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O sentido cristão do tempo e da História

O modo cristão de conceber o tempo, mesmo com as suas variações, influenciou diretamente todo o mundo Ocidental. A compreensão de que o tempo tem um início, meio e fim era totalmente estranha às culturas pagãs. A questão da História e do tempo é fundamental para o cristianismo pela sua própria constituição.

O cristianismo é uma religião de história. Elimine, por exemplo, a historicidade dos 11 primeiros capítulos de Gênesis, e mutilaremos o sentido das Escrituras e, por isso mesmo, os fundamentos da fé cristã. Pelo fato de a Criação ter ocorrido na História, bem como a Queda, a promessa (Gn 3.15) e o Dilúvio, é que tudo o mais faz sentido. Se a Queda é apenas uma lenda, porque precisaríamos crer na encarnação, morte e ressurreição de Cristo como fato histórico? Bastaria a criação de outra lenda para quem sabe, remediar o que fora inventado anteriormente.

A revelação dá-se na História. As narrativas bíblicas se constituem em uma pedagogia histórica da graça da lei e da lei da graça. Vemos de modo vívido na História a manifestação de aspectos de atributos de Deus na direção do seu povo conforme os seus preceitos, promessas e, também, na manifestação de seu juízo levando o homem ao arrependimento, confissão, perdão e vida.

Na História vemos a demonstração prática dos ensinamentos de Deus, revelando os acertos e fracassos de suas criaturas em serem fiéis ao seu Senhor e, ao mesmo tempo, a demonstração de sua misericórdia incompreensível que atinge o seu ápice na encarnação do Verbo.

O cristianismo não se ampara em lendas, antes, em fatos, os quais devem ser narrados, visto que têm uma relação direta com a vida dos que creem. O cristianismo é uma religião de fatos, palavra e vida. Os fatos, corretamente compreendidos, têm uma relação direta com a nossa vida.

A fé cristã fundamenta-se no próprio Cristo: O Deus-Homem. Sem o Cristo Histórico não haveria cristianismo. A sua força e singularidade estão neste fato, melhor dizendo: na pessoa de Cristo, não simplesmente nos seus ensinamentos. O cristianismo é o próprio Cristo. A encarnação é toda e inclusivamente missionária: o Verbo fez-se carne e habitou entre nós (Jo 1.14). É por isso também que o cristianismo é uma religião de memória, relatando os feitos de Deus e desafiando o povo a reafirmar a sua fé a partir do rememorar dos atos de Deus na História.

Paulo dá graças a Deus pela fé dos efésios porque era centrada em Cristo (Ef 1.15-16). E não poderia ser diferente. Justamente pelo fato de o evangelho ser centrado em Cristo é que a genuína fé, identificada como salvadora, não é uma crença qualquer, cujo teor seja indefinido, tendo como virtude apenas o fato de poder crer; uma espécie de fé na fé. O evangelho não é algo como uma garrafa “pet” que depois de esvaziada do seu conteúdo original, pode ser preenchida com amaciante, detergente, água ou alguma outra substância. O evangelho conforme a Escritura nos ensina é o próprio Senhor Jesus Cristo.

A Boa Nova é de Deus, cujo conteúdo é o próprio Deus anunciando a salvação para todos os que sinceramente a desejarem. Portanto, o evangelho tem como conteúdo e essência a Jesus Cristo como Senhor e Salvador conforme revelado na Escritura. Jesus Cristo é a Palavra encarnada.

A fé faz parte essencial do evangelho. No entanto, essa fé deve repousar unicamente em Cristo como nosso salvador (Jo 3.16).

O fato, é que mesmo administrando a História por meio de homens, Deus continua no controle sobre todos os povos e o faz com retidão. A sua reta vontade prevalecerá sempre.

O governo soberano de Deus é reto, com equidade, com direito e de modo suave. Os solavancos na História devem-se à rebeldia do homem que deseja subverter o justo governo de Deus. Por isso, muitas vezes, as guerras, fome, pestes, epidemias. O governo de Deus é suave e justo.

Não pensemos que o mal não esteja sob o governo soberano de Deus dentro de seus propósitos eternos. O mundo não está entregue à própria sorte. Deus o governa.

Ainda que não percebamos a todo o momento sinais desse governo, podemos descansar seguros, certos de que a esperança do aflito não se há de frustrar para sempre.

O para sempre é dentro de uma perspectiva totalmente humana. Na realidade, pela ótica divina, que é a verdadeira, a esperança do aflito, depositada nas promessas de Deus nunca se frustra. Podemos nos frustrar com os nossos sonhos e anseios, porém, nunca com as promessas de Deus.

Feliz ano novo. Deus nos conduziu amorosamente até aqui. Agradeçamos a Deus pelo seu providente cuidado. Confessemos a Deus os nossos pecados suplicando o seu perdão. Peçamos força para abandoná-los. Procuremos a reconciliação com nossos irmãos. Perdoemos os que nos caluniaram. Usemos melhor os talentos que o Senhor nos concedeu. Cresçamos na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo e descansemos em suas promessas. Enfim: busquemos pela graça uma vida mais semelhante a Jesus Cristo, o modelo perfeito da família de Deus (Rm 8.29). Amém.

O Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa, pastor-auxiliar da 1ª IP São Bernardo do Campo, São Paulo, SP, é Coordenador de Curso e ensina teologia no JMC, é membro do CECEP e do Conselho Editorial do Brasil Presbiteriano.

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Autor

  • Cativo à Palavra

    Projeto Missionário Teológico e Pastoral. Para um coração cativo e dedicado ao Senhor.

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