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Morre James Dobson, psicólogo cristão que ensinou os evangélicos a concentrarem o foco na família

James Dobson, autor cristão e psicólogo infantil que ensinou milhões de evangélicos sobre criação de filhos e organização familiar, morreu em 21 de agosto, aos 89 anos.

Dobson acreditava em disciplina e obediência rigorosas, porém, sempre acompanhadas de amor. Ele considerava que esse era o antídoto para a permissividade cultural nos Estados Unidos e para seu declínio em direção ao caos moral e à desordem social. 

Fundador da organização Focus on the Family, Dobson escreveu mais de uma dúzia de livros, entre eles Dare to Discipline [publicado no Brasil sob o título Ouse Disciplinar], Parenting Isn’t for Cowards [Criar filhos não é para covardes] e The Strong-Willed Child [publicado no Brasil sob o título Educando Crianças Geniosas]; também respondeu perguntas em programas de rádio transmitidos em milhares de estações nos Estados Unidos.

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Seus conselhos eram acolhidos por pais cristãos ansiosos por ouvir um profissional da área médica que também defendesse os valores da família tradicional. Em meados da década de 1990, a Focus on the Family recebia mais de 12.000 cartas, e-mails e telefonemas todos os dias. 

“Por quase cinco décadas, ele foi um dos líderes cristãos mais influentes do nosso país”, escreveu o evangelista Franklin Graham, em uma homenagem nas redes sociais. “O Dr. Dobson era um defensor ferrenho da família, e lutou pela moralidade e pelos valores bíblicos como tantas pessoas na história do nosso país.”

Dobson foi capa da Christianity Today em 1982. O artigo o chamava de “o homem por trás do fenômeno pró-família”, que está trabalhando para “tirar a instituição cambaleante” da família tradicional “da beira da sepultura”.

Parte do poder de Dobson, observou a revista, consistia na sua gentileza e moderação. 

“Tudo o que ele escreve tem um tom sensato”, escreveu Rodney Clapp. “Ele rejeita extremos, busca metodicamente o ‘meio-termo lógico’, defende a mente aberta, mas sem deixar ‘o cérebro vazar’”. 

Com o passar do tempo, ele foi se tornando mais político. Dobson também teve um grande impacto político, mobilizando cristãos a votarem em candidatos conservadores que priorizavam a oposição a temas como aborto, pornografia e aceitação social da homossexualidade. 

Seu ativismo nem sempre foi bem-vindo. O falecido Michael Gerson, colunista político conservador que se tornou o redator dos discursos do presidente George W. Bush, certa vez reclamou que Dobson era “um moralista e populista” que não entendia as complexidades da política, mas andava por aí “exigindo progresso rápido e imediato em resposta a uma visão moral inflamada”.

Críticos também acusaram Dobson de substituir o evangelho por “valores familiares”. A historiadora Kristin Kobes Du Mez argumentou que os evangélicos foram “inspirados por homens como James Dobson” a abraçar uma ideologia de masculinidade militante no lar e na política.

Alguns críticos das políticas de Dobson, no entanto, elogiavam o impacto positivo de seus conselhos na área de criação de filhos. O historiador John Fea observou que o ministério de Dobson teve um efeito transformador em seu pai.

“Dobson ensinou ao meu pai que ele deveria exercer a disciplina paterna porque as crianças têm uma força de vontade forte, que precisava ser dobrada, mas que essa disciplina jamais deveria ser aplicada com espírito de raiva”, escreveu Fea para a The Atlantic. “A despeito de todo o mal que possa ter resultado desse movimento, ainda existem inúmeras histórias de transformação pessoal que levaram pessoas a se tornarem melhores pais, melhores cônjuges e melhores membros de suas comunidades.”

Dobson nasceu na Louisiana, em 21 de abril de 1936. Ele era filho único de Myrtle e James Dobson Sr., evangelistas itinerantes da Igreja do Nazareno. 

Dobson recordava que era próximo dos pais. Dizia que ficou arrasado, quando eles o deixaram aos cuidados de uma tia, para poderem viajar para os ajuntamentos em tendas e os avivamentos no sudoeste do país e nos estados das Grandes Planícies. Ainda menino, ele começou a ficar rebelde e se comportar mal. 

“Eu era do tipo encrenqueiro, na igreja e na vizinhança”, disse ele ao biógrafo Dale Buss. “Posso olhar para trás e ver que, aparentemente, eu me senti abandonado, mesmo que não estivesse bravo com meus pais.”

Quando fez seis anos, a mãe decidiu ficar em casa para criá-lo. Ela o adorava, mas também era uma disciplinadora rigorosa. Ela não tolerava principalmente atrevimento, segundo Dobson. 

Na adolescência, quando ele começou a se rebelar, o pai parou de viajar para poder exercer um papel maior como pai. A família se mudou para o Texas, onde o pai de Dobson conseguiu trabalhar como pastor.

“Ele voltou para casa e cancelou quatro anos de reuniões de uma tacada só”, disse Dobson. “Então, assumiu o pastorado de uma igreja, para poder estar comigo. Ele me salvou.”

Dobson considerou seguir o exemplo dos pais no ministério, mas foi inspirado pelas aulas no Pasadena College (hoje, Point Loma Nazarene University) a estudar psicologia. Dobson prosseguiu em seus estudos e obteve um doutorado na faculdade de medicina da University of Southern California, e realizou pesquisa acadêmica no Children’s Hospital Los Angeles. Ele supervisionou um estudo de 5 milhões de dólares sobre tratamento dietético de crianças com uma doença genética rara, que causava deficiências de desenvolvimento; também escreveu vários artigos científicos e um livro didático. 

Ao mesmo tempo, Dobson passou a se preocupar profundamente com as estruturas familiares. Ele estava alarmado com o número crescente de crianças nascidas de pais que não eram casados, com a frequência e a facilidade dos divórcios e com o número de crianças que estavam sendo confiadas aos cuidados de creches. As visões sobre sexo estavam em rápida transformação — e o respeito pela autoridade parecia simplesmente se desintegrar.

As transformações culturais da década de 1960 estavam, segundo Dobson, destruindo famílias e prejudicando crianças. 

“Todas essas coisas agrediram a vida familiar”, disse Dobson. “Eu via tudo o que me importava sendo ridicularizado e vilipendiado, e isso despertou em mim a paixão por fazer algo, a fim de proteger e preservar isso.”

Ele começou a dar aulas na escola dominical, respondendo a perguntas de jovens pais, e, então, decidiu escrever um livro. Em seis meses, lançou  a obra Dare to Discipline.

“As crianças prosperam melhor em uma atmosfera de amor genuíno, mas sustentada por uma disciplina razoável e consistente”, escreveu Dobson, na introdução. “Em uma época de uso generalizado de drogas, imoralidade, desobediência civil, vandalismo e violência, não devemos depender de esperança nem de sorte para moldar as atitudes críticas que valorizamos em nossos filhos. […] A permissividade não tem sido apenas um fracasso; tem sido um verdadeiro desastre!”

O livro vendeu 2 milhões de exemplares em 22 anos. Uma edição atualizada, lançada em 1992, vendeu mais 1,5 milhão. 

Dobson lançou o Focus on the Family [Foco na Família] como um programa de rádio semanal de 15 minutos, em 1977. Contudo, os primeiros ouvintes perceberam que o psicólogo não conseguia dizer muita coisa durante esse curto espaço de tempo, e muitas vezes mal conseguia responder a uma pergunta. Os produtores reformularam o formato em 1981, transformando o programa em uma conversa diária de meia hora com Gilbert Moegerle, um apresentador experiente e pai de três filhos. 

O programa Focus on the Family foi, então, embalado e distribuído junto com o programa de meia hora de Chuck Swindoll, Insight for Living [Insights para Viver], e o programa decolou. Em 1982, Dobson estava presente em 800 rádios cristãs, diariamente. Na década de 1990, quando o programa Focus on the Family se mudou do sul da Califórnia para Colorado Springs, o ministério teve de contratar 350 pessoas para responder às correspondências diárias que recebia. 

A organização Focus on the Family se expandiu para um empreendimento multimídia de 140 milhões de dólares, que contava com livros, revistas, programas de televisão e, claro, uma série de programas de rádio populares, que alcançavam cerca de 220 milhões de pessoas em mais de 150 países. 

Talvez o programa mais influente tenha sido Adventures in Odyssey [Aventuras em Odisseia], um drama radiofônico que narra as aventuras de um grupo de jovens que frequentam uma loja de uma pequena cidade, que vendia refrigerantes e sorvetes, onde aprendiam lições de vida com o proprietário e inventor, John Avery Whittaker, que tinha um jeito de avô. O programa se tornou um dos programas mais ouvidos nas rádios cristãs e “um importante ponto de contato cultural para muitos evangélicos de uma certa idade”, segundo a revista Relevant.

Dobson também fundou o Family Research Council [Conselho de Pesquisa Voltado para a Família], um think tank e organização de ativismo político. Dobson sempre se interessou pela política de seu país, mas se tornou mais atuante e vocal na década de 1990. 

Ele ficou profundamente ofendido com a imoralidade do presidente Bill Clinton — e com o fato de o país parecer se importar apenas com a situação econômica. Passou a incentivar regularmente seus ouvintes a ligarem para o Congresso, a Casa Branca ou para agências governamentais específicas, para que suas vozes fossem ouvidas. 

O congressista republicano Joe Scarborough, que se tornou comentarista de TV, lembrou que os ouvintes de Dobson “congestionaram nossas linhas telefônicas” por causa de um projeto de lei sobre educação. A equipe do líder republicano Tom Daschle teria decidido mudar o número de telefone do escritório, depois que milhares de ouvintes de Dobson congestionaram as linhas para protestar contra uma manobra processual que ele estava implementando no Senado.

Dobson disse à CT que não poderia tolerar o “isolacionismo” cristão, quando os riscos eram tão altos.

“O que está em jogo é a essência da fé cristã — pureza, reverência pela vida, estabilidade familiar, amor a Deus e receptividade ao próprio evangelho”, escreveu ele. “Não podemos nos dar ao luxo de temer agora!”

Em 2004, Dobson apoiou um candidato presidencial pela primeira vez, apoiando a candidatura de George W. Bush à reeleição e instando o presidente a apoiar uma emenda constitucional que definisse o casamento como a união entre um homem e uma mulher. No ano seguinte, ele transferiu a liderança da organização Focus of the Family para Jim Daly, o atual presidente.

Dobson lançou um novo programa de rádio, Dr. James Dobson ‘s Family Talk [Dr. James Dobson fala sobre família], e fundou o Dr. James Dobson Family Institute [Instituto Dr. James Dobson dedicado à Família], onde ele continuou a falar sobre questões relacionadas à política.

“Ninguém […] fez tanto para alinhar o evangelicalismo com a política partidária intransigente”, relatou a CT em 2006. “‘Família’ deixou de ser uma palavra que lembra beisebol e torta de maçã. Tornou-se uma palavra de luta, e, aliás, também politizada.”

Dobson disse que sabia que suas atividades políticas ofendiam pessoas e que muitos evangélicos queriam que ele se restringisse aos conselhos sobre criação de filhos. Ele disse que não conseguia aceitar isso, enquanto os Estados Unidos estavam travando uma “guerra civil de valores”.

“Será que nós, como cristãos, temos uma necessidade tão grande de agradar as pessoas”, questionou ele, “a ponto de optarmos por permanecer calados diante da matança de bebês, da disseminação da propaganda homossexual para nossas crianças, da distribuição de preservativos e de conselhos imorais para nossos adolescentes, e da desvalorização do casamento como instituição? Teria Jesus ignorado essas atividades perversas?”

Em seus últimos anos de vida, Dobson foi um fervoroso apoiador do presidente Donald Trump. Dobson disse que, embora compartilhasse das preocupações de muitos evangélicos sobre o comportamento de Trump em sua vida privada e sobre a sua retórica cáustica, ele achava que o compromisso do candidato em apoiar juízes pró-vida na Suprema Corte era mais importante do que qualquer outra coisa.

A decisão da Suprema Corte de anular Roe v. Wade em 2022, depois que Trump nomeou os juízes Neil Gorsuch, Brett Kavanaugh e Amy Coney Barrett, provou que [apoiar Trump] foi a decisão certa, disse Dobson. 

Dobson deixa a esposa, Shirley, e seus filhos, Danae e Ryan.

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    Projeto Missionário Teológico e Pastoral. Para um coração cativo e dedicado ao Senhor.

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