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Pode vir alguma coisa boa da atual Nazaré?

Quem caminhar hoje pelas ruas de Nazaré, a famosa cidade natal de Jesus, sentirá o cheiro de lixo empesteando o ar. Ao longo das ruas, há pilhas de lixo em cada esquina; a prefeitura não consegue mais pagar os caminhões para recolherem o lixo descartado pela população. As lojas de souvenirs que vendem colares com cruz e esculturas em madeira da cena do presépio estão fechadas, e as ruas da Cidade Velha de Nazaré estão vazias, uma vez que a guerra entre Israel e o Hamas interrompeu o fluxo de turistas cristãos que visitavam a cidade.

No passado, os moradores cristãos costumavam usar o lema “Venha e veja” para atrair visitantes de fora, inspirado na resposta de Filipe a seu irmão Natanael, quando, em João 1.46, este perguntou: “Nazaré? Pode vir alguma coisa boa de lá?”.

Hoje, muitos moradores relutam em deixar que as pessoas de fora vejam a cidade em seu estado atual.

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A economia local despencou, pois a guerra devastou o turismo na região. Gangues de criminosos estão se espalhando pela cidade, e a administração municipal enfrenta um déficit severo.

O aumento da criminalidade nos últimos anos levou multidões de moradores, muitos deles cristãos, a se mudarem para a cidade judaica vizinha de Nof HaGalil (anteriormente chamada de “Nazaré Illit”), que recebe generoso subsídio do governo. (Cidades predominantemente árabes, como Nazaré, têm padrões de vida mais baixos e recebem menos recursos do governo do que cidades predominantemente judaicas). Outros estão se mudando para Haifa, que tem uma população mista, composta de árabes e judeus, com um número substancial de cristãos.

“As pessoas em Nazaré estão psicologicamente desgastadas pela pressão”, disse Azar Ajaj, presidente da Faculdade Evangélica de Nazaré e pastor da Igreja Batista Local. Grupos cristãos também estão enfrentando altos impostos. Mesmo assim, Ajaj e os cristãos restantes em Nazaré se sentem chamados a continuar ministrando e buscando por avivamento na cidade que Jesus um dia chamou de lar.

Localizada no norte de Israel, Nazaré é a maior cidade árabe do país e, ao mesmo tempo, a cidade mais cristã do país, pois um quarto de seus 80.800 habitantes são cristãos. Durante décadas, Nazaré foi considerada a capital dos árabes em Israel, com mercados prósperos, um bom sistema escolar, vários hospitais cristãos e atrações famosas com passeios turísticos pela Terra Santa. Centenas de milhares de turistas cristãos visitavam a Basílica Católica Romana da Anunciação — que abriga ruínas (supostamente) da casa da Sagrada Família —; a Igreja da Sinagoga, onde se acredita que Jesus leu a passagem do livro de Isaías, conforme registrado em Lucas 4; e a Vila de Nazaré, uma réplica de como a cidade teria sido no primeiro século.

No entanto, nos últimos anos, a criminalidade na comunidade árabe tem aumentado, ceifando a vida de mais de 150 pessoas neste ano. Isso inclui guerras entre gangues, bem como membros de gangues atirando em proprietários de comércios locais que se recusam a pagar as tarifas de proteção cobradas por essas gangues. Uma pesquisa feita pelo Taub Center descobriu que a taxa de homicídios na comunidade árabe-israelense é a terceira maior do mundo entre países em desenvolvimento.

Enquanto isso, apenas cerca de 11% das ocorrências criminais são resolvidas pela polícia.

Muitos culpam o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, que é de extrema direita, de não pôr fim à violência generalizada entre árabes em Israel. Ben-Gvir já fez comentários antiárabes, entre os quais quando disse, em 2023, que seu direito individual à vida supera o direito dos palestinos de transitar livremente pela Cisjordânia.

Nizar Touma, pastor da Igreja do Nazareno em Nazaré, observou que um de seus fiéis, que trabalhava como empreiteiro de construção, mudou-se dali, depois que uma gangue de criminosos lhe pediu que pagasse tarifas de proteção, caso contrário, eles danificariam seus equipamentos. Esse homem e sua família estão tentando se mudar para os EUA. Eles já são a segunda família a deixar o local em 2024, uma perda significativa para uma igreja de 150 membros.

Desde que o prefeito Ali Sallam assumiu o cargo, em 2014, o déficit da cidade aumentou para 300 milhões de shekels (88 milhões de dólares), devido a má gestão, corrupção e má conduta, de acordo com Sharif Zoabi, líder da oposição na Câmara Municipal. Ele disse que muitos departamentos não tinham administradores e que a cidade mantinha centenas de pessoas em sua folha de pagamento, embora estas ficassem em casa ou trabalhassem em outros lugares.

Sem verbas, o pagamento dos salários dos funcionários da cidade, dos motoristas de caminhão de lixo e dos seguranças foi interrompido em fevereiro; com isso, há meses o lixo se acumula nas laterais das ruas. Os moradores alugam caminhões particulares para transportar o lixo ou queimam o lixo no quintal.

Em consequência disso, o ministro do Interior de Israel destituiu o prefeito eleito de Nazaré, desmantelou o conselho municipal, em junho, e nomeou um comitê de funcionários do governo, liderado por Yaakov Efrati, um funcionário judeu aposentado que serviu como diretor-geral do município de Jerusalém.

Para encher os cofres vazios da cidade, o comitê exigiu que moradores, empresas e até mesmo hospitais e escolas cristãs pagassem altos impostos. Anteriormente, organizações religiosas eram isentas de impostos. Uma escola afirmou que teve de pagar cerca de 250.000 dólares por ano, enquanto um hospital cristão afirmou que seus impostos, que incluem pagamentos retroativos referentes aos últimos sete anos, chegam a milhões. Os impostos colocariam em risco a subsistência da instituição. Além disso, várias escolas católicas resolveram processar o comitê na justiça.

“A recente tentativa da prefeitura de Nazaré de impor impostos municipais a escolas cristãs, que há muito tempo eram isentas, é motivo de grande preocupação”, disse à CT Farid Jubran, diretor-geral do Secretariado de Escolas Cristãs em Israel. “Essa medida mina os próprios alicerces da educação cristã na cidade. Essas escolas não são isentas apenas do ponto de vista legal; elas são vitais para a identidade e o futuro de Nazaré, pois atendem milhares de alunos em todas as comunidades.”

Touma chegou a receber uma notificação de que sua igreja tinha que pagar impostos. Ao contatar o contador do comitê municipal, este pediu a Touma que apresentasse provas de que sua igreja era um local de culto, apesar de a igreja ter ali mais de um século de existência.

Além disso, como Nazaré fica no norte de Israel, a cidade foi alvo de mísseis em setembro e outubro de 2024, quando os combates entre Israel e o Hezbollah, no Líbano, se intensificaram. Então, em meados de junho, quando Israel atacou o Irã, os moradores de Nazaré novamente temeram retaliações, correndo para abrigos e quartos fortificados sempre que soavam os alarmes.

“Ouvir sirenes de ataque aéreo, o som estrondoso de explosões e perceber que não tenho controle sobre a situação me fez sentir uma espécie de medo”, disse Ajaj. “Mas esse mesmo medo me levou a confiar em Deus, com fé, lembrando que ele está acima de tudo e que nem um único fio de cabelo de nossas cabeças cai sem a sua permissão.”

A guerra levou cada vez mais nazarenos a se mudarem para o exterior, sendo que a Grécia e Chipre são os destinos dessa população. Um cristão árabe recém-chegado ao Chipre disse ao Haaretz que quase 800 outras famílias se mudaram para o país, onde reconstruíram a vida administrando aluguéis de temporada, abrindo empresas de construção, fábricas e restaurantes.

No entanto, os cristãos que permanecem em Nazaré continuam a servir. Ajaj observou que, desde o início da guerra, as aulas em sua faculdade passaram a ser totalmente online. Por conta disso, agora é possível que estudantes de todo Israel e também do mundo inteiro assistam às aulas. “Se ouvimos sirenes, os alunos deixam o computador e correm com suas famílias para cômodos reforçados”, observou Ajaj.

 “Muitos de nossos alunos são pastores que estão sobrecarregados com responsabilidades pastorais para com os membros das suas igrejas, e o trabalho de nossos professores se transformou em encorajar esses alunos/pastores”, acrescentou.

Touma diz que, embora pastorear em tempos de guerra seja difícil, ele vê a atitude de compartilhar a esperança de Jesus com sua cidade natal como uma obrigação premente. E incentiva os membros da igreja a permanecerem em Nazaré e a continuarem caminhando na fé, visitando membros da igreja e moradores locais, e distribuindo cupons de alimentação aos necessitados.

 “Aprendi a sentar-me aos pés do Mestre e receber consolo e força para continuar”, disse Touma. “Espero inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo.”

O ministério feminino da igreja de Ajaj realizou uma reunião de oração para todas as mulheres cristãs da cidade no Dia da Anunciação, 25 de março, conhecido localmente como Dia de Nazaré. Elas se concentraram em Jeremias 29.7: “Busquem a prosperidade da cidade para a qual eu os deportei e orem ao Senhor em favor dela, porque a prosperidade de vocês depende da prosperidade dela.”

Um otimismo temperado com cautela paira no ar, com o novo comitê que agora administra o município.

“Acredito que, no tempo certo, o Senhor trará restauração e um avivamento para a sua cidade natal, por meio da dedicação de homens e mulheres, de todas as idades, que amam a Jesus; que são bem treinados; e que têm uma visão para evangelizar, construir pontes e expandir o reino”, disse Ajaj.

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  • Cativo à Palavra

    Projeto Missionário Teológico e Pastoral. Para um coração cativo e dedicado ao Senhor.

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