Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta. Destruirei os carros de Efraim e os cavalos de Jerusalém, e o arco de guerra será destruído. Ele anunciará paz às nações; o seu domínio se estenderá de mar a mar e desde o Eufrates até às extremidades da terra. (Zacarias 9.9,10 – ARA)
A ascensão de um soberano é um tempo de alegria e regozijo. Se olharmos para a história e observarmos a coroação de um imperador ou de um rei, a grande maioria das coroações são marcadas por pompas, marcha de cavalaria, demonstração de riqueza e de poder.
Dentre os maiores líderes na história, Gengis Khan foi um dos maiores conquistadores que este mundo já viu. Há quem diga que ele gostava de desfilar com seu belo e veloz cavalo entre o povo. Este foi um conquistador que foi qualificado pela sua inteligência e crueldade. Ele expandia o seu reino através da guerra, da violência e do terror psicológico contra os seus inimigos.
Assim também, a cena que Zacarias descreve é a chegada e a ascensão de um grande e magnifico rei. Nesse sentido, Zacarias descreve também a partir dos versículos 9 e 10 as qualificações deste rei que haveria de vir.
As qualificações do Rei (v.9-10)
Então, além da convocação solene em forma de poesia para que os súditos celebrassem o futuro rei de Sião que estava prestes a chegar, Zacarias nos versículos 9 e 10 também nos ensina sobre as qualificações do rei que haveria de vir
O profeta Zacarias faz uma descrição ilustrativa que torna esse rei, que viria da família de Davi, muito amável aos olhos de todos os seus súditos.
O profeta destaca, enfim, quatro qualificações para que o rei de Sião fosse celebrado pelo seu povo. Vejamos, portanto, essas qualificações.
Um rei justo e salvador (v.9a)
O texto segue dizendo no verso 9a “Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador”.
Apesar do sofrimento do povo, o profeta os exorta a alegria e exultação. Qual seria o motivo da alegria? O motivo seria pela chegada do rei. Este futuro rei que viria do trono de Davi, seria um rei de justiça. Todos os atos de governo desse rei seriam de equidade.
Seu governo não seria apenas de justiça, mas também de salvação. Este rei seria um rei protetor dos seus súditos. Ele salvaria os seus súditos do perigo. Os judeus estavam em estado de destruição. Entretanto, este rei traria consigo a salvação aos perdidos.
Um rei humilde (v.9b)
O texto segue dizendo no verso 9b “humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta”.
Este rei também seria manso e humilde. Seria um rei esvaziado de si mesmo. A ideia aqui não é de pobreza. Mas que tal rei não chegaria como um conquistador montado em um cavalo de guerra, como era costume. Os reis quando ascendiam ao trono desfilavam com toda pompa montados em seus cavalos velozes e bem distante do povo. Todavia, este rei profetizado por Zacarias chegaria montado em um jumento, de forma humilde, pacífica e mais próximo do povo. Não há nenhum caso em que um rei cavalgou em um jumento, exceto aquele que foi profetizado por Zacarias.
Um rei de paz (v.10a)
O texto segue dizendo no verso 10a “Destruirei os carros de Efraim e os cavalos de Jerusalém, e o arco de guerra será destruído. Ele anunciará paz às nações”.
Não significa dizer que este rei seria simplesmente um pacifista como Mahatma Ghandi e tantos outros. Mas este não seria um rei de guerra, mas um rei que buscaria a paz e agiria com bondade para com o seu povo. Então, quebrar o arco significa dizer que este rei não lançaria mão dos recursos humanos, mas confiaria plenamente no recurso divino. Portanto, o arco quebrado representa a vitória da paz sobre o conflito.
Um rei de autoridade (v.10d)
O texto segue dizendo no verso 10d “o seu domínio se estenderá de mar a mar e desde o Eufrates até às extremidades da terra”.
Apesar de não ser um reino de guerra, seu domínio se estenderia por todas as partes do mundo. Seu reino chegaria até às extremidades da terra. Sua mensagem de paz chegaria nos lugares mais longínquos.
Aplicação
Portanto, para a nossa aplicação, se observamos a história de Israel após a divisão dos reinos, o último rei de Israel foi Oséias. E o último rei de Judá foi Zedequias.
Mas após o cativeiro babilônico, Israel e Judá não tiveram mais um rei. A história que se sucede daí é marcada por alternância de poder entre os persas, romanos e depois a diáspora judaica no ano 70 d.C.
Somente em 1948 após a segunda Guerra Mundial quando houve a criação do Estado de Israel é que termina a diáspora judaica. E mesmo assim, Israel não passa a ser governada por um rei, mas pela democracia parlamentar.
Então quem seria esse rei profetizado por Zacarias? Será que este rei seria apenas um rei político? Será que podemos identificar na história este rei profetizado por Zacarias? Será que essa profecia ainda não aconteceu e os judeus devem aguardar a vinda desse rei?
Podemos identificar este rei profetizado por Zacarias nas Escrituras. E essa identificação se encontra nos evangelhos em todos os evangelhos. Está em Mateus 21.4-6; Marcos 11.1-11; Lucas 19.28-40; e João 12.12-15.
Faremos, pois, duas aplicações. A Primeira aplicação. Essa profecia de Zacarias não pode ser aplicada a nenhum outro herói ou evento da história judaica. Todas essas qualificações se cumpriram plenamente em Cristo Jesus.
Pois ele já veio como um rei humilde montado em um jumentinho. Ele se fez justo e salvou aqueles que são seus. Isso é motivo de regozijo para nós.
Mas vale destacar que Jesus continuaria sendo Rei mesmo se ele não tivesse entrado em Jerusalém montado em um jumentinho. Ou seja, Jesus precisava entrar em Jerusalém montado em um jumentinho para que a profecia se cumprisse, mas ele não dependia dessa entrada de forma humilde em um jumentinho para ser rei. Ele é rei desde toda eternidade.
Sobre isso Louis Berkhof diz que: “Cristo recebeu a sua designação como Rei mediatório nas profundezas da eternidade, e que começou a agir como tal imediatamente após a Queda, Pv 8.23; Sl 2.6. Durante a antiga dispensação, ele levou a cabo a sua obra como Rei, em parte por intermédio dos juízes de Israel e em parte por intermédio dos reis típicos. Mas, embora lhe fosse permitido governar como Mediador mesmo antes da sua encarnação, não assumiu pública e formalmente o seu trono nem inaugurou o seu reino espiritual antes da sua ascensão e elevação à mão direita de Deus, At 2.29-36; Fp 2.5-11”.[1]
Então veja que não é a placa que diz “curva acentuada” ou “curva perigosa” que faz com que a curva se torne acentuada ou perigosa. A placa apenas indica aquilo o que é.
Então, não é a entrada em si que o torna rei. Mas quando Jesus entra em Jerusalém montado em um jumentinho da mesma forma como Deus havia dito pela boca dos seus profetas, aponta e testifica aquilo o que é legítimo para todos nós depositar a nossa fé. Quando uma profecia se cumpre exatamente da forma como Deus disse, é o próprio Deus sinalizando para nós aquilo o que é verdadeiro.
Calvino dizia que Cristo exerce seu tríplice ofício como profeta, sacerdote e rei. Mas como Cristo exerce a sua função como Rei? Essa é a pergunta de número 45 do Catecismo Maior de Westminster: Cristo exerce as funções de rei chamando do mundo um povo para si, dando-lhe oficiais, leis e disciplinas, para visivelmente o governar; dando a graça salvadora aos seus eleitos; recompensando a obediência deles e corrigindo-os por causa dos seus pecados; preservando-os e sustentando-os em todas as suas tentações e sofrimentos; restringindo e vencendo todos os seus inimigos e, poderosamente, dirigindo todas as coisas para a sua própria glória e para o bem do seu povo; e também castigando os que não conhecem a Deus nem obedecem ao evangelho.
Portanto, a entrada de Jesus em um jumentinho é Deus testificando, autentificando, apontando que Jesus é o Rei a qual devemos servir. É Deus nos chamando a crer na sua soberania e nas suas promessas. É Deus mostrando que aquilo que Ele prometeu na sua Palavra, Ele mesmo cuida para que ela se cumpra. Deus zela pela sua Palavra.
Berkhof diz que “Cristo foi o fundador do reino de Deus, e agora, de algum modo, induz os homens a ingressarem na comunidade cristã e a terem uma vida motivada pelo amor. Ele redime o homem por seu ensino, por seu exemplo e por sua influência única, e, portanto, é digno de ser chamado Deus”.[2]
Em vista disso, podemos entender que o versículo 9 de Zacarias já se cumpriu, ou seja, o Rei prometido já veio de forma humilde e montado em um jumentinho.
Mas ainda resta para nós o cumprimento da profecia do versículo 10. E essa é a segunda aplicação. Há uma promessa a se cumprir.
Ainda que os seus servos tenham a verdadeira paz em seus corações, não há paz absoluta entre as nações. Ainda que ele possua toda autoridade nos céus e na terra, o seu domínio ainda não foi plenamente concretizado. Ainda há influências do mal, do pecado e do maligno neste mundo.
Ainda resta para o povo de Deus a sua segunda vinda, onde ele estabelecerá absolutamente o seu reino e o seu domínio de paz, onde não haverá mais sofrimento, dor, doenças, morte, a influência do maligno e a maldição do pecado. E isso nós aguardamos ansiosamente.
Paulo em Romanos 15.24-26 nos diz que: “E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. O último inimigo a ser destruído é a morte”.
Mas na sua segunda vinda, ele não virá como um servo sofredor montado em um jumentinho. Ele virá em todo o seu esplendor como o rei glorioso em seu cavalo para completar o seu domínio de justiça, de salvação e de paz. E por isso devemos estar preparados.
Este é um Reino presente e um Reino futuro. Portanto, assim como o povo no período de Zacarias teve esperança no Messias que viria, tenhamos esperança no Messias que já veio e que um dia voltará para consolidar definitivamente o seu reino.
Conclusão
Apesar de Gengis Khan se tornar o maior conquistador que este mundo já viu, o seu império terminou. Gengis Khan morreu ao cair do seu tão amado cavalo de guerra.
A história está aí e pode provar que muitas vezes, após a ascensão de um soberano, de um rei, de um conquistador de povos, de um ditador ou até mesmo de um presidente, tende ao declínio. Como vimos, foi assim com o reino de Israel. A felicidade pode se tornar em angústia, descontentamento, desengano e desilusão. E por isso, não ponha a sua esperança em homens que sobem ao poder.
No entanto, com o Rei Messias não é assim. O seu Reino jamais terminará. Ele é o verdadeiro Rei que merece toda a nossa confiança, exultação e louvor.
Pois apenas em Jesus, o Filho de Deus, toda a justiça se cumpriu. Ele é humilde e misericordioso para com todos os que nele se achegam. O seu reino não é apenas deste mundo, mas é um reino espiritual. Jesus é o Rei ideal para mim e para você. A salvação é trazida a todos os povos e nações por meio dele. Ele converte os rebeldes em súditos leais. Ele não apenas resgata os perdidos, mas os une em santa e amorosa fraternidade.
Isto posto, se você é um servo desse Rei perfeito, se regozije como um fiel súdito. Sirva de modo sincero e alegre ao perfeito Rei de Sião.
Para você que ainda não faz parte desse Reino, te faço o convite, permita que este Rei justo, salvador e humilde transforme completamente a sua vida.
Que Deus abençoe o seu povo, em nome de Jesus. Amém!
[1] BERKHOF, Louis. Teologia sistemática (Portuguese Edition) (p.699). Editora Cultura Cristã. Edição do Kindle.
[2] BERKHOF, Louis. Teologia sistemática (Portuguese Edition) (p.528). Editora Cultura Cristã. Edição do Kindle.




