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A Santidade de Deus: Glória, Beleza e Chamado à Vida Santa

A santidade de Deus é uma verdade incontestável para todo cristão. No entanto, muitas vezes essa verdade permanece como uma abstração teológica, desconectada da vida prática. Quando a fé se limita ao dogma e não se traduz em vivência, perde sua força transformadora. A fé cristã genuína é aquela que une conhecimento e obediência, revelando-se na concretude da vida.

A santidade de Deus não é apenas um atributo divino; é um convite à reverência, confiança e santificação. O salmista nos chama à adoração: “Exaltai ao Senhor, nosso Deus, e prostrai-vos ante o escabelo de seus pés, porque ele é santo” (Sl 99.5).

A santidade é a base do louvor, pois revela a majestade e glória de Deus.

A palavra “santo” carrega a ideia de separação, de algo elevado. Deus é santo em essência, acima de tudo o que existe. Sua glória é a manifestação visível dessa santidade. Como afirma Piper: “A santidade de Deus é sua glória oculta. A glória de Deus é a sua santidade revelada” (John Piper, Na sala do trono: In: Kathleen B. Nielson; D.A. Carson, orgs. Este é o nosso Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 62). Essa verdade é incompreensível à mente humana, pois nenhum povo, por si só, concebeu um Deus santo. A revelação bíblica é única nesse aspecto.

A idolatria nasce da tentativa humana de moldar deuses à própria imagem. Como diz Sproul (1939-2017), ela é a substituição da realidade por uma imitação. (Cf. R.C. Sproul, A Santidade de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 205). Poythress complementa: os ídolos se conformam à imaginação de quem os cria, oferecendo conforto e controle. Em contraste, o Deus santo é incontrolável, transcendente e pessoal. (Cf. Vern S. Poythress, Redimindo a Matemática: uma abordagem teocêntrica, Brasília, DF: Monergismo, 2020, p. 20-21).

A santidade divina também se expressa na beleza. Deus é o autor de toda beleza, e o esplendor da criação aponta para ele. O salmista declara: “Adorai o Senhor na beleza da sua santidade” (Sl 96.9). A beleza não é autônoma; ela deriva de Deus. Separá-la de seu Criador é idolatrar a criação.

A santidade de Deus é perfeita em poder, justiça e misericórdia. Seu poder não é tirânico, sua justiça não é cruel, e sua misericórdia não é mero sentimento − tudo está fundamentado em sua santidade.

A repetição “Santo, santo, santo” (Is 6.3) é um recurso hebraico para expressar superlatividade. Nenhum outro atributo é repetido desse modo. Motyer afirma que a santidade é a verdade suprema sobre Deus, exigindo um “superlativo” para ser expressa. Deus é completamente santo (Cf. Alec J. Motyer, O Comentário de Isaías, São Paulo: Shedd, 2016, p. 100).

Toda santidade nas Escrituras é teorreferente − deriva de Deus. Fora dele, não há santidade. Somente Deus pode santificar, e ele o faz em relação ao seu povo. Como afirma Oséias, Deus é santo, mas se relaciona conosco (Os 11.9).

Essa certeza fundamenta a oração de Neemias (Ne 1.8-11) e o louvor de Davi: “[…] tu és santo, entronizado entre os louvores de Israel” (Sl 22.3). É também a fonte da alegria do salmista: “Nosso coração se alegra, pois confiamos no seu santo nome” (Sl 33.21).

Para Calvino (1509-1564), Deus é absolutamente santo, e essa santidade é o fundamento de sua glória e soberania. Ele afirma que “toda nossa vida se destina à sua glória” − ou seja, viver para Deus é viver em resposta à sua santidade. (Cf. João Calvino, Catecismo de Genebra, Perg. 2).

Embora Calvino não use a linguagem estética com frequência, ele reconhece que a criação aponta para a glória e santidade de Deus. Os salmos, por exemplo, são centrais na liturgia calvinista, pois expressam louvor, confiança e reverência ao Deus santo (Cf. https://cpaj.mackenzie.br/fileadmin/user_upload/5-O-culto-crist%C3%A3o-na-perspectiva-de-Calvino-uma-an%C3%A1lise-introdut%C3%B3ria-Hermisten-Maia-Pereira-da-Costa.pdf).

A santidade de Deus nos chama à confiança, reverência e transformação. Ela não é apenas um conceito teológico, mas uma realidade que deve moldar nossa vida, nossa adoração e nossa esperança.

A santidade de Deus não nos afasta − ela nos atrai, nos transforma e nos envia. Como Isaías, ao contemplar o “Santo, santo, santo”, somos levados a dizer: “Eis-me aqui, envia-me a mim” (Is 6.8). Amém.

O Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa, colunista do BP, é pastor-auxiliar da 1ª IP São Bernardo do Campo, São Paulo, SP, Coordenador Acadêmico e professor de teologia no JMC; é membro do CECEP e do Conselho Editorial do Brasil Presbiteriano

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Autor

  • Cativo à Palavra

    Projeto Missionário Teológico e Pastoral. Para um coração cativo e dedicado ao Senhor.

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