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Dia do Senhor 19

Jonathan Chase

Leitura: Mateus 25:31-46; Apocalipse 20:7-15
Texto: Dia do Senhor 19, Confissão Belga – Artigo 37

Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,

Na semana passada, nós vimos que a fé Cristã envolve crenças sobre a história. Ser um cristão é crer, não somente em verdades eternas, mas também em verdades históricas que aconteceram sob a providência de Deus ao longo da história. Vimos também que as nossas convicções sobre a história não se limitam aos eventos do passado, mas também do presente e do futuro.

Na semana passada nós vimos o que o Cristão crê sobre o presente: que neste momento, Cristo está sentado à destra do Pai no Céu, reinando, crescendo sua igreja, e conquistando o domínio que ele comprou para si mesmo. A promessa é que Cristo reinará até que ponha todos os seus inimigos debaixo de seus pés. Esta é a nossa esperança para a presente era. Não desanimamos quando vemos o mundo ganhando força contra o evangelho, porque os ímpios duram pouco tempo; as nações que conspiram contra o Filho de Deus serão frustradas em seus planos; e Cristo prometeu que construirá a sua igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Então é o “inferno” que está na defesa neste mundo, e o evangelho que está avançando. Então temos que crer nisso, mesmo quando não vemos isso com os nossos olhos. Vivemos pela fé nas promessas, e não pela visão.

Agora, no artigo que iremos estudar hoje, o credo nos leva para o futuro. Também cremos que certas coisas acontecerão no futuro, no final da história humana. E isto está expresso nestas palavras, “de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos”.

1. O Retorno de Cristo

Primeiro, vamos ver o que a Bíblia diz sobre isso. Não há dúvida de que Cristo nos prometeu que voltará, fisicamente (em seu corpo), para finalmente julgar os vivos e os mortos. Esta expectativa está bem clara em todo o Novo Testamento:

  • Em João 14, Cristo disse: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também.”
  • Já vimos na semana passada o momento da ascensão de Cristo. E já naquele momento, os anjos que estavam presentes disseram que Cristo voltará da mesma forma como ele saiu.
  • Alguns capítulos depois, Pedro estava falando com um grupo de gentios. E Pedro disse a eles:
    • Acts 10:42: “Cristo nos mandou pregar ao povo e testificar que ele é quem foi constituído por Deus Juiz de vivos e de mortos.”
  • Depois vemos o apóstolo Paulo pregando a mesma mensagem, lá na Grécia, aos pagãos em Atenas:
    • Acts 17:30–31: “Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos.”

Então, desde o princípio, os apóstolos reconheceram a direção do Reino de Cristo no céu. Desde que Cristo ascendeu ao céu, a história tomou um rumo novo e diferente, e tem uma direção e um destino que se aproximam a cada dia. Cristo está construindo seu reino aqui na Terra, e isso significa que está chegando o dia em que Cristo retornará para julgar a terra. Ele ressuscitará os mortos e julgará a todos — aqueles que o amaram e obedeceram, e aqueles que o odiaram e resistiram.

E por isso a advertência de Paulo é assim severa: “Deus não levou em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça.” A história está correndo rapidamente para este dia, e cada um que é confrontado com o Reino de Cristo, pela pregação do evangelho, ou vai se arrepender dos pecados e se submeter ao Filho de Deus, ou vai se encontrar debaixo de sua ira.

2. O Julgamento Final

Então, o que acontecerá no dia do juízo?

Primeiro, Deus ressuscitará os vivos e os mortos. Todos prestarão contas a Cristo por suas vidas. Inclusive nós crentes. O Apóstolo Paulo diz em Rom. 14:10: “Todos

[nós]

compareceremos perante o tribunal de Deus.” e alguns versículos depois, “Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus.”

Há uma cena em apocalipse 20 que nos mostra como será esse dia. Este é o texto que lemos antes. Vamos ver isso novamente:

Rev. 20:11–15: “Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros. Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras. Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo.”

Então tem dois conjuntos de “livros”. Tem os “livros” que foram abertos em vs. 12, pelos quais os mortos foram julgados. Contém todas as nossas obras e nossas palavras. E todos os mortos serão julgados de acordo com sua obras.

Isto talvez nos perturbe um pouco como reformados: se cremos sobre a justificação pela fé “somente”, por que Deus ainda leva em conta as nossas obras?

É muito claro que Deus sim nos julgará segundo as nossas obras.

  • O apóstolo Paulo diz, 2 Cor. 5:10: “Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo.”
  • Cristo também advertiu muito sobre este juízo. Em Mt 12:36-37, Cristo diz, “Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo; porque, pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado.” — veja que Cristo até fala sobre uma “justificação” final.
  • Cristo disse em outro lugar, (João 5:28–29): “Vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo.”

Como é isso, então, se nós somos justificados pela fé?

É claro que ninguém obedece à Deus sem pecado. As escrituras ensinam isso claramente.

  • Psa. 130:3: “Se observares, Senhor, iniquidades, quem, Senhor, subsistirá?”
  • Diante da perfeita justiça de Deus, temos que dizer com o Apóstolo Paulo, Rom. 3:10–11:“como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus;”

Não há nenhum homem na terra que é “justo” em si mesmo; isto é, justo de tal forma que pode se apresentar a Deus sem pecado.

Ao mesmo tempo, nós lemos sobre muitas pessoas na Bíblia que são chamadas, de fato, de “justos”:

Em Genesis 6, Noé é chamado de um homem “justo”.

Davi é chamado um homem segundo o coração de Deus (mesmo que nós sabemos dos pecados dele).

Jó é chamado de um homem “íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal”.

No Novo Testamento também, encontramos pessoas assim chamadas de justos. Por exemplo, Lucas diz sobre os pais de João Batista: “Ambos eram justos diante de Deus, vivendo irrepreensivelmente em todos os preceitos e mandamentos do Senhor.”

Então como é isso? Parece que nós temos uma contradição, não é?

A questão é que estamos falando de “justo” em dois sentidos. O apóstolo Paulo em suas cartas estava enfrentando o erro dos judeus em buscar a sua justiça na lei: o Judaísmo (até hoje) ensina que o caminho de ser “justo” diante de Deus é na observação das muitas regras da lei. Quem conseguir observar, vai ser justo. Então Paulo mostra o erro deles. Ninguém vai ser “justo” desta forma, porque todos nós pecamos. Até os grandes santos que nós vimos—Noé, Davi, Jó—todos eles pecaram, às vezes de forma séria.

O argumento do Apóstolo Paulo é que a justiça não se obtém desta forma. A justiça se obtém pela fé: confiando em Deus, recebendo o perdão dos pecados, e assim, sendo justificados pela fé, andando em uma nova vida. E ainda nesta nova vida nós pecamos, precisamos sempre rogar a misericórdia de Deus, e sua renovação. Então o Deus que nos perdoa, também nos transforma em pessoas obedientes a ele.

Assim o Apóstolo Paulo diz em Rom. 8:3–4: “Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado, a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.”

É assim que os santos do Antigo Testamento andaram, mesmo que todas as suas fraquezas. Confiando em Deus pelo perdão dos pecados, e andando em uma nova obediência de vida. E assim também todo verdadeiro Cristão anda. É isso que também confessamos em DS 44: Por um lado, até os mais santos tem apenas um começo da obediência que Deus requer de nós. “Mas, com sincero fervor e propósito, eles começam a viver não apenas segundo alguns mandamentos de Deus, mas conforme todos eles.” Todo verdadeiro crente anda em novidade de vida.

Por isso, quando olhamos para o juízo final, é claramente de acordo com as obras. Não se fala sobre as “obras meritórias” de uma suposta auto-justiça como os judeus entenderam, e como os católicos romanos entendem; mas as obras da fé, a obediência ao evangelho. Assim o Apóstolo Paulo diz em 2 Th. 1:7–8: “O Senhor Jesus com os anjos do seu poder, em chama de fogo, tomará vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus.”

Cristo também advertiu fortemente que aquele que ouve suas palavras e não as obedece será comparado a um homem que construi a sua casa na area, terminando em ruína; e aquele que ouve suas palavras e as obedece será comparado a um homem que construi sua casa na rocha, permanecendo aquela casa.

Então que ninguém se iluda por um falso evangelho de que basta apenas ter uma “fé” invisível e não demonstrada em sua vida, uma fê que não ama a Deus nem anda de acordo com os seus mandamentos—que ainda de alguma forma será inocentado no juízo final. A verdadeira fé se demonstra em uma vida de arrependimento e amor a Deus e ao próximo.

Vemos isso também no texto que lemos de Mt 25. Quem foram as pessoas, chamadas de “justas”, às quais Cristo disse, Mt. 25:34: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”? Foram os que cuidaram e protegeram os crentes, os visitaram nas cadeias, deram roupa quando estavam nus. E quem são as pessoas às quais Cristo disse, “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos.” São aqueles que não fizeram isso. Então Cristo diz, Matt. 25:46: “Irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna.”

Este também explica o “segundo” livro que é apresentado em Ap. 20. Lembre-se, tinha os “livros” que foram abertos que contiveram tudo que fizemos nesta vida, de bem ou de mal; e tinha também o “livro da vida”, que contem os nomes daqueles que pertencem a Cristo. São as pessoas que, durante a sua vida na tera, confessaram seus pecados, se arrependeram deles, confiaram em Cristo para perdão, e andaram em novidade de vida. Obedeceram ao evangelho.

Sobre o castigo dos ímpios, a Palavra de Deus é bastante clara.

Rom. 2:6–11: “Ele retribuirá a cada um segundo o seu procedimento: a vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade; mas ira e indignação aos facciosos, que desobedecem à verdade e obedecem à injustiça. Tribulação e angústia virão sobre a alma de qualquer homem que faz o mal, ao judeu primeiro e também ao grego; glória, porém, e honra, e paz a todo aquele que pratica o bem, ao judeu primeiro e também ao grego. Porque para com Deus não há acepção de pessoas.”

Deus nos adverte que a sua ira será terrível, e será eterna.

  • Em Mt 13, Cristo diz, Matt. 13:41–42: “Mandará o Filho do Homem os seus anjos, que ajuntarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes.”
  • Em outros lugares, Cristo descreve a ira de Deus como “fora, nas trevas”. Total solidão e distância de Deus e das outras pessoas.

Também é eterna:

  • Cristo advertiu os seus discípulos no sermão do monte (Mark 9:43–44): “Se tua mão te faz tropeçar, corta-a; pois é melhor entrares maneta na vida do que, tendo as duas mãos, ires para o inferno, para o fogo inextinguível, onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga.”
  • Novamente em Apocalipse nós lemos (Ap. 14:11): “A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome.”

Não há nenhuma esperança de que alguém pode pagar a sua saída, nem finalmente ser extinguida de vez. Nenhum fim para o sofrimento.

Esta é a realidade do juízo final. E por isso o evangelho chama todas as pessoas agora para se arrependem e confiarem em Cristo. Não é um chamado insincero. É um chamado simples: arrependa-se, creia, e obedeça ao Senhor Jesus Cristo. Cristo nos promete, John 6:37: “Todo aquele que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora.”

Este dia de juízo chegará. A história está caminhando nesta direção, enquanto Cristo reune sua igreja e constrói o seu reino. O evangelho está aqui, em nossa frente agora, nos confrontando com o nosso pecado agora, e a hora para o arrependimento é agora.

3. O Conforto que Temos Nisso

Ao refletir sobre estas coisas, talvez não sentimos muito “consolados” por estas verdades. E levanto isso porque é assim que está escrito no catecismo: Não “que advertência” lhe dá o fato de que Cristo há de vir a julgar os vivos e os mortos, mas que consolo lhe dá o fato de que Cristo “há de vir a julgar os vivos e os mortos”.

Certamente, para aqueles “cristãos” que não obedecem a Deus, que são cristãos apenas em nome, enquanto vivem em desobediência, não há consolo algum. Os segredos serão revelados. Aqueles que estão vivendo em pecado, e se recusam de se arrepender, não devem se consolar com isso; não há consolo a ser encontrado, a não ser que se arrependam.

Mas para aqueles que lutam contra o pecado e confiam em Cristo, o catecismo oferece mostra como isso é um consolo. Não se esqueçam: Aquele que está sentado naquele trono branco; aquele a quem teremos que prestar contas, é Jesus Cristo — a mesma pessoa que já se submeteu ao julgamento de Deus por minha causa e removeu a maldição de mim. Essa é a pessoa a quem temos que prestar contas. Jesus Cristo será o nosso juiz. Deus entregou todo o julgamento a Ele. E isso é muito consolodor, porque Ele é quem sofreu e morreu aquela morte horrível na cruz, em nosso lugar. Ele sabe que o preço pelos nossos pecados foi pago, porque foi Ele mesmo quem o pagou. E nós já vivemos em comunhão com ele durante toda a nossa vida. Ele sabe do nosso desejo de andar no Espírito. Ele sabe da nossa luta contra o pecado. Na verdade, é Ele mesmo que está operando em nós, renovando a nossa vida. É ele que nos promete, “Todo aquele que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora.”

Por outro lado, é também um consolo para nós que Cristo julgará todos os nossos inimigos. Como o catecismo diz, “Ele lançará todos os seus e meus inimigos na condenação eterna, mas levará para si mesmo, para a alegria e glória celestiais, a mim e a todos os seus escolhidos.”

Talvez alguns cristãos modernos se escandalizam com isso. Pensamos, será que devo mesmo ser consolado pelo fato que Cristo julgará os seus e meus inimigos assim? Não devo desejar que eles se arrependam em vez disso? Cristo não nos chama a “amar os nossos inimigos” e “orar por aqueles que nos perseguem”?

Por isso também cantamos Salmo 69. É um salmo de Davi. E neste salmo, em primeiro lugar, numerosas vezes ele pleiteia sua causa diante de Deus. Como já vimos, ele não é um homem perfeito, e ele reconhece isso a Deus em vs. 5: “Tu, ó Deus, bem conheces a minha estultice, e as minhas culpas não te são ocultas.” Mesmo assim, tendo confessado tudo isso a Deus e vivido uma vida de integridade, ele protesta a Deus que está sendo perseguido injustamente. Ele diz em vs 4, “Sem razão, me odeiam; com falsos motivos são meus inimigos; tenho de restituir o que não furtei.” Na verdade, é por causa do nome de Deus que ele está sendo perseguido. Vs. 7: “Pois tenho suportado afrontas por amor de ti, e o rosto se me encobre de vexame” e vs. 9: “as injúrias dos que te ultrajam caem sobre mim.” E, no meio destas perseguições, ele se vira a Deus em oração e clama por livramento. E parte de sua oração é justamente que Deus traga a justiça sobre as cabeças de seus inimigos. Veja vs. 22:

22    Sua mesa torne-se-lhes diante deles em laço,

e a prosperidade, em armadilha.

23 Obscureçam-se-lhes os olhos, para que não vejam;

e faze que sempre lhes vacile o dorso.

24 Derrama sobre eles a tua indignação,

e que o ardor da tua ira os alcance.

25 Fique deserta a sua morada,

e não haja quem habite as suas tendas.

26 Pois perseguem a quem tu feriste

e acrescentam dores àquele a quem golpeaste.

27 Soma-lhes iniquidade à iniquidade,

e não gozem da tua absolvição.

28 Sejam riscados do Livro dos Vivos

e não tenham registro com os justos.

Então a questão é, nós podemos fazer uma oração imprecatória como essa? Nós podemos nos consolar pelo fato que Deus julgará os nossos inimigos? E como isso não contradiz o que Cristo diz, “amai os vossos inimigos” e “orai por aqueles que vos perseguem”? (E, acho que quando diz, “orai”, não se refere a uma oração imprecatória.)

Alguns cristãos consideram estes salmos “ultrapassados”. Já não podem cantar mais. A implicação desta ideia é que a moralidade de Deus evoluiu. Porque, lembre-se, os salmos foram inspirados por Deus.

Também, este salmo é citado no novo testamento quatro vezes, três delas sendo a oração do próprio Jesus. Em nenhum lugar o novo testamento ensina que não devemos mais cantar estes salmos, ou orar assim mais.

E quando pensamos bem, sobre Davi quem escreveu este salmo, devemos lembrar que Davi também fez de acordo com as palavras de Cristo. Lembra as perseguições e muitos sofrimentos que ele sofreu quando o Rei Saulo buscou matá-lo? E o que Davi fez? Em nenhum momento tomou vingança em suas próprias mãos. Buscou o arrependimento de Saulo. Poupou a sua vida duas vezes, mostrando sua inocência e chamando a Saulo para não fazer isso mais.

Mas—e aqui está a chave—ao mesmo tempo, Davi se confortou de que aquele que se endurece no seu pecado, que vive como inimigo de Deus, vai finalmente ser julgado por Deus. Se os meus inimigos não são meusinimigos em primeiro lugar, mas os inimigos de Deus; se me odeiam, não por causa do mal que eu fiz, mas porque odeiam a Deus; então, eu posso clamar a Deus por justiça, enquanto, ao mesmo tempo, praticando o amor e fidelidade para com eles. É isto que Cristo nos ensina. Amai-los. Orai por eles. Desejai o seu arrependimento. Mas ao mesmo tempo, se consolai de que Deus os julgará, se não se arrependam.

O apóstolo Paulo nos diz, Rom. 12:19: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor.”

É justamente a convicção disto que nos dá a segurança para cumprir o que Paulo diz logo em seguida (Rom 12:20-21): “Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.”

Se não tivéssemos a segurança de que, em fim, Deus os julgará perfeitamente—e mais severamente de que até nós mesmos desejaríamos!—seria muito difícil amá-los nesta vida. Se não há justiça no final, então cabe a mim fazer justiça e vingança com minhas próprias mãos. Mas Deus nos ensina diferente: confie que Deus os julgará. E por sua parte, faça o bem. Busque o bem deles. E se isso não os leve a arrependimento, será mais uma testemunha contra eles que os deixará indesculpáveis.

Quando os piedosos sofrem injustiça, em vez de atacar e se vingar, eles clamam a Deus. Quando sofremos injustiças horríveis, como tantos cristãos estão sofrendo agora mesmo, é natural e correto clamarmos a Deus por justiça. Há momentos em que cristãos, como Davi, vivenciam injustiças tão horríveis, que seus corações partidos clamam a Deus: “Faze justiça sobre a cabeça destes que violam a Tua justiça e não se importam com isso!” “Derrama sobre eles a Tua indignação!” Os santos no céu em Apocalipse 6 assim também: “Ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, até quando não julgarás e vingarás o nosso sangue dos que habitam na terra?”

Então não devemos negar este conforto para ninguém. E não guardamos os salmos imprecatórios apensa para aqueles que estão sofrendo de perseguições e injustiças, mas nós também, juntos com eles, clamamos a Deus.

Então, é o conforto de muitos cristãos ao redor do mundo, e deveria ser o nosso também, que Cristo retornará para julgar os vivos e os mortos. Toda injustiça que já foi cometida nesta Terra está registrada em seus livros, e ele administrará a justiça perfeita. Aqueles que nos oprimiram e abusaram de nós ou de outros, nesta vida, não escaparão de sua justiça, mesmo que tenham conseguido escapar da justiça na Terra. Esse é um pensamento reconfortante para qualquer um que tenha visto ou experimentado a injustiça neste mundo. Isso nos ajuda a suportar as injustiças que ainda passamos nesta vida. Embora possamos não experimentar a mesma injustiça e crueldade que alguns dos nossos irmãos em outros lugares na terra, vamos ser um povo que se lembra daqueles que sofrem e faz essas orações difíceis junto com eles.

Então, levemos nossos clamores a Ele e oremos: Vem, Senhor Jesus, Maranata, vem depressa e julgue os vivos e os mortos.
Amém!


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Jonathan Chase

Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 


© Toda a Escritura. Website: todaescritura.org.Todos os direitos reservados.

* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.

Autor

  • Cativo à Palavra

    Projeto Missionário Teológico e Pastoral. Para um coração cativo e dedicado ao Senhor.

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