O salmo 51, que começa com o clamor “Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua bondade”, reflete a realidade cotidiana de momentos em que nos vemos frente a frente com nossas falhas. Todos já passamos por situações em que seguimos impulsos, apesar de saber que deveríamos parar ou fugir. E quando tudo passa, encaramos a dolorosa constatação de que o pecado ainda habita em nós.
Esses episódios não precisam ser dramáticos ou marcantes. Muitas vezes, ocorrem em interações corriqueiras, dentro de nossas casas, com pessoas próximas. Isso é justamente o que torna tais momentos tão significativos: nossa vida não é composta por grandes eventos, mas por uma infinidade de pequenos episódios. É nesses instantes comuns que se define o caráter de uma vida, pois são eles que revelam o estado do nosso coração.
Quando percebo que errei, frequentemente surge uma batalha interna. A tendência natural é justificar minhas ações: “Se ele não tivesse falado daquele modo, eu não teria reagido assim.” É interessante como, em vez de buscar a misericórdia divina, preferimos nos colocar como advogados de defesa de nós mesmos, alegando que o problema principal está fora de nós. Essa postura implica dizer que não precisamos do resgate de Deus, mas sim que os outros mudem.
Antes de confessarmos nossos pecados, muitas vezes precisamos admitir nossa própria justiça falsa. Acreditar que estamos sempre certos nos afasta de Deus tanto quanto nossos erros, pois quando nos consideramos justos, não reconhecemos a necessidade do perdão e da redenção que só Jesus oferece.
Ao me apresentar diante de Deus, tenho apenas um argumento válido: a misericórdia divina. Não posso justificar meus erros com base nas circunstâncias difíceis, nas atitudes dos outros ou nas boas intenções frustradas. Assim como Davi, no salmo 51, minha única defesa é o apelo à compaixão de Deus.
Reconhecer que eu sou meu maior problema me leva a abandonar a tentativa de autodefesa e me entregar ao perdão divino. E essa entrega não precisa ser temerosa, pois, graças a Jesus, Deus olha para mim com misericórdia. Essa é minha esperança, meu recomeço e a base da minha vida: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua misericórdia!”.

Adaptado de Mais alvo que a neve, de Paul Tripp (Cultura Cristã)
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