, corrigir e confirmar nosso comportamento, sendo uma exortação à assimilação existencial da Palavra para que se evidencie em nossa prática.
A prática de meditar na Palavra nos confere maior discernimento e o prazer de obedecer a Deus e partilhar de seus ensinamentos.
Vejam os testemunhos inspirados de servos de Deus:
- “Quanto amo a Tua lei! É a minha meditação todo o dia” (Sl 119.97).
- “Compreendo mais do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos” (Sl 119.99).
- “Meditarei nos teus preceitos, e às tuas veredas terei respeito” (Sl 119.15/Sl 119.27,48,78,148).
Nosso meditar na Palavra tem implicações diretas em nossa santificação, constituindo-se em estímulo constante, por graça de Deus, ao cumprimento de seus mandamentos.
O estudo da Palavra deve ser acompanhado de oração, pedindo a Deus que nos capacite a compreendê-la, desejando sempre nos submeter à vontade divina, harmonizando nossos desejos com sua santa e perfeita vontade. Essa compreensão da Palavra é concedida pela iluminação do Espírito de Deus.
Portanto, o homem bem-aventurado é aquele que se agrada em meditar na Palavra, dando atenção aos mandamentos de Deus para poder cumpri-los, tornando-os o modelo de sua agenda de pensar e praticar.
O Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa, colunista do BP, é pastor-auxiliar da 1ª IP São Bernardo do Campo, São Paulo, SP, Coordenador Acadêmico e professor de teologia no JMC; é membro do CECEP e do Conselho Editorial do Brasil Presbiteriano
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