Quando Timothée Chalamet recebeu o prêmio de 2025 por sua atuação como Bob Dylan no filme Um completo desconhecido, na cerimônia do Screen Actors Guild Awards, a plateia esperava a humildade de costume: esperava que ele fizesse uma expressão de surpresa pela vitória ou, talvez, desse demonstrações de uma gratidão emocionada e um tanto desconexa.
Em vez disso, o que viram foi um Chalamet bastante direto. “Eu sei que o mais elegante seria eu minimizar o esforço que dediquei a esse papel e o quanto isso significa para mim. Mas a verdade é que foram cinco anos e meio da minha vida.”
E ele continuou: “A verdade é que estou realmente em busca da excelência. Sei que as pessoas geralmente não falam assim, mas eu quero ser um dos grandes.” Ele citou pessoas que o inspiram: Daniel Day-Lewis, Marlon Brando, Viola Davis, Michael Jordan, Michael Phelps. “Eu quero estar entre eles.”
Alguns elogiaram essa ambição. Outros a fitaram hesitantes. Mas, para mim, as palavras de Chalamet vão além do simples ego. Elas sinalizam uma mudança maior. Muitos discursos de premiação, como o da atriz Hannah Einbinder no Emmy mais recente, encenam a virtude. Falam de salvar o mundo, enquanto discursos como o de Chalamet falam sobre salvar a si mesmo.
Essa mudança de foco das causas públicas para a disciplina pessoal não está acontecendo apenas em Hollywood. Ela já ocorre há anos em um nicho da cultura que frequentemente é ridicularizado, mas persiste: a machosfera. Para deixar claro, Chalamet não faz parte desse universo. Mas sua postura traz ecos da ética desse movimento, que formou-se em resposta a algumas das mais contundentes advertências da última década.
Em 2018, Greta Thunberg clamou: “Tudo precisa mudar, e [a mudança] tem que começar hoje”. Em 2020, Ibram X. Kendi afirmou: “[Precisamos] Saturar o corpo político com… políticas antirracistas”. Mais recentemente, Donald Trump disse: “Lutem!”. Vozes diferentes, mas refrão é o mesmo: o sistema está falido, as elites são corruptas, e tudo precisa mudar.
Para muitos homens jovens esse refrão já se tornou cansativo. Quando todo problema é global, toda solução é sistêmica e toda crise é urgente, o esgotamento se instala. Eventualmente, algum jovem desiste, joga a toalha. O que esperam que eu faça? Não estou no Congresso. Não administro uma empresa petrolífera. Não controlo a cadeia de suprimentos global nem o sistema prisional. Como, afinal, devo “acabar com o racismo”?
As palavras de Chalamet não soaram como as dos guerreiros culturais que nos exortam a sermos ativistas. Soaram mais como a Regra nº 6 do livro 12 Regras para a Vida, do psicólogo Jordan Peterson: “Arrume a própria casa antes de sair criticando o mundo”.
Eu diria que essa é a mensagem incompreendida da machosfera. Em uma cultura paralisada por crises que são grandes demais para serem resolvidas, ela oferece, como o subtítulo do livro de Peterson sugere, um “antídoto para o caos”. Não começa com governos nem com movimentos, mas sim com algo mais passível de ser administrado: com o homem que cada homem vê no espelho.
Peterson, que é psicólogo clínico, não pretendia liderar nenhum movimento. Mas, com o lançamento do livro 12 Regras,em 2018 — juntamente com podcasts, palestras no YouTube e turnês em teatros — ele se tornou uma figura paterna improvável para uma geração de jovens homens desorientados. Suas palestras mesclam Carl Jung, Friedrich Nietzsche e o Livro do Gênesis, mas sempre retornam ao que é prático: arrume sua cama, “mantenha a postura ereta”, faça amizade com “pessoas que desejam o melhor para você”, “seja preciso em suas palavras”. Ele não zomba dos rapazes, mas também não fica lhes arrumando desculpas. Ele os convoca a crescer e a amadurecer, a se tornarem competentes, confiáveis, honestos e — como ele mesmo diz — a serem “a pessoa que vai se manter mais forte no funeral do seu pai”.
A machosfera, é claro, vai muito além de Peterson. Homens desejam a perseverança de David Goggins, que prega a resiliência através do sofrimento. Desejam a estrutura de Hábitos Atômicos, de James Clear; a curiosidade das longas conversas de Joe Rogan; a honestidade do humor de Theo Von.
E sim, alguns deles querem Andrew Tate, com sua visão de masculinidade perturbadora, agressiva e frequentemente tóxica. Ele ensina rapazes a serem implacáveis na busca do poder, a tratarem as mulheres como propriedade e a verem a riqueza e a conquista sexual como indicadores de sucesso. Tate foi preso sob acusações de estupro e tráfico sexual, alegações que ressaltam o quão destrutiva sua mensagem pode ser para aqueles que a ouvem. Mas a sua popularidade também revela algo que não podemos ignorar. Ele oferece um caminho, por mais falho que seja, que promete força e controle em um mundo que parece incontrolável.
Mencionei tudo isso para dizer que algumas das mensagens da machosfera são boas. E não é justo colocar Goggins, Peterson ou Rogan no mesmo patamar de Andrew Tate. Um mundo em que mais homens assumissem a responsabilidade pelo que está ao seu alcance — seu corpo, seu trabalho, sua família — seria um mundo melhor. Mas o evangelho da machosfera ainda está incompleto.
As Escrituras afirmam a importância da disciplina: “Como a cidade com os muros derrubados, assim é quem que não dominar-se” (Provérbios 25.28). Paulo disse a Timóteo: “exercite-se na piedade” (1Timóteo 4.7). Até mesmo Jesus, que disse “o meu jugo é suave”, ainda assim ofereceu um jugo (Mateus 11.30). Formação, obediência e esforço são coisas importantes. Mas a Bíblia acrescenta um contraponto: “Se o Senhor não for o construtor da casa, inútil será o trabalho dos construtores” (Salmo 127.1). Disciplina sem dependência é apenas outra versão de autossalvação. Pode fazer de você alguém produtivo, até mesmo alguém impressionante, mas não pode transformá-lo em alguém completo.
Não há exercícios na academia, anotações em diários ou banhos gelados que possam curar a podridão do coração humano. Afinal, “pela graça vocês são salvos, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus” (Efésios 2.8). A graça não é apenas o perdão que apaga o passado e permite que você comece do zero, mas é também o poder que o ajuda a cometer menos erros, desde o início.
A graça é a bondade de Deus que leva ao arrependimento (Romanos 2.4); é o Espírito que opera em nós “tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele” (Filipenses 2.13). Sem a graça, o aprimoramento pessoal termina em exaustão ou arrogância. Com a graça, até mesmo pequenos passos de fé se tornam atos com significado eterno.
Essa é a tensão que a formação cristã deve suportar. Os homens têm razão em desejar autonomia, clareza e força. Têm razão em desejar vidas que tenham significado. Mas determinação por si só não basta. “Será que o cuxita pode mudar a sua pele? Ou o leopardo, as suas pintas?” (Jeremias 13.23). Não. Da mesma forma, homens jovens não podem mudar seu caráter com livros de autoajuda.
O evangelho da machosfera exige desempenho incessante e não oferece descanso. O evangelho de Cristo começa com misericórdia. Não é um plano de aprimoramento pessoal mais disciplinado. É uma transformação total, que começa, paradoxalmente, com o reconhecimento dos limites do próprio eu.
Então, como a igreja pode chamar os homens jovens para esse tipo de autonomia? Dois cristãos notáveis me vêm à mente, como exemplos de possíveis caminhos a seguir.
Primeiro, temos John Mark Comer, que popularizou uma espécie de caminho de “formação”. Sua Regra de Vida convida jovens homens ao silêncio, a um tempo sabático, às Escrituras e à comunidade — não como truques de produtividade, mas como práticas de permanência em Deus. Sua ênfase está nas disciplinas espirituais, extraídas dos ritmos monásticos, mas adaptadas para o dia a dia dos crentes. Sua obra tem repercutido em igrejas, círculos de contemplação e até mesmo no universo do bem-estar. Mas, independentemente do contexto, o ponto é o mesmo: você se torna completo não ao se esforçar mais, mas ao abrir espaço para Deus. Como Jesus disse: “Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês” (João 15.4).
Charlie Kirk, em contrapartida, personificava mais um caminho voltado para a família. Conhecido por sua atuação política combativa, ele enfatizava cada vez mais o lar como o verdadeiro alicerce para a renovação cultural. E incentivava os homens a se casarem, a permanecerem casados, a criarem seus filhos e a serem pais presentes. Leiam a Bíblia. Construam algo duradouro com o seu trabalho. Ofereçam estabilidade onde o mundo oferece caos. Sua visão não era sobre dominação, mas sobre responsabilidade — responsabilidade exercida não com arrogância, mas com dependência de Deus. Ou seja: “Eu, porém, e a minha família, serviremos ao Senhor” (Josué 24.15).
Essas abordagens alcançam públicos diferentes, mas compartilham algo que é vital: elas se recusam a separar a disciplina da dependência. Ambas convidam os homens a assumirem responsabilidade não pelo mundo inteiro, mas por aquilo que Deus lhes confiou. E ambas nos lembram que a verdadeira mudança não começa com o homem no espelho; começa com o homem na cruz.
Se a igreja deseja alcançar os homens jovens, precisa continuar a sustentar precisamente esta mensagem, num mundo que oferece duas narrativas concorrentes. Uma delas diz “Salve o mundo” — um fardo impossível para qualquer homem carregar, um fardo que, na maioria das vezes, leva ao desânimo e ao desespero. A outra narrativa diz: “Salve a si mesmo” — o que é igualmente esmagador. A igreja deve denunciar ambas como falsidades e anunciar o único evangelho verdadeiro. Não podemos salvar o mundo, e não podemos salvar a nós mesmos. Cristo precisa nos salvar, e Ele já o fez.
No culto em memória de Charlie Kirk, sua esposa, Erika, prometeu dar continuidade à sua missão de alcançar “os homens jovens e perdidos do Ocidente, que se sentem sem direção, sem propósito, que não têm fé nem razão para viver. Os homens que desperdiçam a vida com distrações e os que estão se consumindo por ressentimento, raiva e ódio”. E como ela começou essa missão? Perdoando o jovem que assassinou seu marido.
É isso que pode salvar os homens jovens e perdidos do Ocidente, até mesmo alguém tão perdido quanto Tyler Robinson. O que pode salvá-los não é o evangelho do mundo. Não é o evangelho do eu. Não é o desempenho, nem a autoajuda nem mesmo a pura força de vontade. É a graça de Deus somente, imerecida e transformadora. É Cristo somente— e ele crucificado.
Luke Simon é codiretor do Ministério Estudantil na igreja The Crossing, em Columbia, Missouri, e cursa Mestrado em Divindade no Seminário Teológico Covenant. Ele escreveu sobre temas como Geração Z, tecnologia, masculinidade e igreja. Você pode segui-lo no X.
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