“E se você ficasse um tempo longe dos blogs e tuítes?” Olhei em volta da sala, observando os rostos de amigos que eu conhecia há mais de uma década. O que havia começado como um simples retiro, com sete dos meus amigos mais próximos, começava a parecer mais uma espécie de intervenção. Mas era por isso que estávamos ali — para passar alguns dias fora, desafiando uns aos outros a sermos mais fiéis e eficazes.
Quando a conversa se voltou para mim, todos estavam de acordo. Cada um deles descreveu minha propensão para discussões online, e como eu me concentrava tanto nas ideias que muitas vezes me esquecia das pessoas que estavam atreladas a elas. Eu concordei com eles e disse: “É, eu sei que faço isso. Peço que me desculpem. Não estou tentando ferir os sentimentos de ninguém.”
Um dos amigos disse: “Glenn, você quer ser pastor. Mas, no momento, você anda tão preocupado com sua influência digital que se esquece de estar presente pessoalmente, localmente.”
Foi difícil ouvir isso, mas ele estava certo.
“O que posso fazer para mudar isso?”
Foi então que me sugeriram: faça um jejum de seis meses dos blogs e do X (antigo Twitter). Eles me disseram que minha mania de tuítar só estava me levando a uma visão desencarnada das ideias. Mas as ideias estão atreladas a pessoas reais, inseridas em vidas reais, com mais contexto e mais nuances do que uma atualização de status pode revelar. Meu mundo centrado no X e nos blogs só estava me empurrando ainda mais na direção errada, cujo rumo eu já havia tomado.
Quando cheguei em casa, contei à minha esposa o que meus amigos tinham sugerido.
“Acho que vou fazer isso mesmo”, eu disse a ela. “Acho que vou ficar seis meses longe das redes sociais.” Os olhos da minha esposa se encheram de lágrimas. Eu tinha andado mais distraído com o mundo das redes sociais do que imaginava.
Olá, Mídias Sociais
Entrei para o mundo das mídias sociais em 2007. Eu tinha acabado de escrever um livro e estava me esforçando ao máximo para divulgá-lo. Criei uma conta no Facebook, principalmente para promover meu livro. Mas, à medida que utilizava a conta, comecei a apreciar sua gama de aplicações.
Eu podia me conectar com amigos do passado. O Facebook era uma janela, e eu podia usá-lo para ver os membros da igreja em seu “contexto além do domingo”.
As mídias sociais despertaram o que há de pior em mim como líder. Elas ampliaram a minha necessidade de ser visto e ouvido.
Tempos depois, alguém sugeriu que eu entrasse no antigo Twitter. Eu estava hesitante, mas resolvi testar. Rapidamente percebi seu poder como ferramenta para compartilhar links e acompanhar notícias ou tópicos que estão em alta. É uma maneira rápida de iniciar um diálogo ou de fazer um crowdsourcing de ideias [um processo que envolve a solicitação de ideias, soluções ou sugestões de um grupo diversificado de indivíduos, geralmente por meio de plataformas online ou mídias sociais, para compor uma solução].
Para mim, o Facebook passou a ser uma forma de compartilhar a vida cotidiana, e o antigo Twitter daquela época, uma forma de trocar ideias. Depois, veio o Instagram. Sem demora, percebi a beleza e a simplicidade de compartilhar minha vida por meio de fotos.
Mas logo aprendi que as redes sociais também têm seu lado obscuro. Fiquei obcecado, sempre querendo saber o que os outros estavam dizendo nas redes — principalmente em resposta ao que eu tinha dito! Depois de postar algo, eu ficava verificando o tempo todo, para ver quem havia comentado. (O que é um horror, reconheço.)
As mídias sociais despertaram o que há de pior em mim como líder. Elas ampliaram a minha necessidade de ser visto e ouvido.
Comecei a me comparar com outros líderes — o que é especialmente fácil no X. Não preciso perguntar a outros pastores o tamanho de suas igrejas nem saber quantos livros ou CDs algum deles vendeu; só preciso verificar o número de seguidores que eles têm no X. Sim, eu sei, isso é doente.
As mídias sociais não me transformaram à força em um narcisista; elas apenas possibilitaram essa tendência que eu já tinha. Afinal, o motivo pelo qual passei a usá-las foi para construir uma plataforma para divulgar meus livros e CDs. Isso não é algo ruim em si, se considerarmos que uma editora ou uma gravadora assume um risco quando aposta em você, e você está tentando compensar o investimento deles com seu empenho pessoal [para divulgar aquele produto].
Em certo sentido, por um lado, isso é um esforço para exercer uma boa mordomia dessas oportunidades. Mas, por outro lado, é bastante egoísta e insidioso. Eu sou culpado por tentar ser uma figura global e influente — algo perigoso para um pastor —, em vez de ser um líder pessoal e local.
Assim, aceitei o conselho dos meus amigos e dei uma pausa de seis meses no blog e nas redes sociais. E foi bom. Foi saudável dar um passo para trás e me perguntar: Por que estou usando as redes sociais? Quais são meus objetivos com elas? Como elas estão me transformando?
Quando voltei a usá-las, fui capaz de acatar seus aspectos saudáveis, as maneiras como elas podem apoiar meu ministério pessoal e local e me ajudar a pensar em voz alta e a processar ideias; porém, ao mesmo tempo, fuiz capaz de fugir das tentações. Compartilho a seguir um pouco do que aprendi.
Os três perigos
Estas são algumas das tentações das mídias sociais:
1. As mídias sociais me tentam a entrar em debates acalorados com pessoas que nem conheço.
As mídias sociais criam uma ilusão de intimidade. Quando a gente vê os pensamentos dos líderes pipocando no X, a cada poucas horas, parece que eles fazem parte da nossa vida. No Facebook, você pode ler sobre a família deles, sua história e até mesmo sobre seus filmes e músicas favoritos. Mas isso não significa que a gente os conheça — ou que tenha o direito de criticá-los.
É muito fácil ler o tuíte de um pastor de alguma megaigreja e discordar de algo. E então, sem o menor contexto e sem nenhum relacionamento anterior com essa pessoa, eu comentava algo sobre aquilo. É claro que nunca recebi uma resposta de nenhum deles. Afinal, por que deveria receber? Era só um pitaco ideológico feito às pressas. Eu estava metendo o nariz onde não era chamado.
Em João 21, Jesus está falando com Pedro sobre seu futuro, e Pedro pergunta: “Senhor, e quanto a ele?”, referindo-se a João. Jesus diz: “o que isso importa a você? Quanto a você, siga-me!” Eu estava muito preocupado em discutir teologia com pessoas que eu nunca tinha conhecido. E Jesus estava me dizendo: “O que isso importa a você? Você precisa me seguir.” (um trocadilho intencional sobre seguir Jesus, e não pessoas que nem conheço no X.)
2. As mídias sociais eliminam as nuances. E reduzem as pessoas a meras palavras.
Eu costumava ler o que certas pessoas tuitavam e a partir disso formava opiniões desfavoráveis sobre elas. Depois, quando as encontrava pessoalmente, eu percebia: “Nossa, esse cara é muito legal!”. A presença delas nas redes sociais não era uma representação precisa de quem elas realmente são.
Percebi isso quando me vi do outro lado dessas suposições. Quando eu estava repensando minha compreensão do culto congregacional, eu tuítei algo sobre luzes, fumaça e rock ‘n’ roll. E alguns dos meus amigos que são líderes de louvor pensaram: “O Glenn odeia o que fazemos” . Mas, depois, conversávamos sobre isso pessoalmente, e eles disseram: “Ah, agora entendi, e francamente concordo com você. Eu só pensei que você estava me atacando”. Não havia um contexto para os meus tuítes, nenhuma nuance. É muito fácil os tuítes serem lidos como comentários afiados ou irônicos.
3. As mídias sociais alimentam o narcisismo.
Minhas tendências obsessivas são difíceis de controlar, especialmente quando estou com meu smartphone. Quando chego em casa, tenho que desligar o celular ou me recusar conscientemente a ficar atualizando a minha timeline do X — algo que sou compelido a fazer várias vezes por hora.
Havia momentos em que eu ficava na cozinha, lavando louça, e minha esposa tentava conversar comigo. Mas eu estava formulando uma resposta para algum tuíte que tinha acabado de ler. E nem a ouvia. As redes sociais incentivam você a estar em dois lugares ao mesmo tempo. Isso é bom quando estou assistindo a um jogo de futebol, mas minha esposa merece toda a minha atenção.
Os benefícios
Como aprendi depois que fiz o meu jejum, as mídias sociais não são de todo ruins. Se usadas de forma correta, podem realmente ajudar você a se tornar mais presente, mais local. Apresento a seguir alguns dos seus benefícios para pastores:
1. As mídias sociais podem ampliar a influência dos sermões.
Em 2009, comecei a pregar toda semana. Alguns dos temas das minhas pregações representavam grandes mudanças de paradigma para a nossa congregação, e dificilmente poderiam ser abordados da forma devida em sermões curtos. Precisavam ser mais desenvolvidos, precisavam de notas de rodapé e de links para mais informações.
Por exemplo, quando preguei sobre Efésios, eu queria ampliar a visão da minha congregação sobre a salvação, passando de uma compreensão privada e individual — ou seja, eu e Jesus no céu — para uma visão mais ampla e cósmica da salvação de Deus. Mas eu sabia que essa era uma mudança radical demais para ser transmitida em apenas uma série de sermões.
Então, escrevi sobre isso no meu blog. Coloquei um link para uma palestra de 15 minutos de N. T. Wright, na qual ele resume brilhantemente os metatemas de Efésios. Isso me permitiu complementar meus sermões com conteúdo adicional. No blog da nossa igreja, publico minhas anotações do sermão. Durante uma série mais longa, costumo publicar os livros que estou lendo, enquanto preparo meus sermões. Se as pessoas quiserem as referências desses livros, basta seguir o link.
2. As mídias sociais permitem que você aborde assuntos que não podem ser abordados no púlpito.
Existem certos tópicos que um pastor simplesmente não pode (ou não deve) abordar em um sermão. Anos de eleição são o exemplo perfeito disso. Em Colorado Springs, os cristãos estão profundamente divididos sobre como mudar a cultura. Eu queria me aprofundar nessa questão, mas, como nossos sermões geralmente se baseiam em um texto ou livro específico da Bíblia, optei por escrever um post no blog sobre “Cinco razões pelas quais podemos e devemos nos engajar politicamente”.
Há alguns anos, durante a polêmica em torno do livro Love Wins [O Amor Vence], de Rob Bell, não pude fazer um sermão sobre o inferno, porque o site da nossa igreja segue a mesma série de sermões da igreja matriz, e eu tinha que me ater a ela. Então, usei meu blog para refletir sobre as diferentes maneiras de pensar sobre o juízo final dentro da estrutura de pensamento evangélica. Em um sermão, é difícil apresentar ideias conflitantes de forma justa, mas, no post do blog eu poderia ser mais analítico, e fornecer mais nuances para aquilo que muitos viam como um retrato em preto e branco.
Quando Osama bin Laden foi morto, o antigo Twitter explodiu de comentários: Como os cristãos devem se sentir com isso? É momento para celebrar, lamentar ou permanecer respeitosamente em silêncio? É momento para agradecer a Deus? Fiquei acordado até tarde naquela noite, lendo muitas dessas respostas. Eu queria abordar o assunto, mas não podia esperar até domingo para pregar sobre ele. Eu precisava interagir imediatamente com essa questão cultural. Em suma, as mídias sociais revelaram as preocupações da minha comunidade eclesial e me propiciaram uma maneira de abordá-las.
3. As mídias sociais podem construir relacionamentos na vida real.
As mídias sociais facilitam a interação rápida e pessoal. É por isso que gosto do Instagram: não é automaticamente recíproco. Não preciso seguir todos que me seguem. Posso me concentrar em amigos próximos e pessoas da nossa igreja. Ao dar uma olhada nas fotos que eles postam, fico rapidamente atualizado sobre a vida de cada um e o que consideram importante o suficiente para compartilhar nas redes.
Recentemente, uma de nossas funcionárias da igreja postou uma foto do marido recebendo um prêmio. Então, quando a vi no dia seguinte na igreja, eu disse: “Conta pra gente sobre o prêmio que o Bobby ganhou”. Pude parabenizá-la e apoiá-la porque eu a sigo no Instagram [e vi a foto do prêmio]. Isso nos deu uma conexão que talvez não teríamos de outra forma.
Eugene Peterson conta a história de como George Buttrick costumava convidar seminaristas — entre eles, o próprio Peterson — para irem à sua casa, nas noites de domingo, para um bate-papo informal. Certa noite, alguém perguntou a ele: “Qual é a coisa mais importante que você faz?”. Ele respondeu: “Pregar. Mas isso não seria possível sem outra coisa que eu faço: caminhar pela vizinhança toda semana.”
Parte da preparação do sermão é caminhar pelo mundo do povo da nossa igreja. É aí que as mídias sociais nos ajudam. No Facebook, nossos membros escrevem sobre o estresse que sentem, sobre as dificuldades que enfrentam e sobre a preocupação com os filhos. E eu consigo ouvir a tristeza e o sofrimento deles. Posso não caminhar fisicamente pela vizinhança e ver todos os membros da igreja. Mas posso usar as mídias sociais para “caminhar pela vizinhança” agora, para ver a vida deles e entrar em seu mundo.
Mantendo um equilíbrio
Aqui estão três coisas que estou tentando fazer para evitar os perigos das mídias sociais e, ao mesmo tempo, aproveitar seus benefícios.
1. Use as mídias sociais apenas para aquilo em que elas são boas.
Para evitar o abuso das mídias sociais, você precisa entender suas limitações. Por exemplo, o X não é uma mídia propícia para conversas longas. Você está limitado a 140 caracteres. É bom para apontar para um link interessante, mas nele você não pode ter um diálogo sincero sobre algum tópico mais complexo. Seria como tentar conversar usando apenas frases de para-choque de caminhão. Quando se trata de algo importante, é melhor dizer: “Ei, vamos marcar um café para conversar sobre isso”. E se você não puder fazer isso, talvez fosse melhor nem ter iniciado essa conversa específica.
Algumas pessoas (como eu, no início) usam o Facebook para fins promocionais ou como um outdoor para os eventos da igreja. Mas as pessoas não reagem bem, se isso for tudo o que você fizer. O apelo do Facebook é a proximidade que ele nos proporciona de outra pessoa. As pessoas que o utilizam melhor permitem que você entre um pouco na vida delas. Assim, elas podem falar sobre coisas que acham que você deveria ler, comprar ou ver. Mas essas coisas devem fazer parte de uma conversa mais ampla e contínua.
Quando escrevi um livro sobre a recuperação do sacramento da Eucaristia em igrejas não litúrgicas, eu queria ouvir outras pessoas que pertenciam à corrente não denominacional. Então, perguntei a elas a respeito de sua visão sobre a comunhão: ela é o elemento central do culto ou um elemento intercambiável? Ficou claro que a maioria a via como algo intercambiável. Então, percebi que eu precisava começar meu livro abordando essa suposição. Falei sobre o meu livro, na minha conversa com elas, mas não foi algo promocional nem manipulador; foi algo coloquial, espontâneo.
2. Não escreva comentários levianos, rápidos e impulsivos nem sarcásticos.
Tudo o que você diz nas redes sociais é público. Descobri isso da pior maneira possível. No antigo Twitter, alguém citou algo sobre um palestrante de uma conferência — um pastor que eu conhecia. Respondi ao tuíte: “Isso não é verdade. Este palestrante deveria saber que isso não é assim.” E marquei o palestrante, para que ele pudesse ver a minha publicação (Não me ocorreu que todos os outros também poderiam vê-la).
Posso usar as mídias sociais para “caminhar pela vizinhança” agora, para ver a vida dos membros da igreja e entrar em seu mundo.
Uma hora depois, esse palestrante me ligou. “Glenn”, disse ele, “você me conhece. Se quiser questionar algo que estou dizendo, pode me ligar ou falar comigo pessoalmente.”
Fiquei envergonhado. Percebi que tinha pisado na bola. Acabamos tendo uma conversa maravilhosa por telefone. Mas agora, quando estou nas redes sociais, tento lembrar que os comentários afetam pessoas reais, de carne e osso.
Comentários sarcásticos mostram os cristãos como pessoas raivosas, críticas e irritadiças. Há uma diferença entre dizer algo diretamente a uma pessoa e dizer algo sobre ela diante de todo mundo. Não quero usar as mídias sociais como um megafone para ampliar as fofocas.
3. De tempos em tempos, faça um jejum das redes sociais.
Sinto-me obrigado a permanecer conectado. E a verdade é que gosto disso. As mídias sociais podem ser um espaço importante para os pastores circularem. Mesmo assim, sei que preciso fazer um jejum, de vez em quando, para evitar que se tornem prejudiciais.
Nosso culto termina às 11h30. Meus filhos esperam pacientemente, enquanto eu cumprimento as pessoas no saguão, até por volta das 12h30. Quando chegamos ao carro, eles já estão com fome. Mas eu costumava ficar um tempo no celular, tentando recapitular o sermão em mais alguns tuítes. Eles diziam: “Vamos embora, pai. Vamos almoçar. Por que você tem que ficar tuitando depois do culto?”. E eu respondia: “Faz parte do meu trabalho”. Mas eles não acreditavam.
Agora, pelo menos quando estou em casa, tento deixar meu smartphone de lado para passar um tempo com a minha família longe das redes. Meus filhos e minha esposa ficam muito felizes quando consigo interagir com eles mais plenamente.
As mídias sociais são uma ferramenta poderosa; elas podem comunicar o que temos de melhor ou amplificar o que há de pior em nós. Mas também são um novo tipo de “lugar” onde a Palavra pode ser manifestada. E nesse sentido, as mídias sociais podem ser usadas de forma redentora.
Glenn Packiam é pastor da New Life Downtown em Colorado Springs, Colorado.
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