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Geração 60+: sirvam, pois vocês têm a vida inteira pela frente.

Nota da edição em português: apesar do background norte-americano do artigo, acreditamos que o assunto também é válido para a nossa realidade. Gostaríamos de destacar, porém, um dado importante: embora o artigo aponte para um aumento da expectativa de vida da população em geral, pesquisas de economistas como Angus Deaton (prêmio Nobel de economia de 2015) têm constatado uma diminuição da expectativa de vida entre homens jovens nos Estados Unidos, um fenômeno ligado ao aumento das “mortes por desespero” (mortes por suicídio, overdose de drogas e alcoolismo, principalmente entre homens brancos da classe trabalhadora). Isso impulsionará com o tempo uma queda na longevidade. Esses óbitos provavelmente refletem a crescente crise espiritual entre pessoas dessa faixa etária.

Há pouco tempo, visitei meu pai de 99 anos e minha mãe de 97. Meu pai tinha acabado de passar no teste para renovar a carteira de motorista e, um ano antes, havia publicado mais um livro. Ele me disse que queria voltar a pintar. Então, com um olhar travesso, ele se virou para mim, um baby boomer de 60 e poucos anos, e disse: “Filho, o que você vai fazer da vida? Você tem a vida inteira pela frente!”

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Cem anos atrás, esse tipo de comentário pareceria absurdo. Mas o fato é que uma enorme mudança demográfica está ocorrendo, e em muitos países as pessoas estão vivendo mais do que nunca.

A expectativa de vida nos EUA aumentou de 47,3 para 78,7 anos entre 1900 e 2010. A faixa etária de 65 anos ou mais é a que mais cresce na população americana atualmente. Na verdade, o US Census Bureau prevê que até 2034 os EUA terão mais pessoas com mais de 65 anos do que com menos de 18 anos. Pense nisso: pela primeira vez na história dos EUA, o número de idosos será maior que o de jovens.

Isso se deve, em parte, ao tamanho da geração baby boomer e à queda na taxa de natalidade nos EUA, mas também aos avanços em áreas como saúde, saúde pública e nutrição, que aumentaram a expectativa de vida para além dos padrões históricos.

Hospitais e universidades dos EUA agora se referem a essa fase da vida após os 65 anos como o período da “idade adulta tardia”, o qual dividem em três fases: os “idosos jovens” (65-84 anos), os “idosos mais velhos” (85-99 anos) e os centenários (acima de 100 anos). Os anos iniciais da terceira idade (dos “idosos jovens”, de 65 a 84 anos) são considerados os “anos de ouro” da vida adulta, pois as pessoas têm menos responsabilidades, saúde relativamente boa e expressivo engajamento social.

Embora a Geração Z (os nascidos entre 1997 e 2012) possa em breve se tornar mais numerosa, a geração baby boomer continua a representar um número crescente da força de trabalho dos EUA. Em 2020, o Departamento de Estatísticas do Trabalho dos EUA (Bureau of Labor Statistics) relatou que 10,8 milhões ou 19% das pessoas com 65 anos ou mais ainda estavam empregadas. Na cultura popular, ouvimos alguns sugerirem que os 60 são os novos 40 e que os 80 são os novos 60. As pessoas estão falando sobre carreiras com 60 anos de duração, em vez da carreira tradicional de 40 anos.

Isso se deve, em parte, à combinação do desejo dos empregadores de reter trabalhadores experientes e do desejo de muitos baby boomers de continuar trabalhando. Para outros, pode ser uma questão de necessidade financeira — mesmo sentindo o desejo de se aposentar, para passar mais tempo com a família, viajar ou servir no ministério, muitos não têm condições financeiras para isso. Seja qual for o motivo, os idosos de hoje estão trabalhando por mais tempo do que nas gerações anteriores, o que pode ter consequências de longo alcance para a força de trabalho e a economia.

Isso também impacta o cenário político, onde a maioria da classe política hoje é mais velha do que no passado. Nas últimas eleições nos Estados Unidos, por exemplo, vimos dois candidatos idosos — um com 78 e outro com 81 anos — disputarem votos.

É claro que essa tendência nem sempre é apreciada pela geração mais jovem, que às vezes critica os baby boomers por não passarem o bastão ou por não abrirem mão de suas posições de controle. Mas o fato é que a maioria dos meus colegas está com dificuldade para determinar a idade certa para se aposentar. Muitos ainda veem a aposentadoria como algo que acontece aos 60 anos, enquanto alguns veem pela frente mais uns 20 anos de trabalho em tempo integral.

Mas, independentemente de quando decidirmos parar de trabalhar em tempo integral, o melhor que temos a fazer é não ousarmos negligenciar as novas oportunidades de ministério que temos em nossas famílias, comunidades e igrejas, as quais surgem quando já contamos com mais experiência e anos de vida. Se formos sábios, devemos pensar em como podemos servir ao Senhor e ao seu reino nesses anos a mais que ele tão graciosamente nos concedeu.

A princípio, nossas escolas, igrejas e ministérios precisarão se ajustar a essa nova realidade. Faculdades e seminários cristãos fariam bem em repensar seus caminhos educacionais e começar a privilegiar alunos adultos que saiam do padrão tradicional. Talvez nosso conceito de educação deva ser repensado, e visto não mais como uma infusão de conhecimento inicial e única, mas como um empreendimento para toda a vida.

Nas últimas décadas, muitas igrejas concentraram seus esforços de evangelismo nos jovens, à custa da perda dos fiéis mais velhos. Mas, diante do cenário que temos hoje, talvez o que os pastores devessem fazer seria ajudar os membros mais velhos a encontrar oportunidades significativas de servir e utilizar seus dons e sua experiência em algum ministério.

Pesquisas recentes mostram que 1 em cada 4 pastores planeja se aposentar antes de 2030. No entanto, talvez as igrejas devessem pensar de forma diferente sobre a aposentadoria de seus ministros — oferecendo caminhos para que o clero mais velho se reposicione e permaneça produtivo em uma nova função que seja mais apropriada para sua fase de vida.

Para alguns baby boomers, o ministério de 40 anos está se expandindo para um ministério de 60 anos. Basta olharmos, por exemplo, para alguns dos líderes evangélicos mais proeminentes da história recente.

Carl F. H. Henry (1913–2003), o renomado teólogo que foi escolhido para ser o editor fundador da Christianity Today, aposentou-se do ensino aos 85 anos, mas continuou a escrever, a dar palestras e a servir como conselheiro até sua morte, aos 90 anos.

Vernon Grounds (1914–2010), pastor batista e teólogo do Seminário de Denver, também atuou como editor colaborador da Christianity Today. Ele teve incríveis 70 anos de ministério como reitor acadêmico, presidente e chanceler do seminário, antes de falecer aos 96 anos.

John Stott (1921–2011), o renomado pregador anglicano, erudito da Bíblia e cofundador do movimento de Lausanne, iniciou seu ministério em 1945, na mesma igreja que frequentou durante a infância, a All Souls Langham Place, no centro de Londres. Ele serviu nessa mesma igreja por mais de 60 anos como pároco, reitor e reitor emérito, encerrando seu ministério público aos 86 anos e falecendo aos 90 anos.

Billy Graham (1918–2018), um dos líderes cristãos mais importantes do século 20 — cuja visão levou à fundação da Christianity Today — iniciou seu ministério na Youth for Christ, em 1944. Ele continuou servindo até os 90 anos, realizou sua última cruzada oficial em 2005, aos 87 anos, e pregou seu último sermão aos 96 anos. Faleceu aos 99 anos.

J. I. Packer (1926–2020), teólogo e escritor anglicano que foi editor executivo da Christianity Today, teve um ministério ativo de 62 anos, antes de falecer aos 93 anos.

E, mais recentemente, temos Charles Stanley (1932–2023), que foi pastor sênior da Primeira Igreja Batista de Atlanta por quase 50 anos e continuou a pregar de púlpito até falecer, aos 90 anos.

Meu pai, George Sweeting (nascido em 1924) — que por anos foi associado à Igreja Moody e ao Instituto Bíblico Moody como pastor, presidente e chanceler — continuou a servir por meio período em sua igreja local, liderando os ministérios para adultos idosos até os 80 e início dos 90 anos.

Todos esses grandes líderes evangélicos têm algo em comum: eles amavam a Deus e continuaram a servi-lo, como exemplos vivos dessa nova longevidade. Em contraste, Tomás de Aquino morreu aos 49 anos. João Calvino e Jonathan Edwards faleceram aos 54. George Whitefield viveu apenas até os 55 anos e Charles Spurgeon, até os 57. Martinho Lutero e Dwight Moody faleceram aos 62 anos.

Embora descansemos na soberania do Deus que conta os nossos dias, também somos chamados a ser responsáveis, ​​como bons administradores do corpo e da mente que Ele nos deu, cultivando bons hábitos.

Um estudo recente da Universidade de Boston mostrou que 70% da longevidade é motivada por nossos “comportamentos saudáveis”. Isso inclui coisas como manter-se fisicamente ativo; evitar hábitos destrutivos, como fumar e beber em excesso; manter um peso e uma dieta saudáveis; manter-se intelectualmente ativo; ter bons hábitos de sono e uma sólida rede social.

Quando perguntado sobre o segredo de sua longevidade e do seu ministério vocacional, Vernon Grounds frequentemente falava sobre o que chamava de “os três Gês”: Deus, genes e academia [em inglês, todas essas palavras começam com G: God, Genes e Gym, respectivamente]. Ele começou por Deus porque a Bíblia deixa claro que nossa vida — e cada ano que passamos nesta Terra — é inteiramente uma dádiva de Deus. Vernon nunca acreditou no discurso predominante, que afirma que devemos nos aposentar aos 60 anos, parar de trabalhar e passar o resto da vida em um campo de golfe.

Ele não acreditava que era possível viver uma vida sem servir. E dizia que já tinha um excelente plano de aposentadoria chamado céu. Prezava escrituras como o Salmo 92, que fala que os justos “florescerão como a palmeira, crescerão como o cedro do Líbano […] Mesmo na velhice darão fruto, permanecerão viçosos e verdejantes” (v. 12, 14).

Embora a Bíblia não fale de forma mais específica sobre a aposentadoria, há muitos exemplos de pessoas que nunca se aposentaram do serviço a Deus — pessoas que floresceram e deram frutos mesmo em idade avançada. Pense em Abrão, a quem Deus chamou aos 75 anos. Em Moisés, que tinha 80 anos quando liderou os israelitas para fora do Egito; e em Calebe, que tinha 85 quando entrou na Terra Prometida. Ou pense em Ana, a profetisa com mais de 84 anos que finalmente viu Jesus, e em Simeão, a quem Deus prometeu que conheceria o Messias antes de morrer.

Ninguém sabe quantos anos de vida terá — somente o Senhor conhece a duração dos nossos dias (Salmos 37.18). Mas a proposta que faço aos companheiros da minha geração baby boomer e à geração seguinte é que precisamos renovar a nossa mentalidade. Devemos planejar viver com mais sabedoria, servir por mais tempo e nos aposentar mais tarde. Por quê? Ora, porque Deus providencialmente nos abençoou com mais anos para serem vividos. Como diz meu pai: “Você tem a vida inteira pela frente!”

Donald Sweeting é o reitor da Universidade Cristã do Colorado.

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  • Cativo à Palavra

    Projeto Missionário Teológico e Pastoral. Para um coração cativo e dedicado ao Senhor.

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