John L. Girardeau, o “Spurgeon do Sul”, no Bicentenário de sua Vida e Obra
1. Anotações pontuais de sua vida e obra
No dia 14 de novembro de 2025 foi celebrado o bicentenário do nascimento do Dr. John Lafayette Girardeau, uma das figuras mais notáveis do presbiterianismo norte-americano do século XIX. De ascendência huguenote, seus antepassados haviam deixado a França após a revogação do Édito de Nantes, em 1685, quando os calvinistas voltaram a ser perseguidos. Girardeau nasceu em James Island, Charleston County, Carolina do Sul.
Formação familiar
Filho de John Bohun Girardeau (1798–?) e Claudia Heme Freer (1801-1833), ambos presbiterianos fervorosos de tradição escocesa, cresceu em um lar profundamente piedoso e disciplinado. As Escrituras e os Padrões de Westminster constituíam o alicerce da formação religiosa dos filhos, com pai e mãe participando ativamente de sua educação espiritual.
A tradição huguenote lhe conferiu um senso de resistência e fidelidade em meio à perseguição. A tradição escocesa lhe deu a base doutrinária sólida dos Padrões de Westminster, que moldaram sua teologia e prática pastoral.
A morte prematura da mãe, em 1833, quando Girardeau tinha apenas sete anos, marcou-o de forma indelével. Ele próprio registrou que aquela perda deixou uma lembrança duradoura da ternura e firmeza materna, moldando seu caráter e sua fé. Em suas memórias, descreveu a despedida da mãe, que “adormeceu nos braços de Jesus.”[1]
Na Bíblia da família, Girardeau deixou palavras de gratidão ao pai: “Foi um dos meus mais doces privilégios, meu querido e honrado pai, ter comunhão contigo na terra; é uma das minhas mais caras esperanças renová-la no céu.”[2]
Formação, Ministério Pastoral e Docente
Desde cedo demonstrou notável capacidade intelectual e profunda devoção espiritual. Em 1844, graduou-se no Charleston College e, quatro anos depois, concluiu seus estudos no Columbia Theological Seminary, onde se preparou para o ministério presbiteriano. No mesmo ano foi licenciado a pregar pelo Presbitério de Charleston e iniciou seu trabalho pastoral na Igreja de Wappetaw. Pouco tempo depois, recebeu o chamado para o pastorado da Igreja de Wilton, próxima a Adam’s Run, em Colleton County, uma congregação próspera e influente. Ali foi ordenado ao pleno exercício do ministério e instalado como pastor em 1850.
Em 1854, Girardeau foi chamado para pastorear em Charleston, onde assumiu a liderança de uma numerosa congregação composta por afro-americanos escravizados e libertos. Sua eloquência e profundidade bíblica lhe renderam o título de “Spurgeon do Sul”, tornando-se uma das vozes mais respeitadas do presbiterianismo.
Durante a Guerra Civil Americana (1861-1865), serviu como capelão do 23º Regimento de Voluntários da Carolina do Sul, oferecendo assistência espiritual e conforto aos soldados.
Em 1874, foi eleito Moderador da Presbyterian Church in the United States (PCUS). No ano seguinte, indicado por B. M. Palmer (1818–1902), foi nomeado para a cátedra de Teologia Didática e Polêmica no Columbia Theological Seminary, sucedendo W.S. Plumer (1802-1880). A formação acadêmica de Girardeau esteve ligada a uma tradição que também recebeu influxos de Princeton, especialmente por meio de seu predecessor.[3] Entre janeiro de 1876 e junho de 1895, lecionou Teologia Sistemática, tornando-se referência acadêmica e pastoral.
Ao longo de sua carreira, defendeu a ortodoxia bíblica contra o modernismo, posicionou-se contra a união com a Igreja Presbiteriana do Norte, serviu incansavelmente aos tribunais da igreja e publicou numerosos artigos teológicos, eclesiológicos e filosóficos, além de monografias sobre culto, filosofia e teologia.
Obras
Além de seu ministério exemplar junto a homens e mulheres escravizados, Girardeau, com uma pena igualmente vigorosa, deixou uma produção literária extensa, abordando temas que iam do culto público à filosofia, com especial destaque para a teologia. Entre suas obras mais importantes destacam-se:
- Música Instrumental no Culto Público da Igreja (1888), defendendo a simplicidade do culto sem instrumentos musicais.[4]
- Calvinismo e Arminianismo Evangélico (1890), reafirmando a soberania divina em contraste com o arminianismo.[5]
- A Vontade em suas Relações Teológicas (1891), explorando a relação entre a soberania de Deus e a liberdade humana.
- Contribuições literárias sobre o ofício de diácono, reunidas em quase duzentas páginas da revista The Southern Presbyterian Review, [6] sob o título “O Diaconato”. Nelas, Girardeau estabelece o diaconato como uma necessidade espiritual da igreja e desenvolve a linguagem eclesiológica presbiteriana voltada ao serviço aos necessitados.[7]
Morte e Tributo
John Lafayette Girardeau faleceu em 23 de junho de 1898, em Columbia, Carolina do Sul, poucos meses após o falecimento de Robert L. Dabney. Foi sepultado no Cemitério Elmwood, em túmulo vizinho ao de seu mentor e amigo James Henley Thornwell − gesto que simboliza não apenas a amizade e o discipulado que marcaram sua trajetória, mas também a continuidade de uma tradição teológica que ambos se empenharam em preservar, mantendo viva a herança de Calvino em meio às tensões culturais e intelectuais de seu século. Sua obra, especialmente no campo do calvinismo e do arminianismo, permanece como testemunho eloquente de sua dedicação à fé reformada e ao ensino da igreja.
O Rev. B. M. Palmer (1818-1902) escreveu sobre Girardeau: “Levará muito tempo até que outra geração possa produzir alguém como ele; e aqueles que o conheceram do princípio ao fim sentem que o sepultamos entre os imortais do passado.”[8]
Legado
Mais do que sua morte, importa considerar o impacto duradouro de sua obra e influência.
Amado e respeitado por sua piedade, abnegação, filantropia e erudição, Girardeau permanece como referência de fidelidade teológica e dedicação pastoral. Girardeau não apenas defendeu a ortodoxia, mas a viveu em meio às tensões de seu século. Sua atuação junto às comunidades negras da Carolina do Sul e sua contribuição à tradição reformada consolidaram sua reputação como um dos maiores teólogos do Sul dos Estados Unidos no século XIX.
Se sua vida pastoral foi marcada pela piedade e eloquência, sua obra escrita revela o vigor lógico e apologético de um filósofo-teólogo comprometido com a tradição reformada. Mais do que pastor e professor, Girardeau foi um polemista que se inseriu nas discussões clássicas da teologia reformada, especialmente no confronto entre calvinismo e arminianismo.
Juntamente com James H. Thornwell (1812-1862)[9] e Robert L. Dabney (1820-1898),[10] ambos também de origem huguenote e pouco conhecidos no Brasil, Girardeau é considerado um dos grandes expoentes da teologia presbiteriana do Sul.
Sua influência não se limitou ao campo teológico; também se refletiu em sua vida familiar. Ele e sua esposa, Sarah Penelope Hamlin (1829-1921) − carinhosamente chamada por ele de “Sal” –, tiveram dez filhos ao longo de 49 anos de casamento. Sete chegaram à idade adulta, enquanto três faleceram na infância. Três filhas casaram-se com alunos seus, ministros presbiterianos, incluindo o teólogo Robert Alexander Webb (1856-1919).
2. Calvinismo & Arminianismo Evangélico
Uma de suas principais obras, inclusive publicada em português[11] conforme o autor mesmo explica, foi resultado de estudos feitos aos sábados na Primeira Igreja Presbiteriana de Colúmbia, apresentando a visão calvinista em contraposição à perspectiva arminiana, especialmente wesleyana, a respeito de diversas doutrinas notadamente concernente à Eleição e a Reprovação e à Soteriologia, especialmente no que concerne à doutrina da Justificação.
O livro tem uma abordagem apologética. O seu estilo é polido, porém, denso. A sua argumentação é bíblica e como filósofo que era, com rigor lógico.
A obra publicada em 1890, ao estilo de Calvino (Comentário de Romanos), faz uma revisão bibliográfica, indicando o porquê de sua publicação, mostrando estar familiarizado com obras semelhantes, justificando a necessidade de seu aparecimento.
Ciente de que entre os calvinistas há abordagens distintas concernentes aos decretos de Deus, assume de modo claro o seu quadro de referência: Calvino e as principais Confissões Reformadas. Entendendo serem eles infralapsarianos:
“Nesta discussão se adotará o ponto de vista infralapsariano dos decretos divinos, sob a convicção de que é característico do sistema de doutrina declarado em todas as confissões calvinistas, que falam definitivamente sobre a questão, e mantido pela grande maioria dos teólogos calvinistas”.[12]
Girardeau, seguindo a tradição das Confissões Reformadas, assume o infralapsarianismo como posição de Calvino. Contudo, a leitura dos escritos do Reformador revela nuances que permitem interpretações supralapsárias em alguns contextos.
À frente: “Este é o ponto de vista de Calvino; e isso prova que ele teria sido infralapsariano”.[13]
Aqui, ao mencionar João Calvino (1509-1564), sem de nenhum modo desmerecer o seu trabalho, o autor dá um salto um pouco mais amplo do que as evidências lhe permitiriam. Contudo, não fez isso sozinho. A questão é um pouco mais delicada.
Para aprofundar a compreensão dessa obra, é necessário situá-la dentro do debate clássico sobre os decretos divinos.
3. Supralapsarianismo e Infralapsarianismo antes de Reforma
Essa questão – ainda que não com os nomes criados, ao que aparece, após a Reforma (supralapsarianismo e do infralapsarianismo) − remonta a Agostino (354-430), que era “infralapsariano”.[14] Antes da Reforma, esses conceitos tinham uma aplicação diferente da que passou a ter após a Reforma, e que perdura até os nossos dias.
A diferença de conceituação, frequentemente ignorada, aliada à falta de familiaridade com o tema, contribui para ampliar as incompreensões acerca de um assunto que, por si só, já se mostra bastante enigmático.
No período anterior à Reforma (Desde Agostinho [354-430] e [Pelágio [c. 360-435]),[15] a problemática principal consistia em saber se a queda de Adão, fazia parte ou não do decreto eterno de Deus. Os “Supralapsários” respondiam afirmativamente; os “Infralapsários” diziam que a queda fazia parte do conhecimento prévio de Deus, mas não do seu decreto.[16]
Esse pano de fundo patrístico prepara o terreno para entender como os Reformadores retomaram e redefiniram a questão.
Durante a Reforma, Lutero (1483-1546), Zwínglio (1484-1531) e Calvino (1509-1564), estavam acordes quanto ao fato de que Deus de alguma maneira incluíra o pecado no seu Decreto.[17] Todavia, Ele não era o autor do pecado. Desse modo, o pecado passou a ser encarado como que fazendo parte do “decreto permissivo” de Deus.[18]
Após a Reforma, as duas concepções passaram a se referir à ordem lógica[19] do Decreto de Deus, sendo Theodoro Beza (1519-1605) – sucessor de Calvino em Genebra –, o primeiro a desenvolver o assunto dentro dessa perspectiva.
Vejamos as duas posições como são compreendidas hoje:
3.1. O Supralapsarianismo
A palavra supralapsarianismo, provém de dois termos latinos: “Supra” (acima de, antes de, anteriormente) e “Lapsus” (queda, erro, engano). O Supralapsarianismo entende que o decreto da eleição foi logicamente anterior ao decreto da criação. Assim, dentro dessa perspectiva, temos a seguinte ordem lógica do Decreto de Deus:
1) Glorificar a si mesmo por meio da eleição de alguns da raça humana que seriam criados para a vida, e condenar outros para a destruição.
2) Criar toda a humanidade: Os eleitos e os reprovados.
3) Permitir a Queda: a queda dependeria da escolha voluntária do homem.
4) Prover um Redentor para os eleitos.
5) Enviar o Espírito Santo para aplicar a Redenção obtida por Cristo, no coração dos eleitos.
Essa posição, sempre foi defendida por inúmeros e respeitáveis teólogos Reformados. Entre eles, citamos primeiramente, o próprio Calvino (1509-1564);[20] T. Beza (1519-1605); Pedro Martir Vermigli (1500-1562); Augustin Marlorat (c.1506-1562); H. Zanchi (1516-1590); Z. Ursinus (1534-1583) – um dos elaboradores do Catecismo de Heidelberg (1563); William Whitaker (1548-1595); W. Perkins (1558-1602); Franciscus Gomarus (1563-1641) – oponente de Jacobus Arminius (1560-1609),[21] tendo participado do Sínodo de Dort (1618-1619); William Twisse (1575-1646) – que presidiu a Assembleia de Westminster; Jacobus Trigland (1583-1654); G. Voetius (1588-1676) – professor de Mastricht (1630-1706); Johannes Maccovius (1588-1644); F. Burmann (1632-1679); H. Witsius (1636-1708) e Herman Hoeksema (1886-1965).[22]
3.2. O Infralapsarianismo ou Sublapsarianismo
Estes nomes também provêm de dois termos latinos: “Infra” ou “Sub” (abaixo de, sob) e “Lapsus” (queda, erro, engano). O Infralapsarianismo entende que o decreto da eleição foi logicamente posterior ao decreto permissivo da queda.
Dentro desta perspectiva, temos a seguinte ordem lógica do Decreto de Deus:
1) Criar a Humanidade.
2) Permitir a Queda: A queda dependeria da escolha voluntária do homem.
3) Eleger para a salvação alguns homens, e deixar os demais em seu estado de condenação.
4) Prover um Redentor para os eleitos.
5) Enviar o Espírito Santo para aplicar no coração dos eleitos, por intermédio da Palavra, a Redenção obtida por Cristo.[23]
Da mesma forma, esta concepção sempre encontrou um grande número de defensores entre os Reformados e, também, deve ser dito, que todas as Confissões Reformadas sustentam ou claramente ou, intuitivamente esta posição.[24]
Entre os teólogos que partilham do conceito Infralapsário, destacamos: A. Walaeus (1573-1639); A. Rivet (1573-1651); J. Wollebius (1586-1629);[25] F. Turretini (1623-1687);[26] J.H. Heidegger (1633-1698); Charles Hodge, (1797-1878); A.A. Hodge (1823-1886); o nosso J.L. Girardeau (1825-1898),[27] B.B. Warfield (1851-1921); A.B. Teixeira (1873-1975); Samuel Falcão (1904-1965); L. Boettner (1901-1990) e A.A. Hoekema (1913-1988); M. Horton.[28]
Entre as Confissões Reformadas, destacamos:
- Confissão Gaulesa (1559), Art. 12.
- Confissão Escocesa (1560), Cap. VIII.
- Confissão Belga (1561), Art. 16.
- Catecismo de Heidelberg (1563), Pergunta 54.
- A Segunda Confissão Helvética (1566), Caps. 10 e 17.
– Cânones de Dort, (1618-1619), I, 7-10.[29]
– Confissão de Westminster (1647), Cap. III.
– Breve Catecismo de Westminster (1647), Pergs. 19 e 20.[30]
Hodge (1797-1878) sintetiza bem a questão ao afirmar:
Que este ponto é consistente em si mesmo e harmonioso. Como todos os decretos de Deus são um só compreensível propósito, não se pode admitir nenhum ponto de vista sobre a relação dos detalhes que tal desígnio abarca, que não admita sua plena redução à unidade. Em todo grande mecanismo, qualquer que seja o número ou complexidade de suas partes, deve haver uma unidade de desígnio. Cada parte está relacionada com outras partes, e a percepção de tal relação é necessária para uma conveniente compreensão do todo. Além do mais, como os decretos de Deus são eternos e imutáveis, nenhuma visão de Seu plano de operação que suponha a Deus propondo-se primeiro uma coisa e depois outra, pode ajustar-se à natureza de tais decretos. E, como Deus é absolutamente soberano e independente, todos Seus propósitos hão de ser decididos desde Seu interior ou de acordo com o desígnio de sua própria vontade. Não pode supor-se que sejam contingentes ou manter-se em suspenso ante a ação de Suas criaturas, ou ante qualquer coisa fora dEle mesmo. O sistema infralapsário, como o sustentam a maior parte dos agostinianos, cumpre todas estas condições; todos os detalhes particulares formam um todo compreensivo; tudo se segue em uma ordem que não supõe câmbio algum de desígnio; e tudo depende da vontade de Deus infinitamente sábia, santa e justa. O fim último é a glória de Deus. Para este fim cria o mundo, permite a queda, dentre os homens caídos elege alguns para a vida eterna, e deixa o resto à justa recompensa de seus pecados. A quem Ele elege, Ele chama, justifica, e glorifica; esta é a cadeia de ouro cujos elos não podem ser separados ou mudados. Esta é a forma em que o esquema da redenção estava na mente do Apóstolo ao ensinar-nos em Romanos 8.29,30.[31]
3.3. Pontos em comum
Efetivamente, o que os supralapsarianos e os infralapsarianos tinham eram duas ordens pedagógicas que eles lançavam uns contra os outros sem reconhecer a sua real compatibilidade. Eles achavam que tinham algo mais do que uma ordem pedagógica, mas estavam enganados. (…) Frequentemente essas confusões poderiam ser impedidas ou evitadas se os teólogos fossem mais abertos para a possibilidade de relações recíprocas ou perspectivistas entre essas realidades. − John Frame.[32]
Nesse momento, julgamos oportuno realçar os pontos que o “infra” e o “supra” têm em comum:
1) Deus não é o autor do pecado.
2) As Escrituras são a única fonte do nosso conhecimento a respeito do decreto de Deus.
3) O decreto da eleição é a base para o decreto Deus enviar o seu Filho.[33]
4) Que o pecado e punição não são meramente o objeto da presciência de Deus, porém de seu decreto (permissivo) e predeterminação.
5) Que a fé não é a causa do decreto da eleição, nem o pecado a causa do decreto de reprovação.
6) A Glória de Deus é o alvo final de nossa eleição.[34]
William Cunningham (1805-1861),[35] Herman Bavinck (1854-1921),[36] Louis Berkhof (1873-1957),[37]Herman Hoeksema (1886-1965)[38] e Fred H. Klooster (1922-2003)[39] destacaram o fato de que mesmo sendo a posição infralapsária a mais confessional, não tem havido problema entre os teólogos Reformados, na sustentação de qualquer uma das duas posições, sendo ambas possíveis dentro da Teologia Bíblico-Reformada.[40]
Destaco que em muitos autores e Confissões, encontramos ambas as posições de forma consciente ou não. Por vezes, há uma tentativa de síntese das posições (conciliação), daí autores e Confissões serem ora classificadas como Supra ora como Infra.[41]
Vimos que isso ocorre, por exemplo, com Calvino[42] e o mesmo pode ser dito de Theodoro Beza (1519-1605);[43] W. Perkins (1558-1602);[44] Thomas Goodwin (1600-1660);[45] Mastricht (1630-1706);[46] a Confissão Belga e os Símbolos de Westminster.[47]
Quanto à Dort, mesmo a sua decisão sendo infralapsária, muitos teólogos que assinaram o documento, entenderam que não estariam sendo desonestos se mantivessem a sua posição supralapsária.
As observações de Vos (1862-1949), são pertinentes. Tratando sobre “o que declarou o Sínodo de Dort sobre esta questão”, escreveu:
Manteve uma posição infralapsariana, mas sem a intenção de querer condenar o supralapsarianismo. Em geral, deve-se ter em mente que um infralapsariano nunca pode afirmar que o que o supralapsariano diz não pode ser verdade. Se ele insistisse nisso, ele próprio teria de dar uma explicação positiva a respeito do propósito de Deus ao permitir o pecado. E ele não quer nem ousa entrar precisamente nessa explicação.[48]
4. Maravilhados com o Mistério e a satisfação na obediência
A teologia cristã sempre tem a ver com mistérios que ela conhece e com os quais fica maravilhada, mas não compreende, nem sonda. − Herman Bavinck.[49]
Concluindo essas anotações, admitindo a nossa limitação sobre este assunto,[50] temos que concordar com Dabney (1820-1898), quando diz que esta questão (“Supra” e “Infra“) “nunca deveria ter sido levantada”.[51] De fato. Mas foi. Assim, os teólogos tentaram responder como melhor lhes parecia dentro do propósito de ser fiel às Escrituras, trazendo esclarecimento, instrução, edificação e consolo. Portanto, com pressupostos diferentes, os debates foram inevitáveis, inclusive para um aprofundamento bíblico e teológico bem como, posicionamento doutrinário e instrução do rebanho.[52]
Tomemos como estímulo e sincera humildade[53] a observação de Berkhof: “Com relação ao estudo deste tema profundo, devemos ver que o nosso entendimento é limitado, e dar-nos conta de que captamos somente fragmentos da verdade”.[54]
Deste modo, temos na obra de Girardeau um trabalho bíblico, sóbrio, denso, com profunda agudez lógica,[55] contextualizando, dentro da melhor tradição Reformada, o seu tema. Creio que a sua leitura contribuirá em muito para o nosso aprofundamento do estudo destas doutrinas dentro da perspectiva Reformada.
Meu desejo e oração é que o estudo deste assunto contribua para uma visão pastoral[56] mais comprometida e um desejo de maior santidade diante de Deus,[57] que se manifesta em reverente gratidão e adoração.[58]
Pessoalmente, não creio que as Escrituras favoreçam de forma absoluta nenhuma das duas posições em oposição à outra. Prefiro suspender meu juízo.[59] Confesso que não faço isso com satisfação mas, pelas minhas dificuldades em ser assertivo quanto a uma das posições.[60]
O fato, é que a vida cristã é maravilhosa! O nosso Deus é grandioso e incomparável; seus pensamentos são inatingíveis e insondáveis;[61] é o Rei da Glória.[62]
Um dos fundamentos da doutrina cristã é a certeza de que cremos em um Deus Autopoderoso,[63] e Todopoderoso[64] que nos ama e se dá a conhecer pessoalmente a nós. Sem a revelação de Deus seria impossível crer ou falar de Deus. No entanto, nós podemos conhecê-lo genuína e pessoalmente: “Conhecido ([d;y”) (yada’)[65] é Deus em Judá; grande (lAdG”) (gadol),[66] o seu nome em Israel” (Sl 76.1).
A consciência do mistério inescrutável de Deus a temos pela revelação. A douta ignorância faz parte essencial da fé genuína e sincera.[67] O conhecimento de nossa limitação não é inato, antes é precedido pela revelação.
Uma epistemologia possível, humilde e submissa
O mundo do conhecimento pertence a Deus. Ele é o seu autor e revelador. Por isso, somente Deus não carece de referendum. A realidade é como Deus a conhece porque é Ele quem criou, preserva e dá significado ao “real”.
As Escrituras demonstram a realidade da vida como Deus a percebe. Deus percebe as coisas como são. Somente Deus, e mais ninguém, tem um conhecimento objetivo, imediato, exaustivo e sempre presente da realidade.
Logo, todo e qualquer conhecimento quer empírico, quer filosófico, quer científico, quer teológico que o homem tenha ou possa ter, é parte do conhecimento de Deus expresso na sua Criação. Desta forma, podemos dizer que não existe conhecimento fora de Deus. Nem a razão, nem a fé, pode existir por si mesma.[68] A razão depende da fé e a fé da razão. Ambas se amparam num fundamento metafísico-revelado.[69] Dito de outro modo, com as categorias cristãs: Do Deus transcendente-pessoal, que se revela. Sem isso, cairíamos num niilismo metafísico e existencial ou seja: a vida sem significado.[70] Mas, a realidade é que o Deus transcendente fala; por isso penso e por isso creio. A graça da revelação possibilita necessariamente a graça da fé.
Insisto: a realidade pertence a Deus, quem a criou, e lhe confere sentido; não a posteriori, mas ontológico no ato de criar. Quando, então nos referimos ao conhecimento que podemos ter do próprio Deus, do seu caráter e majestade, temos de reafirmar a verdade bíblica de que esse conhecimento provém do próprio Deus.
Alguns dos pressupostos fundamentais da fé cristã, de sua ontologia e epistemologia, é a convicção de que Deus existe, é um ser pessoal (não apenas uma causa não-causada, ou movente imóvel), que tem autoconsciência, se revela de forma verdadeira e acessível, temos nas Escrituras o registro dessa verdadeira revelação à qual o próprio Espírito de Deus nos guia em sua compreensão, nos conduzindo a um relacionamento pessoal com o Deus Triúno.[71]
Não conhecemos a essência de Deus em sua completude, porém, podemos conhecê-la à medida que Ele se revela, visto que a sua revelação “desvela” facetas de sua natureza eterna, tais como, bondade, justiça, santidade, graça, amor, etc.[72]
Esse princípio é fundamental à fé cristã: a revelação é a única fonte e possibilidade real de conhecermos a Deus.[73] Deus se dá a conhecer e nos capacita a fazê-lo. Sem a revelação não há um sim nem um não referentes a Deus. Sem revelação não haveria nem teísmo, nem ateísmo.
Portanto, Deus só pode ser conhecido por Ele mesmo. Somente Ele tem autoconsciência completa e exaustiva. Por isso a necessidade de revelação para que possamos conhecê-lo, e nos relacionarmos com Ele.[74] Deus em sua integridade se revela verdadeiramente como é em sua natureza essencial.[75] Porém, nenhuma de suas perfeições esgota a totalidade de seu ser. Este conhecimento resultante da graça é único, singular e pessoal.[76]
A teologia seria impossível sem a revelação de Deus. A revelação é a passagem do Deus consigo para o Deus conosco. Do Deus absconditus para o Deus revelatus. Aspectos do caráter de Deus se revelam propositadamente em suas relações com suas criaturas.[77] É no relacionamento pessoal com Deus que mais o conhecemos.
É no encontro significativamente pessoal, intensivo e experimental com Deus que vamos ampliando reverentemente o nosso conhecimento e descobrindo as nossas limitações; o quanto ignoramos.[78] É com a graça objetiva da revelação e o guiar interior do Espírito, é que passo a saber e a descobrir que não sei. Por isso, é que todo agnosticismo absoluto é uma forma de suicídio intelectual e[79] ofensivo a Deus e à sua Revelação.[80] No campo teológico, o agnosticismo não difere essencialmente do ateísmo.[81]
O Senhor em sua Palavra, além de nos revelar facetas sublimes de sua natureza, nos dá a conhecer aspectos de seu propósito eterno, que envolve o seu amor que antecede à nossa criação, o seu cuidado para conosco nos instruindo como devemos viver, a correção quando nos desviamos, e a garantia final de nossa salvação futura já assegurada.
A vida cristã não se caracteriza simplesmente por sustentar ideias corretas e ter uma visão mais ampla da realidade; mas, também, em proceder corretamente de acordo com a amplitude da realidade revelada. A ação cristã deve ser acompanhada de motivação e espírito condizentes com a fé cristã, filha de nossa eleição eterna.
Mesmo havendo teólogos geniais, pelo que devemos ser gratos a Deus –, este não é o ponto essencial. O que, deixando-me um pouco aliviado, me permite ficar mais à vontade: A função do teólogo não é revelar mistérios ou, esclarecer o não-revelado, mas, sermos fiéis ao que Deus nos confiou em sua Palavra (1Co 4.1-2). Não somos videntes nem intérpretes juramentados de Deus.[82] Teologia completa e definitiva é uma contradição e ilusão pecaminosa.
Deus não se deixa invadir pela razão humana, ou mesmo pela fé. Ele se dá a conhecer livre, fidedigna e explicitamente. Deus se revela a si mesmo como Senhor.[83] “Senhorio significa liberdade”, pontua Barth (1886-1968).[84]
Conhecer a Deus é um privilégio da graça que tem o seu início sempre no Deus Trino (Mt 11.27;1Co 12.3). Deus sabe tudo a nosso respeito, nos conhece mais do que nós mesmos. Nada que lhe digamos é inusitado. Nós, só o conhecemos à medida que se revela, fala de si mesmo e a respeito de si. (Sl 139.1-4; 33.13-15; Jo 1.47-48; 2.25).
“Quanto mais conhecemos Deus, mais compreendemos, e sentimos que seu mistério é inescrutável”, comenta Brunner (1889-1966).[85] O maravilhoso mistério a respeito de Deus aumenta em nossa compreensão à medida que mais o conhecemos.[86] Isso é graça (2Pe 3.18).
Teologia para os peregrinos
A igreja militante elabora uma “teologia de peregrinos”,[87] como uma direção humilde para os peregrinos que vivem no mundo de Deus buscando compreender e vivenciar de forma autêntica as etapas de sua jornada,[88] caminhando juntos em procissão[89] até que cheguem ao seu destino (Rm 8.29-30)[90] e, o Senhor Jesus volte para nos conduzir em absoluta segurança para o lugar que Ele mesmo foi-nos preparar. (Jo 14.1-6).
Agora, portanto, temos uma teologia em processo. A obra de Girardeau é uma contribuição nessa jornada.
Devemos ser agradecidos a Deus por ter capacitado esse servo para que, sobre os gigantes nos deixasse uma contribuição que nos permite enxergar ainda mais longe os ensinamentos da Palavra.
Considerações finais
Talvez nossa necessidade presente não seja a de debater essas posições [Ordem dos decretos] como se fossem alternativas, mas a de pedir a Deus que cure os desconfortos que geram essas questões e lide com o nosso coração, como o Senhor que está presente em bênção e juízo. − John Frame.[91]
O percurso apresentado evidencia como a tradição reformada, desde Calvino no século XVI até Girardeau e seus contemporâneos no século XIX, manteve uma profunda preocupação com a fidelidade bíblica, a pureza do culto e a clareza doutrinária. A música, a liturgia e a teologia sistemática não eram vistas como elementos isolados, mas como expressões integradas da fé cristã, sempre subordinadas à centralidade da Palavra.
A amizade e o discipulado entre figuras como Thornwell, Dabney e Girardeau mostram que a teologia reformada se desenvolveu em diálogo vivo, marcado por relações pessoais e pela transmissão de convicções.
A tradução da obra de Girardeau para o português, realizada pelo Rev. Valter Graciano Martins, representa um marco importante para o público lusófono. Ela possibilita que novas gerações tenham acesso a debates clássicos sobre eleição, reprovação e justificação, temas que continuam a desafiar e inspirar a reflexão teológica contemporânea.
Em suma, tanto Calvino quanto Girardeau nos lembram que a teologia reformada não é apenas um sistema de ideias, mas uma prática de vida e culto que atravessa séculos, permanecendo relevante para a igreja de hoje.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
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[1]George A. Blackburn, edited and compiled. The Life Work of John L. Girardeau, D.D., LL.D., Columbia, The State Company, 1916, p. 13-14.
[2]George A. Blackburn, edited and compiled. The Life Work of John L. Girardeau, D.D., LL.D., p. 9.
[3]Plumer estudou no Seminário de Princeton (1825/1826) – certamente aluno de Charles Hodge (1797-1878) − sendo licenciado em 1826 e ordenado em 1827. Além de um intenso trabalho missionário e como pastor de igreja local, foi um escritor profícuo. Trabalhou como professor no Seminário Western desde 1854/1855 até 1862 – tendo sido nesse período, professor de nosso missionário, A. L. Blackford (1829-1890) − quando foi lecionar no Seminário Columbia (1862-1880). (Vejam-se: Moses D. Hoge, William Swan Plumer: in: Philip Schaff, ed. A Religious Encyclopaedia: or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Practical Theology, Chicago: Funk Wagnalls, Publishers, 1887 (Revised Edition), v. 3, p. 1855-1856; Necrological Reports and Annual Proceddings of the Alumni Association of Princeton Theological Seminary, Volume 1 -1875-1889, Princeton, NJ.: C.S. Robinson & Co., University Printers, 1891, (26/04/1881) p. 20-22). A.A. Hodge (1823-1886), também aluno de Princeton (1843) foi quem sucedeu a Plumer no Seminário Western. A.A. Hodge em 1877 foi lecionar no Seminário de Princeton como assistente de seu pai C. Hodge (Veja-se: Boanerges Ribeiro, Igreja Evangélica e República Brasileira (1889-1930), São Paulo: O Semeador, 1991, p. 202-203). (Ver em especial a sua obra: William S. Plumer, Psalms, Carlisle, Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1978 (Reprinted). Esta obra foi publicada originalmente em 1867.
[4] Instrumental Music in the Public Worship of the Church, Richmond, VA: Whittet and Shepperson, Printers, 1001 Main Street, 1888. Girardeau defende que o culto cristão deve ser regulado pela Escritura. Argumenta que o uso de instrumentos musicais pertencia ao culto do Antigo Testamento, ligado às sombras e figuras da lei cerimonial. No Novo Testamento, segundo ele, o culto deve ser espiritual e simples, centrado no canto vocal dos salmos, sem instrumentos
O livro foi concebido como uma vigorosa defesa contra a introdução de órgãos e outros instrumentos nas igrejas presbiterianas de seu tempo. Com o passar dos anos, tornou-se referência para comunidades que preservam a prática do canto exclusivo dos salmos sem acompanhamento instrumental, sendo reconhecido como um dos textos clássicos da teologia reformada sobre liturgia e música na igreja.
Para compreender melhor sua posição, é útil recordar como João Calvino tratou o tema. A título de curiosidade, remeto o leitor a algumas obras que ilustram o pensamento de João Calvino (1509-1564). Entre elas, destacam-se: Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996, reimpressão, v. 2, em Êxodo 15.20, p. 262-263; O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, v. 1, em Daniel 3.2-7, p. 193-194; O Livro dos Salmos, São Paulo: Parakletos, 2002, v. 3, em Salmo 81.2, p. 278, e Salmo 92.3, p. 461-462.
Também merecem menção os Sermões sobre 2 Samuel, publicados em Reformation Commentary on Scripture. Old Testament V: 1-2 Samuel, 1–2 Kings, 1–2 Chronicles (org. Timothy George, Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2016), especialmente nas páginas 167 e 170; bem como a Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, em Hebreus 10.5, p. 257.
[5]Obra vertida para o português graças ao primoroso trabalho de tradução do incansável e competente Rev. Valter Graciano Martins: John L. Girardeau, Calvinismo & Arminianismo Evangélico: Comparados quanto à Eleição, Reprovação, Justificação e Doutrinas Correlatas, Goiânia, GO: Editora Cruz, 2023.
[6] The Southern Presbyterian Review (Charleston/Columbia, 1847-1885).
[7] John L. Girardeau sobre o diaconato, publicado na The Southern Presbyterian Review, vol. 30, nº 1 (janeiro de 1879), p. 1–32. Nesse primeiro artigo há uma nota explicativa: “Este artigo foi apresentado como um relatório ao Sínodo em suas recentes sessões em Spartanburg, e aparece na Review em conformidade com um pedido daquele corpo. Observa-se que o relatório foi parcial, tratando apenas do primeiro ponto do esquema geral de tópicos que se propõe a abordar. O Comitê foi incumbido de submeter o restante nas próximas sessões do Sínodo.” (https://www.pcahistory.org/HCLibrary/periodicals/spr/v30/30-1-1.pdf) (Acessado em 18.11.2025).
[8] George A. Blackburn, edited and compiled. The Life Work of John L. Girardeau, D.D., LL.D., p. 390-391.
[9] John B. Adger; John L. Girardeau, eds. Collected Writings of James Henley Thornwell, Richmond, VA.: Presbyterian Committee of Publication, 1871-1873, 4v.
[10]Robert L. Dabney, Lectures in Systematic Theology, Grand Rapids, MI.: Baker, 1985 (reprinted). O biógrafo de Dabney, escreveu: “Os escritos de Dabney o intitulam ao primeiro lugar entre os pensadores e escritores teológicos de seu século. Além disso, o gênio peculiar da exposição de Dabney da teologia das Escrituras Cristãs o coloca em acordo mais próximo com o próprio grande Calvino, em vários detalhes essenciais, do que qualquer outro teólogo americano moderno é trazido por seu sistema. Calvino e Dabney são igualmente notáveis por nunca se esquivarem de problemas difíceis e por nunca os enrolarem” (Thomas Cary Johnson, Life and Letters of Robert Lewis Dabney, Richmond, VA.: The Presbyterian Committee of Publication, 1903, p. 557). Dabney usava como livro-texto em suas aulas a obra de Turretini (Veja-se: Thomas Cary Johnson, Life and Letters of Robert Lewis Dabney, p. 100). Dabney fazia com que seus alunos lessem Turretini em latim e escrevessem pequenos trabalhos a respeito dos tópicos lidos. Após corrigir os trabalhos fora do horário de aula, o próprio Dabney dissertava a respeito dos tópicos lidos pelos alunos. (Cf. Thomas Cary Johnson, Life and Letters of Robert Lewis Dabney, p. 196). Charles Hodge propôs levar Dabney para Princeton a fim de lecionar História Eclesiástica, mas Dabney preferiu permanecer no Sul (Veja a correspondência entre ambos: Thomas Cary Johnson, Life and Letters of Robert Lewis Dabney, p. 199-208).
No prefácio de uma nova impressão da teologia de Dabney, Smith (1923-2017) comenta: “Dabney foi antes de tudo um mestre. A sua principal realização foi em sala de aula, onde sempre afirmou, com intensidade e vigor, os princípios da fé reformada” (Morton H. Smith, Foreword: In: Robert L. Dabney, Lectures in Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1985).
A sua posição teológica e alcance é atestada no fato de Bavinck incluí-lo entre aqueles que representavam a Teologia de Princeton no Sul dos Estados Unidos (Ver: Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 1, p. 202).
[11]John L. Girardeau, Calvinismo & Arminianismo Evangélico: Comparados quanto à Eleição, Reprovação. Justificação e Doutrinas Correlatas, p. 11-12.
[12]John L. Girardeau, Calvinismo & Arminianismo Evangélico, p. 25.
[13]John L. Girardeau, Calvinismo & Arminianismo Evangélico, p. 42.
[14] Cf. Geerhardus Vos, Reformed Dogmatics: Theology Proper, Lexham Press, 2012-2014, (Edição do Kindle), v. 1, (Posição 2956 de 9379).
[15] Cf. Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 370; R.V. Schnucker, Infralapsarismo: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, São Paulo: Vida Nova, 1990, v. 2, [p. 332-333], p. 332.
[16]Vejam-se: L. Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 119; Fred H. Klooster, Supralapsarismo: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, São Paulo: Vida Nova, 1990, v. 3, p. 424-425; Supra lapsum: In: Richard A. Muller, Dictionary of Latin and Greek Theological Terms, 4. ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1993, p. 292.
[17]Essa posição “supralapsariana” não era estranha a Calvino nas Institutas. (Veja-se: As Institutas, III.21-24, especialmente, III.23.1,5,8-9). Contudo, nesse decreto, não se elimina a responsabilidade humana (Veja-se: As Institutas, III.23.3). Do mesmo modo: John Knox, Sobre Predestinação, Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2021, Parte 39 passim. Aliás, nenhum calvinista nega o fato de que o pecado de alguma forma fazia parte do decreto de Deus (Veja-se: B.B. Warfield, O Plano da Salvação, Rio de Janeiro; São Paulo: Thomas Nelson Brasil; Pilgrim, 2021, p. 124). O teólogo batista Strong (1836-1921), comentando o pensamento de Calvino, observou corretamente que, “A relação de Deus para com a origem do pecado não é eficiente, mas permissiva” (A.H. Strong, Systematic Theology, 11. ed. Philadelphia: The Judson Press, 1947, p. 778). Tillich (1886-1965), por exemplo, revela o seu conceito a respeito do Supralapsarianismo, conforme a visão apresentada acima: “Todo teólogo que é suficientemente corajoso para enfrentar a dupla verdade de que nada pode acontecer a Deus acidentalmente e que o estado da existência é um estado caído deve aceitar o ponto de coincidência entre o fim da criação e o começo da queda. (…) Os calvinistas supralapsários, que afirmavam que Adão caiu por decreto divino, tiveram a coragem de enfrentar esta situação….” (Teologia Sistemática, São Paulo: Paulinas; Sinodal, 1984, p. 215). Da mesma forma escreve outro luterano, Jenson (1930-2017), que observou que “…. nenhum pensamento cristão, nem mesmo um pensamento remotamente cristão, pode evitar uma doutrina da predestinação” (Robert W. Jenson, O Espírito Santo: In: Carl E. Braaten; Robert W. Jenson, eds. Dogmática Cristã, São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1995, v. 2, p. 148). Curiosamente, Strong (Systematic Theology, p. 778. [Edição brasileira, v. 2, p. 469-470]) mesmo elogiando o “amadurecimento” do pensamento de Calvino, faz uma citação truncada do seu comentário a respeito de 1Jo 2.2, sustentando que Calvino, nos seus últimos dias de vida, aceitava a “expiação universal”. A interpretação de Strong neste ponto, parece-me totalmente equivocada. (Veja-se: Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1981, v. 22, in. loc. p. 172-173. Compare a interpretação de Strong com a de Francis Turretini (1623-1687) a respeito do mesmo comentário de Calvino. (F. Turretin, Institutes of Elenctic Theology, Phillipsburg, New Jersey: Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1994, v. 2, p. 474-475. (Edição brasileira, v. 2, p. 570-571).
No texto citado, Calvino de fato, toma como válida a fórmula Agostiniana. “Suficiente para todos, eficiente para os eleitos” (“Sufficienter pro omnibus, efficienter pro electis”), contudo ele não a considera adequada para interpretar o texto de 1Jo 2.2. (Vejam-se: As Institutas,II.15.2. e, J. Calvino, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1981, Jo 1.29; 6.45; Rm 1.16; 5.18-19; 10.16; Hb 9.15,28; 1Jo 2.2). (Quanto à visão Calvinista que se tornou padrão entre os Reformados a respeito da “Expiação Limitada” [= “Expiação Definida” ou “Expiação Particular”], vejam-se, especialmente: Cânones de Dort (1618-1619), Capítulo II, Confissão de Westminster (1647), Capítulos, III.6; VIII.1,5,8.; John Owen, Por Quem Cristo Morreu?, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1986, 87p.; F. Turretin, Institutes of Elenctic Theology, v. 2, p. 458ss.; William Cunningham, Historical Theology, London: The Banner of Truth Trust, (c. 1862), Reprinted 1969, v. 2, p. 323-370; B.B. Warfield, O Plano da Salvação, Rio de Janeiro; São Paulo: Thomas Nelson Brasil; Pilgrim, 2021; Loraine Boettner, La Predestinación, Grand Rapids, Michigan: Subcomision Literatura Cristiana, © 1932, p. 128-137; L. Berkhof, Teologia Sistemática, p. 393-400; Leandro Antonio de Lima, Calvino ensinou a Expiação Limitada?: In: Fides Reformata, São Paulo: Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper, v. IX, nº 1 (2004), p. 77-99.
[18]Fred H. Klooster, Supralapsarismo: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, v. 3, p. 424-425. Quanto a uma crítica pertinente ao uso da expressão, veja-se: Herman Hoeksema (Reformed Dogmatics, 3. ed. Grand Rapids, Michigan: Reformed Free Publishing Association, 1976, p. 158-159) e John Knox, (Sobre Predestinação, Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2021, Parte 38, p. 404-431 Edição do Kindle. (Posição 5245-5629 de 7644). Para uma solução da questão, veja-se: João Calvino, As Institutas, I.18.1-4; II.4.3; III.23.8; John Calvin, Concerning the Eternal Predestination of God, London: James Clarke & Co. Limited, 1961, p. 176-177. W. Perkins (1558-1602) escreveu: Deus não é um mero agente permissivo de uma obra maligna, mas um poderoso agente da mesma, mas de tal forma que não introduz uma aberração na ação, nem ainda a suporta, mas que permite o mal com toda a liberdade e o dirige da melhor forma para a sua própria glória” (William Perkins, A Golden Chain (p. 59). Tulip Publishing. Edição do Kindle. (Posição 884 de 6904).
[19]Hodge (1823-1886), observou corretamente que:
“Desde que cremos que o Decreto de Deus é uma só intenção eterna, não pode haver ordem de sucessão nos seus propósitos, nem a) no tempo, como se um propósito realmente precedesse a outro, nem b) na deliberação distinta, ou opção, da parte de Deus. O todo é um só propósito. Mas, determinando a existência do sistema inteiro, Deus compreendeu naturalmente todas as partes do sistema, determinadas por Ele em suas diversas sucessões e relações. (…) Por isso a questão quanto à Ordem dos Decretos não é questão quanto à ordem dos atos de Deus decretando, mas é questão quanto à verdadeira relação que sustentam entre si as diversas partes do sistema decretado. Isto é, que relação estabeleceu o único propósito eterno de Deus entre Criação, Predestinação e Redenção? Que ensinam as Escrituras a respeito do propósito de Deus em dar Seu Filho, e a respeito do fim e motivo da eleição?” (A.A. Hodge, Esboços de Theologia, Lisboa: Barata & Sanches, 1895, XI.41. p. 210). Veja-se também: João Calvino, As Institutas, III.21.5. Para um tratado contemporâneo, sincero, bíblico, prático e edificante, veja-se: R.C. Sproul, Eleitos de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 1998.
[20]É digna de nota a observação de Hodge (1797-1878) de que posteriormente Calvino escreveu textos que indicavam uma posição infralapsária. O fato, é que a visão de Calvino a respeito do assunto é alvo de disputa, não sendo de modo algum fácil classificá-lo dentro de uma ou de outra visão. (Vejam-se: Charles Hodge, Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1986, v. 2, p. 316; Geerhardus Vos, Reformed Dogmatics: Theology Proper, Lexham Press, 2012-2014, (Edição do Kindle), v.1, (Posição 2956-2961 de 9379); George P. Fisher, History of Christian Doctrine, New York: Charles Scribner’s Sons, 1906, p. 300ss.; James O. Buswell, A Systematic Theology of the Christian Religion, Grand Rapids, Michigan: Zondervan Publishing House, © 1962, v. 3, p. 135-136).
Creio que as duas posições estão presentes em Calvino: A supralapsária se evidencia melhor nAs Institutas, quando Calvino define a doutrina da Predestinação, dizendo: “Chamamos predestinação o eterno decreto de Deus pelo qual houve por bem determinar o que acerca de cada homem quis que acontecesse. Pois ele não quis criar a todos em igual condição; ao contrário, preordenou a uns a vida eterna, a outros, a condenação eterna. Portanto, como cada um foi criado para um ou outro desses dois destinos, assim dizemos que um foi predestinado ou para a vida, ou para a morte” (As Institutas, III.21.5). Nas mesmas Institutas encontramos também sua posição Infralapsária (As Institutas, II.12.7). No Consensus Genevesis (1551-1552), redigido por Calvino, há uma apresentação clara e abrangente da doutrina da Ceia do Senhor e da Predestinação no qual, ele se mostra infralapsariano. Esse documento foi elaborado, objetivando refutar as críticas de seus opositores referentes à doutrina da Predestinação, bem como, estabelecer a unidade das Igrejas Reformadas na Suíça no que se refere à doutrina da Predestinação e dos Sacramentos. Essa Confissão foi apresentada em Genebra (1552), sendo assinada por todos os pastores da cidade. Infelizmente, Schaff, não traz o texto desta Confissão. (Vejam-se: P. Schaff, The Creeds of Christendom, 6. ed. (Revised and Enlarged), Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (1931), v. 1, p. 474-477; v. 3, p. 232; Consensus Genevesis: In: P. Schaff, ed. A Religious Encyclopaedia: or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal and Practical Theology, New York: Funk & Wagnalls Company, 1891 (Third Edition revised and Enlarged), v. 1, p. 544; William G.T. Shedd, A History of Christian Doctrine, New York: Charles Scribner’s Sons, 1891, v. 2, p. 468-469). Do mesmo modo, encontramos a posição infralapsária na Confissão Gaulesa (1559), escrita por Calvino (1509-1564) e seu discípulo Antoine de la Roche Chandieu (De Chandieu) (1534-1591), provavelmente com a ajuda de T. Beza (1519-1605) e Pierre Viret (1511-1571). (Veja-se: Art 12). Pessoalmente, creio que em seus escritos não se preocupou essencialmente com isso, daí a sua possível e aparente ambiguidade. Para um estudo breve, porém significativo e esclarecedor sobre a compreensão de Calvino sobre a doutrina da predestinação, veja-se: Fred H. Klooster, A Doutrina da Predestinação em Calvino, Santa Bárbara d’Oeste, 1992, 87p. Da mesma forma, ver a Introdução de J.K.S. Reid à obra de Calvino: John Calvin, Concerning the Eternal Predestination of God, London: James Clarke & Co. Limited, 1961, p. 9-44.
[21] Armínio, aluno de Beza na Academia de Genebra (c. 1582-1585). Em parte desse período, aproximadamente por um ano, estudou em Basileia (1583-1584). (Cf. Robert E. Picirilli, Grace, Faith, Free Will. Contrasting View of Salvation: Calvinism and Arminianism, Nashville, Tennessee: Randall House Publications, 2002, p. 4), Armínio deixou uma ótima impressão em seu mestre.
Quando Armínio voltou para Holanda a fim de pastorear, Beza escreveu a seguinte carta de apresentação (03.06.1583) em resposta ao pastor Martin Lydius (c. 1540-1601) de Amsterdã, atestando a sua piedade e seriedade e, com grande expectativa quanto ao seu progresso:
“….Que lhes seja conhecido que a partir do momento em que Armínio voltou a nós de Basileia, a sua vida e aprendizagem nos têm sido aprovadas, então esperamos o melhor dele em todos os aspectos, se ele constantemente persistir no mesmo objetivo, que assim seja pela bênção de Deus, e não duvido que ele irá. Entre outros dons, Deus o dotou com um intelecto apto tanto a respeito da apreensão quanto da discriminação das coisas. Se este [intelecto] doravante for regulado pela piedade, que ele aparenta assiduamente cultivar, será inevitável que este poder de intelecto, quando consolidado por idade e experiência madura, produzirá os mais ricos frutos. Essa é a nossa opinião sobre Armínio – um jovem, sem dúvida, na medida em que somos capazes de julgar, mais digno de vossa bondade e liberalidade” (Apud Caspar Brandt, The Life of James Arminius, London: Ward & Co., 1854, p. 23-24. Veja-se também: Robert E. Picirilli, Grace, Faith, Free Will. Contrasting View of Salvation: Calvinism and Arminianism, Nashville, Tennessee: Randall House Publications, 2002, p. 5).
Três meses depois, Johann Jakob Grynaeus (1540-1617) – sobrinho de Simon Grynaeus, amigo de Calvino a quem este lhe dedicara o comentário de Romanos (1539) – , professor de literatura sagrada e decano da Faculdade de Teologia, escreveu de próprio punho atestando a capacidade e seriedade de Armínio (03.09.1583):
“Aos piedosos leitores, saudações: Na medida em que um testemunho fiel de aprendizagem e de piedade não deve ser recusado a qualquer homem instruído e piedoso, então, nem a Jacó Armínio, um nativo de Amsterdã[sic], por sua conduta, enquanto participante da Universidade de Basileia foi marcada pela piedade, moderação e assiduidade no estudo; e, frequentemente, no decurso de nossas discussões teológicas, ele tornou o seu dom de um espírito exigente tão evidente a todos nós, assim extraindo de nós bem-merecidas congratulações. Mais recentemente, também, em extraordinárias preleções entregues com o consentimento, e ordem, da Faculdade de Teologia, no qual ele expôs publicamente alguns capítulos da Epístola aos Romanos, nos dando uma grande base para esperar em breve o que ele estava destinado — se, de fato, ele continuar a reavivar o dom de Deus que está nele — para realizar e sustentar a função de ensinar, para que ele possa ser legalmente separado, com muitos frutos a Igreja. Eu o recomendo, portanto, a todos os homens de bem, e, em particular, à Igreja de Deus na famosa cidade de Amsterdã; e, respeitosamente, rogo que seja tido em conta este jovem instruído e piedoso, de modo que ele nunca esteja sob a necessidade de intermitentes estudos teológicos que têm sido, até agora, tão felizmente exercidos. Adeus!” (Apud Caspar Brandt, The Life of James Arminius, London: Ward & Co., 1854, p. 25).
Armínio foi ordenado ministro em 27/08/1588.
Por equívoco, falta de discernimento ou loteamento de cargos – de fato as questões políticas e políticas-eclesiásticas eram bastante complexas (Veja-se: Peter Y. De Jong, O surgimento das igrejas reformadas nos Países Baixos: In: Peter Y. De Jong. Org., Crise nas igrejas reformadas, p. 26ss.) –, o fato é que em 1603, se tornou professor de teologia na já então respeitada Universidade de Leiden (Fundada em 1575), que sendo calvinista, tinha correntes internas de influência luterana, zwingliana e anabatista, conforme escreveu Godfrey: “A primeira expressão do protestantismo que conquistou um grande número de seguidores holandeses foi o anabatismo” (W. Robert Godfrey, Calvino e o Calvinismo nos Países Baixos: In: W.S. Reid, ed. Calvino e sua Influência no Mundo Ocidental, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990, [p. 113-145], p. 115). Na mesma página: “O anabatismo foi a forma dominante do protestantismo nos Países Baixos, nos anos 1530 e 1540, mas ulteriormente o Calvinismo suplantou o anabatismo como a expressão mais popular da Reforma nos Países Baixos”.
Como havia uma certa suspeita quanto a aspectos da teologia de Armínio, antes de ser admitido – devido a sermões que pregara sobre Romanos 7 e 9, sustentando posições estranhas sobre a predestinação, Gomarus (1563-1641) o entrevistou e declarou estar satisfeito. (Para um exame detido da posição de Armínio, veja-se: Jacó Armínio, As Obras de Armínio, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2005, especialmente o v. 3). Armínio sabia usar de ambiguidades quando era de seu interesse e assumir compromissos apenas verbais. (Veja-se: Frans Leonard Schalkwijk, Igreja e Estado no Brasil Holandês, (1630-1654), Recife, Pe. FUNDARTE, (Coleção Pernambucana, 2ª Fase, v. 25), 1986, p. 37). Assim ele assumiu a cátedra.
Quando Armínio sentiu-se seguro de sua posição se tornou mais claro quando às suas posições teológicas (1605), enfrentando, desde então, forte oposição de seu colega de docência na Universidade de Leiden, Francisco Gomarus (1563-1641), que entendia que sua concepção era pelagiana. O consciencioso historiador Cunningham (1805-1861), remonta as ideias arminianas a Clemente de Alexandria (c. 153-c.215 AD.) – um entusiasta da filosofia grega –, (Clemente, Stromata, I.5: In: Alexander Roberts; James Donaldson, eds. Ante-Nicene Fathers, 2. ed. Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1995, v. 2, p. 305), passando por Pelágio (Os Cânones de Dort, São Paulo: Cultura Cristã, [s.d.], p. 59) e Socino (1539-1604). (William Cunningham, Historical Theology, 3. ed. Edinburgh: T. & T. Clark, 1870, v. 2, p. 374ss. Para um juízo mais ameno da posição de Armínio, veja-se: W. Robert Godfrey, Calvino e o Calvinismo nos Países Baixos: In: W.S. Reid, ed. Calvino e sua Influência no Mundo Ocidental, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 125).
[22]Herman Hoeksema, Reformed Dogmatics, 3. ed. Grand Rapids, Michigan: Reformed Free Publishing Association, 1976, p. 164.
[23]L.S. Chafer (1871-1952) – fundador do Seminário Teológico de Dallas em 1924 –, estabelecendo uma diferença entre a posição “Infralapsária” e a “Sublapsária“, observou de modo pertinente que os “Infralapsários” apresentam a ordem do Decreto conforme a indicada acima e, os “Sublapsários”, fazem uma inversão entre os elementos três e quatro. (L.S. Chafer, Teologia Sistemática, Dalton, Geórgia: Publicaciones Españolas, 1974, Tomo I, p. 996-998; da mesma forma, A.H. Strong, Systematic Theology, p. 779 (Edição brasileira, v. 2, p. 471-472); Millard J. Erickson, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 890-891; Millard J. Erickson, Conciso Dicionário de Teologia Cristã, Rio de Janeiro: JUERP., 1991, “Infralapsarianismo” e “Sublapsarianismo“, p. 89 e 156 e P. Schaff, ed. A Religious Encyclopaedia: or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal and Practical Theology, in loc. Isto de fato acontece com A.B. Teixeira (1878-1975), que segue a ordem “Sublapsária” (Dogmática Evangélica, 2. ed. São Paulo: Pendão Real, 1976, p. 229). Entretanto, Charles Hodge (Systematic Theology, v. 2, p. 319-321), Robert L. Dabney (1820-1898) (Lectures in Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1985, p. 232-233) e Philip Schaff (1819-1893)(History of the Christian Church, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1996, v. 8, p. 552), não estabelecem nenhuma distinção.
[24] “…. As doutrinas do calvinismo têm sido mais ou menos lançadas no molde do infralapsarianismo. Elas têm tido um desenvolvimento definido, segundo aquele tipo, nos formulários simbólicos da Igreja Reformada e nas obras de teólogos representativos. Isto livra o calvinista do embaraço resultante da tentativa de defender pontos de vista diferentes e incongruentes dos decretos divinos, e lhes dá a vantagem de apelarem para os padrões calvinistas, como sendo ou implícita ou explicitamente infralapsariano em suas declarações” (John L. Girardeau, Calvinismo & Arminianismo Evangélico: Comparados quanto à Eleição, Reprovação. Justificação e Doutrinas Correlatas, Goiânia, p. 29). Veja-se: Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 375.
[25] Johannes Wollebius, Compêndio de Teologia Cristã, Eusébio, CE.: Peregrino, 2020, p. 53.
[26]Francis Turretin, Institutes of Elenctic Theology, New Jersey: Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1992, v. 1, p. 428-429 (Edição brasileira, p. 544-545). A obra de Turretini foi muito influente no desenvolvimento da teologia americana no século XIX, particularmente no Presbiterianismo americano” (R. Hesselgrave, Turretin: In: J.D. Douglas; Philip W. Comfort, eds. Who’s Who in Christian History, Wheaton, Illinois: Tyndale House Publishers, Inc., 1992, p. 683). Sobre a influência de Turretini na Teologia de Princeton, vejam-se: Mark A. Noll, ed. The Princeton Theology: 1812-1921, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1983, p. 29-30; John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, São Paulo: Pendão Real, 1997, p. 184-185; Jack B. Rogers; Donald K. McKim, The Authority and Interpretation of the Bible: An Historical Approach, San Francisco: Harper & Row, Publishers, 1979, p. 268ss.; 279ss. A influência de Turretini tornar-se-ia evidente não apenas em Princeton, mas também em outros teólogos presbiterianos do século XIX, de diferentes escolas, tais como Robert L. Dabney (1820-1898), professor de Teologia no Union Seminary de Richmond [Lectures in Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1985] e W.G.T. Shedd (1820-1894), professor de Teologia do Union Seminary de New York [W.G.T. Shedd, Dogmatic Theology, 2. ed. Nashville: Thomas Nelson Publishers, 1980]. O próprio Strong (1835-1921), o grande teólogo batista do século XIX, usa e cita Turretini umas dez vezes, referindo-se a ele como um “claro e vigoroso teólogo” (Augustus H. Strong, Systematic Theology, 35. ed. Philadelphia, The Judson Press, 1993, p. 46). Veja-se: Hermisten M.P. Costa, O Seminário e a formação de Pastores: Reflexões Históricas e Teológicas, São Paulo: Seminário José Manoel da Conceição; Cultura Cristã, 2025, p. 240-245 (Ebook).
[27]John L. Girardeau, Calvinismo & Arminianismo Evangélico: Comparados quanto à Eleição, Reprovação. Justificação e Doutrinas Correlatas, p. 29.
[28]Michael Horton, Doutrinas da fé cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 334-335 e principalmente https://teologiapactual.site/supralapsarianismo-e-infralapsarianismo-entendendo-as-ordens-dos-decretos-divinos (acessado em 19.11.2025).
[29] Veja-se: William Cunningham, The Reformers and the Theology of the Reformation, Edinburgh: Banner, 1979 (Reprinted), p. 367-369.
[30]Assim como em Dort, na Assembleia de Westminster, a maioria dos representantes era Infralapsariano (Cf. William Cunningham, The Reformers and the Theology of the Reformation, Edinburgh: Banner, 1979 (Reprinted), p. 367, 369-370).
[31]Charles Hodge, Systematic Theology, v. 2, p. 320.
[32]John Frame, A Doutrina do Conhecimento de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 280,281. (Veja-se também: https://frame-poythress.org/infralapsarianism/ (Acessado em 19.11.2025).
[33] Veja-se: John S. Bray, Theodore Beza’s Doctrine of Predestination, Nieuwkoop: B. De Graaf, 1975, p. 112.
[34] Calvino pregou com profunda sensibilidade e reverência: “Ele [Paulo] revela a razão final que moveu Deus a nos eleger, isto é, para que sua graça fosse louvada por meio disso; todavia, não segundo uma forma comum e ordinária, mas com uma glória inquestionável. Pois ele uniu aquelas duas coisas, a fim de que ficássemos extasiados ao ver como Deus nos arrancou para fora do fundo do inferno, a fim de nos abrir a entrada de seu reino e nos chamar à herança. Aqui vemos (…) que todos os que querem dar cabo da predestinação divina ou são avessos a ouvir falar dela mostram com isso ser inimigos mortais do louvor de Deus” (João Calvino, Sermões em Efésios, Brasília, DF.: Monergismo, 2009, p. 74-75).
[35]William Cunningham, The Reformers and the Theology of the Reformation, Edinburgh: Banner, 1979 (Reprinted), p. 362ss.
[36]Herman Bavinck, The Doctrine of God, 2. ed. Grand Rapids, Michigan: Wm. Eerdmans Publishing Co., 1955, p. 385ss.
[37] L. Berkhof, Teologia Sistemática, p. 198.
[38]Herman Hoeksema, Reformed Dogmatics, p. 164.
[39] Fred H. Klooster, Supralapsarismo: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, São Paulo: Vida Nova, 1990, v. 3, [p. 424-425], p. 425.
[40] Vejam-se por exemplo: B.B. Warfield, Predestination in the Reformed Confessions: In: The Works of Benjamin B. Warfield, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 2000 (Reprinted), v. 9, [p. 117-231], p. 218ss.
[41]Este é precisamente o caso de Mastricht. Berkhof o classifica como infralapsariano (Veja-se: L. Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 119) e Vos o coloca na prateleira dos supralapsarianos (Geerhardus Vos, Reformed Dogmatics: Theology Proper, Lexham Press, 2012-2014, (Edição do Kindle), v. 1, (Posição 2903 de 9379). Por isso, a perspicaz pergunta de Beeke e Rester − para a qual eles mesmos não têm a resposta −, no Prefácio da obra: “Será que Mastricht inicialmente veio do lado supralapsariano, como seu professor Voetius, e cedeu ao infralapsarianismo? Ou ele começou com a maioria infralapsariana holandesa, aparentemente mais alinhada com a Confissão Belga e cedeu ao supralapsarianismo?” (Petrus van Mastricht, Theoretical Practical Theology Vol. 3: The Works of God and the Fall of Man, Reformation Heritage Books. (Edição do Kindle) v. 3, (Posição 542 de 15709). (p. 39).
[42] “Nas obras de Calvino, a abordagem supralapsariana e se alterna com a infralapsariana” (Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 374).
[43] Cf. John S. Bray, Theodore Beza’s Doctrine of Predestination, Nieuwkoop: B. De Graaf, 1975, p. 70 e 99; Donald Sinnema, Beza’s view of Predestination in Historical Perspective: In: Irena Backus, dir. Théodore de Bèze (1519-1605) − Actes du Colloque de Genève (septembre 2005) publiés par l’Institut d’histoire de la Réformation, Genève: Librairie Droz, 2007, [p. 219-239], p. 225.
[44] Cf. Richard A, Muller, Christ and the Decree: Cristology and Presdestiantion in Reformed Theology from Calvin to Perkins, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1988, 162ss., p. 169. Ver: William Perkins, A Golden Chain, Lansvale: Tulip Publishing Edition, 2021.
[45] Veja-se: Joel R. Beeke; Mark Jones, Teologia Puritana: doutrina para a vida, São Paulo: Vida Nova, 2016, p. 231-246.
[46] Conforme escreveu Mastricht, há uma tentativa de conciliação das posições: “Por outro lado, os objetivos da eleição e da reprovação são a humanidade, criada e decaída. Isso reconcilia opiniões divergentes e resolve as disputas que muitas vezes surgem. Quando os supralapsarianos confrontam os infralapsarianos com passagens das Escrituras onde Deus predestina a humanidade como vasos de ira e misericórdia, os infralapsarianos podem responder enfatizando que o objeto da predestinação, particularmente seu primeiro ato ou propósito, é a humanidade, criada e caída. Isso esclarece a questão e elimina mal-entendidos. Por outro lado, se supralapsarianos argumentam que infralapsarianos propõem uma criação e queda sem o propósito de manifestar graça e justiça, pode-se contrariar que o propósito da criação e a queda permitida é, de fato, manifestar graça e justiça, com o objeto sendo a humanidade, capaz de ser criada e capaz de cair. No entanto, o objeto da eleição e da reprovação, por si só, é a humanidade, criada e decaída” (Petrus van Mastricht, Theoretical Practical Theology Vol. 3: The Works of God and the Fall of Man, Reformation Heritage Books. (Edição do Kindle) v. 3, (Posição 1627-1631 de 15709). (p. 106-107).
[47] Vejam-se; Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 374; G.C. Berkouwer, Study in Dogmatics: The Divine Election, Gand Rapids, MI.: Eerdmans, 1960, p. 256; Morton H. Smith, Systematic Theology, Greenville: Greenville Seminary Press, 1994, v. 1, p. 175; Joel R. Beeke; Mark Jones, Teologia Puritana: doutrina para a vida, São Paulo: Vida Nova, 2016, p. 232. Num contexto mais amplo, afirma Horton: “A ortodoxia reformada tolerava o supralapsarianismo, mas favorecia o infralapsarianismo” (Michael Horton, Doutrinas da fé cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 334). Vejam-se os importantes artigos de Murray (1898-1975): John Murray, Calvin, Dort, and Westminster on Predestination – A Comparative Study: In: Colleted Writings of John Murray, Carlisle: The Banner of Truth Trust, 1982, v. 4, p. 205-215; John Murray, The Theology of the Westminster: In: Colleted Writings of John Murray, v. 4, [p. 241-263], especialmente, p. 249-250; Cornelis P. Venema, Predestinação e Eleição: In: Matthes Barrett, Teologia da Reforma, Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017, [p. 209-243], p. 237.
[48] Geerhardus Vos, Reformed Dogmatics: Theology Proper, Lexham Press, 2012-2014, (Edição do Kindle), v. 1, (Posição 2969 de 9379). Vejam-se: Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 377-378; Joel R. Beeke; Paul M. Smalley, Teologia Sistemática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2020, v. 1, p. 891 (Em especial).
[49] Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 1, p. 619.
[50]Vejam-se por exemplo: João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 3, (III.8), p. 38; João Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo: Paracletos, 1997, (Rm 9.14), p. 329-330; João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 1.3), p. 34; Abraham Kuyper, A Doutrina Bíblica da Eleição, Rio de Janeiro: Pro Nobis Editora, 2021, p. 55-56.
[51]R.L. Dabney, Lectures in Systematic Theology, p. 233.
[52]Para um estudo complementar sobre o assunto, consulte, entre tantos outros: L. Berkhof, Teologia Sistemática, p. 119-126; Loraine Boettner, Predestination: In: E.F. Harrison, Editor. Diccionario de Teologia, Grand Rapids, Michigan: T.E.L.L. 1985, p. 418-420; C. Hodge, Systematic Theology, II, p. 316-321; H. Hoeksema, Reformed Dogmatics, p. 161-165; Alfredo B. Teixeira, Dogmática Evangélica, p. 226-232; F.H. Klooster, Supralapsarismo: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, v. 3, p. 424-425; R.V. Schnucker, Infralapsarismo: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, v. 2, p. 332-333; A.H. Strong, Systematic Theology, p. 777-779; Lewis S. Chafer, Teologia Sistematica, v. 1, p. 994-998; William G.T. Shedd, Dogmatic Theology, 2. ed. Nashville: Thomas Nelson Publishers, 1980, v. 1, p. 441-443; R.L. Dabney, Lectures in Systematic Theology, p. 232-234; Herman Bavinck, The Doctrine of God, p. 382-394; A.A. Hodge, Esboços de Theologia, Cap. XI, p. 210-213; Samuel Falcão, Predestinação, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1981, p. 146-150; G.M. Bromiley, Predestination: In: G.W. Bromiley, General Editor, The International Standard Bible Encyclopedia, Grand Rapids, Michigan: William B. Eerdmans Publishing Company, 1986, v. 3, p. 945-951; B.B. Warfield, O Plano da Salvação, especialmente, p. 101ss.; J.J. Van Oosterzee, Christian Dogmatics, 2 ed. London: Hodder and Stoughton, 1878, especialmente, p. 452ss.; Sublapsarians: In: John M’Clintock; James Strong, Cyclopaedia of Biblical, Theological, and Ecclesiastical Literature, New York: Harper & Brothers Publishers, 1894, v. 10, p. 2-3; Morton H. Smith, Systematic Theology, Greenville, South Carolina: Greenville Seminary Press, 1994, v. 1, p. 173-177; R.C. Sproul, Eleitos de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 1998, especialmente, p. 123ss. Para uma visão panorâmica da relevância desta doutrina na Teologia Protestante, dentro de uma abordagem mais “irênica”, conforme se propõe o autor, veja-se: Harry Buis, Historic Protestantism and Predestination, Eugene: Oregon: Wipf & Stock Publishers, 2007, 142p. Para uma apresentação sumária a respeito da relevância da doutrina da eleição entre os batistas, veja-se: Robert B. Selph, Os Batistas e a Doutrina da Eleição, 2. ed. São José dos Campos, SP.: Fiel, 1995, 155p.
[53] Lutero, falando sobre a Predestinação, disse: “Duas coisas obrigam à pregação da predestinação. A primeira é a humilhação do nosso orgulho e o reconhecimento da graça de Deus; e a segunda é a natureza da fé Cristã em si mesma” (Martin Luther, De Servo Arbitrio. In: E. Gordon Rupp; Philip S. Watson, eds. Luther and Erasmus: Free Will and Salvation, Philadelphia: The Westminster Press, 1969, p. 137).
[54]L. Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 125. “Aprendamos, pois, a evitar as inquirições concernentes a nosso Senhor, exceto até onde Ele nos revelou através da Escritura. Do contrário, entraremos num labirinto do qual o escape não nos será fácil” (João Calvino, Romanos, 2. ed. São Paulo: Parakletos, 2001, (Rm 11.33), p. 426-427). “A predestinação divina se constitui realmente num labirinto do qual a mente humana é completamente incapaz de desembaraçar-se. Mas a curiosidade humana é tão insistente que, quanto mais perigoso é um assunto, tanto mais ousadamente ela se precipita para ele. Daí, quando a predestinação se acha em discussão, visto que o indivíduo não pode conter-se dentro de determinados limites, imediatamente, pois, mergulha nas profundezas do oceano de sua impetuosidade” (J. Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo: Paracletos, 1997, (Rm 9.14), p. 329-330). Veja-se também: João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 3, (III.8.1), p. 38.
[55] A lógica dirigida pelo espírito de submissão a Deus, sempre será útil; caso contrário, esqueçamo-la. No entanto, devemos ter em que mente que “não podemos prender Deus na prisão da lógica humana” (Anthony Hoekema. Salvos pela Graça, São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 86).
[56]“É verdade que a eleição em si mesma é secreta. É um propósito tão profundo e oculto que diante dele somente podemos nos maravilhar. A despeito disso, Deus no-lo revela, na medida em que é necessário, conhecendo ele ser isso para nosso benefício e salvação” (João Calvino, Sermões em Efésios, Brasília, DF.: Monergismo, 2009, p. 81).
[57]“O propósito de nossa eleição consiste em que sejamos santos e irrepreensíveis aos olhos de Deus” (João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, (Hb 10.7), p. 259).
[58] “Nenhuma doutrina é mais útil e proveitosa quando utilizada de forma adequada e sóbria, ou seja, como Paulo faz aqui, ao apresentar a consideração da infinita munificência de Deus e estimular-nos a render graças. Essa é a legítima fonte da qual devemos extrair nosso conhecimento da misericórdia divina” (João Calvino, Efésios, São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 1.4), p. 26-27).
[59] “Se, pois, um dia pretendermos adentrar os eternos conselhos de Deus, pela instrumentalidade de um discurso, que o façamos moderando nossa linguagem e mesmo nossa maneira de pensar, de modo que nossa argumentação seja sóbria e respeite os limites da Palavra de Deus, e cuja conclusão seja repassada e saturada daquela expressão de assombro. Indubitavelmente, não devemos nos sentir constrangidos caso nossa sabedoria não exceda a daquele que uma vez foi arrebatado até ao terceiro céu, donde ouviu e contemplou mistérios que aos homens não lhe fora possível relatar [2Co 12.4]. Todavia, ele não encontrou nenhuma outra saída, aqui, senão humilhar-se como o fez” (João Calvino, Romanos, 2. ed. São Paulo: Parakletos, 2001, (Rm 11.33), p. 426). “O que aprouve a Deus nos revelar nós sabemos; o que sua Palavra revela apenas por meio de indícios, nós somente podemos saber em linhas gerais; e o que é afirmado fora da Palavra é apenas o esforço de uma espírito intruso ou de curiosidade vã” (Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 116).
[60] Cf. Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, 397- 402; G.C. Berkouwer, Study in Dogmatics: The Divine Election, Gand Rapids, MI.: Eerdmans, 1960, p. 265-271 (Especialmente); John Frame, Teologia Sistemática, São Paulo: Cultura Cristã, 2019, v. 1, p. 293-295.
[61] “O conselho do SENHOR dura para sempre; os desígnios (hb’v’x]m;) (machashabah) do seu coração, por todas as gerações” (Sl 33.11). “Quão grandes (ld;G”) (gadal), SENHOR, são as tuas obras! Os teus pensamentos (desígnios, intentos) (hb’v’x]m;) (machashabah) que profundos!” (Sl 92.5).
[62] “7Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória. 8Quem é o Rei da Glória (dAbK’) (kabod)? O SENHOR, forte e poderoso, o SENHOR, poderoso nas batalhas. 9Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória (dAbK’) (kabod). 10Quem é esse Rei da Glória (dAbK’) (kabod)? O SENHOR dos Exércitos, ele é o Rei da Glória (dAbK’) (kabod)” (Sl 24.7-10).
[63] “33Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! 34 Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? 35 Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? 36 Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11.33-36). Deus é “independente e verdadeiramente autopoderoso”, sintetiza Turretini. (François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 334. Do mesmo modo, veja-se também a p. 547).
[64] “No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada” (Sl 115.3). “Tudo quanto aprouve ao SENHOR, ele o fez, nos céus e na terra, no mar e em todos os abismos” (Sl 135.6). “… O meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” (Is 46.10). “Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Dn 4.35). “Nele (Jesus Cristo), digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1.11).
[65] ([d;y”) (yada’). Este conhecimento envolve a capacidade de discernir (Sl 4.4), experimentar (Sl 9.11; 20.7; 25.4.14; 119.75; 139.1,2,4; 139.14), ver (Sl 16.11); pensar/perceber (Sl 35.8); perfeito conhecimento (Sl 37.18; 44.21; 50.11; 69.5; 94.11; 103.14; 139.23; 142.3); conhecimento íntimo e pessoal (Sl 51.3); intimidade/proximidade (Sl 55.13; 88.18); compreender (Sl 73.16); aprender (Sl 78.3); ensinar (Sl 90.12); fazer notório/manifestar (Sl 98.2; 103.7; 145.12).
[66] Para um estudo detalhado do uso da palavra e de suas variantes, vejam-se: M.G. Abegg, Jr., Gdl: In: Willem A. VanGemeren, org. Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 798-801; Jan Bergman, et. al., Gâdhal: In: G.J. Botterweck, Helmer Ringgren, eds. Theological Dictionary of the Old Testament, Grand Rapids, MI.: Eerdmans, 1977 (Revised edition), v. 2, p. 390-416. (Para os nossos objetivos, especialmente, as páginas 406-412).
[67] Ver: João Calvino, As Institutas, III.21.2; III.23.8. Na edição de 1541, escrevera: “E que não achemos ruim submeter neste ponto o nosso entendimento à sabedoria de Deus, aos cuidados da qual Ele deixa muitos segredos. Porque é douta ignorância ignorar as coisas que não é lícito nem possível saber; o desejo de sabê-las revela uma espécie de raiva canina” (João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 3 (III.8), p. 53-54). Semelhantemente, François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 647-648.
[68] “É impossível que meu ego obtenha qualquer conhecimento de coisas fora de mim mesmo sem certo elo de fé que me una com essas coisas. Eu devo sempre crer na minha própria identidade, isto é, que eu sou eu mesmo, ou na clareza da minha consciência, ou na percepção dos meus sentidos, ou na realidade das coisas fora de mim mesmo, ou no axioma do qual eu parto” (Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 397).
[69]“Numa época em que os pensadores cristãos voltavam a descobrir os tesouros da filosofia antiga, e mais diretamente da filosofia aristotélica, ele [Tomás de Aquino] teve o grande mérito de colocar em primeiro lugar a harmonia que existe entre a razão e a fé. A luz da razão e a luz da fé provêm ambas de Deus: argumentava ele; por isso, não se podem contradizer entre si” (João Paulo II, Carta Encíclica Fides et ratio, São Paulo: Paulinas, 2006, 43). (Promulgada em 14 de setembro de 1998).
[70] Veja-se: John R. Betz, After Enlightenment: The Post-Secular Vision of J. G. Hamann, Malden, MA.: Wiley-Blackwell, 2012, p. 337-338.
[71]“O axioma ontológico primário do cristão é o único Deus vivente, e seu axioma epistemológico primário é a revelação divina” (Carl F.H. Henry, O Resgate da Fé Cristã, Brasília, DF.: Monergismo, 2014, p. 59). Vejam-se também: Cornelius Van Til, Epistemologia Reformada, Natal, RN.: Nadere Reformatie Publicações, 2020, v. 1, p. 31, E-book. Posição 456 de 715; Gordon H. Clark, Em Defesa da Teologia, Brasília, DF.: Monergismo, 2010, p. 36-39).
[72] Veja-se: John M. Frame, A Doutrina de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 168, 175ss.
[73]Veja-se: Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Prolegômena, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 1, p. 207ss.
[74]Veja-se: Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Prolegômena, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 1, p. 287ss.
[75] “Deus se revela como ele verdadeiramente é. Seus atributos revelados verdadeiramente revelam sua natureza” (Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 98).
[76] “Conhecer a Deus é uma coisa completamente única, singular, visto que Deus é único, é singular” (John M. Frame, A Doutrina do conhecimento de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 25).
[77] Cf. A.H. Strong, Teologia Sistemática, São Paulo: Hagnos, 2003, v. 1, p. 21.
[78] Ver: Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 157, 159ss.
[79]Cf. Cornelius Van Til, Epistemologia Reformada, Natal, RN.: Nadere Reformatie Publicações, 2020, v. 1, p. 7, (E-book). Posição 99 de 715.
[80] “Primária e fundamental, para a epistemologia revelacional, é a afirmação de que o homem pode ter um conhecimento verdadeiro da realidade. Nenhuma forma de agnosticismo é consistente com qualquer forma de cristianismo” (Cornelius Van Til, Epistemologia Reformada, v. 1, p. 7). “O Agnosticismo não é uma atitude de reverência, mas de indiferença” (Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 157).
[81] Cf. Gordon H. Clark, Em Defesa da Teologia, Brasília, DF.: Monergismo, 2010, p. 23.
[82] “A verdade mais básica da Teologia é que há um Deus e Ele não é você. (…) Portanto, não fazemos Teologia como deuses ou como seres iguais a Deus, mas como criaturas. Essa verdade tem duas consequências, ambas as quais nos chamam à humildade” (Joel R. Beeke; Paul M. Smalley, Teologia Sistemática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2020, v. 1, p. 64).
[83]Ver: Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 181,186ss.
[84] K. Barth, Church Dogmatics, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 2010, I/1, p. 306.
[85] Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 156. “O mistério é a força vital da dogmática” (Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 29). “A teologia cristã sempre tem a ver com mistérios que ela conhece e com os quais fica maravilhada, mas não compreende, nem sonda” (Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 1, p. 619).“Quanto mais compreendemos a verdade de Deus, mais somos chocados pelo mistério” (Michael Horton, Doutrinas da fé cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 32). Dentro de outro tema, escreveu Packer: “Seja como for, não devemos ficar surpresos ao encontrar mistérios dessa espécie na Palavra de Deus. Pois o Criador é incompreensível para as suas criaturas. Um Deus que pudesse ser exaustivamente compreendido por nós, cuja revelação sobre Si mesmo não nos apresentasse qualquer mistério, seria um Deus segundo a imagem do homem e, portanto, um Deus imaginário, e nunca o Deus da Bíblia” (J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1990, p. 20).
[86] “O verdadeiro mistério só pode ser entendido como um mistério genuíno mediante a revelação” (Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 157).
[87] Wollebius denomina a teologia elaborada pelos fiéis que militam ainda nessa vida, de “teologia dos peregrinos” (Johannes Wollebius, Compêndio de Teologia Cristã, Eusébio, CE.: Peregrino, 2020, p. 23).
[88] “A esfera da História e da matéria não é uma prisão da qual devemos fugir pela contemplação da realidade imutável, mas o teatro da glória de Deus” (Michael Horton, Doutrinas da fé cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 48).
[89]Veja-se: Michael Horton, Doutrinas da fé cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 35.
[90] “O objetivo da boa teologia é humilhar-nos diante do Deus trino de majestade e graça. (…) Os antigos teólogos da Reforma e da pós-Reforma estavam tão convictos que suas interpretações estavam muito distantes da majestade de Deus que eles chamavam seus resumos e sistemas de ‘nossa humilde teologia’ e ‘uma teologia para peregrinos no caminho’” (Michael Horton, Doutrinas da fé cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 15). Vejam-se: João Calvino, Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 2, (Jo 14.6), p. 93; John M. Frame, A Doutrina do conhecimento de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 97; Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 1, p. 45. “O pensamento que me governa é que eu sou um peregrino e um estrangeiro indo para Deus, de modo que, necessariamente, eu passo o tempo pensando em minha alma e em meu destino” (D.M. Lloyd-Jones, Seguros Mesmo no Mundo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: v. 2), p. 34).
[91]John Frame, Teologia Sistemática, São Paulo: Cultura Cristã, 2019, v. 1, p. 295.



