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O jovem cristão e a vida universitária | Franck Neuwirth

Uma pesquisa da LifeWay Research revela que cerca de 70 % dos jovens cristãos param de frequentar a igreja quando chegam na Universidade[1]. No Brasil, infelizmente, a realidade não é muito diferente. Esta informação é muito triste, porém, nos apresenta uma realidade: não estamos preparando os nossos jovens para a vida. Podemos destacar diversos fatores que explicam esta estatística: 1) A terceirização da educação cristã da família para a igreja. 2) A falta de não ensinarmos doutrina bíblica desde a infância, ao invés de somente histórias bíblicas, o que faz com que os jovens não consigam perceber como o relato bíblico tem conexões com o mundo de hoje. 3) A falta de uma conversão genuína.

A fim de ilustrar a necessidade de jovens bem-preparados para a vida, gostaria de que apreciássemos a vida do jovem Daniel, que provavelmente teria algo em torno de 15-17 anos quando fora levado para a Babilônia. Esta faixa etária é, ainda hoje, o período das grandes mudanças na vida, onde se deixa de pensar sob a tutela dos pais e se passa a pensar de maneira mais “autônoma”. Concidentemente, é a partir dos 17 anos que os jovens ingressam ao contexto da vida universitária em busca de conhecimento, o que faz a história de Daniel ser perfeitamente aplicável aos dias de hoje.

Semelhantemente ao contexto experimentado por Daniel, o ambiente universitário é também muito hostil para o jovem crente, fazendo com que muitos jovens sejam reprovados na “Universidade de Deus”, isto é, cedam aos encantos e valores que existem na “Universidade da Babilônia”: uma vida desregrada, uma vida alheia às coisas espirituais e uma vida onde o intelectualismo, sem Deus, fala mais alto do que a fé no Deus verdadeiro.

Neste texto observaremos quais foram os valores de Daniel e de seus amigos que fizeram com que eles fossem aprovados, não somente na “Universidade da Babilônia”, mas, sobretudo, na “Universidade de Deus”.

 

1. Integridade

Deus, por vezes, permite os desertos e distanciamento da família para testar a integridade de Seus filhos. Por exemplo, lemos em Dt 8.2 uma explicação sobre o porquê do longo tempo de peregrinação do deserto: “Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o Senhor, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos.”

Assim sendo, podemos dizer que na Babilônia o Senhor também iria provar a integridade do Seu povo, como alguém já disse: “Nós somos quem somos quando estamos sozinhos”. Longe de seus pais, os jovens foram para a corte de Nabucodonosor começaram a experimentar uma vida de luxo, longe das privações como tantos outros israelitas estavam vivendo. Porém, foi neste momento que sua integridade fora provada.

Podemos dizer que houve um certo vestibular para ingressar na corte Babilônica, foram escolhidos “jovens sem nenhum defeito, de boa aparência, instruídos em toda a sabedoria, doutos em ciência, versados no conhecimento e que fossem competentes para assistirem no palácio do rei e lhes ensinasse a cultura e a língua dos caldeus” (Dn 1.4). Estes jovens tiveram a grande oportunidade para ter uma vida próspera, esta, porém, acompanhada de mudanças substanciais: tiveram uma alimentação diferenciada (v. 5), seus nomes mudados paganizados (v. 7) que, ao invés de demonstrar uma dedicação ao Deus verdadeiro, agora demonstravam uma dedicação aos deuses da Babilônia. Por isso, eles poderiam ter um comportamento totalmente alheio às coisas de Deus, já que estavam vivendo no que podemos chamar de total anonimato.

No entanto, para Daniel e seus amigos esta mudança ocorrera somente em seu exterior, não em seus corações. Ao invés de se deliciarem com as finas iguarias do rei, eles se submeteram à provisão divina eles não se contaminaram com as “finas iguarias do rei” (v. 8), apesar da mudança cultural a que foram submetidos, sua integridade diante de Deus estava intacta.

Infelizmente, muitos jovens se sujeitam aos valores da vida universitária e tem se esquecido do que aprenderam na infância e dos valores de uma família cristã. O exemplo de Daniel mostra que devemos ser fiéis a Deus e influenciar nossos colegas.

 

2. Influência

Daniel não ficou somente na defensiva, ele fez muito mais do que simplesmente viver no isolamento: Ele procurou influenciar as pessoas ao seu redor. Daniel, primeiramente, influenciou seus amigos por meio de um regime “anti-idolatria”.

De acordo com os comentaristas[2], os alimentos oferecidos aos jovens durante este tempo de preparo não cumpriam os requisitos da Lei mosaica e, portanto, eram inapropriados para um judeu comer. Estes alimentos provavelmente foram oferecidos aos ídolos da Babilônia. Além disso, beber o vinho do rei também era algo que prejudicaria seu testemunho naquele ambiente.

Daniel certamente testemunhou sua fé ao sugerir uma troca de cardápio e um teste de 10 dias (v. 12) ao falar com o chefe dos eunucos e com o cozinheiro-chefe. Imagine a coragem deste jovem ao expor suas convicções religiosas. Ele estava disposto a enfrentar uma possível ridicularização por parte dos outros jovens que não estavam se submetendo ao mesmo cardápio.

O jovem cristão precisa ter coragem para defender suas convicções na Universidade, tendo coragem de dizer que sua vida é alicerçada em valores do Evangelho de Jesus, que crê no Deus da Bíblia e que vive sob as orientações reveladas em Sua Palavra.

Deus honrou a vida de Daniel seus amigos e fez que eles tivessem uma aparência bem melhor do que a dos demais jovens (v. 15). O mesmo ocorre com os jovens fiéis a Deus no ambiente hostil das universidades: eles possuem uma vida mais bonita e que serve de testemunho para tantos outros que se encontram perdidos, sem paz, sem propósito, mascarando suas dores nas festas e nas de drogas que não podem alegrar o íntimo de seus corações. Deus espera que Seus filhos sejam instrumentos de restauração neste ambiente onde as trevas são densas, mas não podem vencer a luz do Senhor.

 

3. Inteligência

Assim como Daniel recebeu do Senhor a sabedoria necessária para enfrentar os desafios na Babilônia, nós também devemos pedir a Ele que nos capacite para saber como devemos agir nestes momentos: “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus” (Tg 1.5).

A Bíblia afirma que “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv 1.7). No final do período de três anos, Daniel e seus amigos foram aprovados na Universidade da Babilônia, mas, sobretudo, eles também foram aprovados na Universidade de Deus, sendo os mais destacados e os mais inteligentes de todo o grupo de magos e encantadores de todo o reino (Dn 1.20).

Para Daniel e seus amigos foi importante serem aprovados na Universidade da Babilônia, porém, de nada valeria isso se eles fossem reprovados na Universidade de Deus. A Bíblia nos diz que “o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente” (1Jo 2.17). Isso nos mostra que os valores e diplomas deste mundo são transitórios e passageiros, mas os servos do Senhor têm uma promessa eterna. No final do seu livro, Deus também concede esta linda promessa para Daniel (Dn 12.13).

 

Conclusão

Qualquer pessoa dedicada consegue alcançar uma aprovação no vestibular e depois na Universidade. O difícil é ser aprovado por Deus em Sua Universidade, pois esta exige:

  • Uma vida íntegra, que enfrenta as dificuldades e mudanças sem deixar de lado suas convicções e seu temor a Deus.
  • Uma vida de influência, permitindo que outras pessoas tenham a oportunidade de se relacionarem com pessoas que creem em Jesus e que demonstram publicamente sua fé em Cristo, sem se envergonhar.
  • Uma vida de inteligência, que aproveita as oportunidades do meio acadêmico para crescer como pessoa e também para serem usados por Ele para a Sua glória.

Daniel fez história na Babilônia, na verdade, ele deixou um legado. Fato é que muito tempo depois: “vieram uns magos do Oriente a Jerusalém. E perguntavam: Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo.” (Mt 2.1–2). Quem era o mestre dos magos da Babilônia? Sim, fora Daniel (Dn 5.11).


Notas

Que nossos jovens passem pelas Universidades da Babilônia, com integridade, influência e inteligência, deixando um legado que promova a glória de Deus.

[1] https://lwresearch21.wpengine.com/wp-content/uploads/2019/01/Young-Adult-Church-Dropout-Report-2017.pdf

[2] John Peter Lange et al., A commentary on the Holy Scriptures: Daniel (Bellingham, WA: Logos Bible Software, 2008), p. 60–61.

 

Foto de Alexei Scutari na Unsplash

Franck Neuwirth é Doutor em Ministério pelo Reformed Theological Seminary, EUA, em parceria com o Centro de Pós-graduação Andrew Jumper. É Escritor da Editora Cristã Evangélica e Coordenador Acadêmico no SETECEB, além de lecionar disciplinas na Área de Novo Testamento, Grego, Metodologia Científica e Aconselhamento. Atualmente, está cursando seu PhD pela Universidade de Viena na Áustria. Franck é casado com Ilma Rabelo Neuwirth e pai da Isabella e do Luiz Filipe.

Autor de “Aconselhamento bíblico para todos”, publicado por Edições Vida Nova.

 

 

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Autor

  • Cativo à Palavra

    Projeto Missionário Teológico e Pastoral. Para um coração cativo e dedicado ao Senhor.

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