Leitura: Gênesis 17:1-8; Jeremias 32:26-41; Atos 2:37-41; 1 Coríntios 7:10-16
Texto: Dia do Senhor 27
Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,
Esta é a nossa segunda semana estudando o sacramento do batismo, e agora queremos nos concentrar especificamente na questão do batismo infantil. Não preciso lembrar vocês que esta é uma das grandes questões que dividem as igrejas cristãs hoje. Provavelmente, a maioria de nós tem amigos ou conhecidos que defendem a ideia de que somente adultos crentes podem ser batizados, e eles acham incompreensível que administremos este sacramento a crianças, que para eles pertence apenas a crentes que podem fazer uma profissão de fé credível. Muitos batistas veem essa prática do batismo infantil como simplesmente um resquício da superstição que caracteriza a Igreja Católica Romana.
Agora, um obstáculo que devemos remover logo é a objeção que não adianta falar sobre este assunto. Só serve para dividir. Por que não podemos simplesmente concordar em discordar? Temos discutido sobre isso há 500 anos e ainda não concordamos, então por que não podemos nos concentrar nas coisas principais?
Temos que dizer algumas coisas a resposta disso:
#1, devemos estender sinceridade a comunhão cristã a todos aqueles que carregam as marcas de verdadeiros cristãos. Lidar com essa questão não significa que aqueles que discordam de nós não são verdadeiros cristãos ou, de alguma forma, cristãos de segunda classe. As marcas dos verdadeiros cristãos, como a Confissão Belga as resume, são:
Eles creem em Jesus Cristo como o único Salvador; fogem do pecado e buscam por justiça; amam o verdadeiro Deus e o seu próximo sem se desviar para a direita nem para a esquerda; e crucificam a carne com as suas obras. No entanto, ainda permanece neles uma grande fraqueza, à qual combatem, pelo Espírito, todos os dias da sua vida. Apelam continuamente para o sangue, sofrimento, morte e obediência de Jesus Cristo, no qual têm a remissão de seus pecados, por meio da fé nele.
Certamente poderíamos acrescentar outras coisas a esse resumo, mas o ponto é que a realidade do desacordo entre cristãos em questões específicas não significa que não possamos os considerar os nossos irmãos em Cristo. Abordar essas questões e buscar uma compreensão bíblica mais completa delas não significa que estamos negando esse status ou rejeitando-os como irmãos. Pelo contrário, estamos fazendo o que Cristo nos ordena, que é buscar a unidade de mente justamente por causa da unidade de Espírito que temos em Cristo.
E isso nos leva à segunda coisa que queremos observar aqui:
Somos chamados e ordenados a trabalhar em prol da concordância e da unidade de mente e doutrina. Filipenses 2 diz:
“Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias, completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento.”
Isso significa que, quando surgem desentendimentos na igreja, somos obrigados a recorrer às Escrituras juntos e trabalhar para termos uma só mente, mantendo nossa comunhão cristã, com toda a humildade e sinceridade de amor. Mesmo que isso leve 500 anos.
E, em terceiro lugar, ao contrário do que alguns pensam, este realmente é um assunto importante. À primeira vista, pode parecer apenas uma questão de como uma igreja ou outra administra o sacramento, e poderíamos dizer: por que isso é tão importante? Mas é muito mais do que isso. Tem a ver com a forma como vemos nossos filhos, por exemplo: eles são filhos de Deus ou não? Nós os criamos como cristãos ou os evangelizamos como pagãos? Essa é uma questão enorme, com consequências sérias. Quando eles pecam, você ora com eles? Você os ensina a orar ao nosso Pai Celestial? Você os assegura do perdão de Deus? Batistas e reformados responderão a essas perguntas de maneira diferente. Depois, há questões sobre como interpretamos as Escrituras. Como entendemos a aliança? O que ela significa e com quem é feita? Essa é outra questão muito séria, à qual daríamos respostas muito diferentes.
Então esta questão importa. É muito maior do que a mera questão superficial do batismo em si. Ao mesmo tempo, é uma questão que deve ser tratada com muita humildade, sinceridade e amor.
O Significado do Batismo
Dito isso, queremos começar relembrando o significado do batismo, que estabelecemos na semana passada. Vimos que Cristo instituiu o batismo em Nome da Trindade, ou seja, ele representa (1) adoção pelo Pai, (2) lavagem com o sangue do Filho e (3) vivificação pelo poder do Espírito.
A questão que surge naturalmente é: este sacramento deve ser administrado a crianças?
É uma questão muito razoável, e devemos começar reconhecendo os argumentos levantados contra o batismo infantil. E queremos reconhecer que esses são argumentos sérios e razoáveis.
- Em primeiro lugar, o batismo declara que a pessoa batizada é lavada com o sangue de Cristo, o que todos concordamos que só pode acontecer pela fé. Ninguém é unido a Cristo exceto pela fé. E, portanto, aqueles que se opõem ao batismo infantil naturalmente objetarão que crianças não são capazes de ter tal fé e, portanto, não devem receber o sacramento. É um argumento muito lógico.
- O mesmo poderia ser dito sobre o batismo no Espírito. Se o batismo declara que somos renovados e vivificados pelo poder do Espírito (como vimos na semana passada), então podemos, com razão, perguntar: é apropriado administrar esse sacramento a crianças? Estamos sugerindo que elas já são regeneradas? Estamos batizando-as com base numa presunção de que elas são regeneradas e tem fé?
Essas são boas perguntas e não devem ser descartadas levianamente.
Além disso, aqueles que se opõem ao batismo infantil também apontarão que o padrão observado em todo o Novo Testamento é o de crer e depois ser batizado. Podemos citar vários exemplos.
- Mc 16:16: “Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado.”
- Acts 2:38: Pedro diz aos irmãos judeus, “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado.”
- Em Atos 8, o eunuco etíope pergunta: “Há alguma coisa que me impede de ser batizado?” E Filipe responde: “Se você crer de todo o coração, poderá”.
- Em Atos 16, Lídia e sua família “creram e foram batizadas”.
E muitos outros exemplos desse padrão poderiam ser dados no Novo Testamento.
Nossos irmãos batistas não estão, como algumas pessoas sugerem, “simplesmente se recusando a se submeter às Escrituras”. Pelo contrário, sua discordância ocorre justamente porque eles (como nós) querem se submeter às Escrituras.
Ao mesmo tempo, precisamos reconhecer que essa questão é maior do que pode parecer à primeira vista. Você não vai resolvê-la simplesmente pesquisando todos os textos bíblicos que mencionam o batismo. Algumas dessas passagens simplesmente não nos dizem quem foi batizado. Cerca de metade dos batismos no livro de Atos são batismos de famílias inteiras, e a outra metade são batismos de adultos convertidos; e todos eles vêm de contextos missionários, descrevendo a conversão de famílias de que vieram de fora. O livro de Atos segue a fronteira da missão cristã. Então é de esperar que tenha batismos adultos e de famílias. Mas não nos diz se nessas famílias tinha crianças. Assim como você não encontra nenhum exemplo de batismo infantil em Atos, também você não encontra nenhum exemplo de credobatismo—no caso, de uma criança que cresceu em uma família cristã mas só foi batizada mais tarde quando atingiu a idade de responsabilidade — que seria o texto-prova da posição batista.
Então, para responder a essa pergunta, precisamos examinar outros textos além daqueles sobre o batismo. Como essa questão é mais profunda do que o próprio batismo, precisamos examinar o que as Escrituras nos ensinam sobre o lugar das crianças na igreja; o que as Escrituras ordenam aos pais; as promessas às gerações; os descendentes; a aliança; a circuncisão; e outros assuntos. Parte da razão pela qual esse debate se arrasta há tanto tempo é porque ele é muito maior do que parece à primeira vista. Há muito mais envolvido. O batismo pode ser o lugar onde essa discordância subjacente surge com mais destaque, mas a questão é muito maior. Quando pais batistas concluem que seus filhos não pertencem a Cristo, ou eles não lhes ensinam a orar a Deus como o Pai delas em Cristo; ou não lhes asseguram o perdão de Deus por seus pecados, fica claro que há mais envolvido nesse debate do que apenas a doutrina do batismo. E é isso que queremos reconhecer.
A primeira questão que queremos analisar é o lugar dos filhos na aliança e na igreja. O que quero mostrar a partir das Escrituras é que os filhos dos crentes sempre pertenceram à aliança de Deus em todos os aspectos que seus pais pertencem, e que isso é verdade não apenas no Antigo Testamento, mas também no Novo.
Agora, vamos nos certificar, antes de tudo, de que entendemos os termos que estamos usando.
O que é a aliança? O que queremos dizer com isso?
Como vimos na semana passada, a “aliança” é o relacionamento formal que Deus estabelece com o Seu povo, pelo qual Ele promete que Ele é o Deus deles, e que eles são o Seu povo especial e escolhido, que Lhe pertence. Na semana passada, usei a analogia da aliança do casamento, visto que todos nós conhecemos esta aliança, e de fato Deus também muitas vezes usa esta aliança como analogia para entender a relação dEle com a igreja. O casamento é um relacionamento, mas é mais de que somente um relacionamento: há um aspecto formal ou oficial. É marcado por uma cerimônia e resulta em um status único de pertencimento mútuo.
Outra aliança que conhecemos (e que também é usada na bíblia como analogia) é de adoção. Novamente, trata-se de um relacionamento que tem um aspect formal ou oficial, em que promessas são feitas, resultando em um status de pertencimento. A criança adotada agora pertence àquela família, e há obrigações em ambas as direções.
Da mesma forma, Deus se agradou de fazer alianças com Seu povo em vários momentos da história, pelas quais Ele se vincula a eles, e eles a Ele, com a consequência de que eles tem um status especial, ao qual também estão vinculadas promessas e obrigações.
Lemos em Gênesis 17, que Deus estabeleceu sua aliança com Abraão. De fato, a cerimônia formal ocorre em Gênesis 15 (e você pode ler sobre isso por conta própria, se quiser), mas Deus elabora Suas promessas em Gênesis 17 — e isso é relevante para nós.
Em Gênesis 17, Deus diz a Abraão:
Gen. 17:7–8: “Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência. Dar-te-ei e à tua descendência a terra das tuas peregrinações, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei o seu Deus.”
Agora, o que podemos observar aqui é que tem várias promessas que Deus fez para Abraão: há uma promessa referente à terra, há uma promessa referente aos filhos, mas especialmente, o que é mais central, é a promessa da aliança de que eu serei o teu Deus e o Deus da tua descendência depois de ti.
Essa é a promessa central que se estende ao restante da história do Antigo Testamento. Aprendemos o que isso significa, Deus ser o Deus de Abraão e seus filhos: significa perdão dos pecados, significa o Espírito Santo, significa estabelecer o Reino de Deus no meio deles e significa fazer com que sejam uma bênção para todas as famílias da Terra. Todas essas foram claramente promessas feitas a Israel como parte da aliança firmada com Abraão.
E, o que é importante para nós, essa promessa não é feita apenas a Abraão, mas também à sua descendência, e essa promessa inclui a promessa de ser Deus para essa descendência.
Os filhos do povo de Deus foram clara e inquestionavelmente aceitos como herdeiros da aliança de Deus. Vemos isso em todo o Antigo Testamento:
- Deut. 12:4–7: Deus diz, “Buscareis o lugar que o Senhor, vosso Deus, escolher de todas as vossas tribos, para ali pôr o seu nome e sua habitação; e para lá ireis. A esse lugar fareis chegar os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta das vossas mãos, e as ofertas votivas, e as ofertas voluntárias, e os primogênitos das vossas vacas e das vossas ovelhas. Lá, comereis perante o Senhor, vosso Deus, e vos alegrareis em tudo o que fizerdes, vós e as vossas casas, no que vos tiver abençoado o Senhor, vosso Deus.”
- Deut. 29:9–13: “Guardai, pois, as palavras desta aliança e cumpri-as, para que prospereis em tudo quanto fizerdes. Vós estais, hoje, todos perante o Senhor, vosso Deus: os cabeças de vossas tribos, vossos anciãos e os vossos oficiais, todos os homens de Israel, os vossos meninos, as vossas mulheres e o estrangeiro que está no meio do vosso arraial, desde o vosso rachador de lenha até ao vosso tirador de água, para que entres na aliança do Senhor, teu Deus, e no juramento que, hoje, o Senhor, teu Deus, faz contigo; para que, hoje, te estabeleça por seu povo, e ele te seja por Deus, como te tem prometido, como jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó.”
Claramente, os filhos do povo de Deus pertenciam à Sua aliança.
A promessa foi feita a Abraão e seus descendentes, e os descendentes deles depois, por todas as gerações, para ser seu Deus, com tudo o que isso implicava. E essa promessa é repetida inúmeras vezes no Antigo Testamento. Repetidamente, Deus se lembra da promessa que fez a Abraão, perdoa e renova o povo de Israel, e os restaura a Si mesmo quando se desviam.
Então, isso era questão óbvia para todo crente no Antigo Testamento: que Deus não era apenas o Deus deles por aliança, mas também o Deus de seus filhos; que Deus não estava comprometido apenas com eles, mas também com seus filhos; que não apenas eles, como indivíduos, pertenciam a Deus, mas também seus filhos.
Ex. 20:5–6: “Eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.”
Psa. 103:17–18: “Mas a misericórdia do Senhor é de eternidade a eternidade, sobre os que o temem, e a sua justiça, sobre os filhos dos filhos, para com os que guardam a sua aliança e para com os que se lembram dos seus preceitos e os cumprem.”
Então, este é o primeiro ponto: os filhos do povo de Deus pertenciam ao povo de Deus de todas as maneiras que seus pais pertenciam. Eles eram membros plenos da aliança. Eles podiam invocar a Deus como seu Deus e seu Pai — como Jesus também os ensina a fazer na Oração do Senhor.
Essa é uma peça muito importante do quebra-cabeça.
Mas há ainda mais a ser dito sobre o lugar das crianças entre o povo de Deus. Porque as crianças não apenas pertenciam à aliança, mas, de fato, eram parte da própria promessa! A promessa não é apenas que Deus aceitaria os filhos de Abraão, mas também que Deus renovaria os filhos de Abraão, e seus descendentes, e assim por diante, para que por meio deles Deus estabelecesse o Seu reino. Isso fazia parte da promessa da aliança. Que Deus seria fiel através das gerações, abençoando os filhos e levando-os à fé.
Você vê isso repetidamente nos profetas. Para dar apenas alguns exemplos:
- Jer. 32:38–40: Deus diz através do profeta Jeremias a respeito dos filhos de Israel e dos filhos de Judá: “Eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus. Dar-lhes-ei um só coração e um só caminho, para que me temam todos os dias, para seu bem e bem de seus filhos. Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim.”
- Is. 59:21: “Quanto a mim, esta é a minha aliança com eles, diz o Senhor: o meu Espírito, que está sobre ti, e as minhas palavras, que pus na tua boca, não se apartarão dela, nem da de teus filhos, nem da dos filhos de teus filhos, não se apartarão desde agora e para todo o sempre, diz o Senhor.”
- Is. 65:23: “Não trabalharão debalde, nem terão filhos para a calamidade, porque são a posteridade bendita do Senhor, e os seus filhos estarão com eles.”
- Ezek. 37:25: “Habitarão na terra que dei a meu servo Jacó, na qual vossos pais habitaram; habitarão nela, eles e seus filhos e os filhos de seus filhos, para sempre; e Davi, meu servo, será seu príncipe eternamente.”
Então, entenda isto: a aliança de Deus não apenas “incluía” os filhos no Antigo Testamento; mas a aliança era expressamente sobre os filhos. Os filhos são parte da promessa. Deus promete não apenas adotá-los, mas renová-los. E este ponto se torna cada vez mais proeminente à medida que o Antigo Testamento se aproxima do fim, porque o grande problema no Antigo Testamento era justamente que os filhos continuavam se desviando. O padrão se repetia indefinidamente: uma geração crê, depois a próxima se desvia; então Deus os pune e os leva ao arrependimento, e eles crêem; e então a próxima geração se desvia novamente. Esse é basicamente o livro de Juízes, e essa é essencialmente a história de Israel ao longo de sua história.
Mas a promessa de Deus a Abraão era que Ele permaneceria o Deus dos filhos de Abraão como uma aliança eterna; por essa razão, Deus continuou a chamar os filhos de volta, repetidas vezes. E à medida que o Antigo Testamento se aproxima do fim, os últimos profetas a pregar a Palavra de Deus ansiavam pelo dia, não em que Deus se esqueceria e abandonaria os filhos da aliança, mas sim os renovaria. A promessa não é que Deus apagaria os filhos e os tornaria irrelevantes, mas que Deus os restauraria e escreveria Sua lei em seus corações.
Então chegamos ao Novo Testamento.
Ao chegarmos ao Novo Testamento, o principal que queremos reconhecer é que a Nova Aliança não é uma simples “substituição” da Antiga, como algo totalmente novo, mas sim o cumprimento da Antiga Aliança. O apóstolo Paulo diz isso desta forma em 2 Cor. 1:20: “Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para glória de Deus, por nosso intermédio.” Todas as promessas de Deus encontram o seu ‘sim’ e ‘amém’ em Cristo.
Portanto, não podemos pensar na Nova Aliança como algo totalmente novo, mas sim como o cumprimento perfeito da Antiga, fundamentado na obra de Cristo. A Nova Aliança é Deus cumprindo as promessas que fez na Antiga — e não descartando-as.
Então, com isso em mente, ao chegarmos ao Novo Testamento, precisamos tentar nos colocar no lugar desses primeiros crentes, que eram, é claro, judeus — membros da aliança.
E a primeira pergunta que queremos fazer é: podemos imaginar que esses judeus, que cresceram na aliança e tiveram o conforto de saber que eles e seus filhos pertenciam a Deus e podiam invocá-Lo como Pai — podemos imaginar que, de repente, eles acreditaram que seus filhos não faziam mais parte da aliança?
Pense nisso: que tipo de cumprimento das promessas da aliança seria esse? “Antes, seus filhos me pertenciam. Antes, minhas promessas pertenciam a eles. Antes, eles podiam me invocar como Pai. Agora, eles não são mais meus filhos; agora, eles precisam crescer primeiro e, então, entrar na aliança um por um como indivíduos.” Seria incompreensível.
E mais ainda: o que dizer das promessas que Deus fez de que renovaria os filhos da aliança e colocaria o Seu Espírito neles? O que aconteceu com isso? A promessa era que Deus os encheria com o Seu Espírito, não que os removeria da Sua aliança.
Pelo contrário, o que realmente encontramos quando chegamos ao Novo Testamento é que os crentes viram em Cristo o cumprimento de todas as promessas de Deus, que eram tanto para eles quanto para seus filhos.
É por isso que, quando Pedro pregou o Evangelho aos judeus reunidos em Jerusalém no Pentecostes, ele disse: “Arrependei-vos e sede batizados, pois a promessa é para vós, para vossos filhos e para todos os que estão longe”. Temos que ouvir isso com os ouvidos do Antigo Testamento, por assim dizer. Eles sabiam que as promessas diziam respeito a seus filhos. Sabiam que a esperança sempre era que, quando o Messias viesse, Ele os restauraria e a seus filhos. Portanto, quando Pedro disse que a promessa é para vós e para vossos filhos, eles entenderam que ele estava se referindo às promessas que Deus havia feito na Antiga Aliança a respeito da Nova. Não é algo totalmente novo. É o cumprimento de tudo o que eles esperavam.
Da mesma forma, quando chegamos à igreja do Novo Testamento, descobrimos que as crianças eram incluídas na igreja em todos os sentidos. Em 1 Coríntios 7, o apóstolo Paulo diz explicitamente que os filhos de pais crentes são “santos” para o Senhor. Os filhos dos crentes eram levados à igreja com seus pais e funcionavam como parte da congregação, assim como no Antigo Testamento. Em Atos 21, lemos sobre o dia em que Paulo deixou a igreja em Éfeso para continuar seu trabalho missionário, e toda a congregação o despediu — e o texto menciona explicitamente que as crianças estavam entre eles. Não há nenhum lugar que ensine que as crianças são excluídas da igreja ou da aliança.
Na carta aos Efésios, podemos notar que a congregação é abordada nos primeiros versículos da carta como os “santos” que estão em Éfeso; e então, no capítulo 6, Paulo fala diretamente às crianças. Então elas fazem parte dos santos a quem Ele está escrevendo.
De fato, Paulo lhes diz naquele capítulo: “Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo”. O que significa falar dos pais “no Senhor” senão que eles, juntamente com seus pais, pertencem ao Senhor? E ali, Paulo também os lembra das promessas da aliança que lhes pertencem, citando o quinto mandamento, lembrando aos filhos que há uma promessa anexada a este mandamento — uma promessa feita no contexto da aliança. Da mesma forma, os pais são ordenados a fazer exatamente a mesma coisa que os pais israelitas foram ordenados: criar seus filhos no temor e na instrução do Senhor. O que isso pode significar, exceto que esses filhos realmente pertencem ao Senhor?
E, por fim, devemos dizer uma palavra sobre os batismos de famílias que encontramos no Novo Testamento. Os batistas logo apontam que não diz explicitamente que havia crianças nessas famílias. E isso é verdade. Mas o que é digno de nota é que, assim como antes, no Antigo Testamento, Deus continua a trabalhar com as famílias. Não com indivíduos. A entrada na aliança não se limitou repentinamente a indivíduos, mas Deus continuou a tratar as famílias com uma unidade, como fazia antes.
As precedências que o NT usa para batismo também nos ensinam isso.
- A arca de Noé
- A travessa do mar vermelho
Imagine: você está na beira do Mar Vermelho, os egípcios atrás de você, e as águas se abrindo na sua frente. Agora, você vai levar seus filhos com você, ou deixá-los para trás?
Voltamos, então, à pergunta: crianças devem ser batizadas? Para responder a essa pergunta, não podemos simplesmente procurar os textos sobre o batismo e verificar se crianças são mencionadas. Em vez disso, precisamos perguntar: o que o batismo significa — o que significa o sinal — e essa promessa pertence às crianças?
Novamente, o batismo significa adoção pelo Pai, redenção pelo Filho e renovação pelo Espírito. O que fica bem claro é que todas essas coisas foram estendidas às crianças e prometidas a elas no Antigo Testamento. Elas foram, juntamente com seus pais, adotadas por Deus Pai. Elas foram, juntamente com seus pais, contadas nos sacrifícios que apontavam para Cristo — o sangue dos sacrifícios foi aspergido sobre elas, assim como sobre seus pais. E a elas, juntamente com seus pais, foi prometida uma nova vida pelo Espírito.
Nem podemos supor, como alguns podem argumentar, que isso foi permitido no Antigo Testamento, porque os sacrifícios do antigo testamento eram meros sinais, sem carregar o significado. Ou que elas receberam outras promessas. Ou que a salvação antes era por nascimento—só por ser judeu—mas agora é pela fé. A salvação sempre foi pela fé. Isso não é novidade no Novo Testamento. Sempre foi o único caminho. Mas mesmo assim, as crianças foram incluídas entre o povo santo, e participantes de todos os benefícios da aliança, e dos sinais que os acompanhavam.
E assim aprendemos o princípio que está em jogo aqui:
Deus adota os filhos dos crentes como Seus próprios filhos, e eles têm o privilégio de conhecê-Lo como seu Pai; e, à medida que crescem, têm a responsabilidade de responder com fé, de acordo com sua capacidade. Sempre foi assim.
Portanto, ao batizarmos nossos filhos, não acreditamos que eles sejam salvos automaticamente, independentemente da fé. Não foi assim no Antigo Testamento, nem é assim agora. Podemos mencionar muitos homens e mulheres maus que, apesar de serem filhos da aliança, não responderam pela fé, e foram condenados. Eles quebraram a aliança. E não pense que isso era um fenómeno somente no Antigo Testamento, pois o Novo também fala de tais pessoas. Hebreus 6, Hebreus 10, 2 Pedro 1 — todos esses textos tratam dessa realidade.
Ser membro da aliança não significa salvação automática à parte da fé. A salvação sempre foi pela fé em Cristo, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento.
Mas o batismo e a inclusão na aliança sim significa que os filhos, juntamente com seus pais, pertencem a Deus. Eles carregam um status especial de serem santos para o Senhor. E assim, fazendo parte do povo que Deus está salvando, Deus também espera deles que respondam pela fé, de acordo com suas habilidades, à medida que crescem. De fato, essa participação na aliança é um dos principais meios que Deus usa para operar a fé. Eles aprendem a amar a Deus porque podem invocá-Lo como Pai. Assim como, no casamento, marido e mulher podem aprender a amar um ao outro porque pertencem um ao outro, o mesmo ocorre com os filhos na aliança. Assim como o casamento é projetado para honrar, proteger e nutrir o amor e fidelidade do marido e da mulher; assim também a aliança de Deus é o lugar seguro em que aprendemos amar, confiar, e obedecer a Deus. Assim também os nossos filhos: eles tem o privilégio de crescer invocando-O como Pai e conhecendo o Seu amor. Essa é uma doutrina pela qual vale a pena lutar.
Amém!
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Jonathan Chase
O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.