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A VINDA DO REINO

O reino chegou – Cumprimento

A pregação não é caracterizada apenas como profecia e anúncio, mas também como proclamação e promulgação.

Isso é explicado primariamente pelo poder ou autoridade com a qual Jesus prega o evangelho do reino. Sua palavra não é apenas um sinal — ela está carregada de poder — e tem à sua disposição a substância, a salvação que ela própria define: não é somente uma palavra, mas “fará o que me apraz” e alcançará o propósito. Esse é o motivo pelo qual, ao fim, não existe diferença entre a palavra com a qual Jesus expeliu os demônios e a sua pregação do evangelho. Em ambos os casos, a palavra de sua boca indica e forma uma unidade. Em nenhum lugar essa conexão é vista tão claramente como na história da cura do paralítico (Mc 2.1-12). Nesse caso, a pregação do evangelho vem primeiro: “Filho, os teus pecados estão perdoados.” Os escribas consideraram essa declaração uma blasfêmia e Jesus lhes perguntou: “Qual é mais fácil? Dizer ao paralítico: Estão perdoados os teus pecados, ou dizer: Levanta-te, toma o teu leito e anda?” O que está em jogo aqui é o poder da palavra, isto é, a pregação do evangelho: “Quem pode perdoar pecados, senão um, que é Deus?” O homem que fala dessa maneira é capaz de cumprir o propósito de suas palavras? De modo afirmativo, esse pensamento é expresso da seguinte maneira: “Ora, para que saibas que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados”. O que interessa nesse caso não é a pregação do perdão, mas o poder para perdoar. Jesus haverá de perdoá-los (Mt 5.12-13), mas o ato é ligado às palavras (“teus pecados estão perdoados”) e das palavras “sobre a terra”. O que é algo novo e sem precedentes aqui não é o anúncio do perdão, mas o fato de que esse perdão também está sendo realizado na terra. Esse é o poder de Jesus como o Filho do Homem, isto é, como aquele a quem foi dado o poder real, de acordo com Daniel 7.14, e nisso se manifesta a presença do reino dos céus.

A multidão, também, percebe a autoridade com a qual ele prega o evangelho, apesar de permanecer ignorante do seu segredo real. A maioria se ofende com essa autoridade, porque sente que é blasfêmia o ser humano falar com uma autoridade que pertence somente a Deus (Mc 2.7).

Esse é o motivo pelo qual os adversários de Jesus foram capazes de tentar enredá-lo “em alguma palavra” (Mt 22.15; Mc 12.13; Lc 20.20,26), pois perceberam nas suas palavras a reivindicação de autoridade absoluta e também o seu caráter perigoso. Outros, entretanto, reagiram de um modo mais positivo. Assim, por exemplo, por ocasião da cura do paralítico, a multidão se encheu de temor e louvou a Deus, “que dera tal autoridade aos homens” (Mt 9.8). Apesar de não conhecerem verdadeiramente a Jesus, eles reconheceram a autoridade de Jesus para perdoar pecados quando testemunharam o milagre.

Destacam-se também as muitas expressões de “temor”, “admiração”, “espanto” e “estranhamento” que descrevem o espírito da multidão quando via os milagres e ouvia sua pregação. Repetidas vezes, essas reações e outras semelhantes são registradas (cf., p. ex., Mc 1.27; Lc 4.36; Mc 10.24; Mc 5.20; Lc 11.14; Mt 12.23 e outros lugares). Esses termos não têm como objetivo, entretanto, somente fornecer descrições histórico-psicológicas da impressão que Jesus causava nas multidões. Os evangelistas queriam indicar que as palavras e as obras de Jesus revelavam o sobrenatural, o absoluto, o divino, de tal modo que até as multidões se tornavam conscientes do fato. Como já foi dito, essa admiração não era causada apenas pelos milagres que testemunhavam, mas também pela pregação que ouviam (cf. Lc 4.22; Mt 22.22). Eles estão espantados não somente diante do conhecimento e da sabedoria de Jesus, ou da sua eloquência, mas, no fundo, estão reagindo aos poderes e à autoridade revelados em suas palavras. Nesse sentido, não há diferença entre a pregação de Jesus e seus milagres. Ambos revelam o mesmo controle soberano que pertence somente a Deus. […]

Está claro que tudo isso só pode ser explicado pelo significado da pessoa e da missão de Jesus. Era isso que a multidão admirada percebia nos milagres (Mt 12.23), ao ouvir a sua pregação: “quem é este que até perdoa pecados?” (Lc 7.49). A presença do reino, tanto nas ações de Jesus quanto na sua pregação do evangelho, a salvação que ele proclama, a posse da bem-aventurança que ele atribui aos pobres de espírito, repousam no segredo da pessoa de Jesus. A única expressão satisfatória do evangelho do reino em todas as suas facetas é a cristológica. No fim, tudo deve se concentrar na autorrevelação de Jesus. O cumprimento, as boas notícias que Jesus havia trazido, não pode ser, de modo algum, separado de sua própria pessoa, como se fosse, por exemplo, uma doutrina proclamada por ele e espalhada pelos apóstolos. O cumprimento está presente na sua pessoa, “no acontecimento histórico” que é dado com ele, o qual é ele.

(A vinda do reino, de Herman Ridderbos, Cultura Cristã)

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Autor

  • Cativo à Palavra

    Projeto Missionário Teológico e Pastoral. Para um coração cativo e dedicado ao Senhor.

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