O enfrentamento pastoral da espiritualidade mundana infiltrada na igreja
Éfeso é a igreja vitrine do Novo Testamento. Começou como uma comunidade missionária estabelecida por Apolo. Paulo a visitou durante sua segunda viagem missionária e uma visita inicial de três meses se estendeu por três anos. A congregação se tornou sólida.
A carta aos Efésios reflete o mais maduro dos escritos de Paulo sobre a vida cristã. Diferente de outras cartas paulinas, motivadas por erros doutrinários ou comportamentais, esta se concentra na glória de Deus, chamando à maturidade espiritual. Em certo momento, Lucas escreveu: “Assim, a palavra do Senhor crescia e prevalecia poderosamente” (At 19.20).
No entanto, quando o pastor Timóteo foi enviado para lá, Éfeso havia se tornado uma desordem. Boas igrejas podem acabar mal. Começos maravilhosos podem se tornar catástrofes. A religião da cultura havia invadido a igreja, ameaçando destruí-la: “certas pessoas” estavam obcecadas por “religião”, mas aparentemente nada queriam com Deus.
Os “falatórios profanos” em Éfeso talvez refletissem um gnosticismo incipiente de uma elite de iniciados cultivando uma “religião superior”, que desprezava pessoas e coisas comuns, bem como o compromisso com uma vida moral. Jesus seria comum demais para eles. Os “falatórios profanos” eram moldados pela cultura e não pela cruz de Jesus.
Um paralelo atual foi visto na morte da princesa Diana em 1997. Durante várias semanas, o mundo inteiro ficou capturado pelo evento, que assumiu caráter essencialmente religioso. Diana foi venerada como uma deusa — uma figura perfeita para uma religião mundial que nada quer com o Deus de Cristo, mas está desesperada para adorar alguém que dê sentido e transcendência à vida.
O paralelo com as antigas deusas cananeias do sexo e da fertilidade é notável: sua beleza frágil tingida de tristeza, inocência comovente com sugestões de sexualidade nas sombras, identificação com os pobres e oprimidos, compaixão pelas pessoas com AIDS, campanha contra minas terrestres e sua própria vitimização pela família real. Diana resumia as aspirações espirituais de uma cultura sexualmente indulgente e, ao mesmo tempo, marcada por incompreensão, perda e rejeição.
O nome romano da deusa de Éfeso era justamente Diana. Embora o culto antigo e o moderno não tenham exatamente o mesmo conteúdo, o efeito é similar. O culto à Diana de Éfeso combinava histórias e superstições que atendiam às necessidades religiosas da cidade. O culto à princesa Diana também reuniu histórias, anseios e relações públicas que atendiam às necessidades religiosas de incontáveis pessoas nominalmente cristãs, judias, budistas e muçulmanas.
Diana evocava o melhor das pessoas — mas o melhor do que queriam para si mesmas, não o que Deus queria. Oferecia “bem” sem moralidade e transcendência sem Deus. O pastor Timóteo foi enviado a Éfeso para combater os efeitos dessa subestrutura religiosa na cultura — uma espiritualidade que atendia às necessidades das pessoas em seus próprios termos, seus anseios de realização e significado, sua impaciência com um Deus que fizesse exigências.
O evangelho de Jesus, porém, não trata primariamente de nós, mas de Deus — o Deus que nos criou e quis nos salvar, o Jesus que se entregou por nós e pede que o sigamos até a cruz, o Espírito Santo que desce para reproduzir a ressurreição em nossa vida. Nada disso envolve atender às nossas necessidades como as definimos, necessidades de fazermos as coisas à nossa maneira, sermos presunçosos, controlarmos nossa própria vida.
A igreja de Éfeso, que começara com tanta robustez e vida nova, descobrindo a verdade nas Escrituras e a presença de Deus pelo Espírito, estava se dissipando em um caldeirão religioso de sentimentalismo e discussões vazias. Esse processo continua sendo uma ameaça à igreja hoje. Com ela, seus pastores precisam vigiar para manter o foco no verdadeiro evangelho de Cristo em oposição à espiritualidade vazia de nossos dias.
O Pastor Descartável (Cap. 6), de Eugene Peterson, Cultura Cristã (Adaptado)
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