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Rei e Pastor: O Senhor na visão e vivência dos salmistas – 25

Em termos de síntese do que alinhamos, relacionemos agora alguns aspectos concernentes à gravidade do pecado e a necessidade que temos  do perdão concedido por Deus.

 

Pecado como falsidade ideológica

O pecado representa uma falsidade ideológica em relação à nossa natureza essencial, pois fomos criados para glorificar a Deus por meio de uma obediência alegre e prazerosa (Rm 11.36; 1Co 10.31). Como portadores da imagem divina, deveríamos refletir em nossa vida e conduta os aspectos da gloriosa beleza de Deus. A santidade que Ele propõe aos seus filhos consiste na harmonia entre vida e ação com a beleza da santidade eterna de Deus, revelada em sua Palavra e plenamente encarnada em Jesus Cristo. Contudo, o pecado nos descaracterizou, trazendo apenas deformidade e distorção.

 

A Palavra nos dá o diagnóstico correto

            Para que qualquer problema seja tratado adequadamente, é indispensável um diagnóstico correto. No entanto, mesmo diante de um diagnóstico seguro, podemos, indevidamente, seguir o caminho do negacionismo ou nos aventurar em fórmulas mágicas que, longe de resolver a situação, apenas agravam nossa dor e desilusão.

             Há casos em que, mesmo reconhecendo o problema, percebemos que não temos acesso ao remédio. Ele pode ser inacessível por diversos motivos: seu custo elevado, desconhecimento ou até mesmo a proibição de seu uso no país em que vivemos.

 Outro caminho trágico é simplesmente recusarmos o tratamento proposto por pura e total falta de fé.

Seja qual for a condição, estaremos inevitavelmente sujeitos às consequências da não correção do problema.

A Palavra de Deus, porém, nos oferece um diagnóstico completo, perfeito e exaustivo da condição humana. E mais: apresenta o remédio definitivo para nossa cura – a expiação dos nossos pecados em Cristo Jesus.

Por isso, sem a consciência do pecado, não há Evangelho. Somente o Evangelho trata o pecado com a seriedade que ele exige,[1] porque Deus leva a sério a condição de suas criaturas em suas misérias espirituais.

 

Lei é Evangelho

A Lei é o Evangelho, ainda que não em sua plenitude. Sem a Lei, não há consciência do pecado e, consequentemente, não há convicção da necessidade de salvação.

A Boa Nova da salvação inclui a conscientização do pecado, suas consequências e, sobretudo, a libertação de suas mazelas pela graça de Deus. Por isso, podemos afirmar que a Lei é graça.

A Lei de Deus revela nosso pecado, evidencia sua gravidade[2] e aponta o caminho proposto por Deus. Por essa razão, a Lei deve ser proclamada a todos — crentes e descrentes.[3]

A Lei moral permanece, como escreve Calvino:

A lei moral de Deus é a verdadeira e perpétua regra de justiça, ordenada a todos os homens, de todo e qualquer país e de toda e qualquer época em que vivam, se é que pretendem reger a sua vida segundo a vontade dele. Porque esta é a vontade eterna e imutável de Deus: que ele seja honrado por todos nós, e que todos nós nos amemos uns aos outros.[4]

          No entanto, é natural que os homens se inclinem prazerosamente para os ensinamentos que falam de suas virtudes e capacidade.[5]

A Lei, portanto, nos conduz à graça que resplandece de forma magnífica na face de Cristo (Gl 3.24).[6] Por isso, jamais poderemos separar a Lei do Evangelho sem comprometer a compreensão abrangente do propósito salvífico de Deus.[7]

A ética cristã é profundamente marcada pela certeza de que a salvação é exclusivamente pela graça – pertence inteiramente a Deus. Ao mesmo tempo, essa ética é sustentada pela consciência da necessidade de obedecermos à Lei divina. Como afirma Calvino: “Um cristão medirá todas as suas ações por meio da Lei de Deus; seus pensamentos secretos estarão sujeitos à sua divina vontade.”[8] E, em outro lugar: “Ser cristão debaixo da Lei da graça não é vaguear desenfreadamente sem Lei, mas estar enxertado em Cristo, por cuja graça está liberado da maldição da Lei e por cujo Espírito tem a Lei gravada no coração.” [9]

Contudo, é natural que os homens se inclinem prazerosamente para ensinamentos que exaltam suas virtudes e capacidades, negligenciando a seriedade do pecado e a necessidade da graça.[10]

 

Mente secular otimista

Em geral a mente secular é profundamente otimista em relação às suas potencialidades. Portanto, falar de pecado é algo que não encontra tão facilmente ouvidos prazerosos ou mesmo atentos. Daí, uma tendência comum é a tentativa de suavizar esta doutrina, mudando nomes, perspectivas, redirecionando ênfases ou, simplesmente silenciando a respeito.

Dentro de uma perspectiva mais filosófica, busca-se muitas vezes driblar a questão central por meio da suavização da realidade, apresentando o perdão como um alívio imediato – como se a simples noção de perdão bastasse para confortar, enquanto a proclamação da realidade do pecado causasse temor e afastamento da mensagem do Evangelho.

Talvez isso se sustente no campo especulativo, onde pecado e perdão são tratados como conceitos vagos, abordados por meio de uma análise fenomenológica que ignora sua essência e fundamentação teológica.

Nesse cenário, o que importa é a percepção subjetiva do conceito, não a veracidade dos fatos nem suas implicações. Recordo, nesse contexto, a declaração de Erasmo de Roterdã (1466–1536) sobre a prática de  confissão de pecados  no confessionário: “Por certo são numerosos e fortes os argumentos contra a instituição da confissão pelo próprio Senhor. Mas como negar a segurança em que se encontra aquele que se confessou a um padre qualificado?” [11]

 

Crentes mimados

O cristão contemporâneo, em especial, tende a apreciar ser mimado por seus líderes. No culto, acomoda-se em ambientes confortáveis e climatizados, observando com certa indiferença o que é dito, enquanto seus olhos percorrem os demais frequentadores em busca de algo curioso. Manuseia o celular, faz carinho em algum familiar próximo, chama sua atenção para uma mensagem recebida via “zap” – talvez anunciando o nascimento do filhotinho de um “Golden Retriever” (“Oh, meu Deus, que lindinho!”). Compartilha o celular com alguém que, insensivelmente, deseja participar do culto, mas não consegue se envolver com nada que não tenha muitas figuras e luzes. Aproveita, então, para perguntar quantos filhos nasceram, pois tem interesse no assunto, e assim por diante.

O culto, para muitos, parece um exercício de relaxamento – onde não é necessário pensar –, um desfile de moda e amenidades. Dessa forma, brincamos com as coisas de Deus sem qualquer escrúpulo, constrangimento ou senso de culpa. Afinal, a graça de Jesus é maravilhosa!, diz complacentemente para si mesmo.

Enquanto isso, levantamo-nos para alguns cânticos ou hinos, aproveitamos para olhar para trás e verificar se determinado irmão chegou… Cantamos com certa sensibilidade, sentamo-nos novamente, lançamos uma última olhada para trás e seguimos em nossa jornada.

Somos hábeis em buscar justificativas para nossos erros, transferindo o ônus do mau uso de nossa liberdade para os ombros dos outros, tornando-nos, assim, ilusoriamente leves. E, se necessário, recorremos ao discurso genérico da vitimização: “Deus sabe que somos pecadores… Deus é misericordioso…”

 

A necessidade de sermos confrontados pela Palavra

Todas essas atitudes são danosas, pois nos afastam ainda mais do confronto real com a Palavra – a única capaz de ressoar em nossa alma e revelar sua verdadeira necessidade.

Quando a dor se tornar o próprio diagnóstico, talvez percebamos quanto tempo desperdiçamos em futilidades, sem atentarmos de fato para a instrução de Deus e os sintomas por Ele dirigidos e controlados (Ne 9.26-31).

Horton pontua com precisão:

A necessidade de misericórdia só é sentida depois que a realidade da culpa impressiona. (…) O grito pelo socorro da graça nunca cativará o ouvido enquanto não houver novamente um sentimento de culpa e desespero em nossas igrejas.[12]

Por isso, compreendemos que somente pela graça, por meio da Palavra, podemos ter uma consciência clara de nossa pecaminosidade ativa e concreta — e de sua afronta direta a Deus.[13] Só conseguimos mensurar a graça, ainda que limitadamente, quando somos confrontados com o nosso pecado e com a possibilidade concreta de perdão e restauração.

Ter consciência do pecado é reconhecer o quão urgentemente precisamos de perdão. O Evangelho só se torna subjetivamente necessário – embora seja objetivamente urgente – quando, por meio de Deus, as pessoas percebem sua real condição. Enquanto isso não acontecer, o Evangelho continuará soando como algo descartável, ultrapassado ou até mesmo como loucura.

Permanecemos, assim, mortos espiritualmente – desfrutando da liberdade de um morto em decomposição.

Ao tratar desse tema, devemos lembrar que a questão principal não é a quantidade ou intensidade dos nossos pecados, mas o fato de que pecamos. E, diferentemente da compreensão de certos pensadores humanistas – inclusive cristãos[14]  – a gravidade do pecado reside no fato de que todo pecado é sempre contra Deus, o eternamente santo,[15] que não tolera o mal (Hc 2.13).

Uma compreensão atenuada e adocicada da gravidade e do horror do pecado esvazia o significado da graça manifesta na cruz de Cristo. O que torna nossa rebelião ainda mais complexa é o mau uso que fazemos dos esplêndidos dons que nos foram concedidos,[16] além da rejeição ao infinito e santo amor de Deus, plenificado em Jesus Cristo.[17]

Lloyd-Jones está correto ao afirmar: “Não podemos ser cristãos sem convicção do pecado. Ser cristão significa que compreendemos que somos culpados diante de Deus e que estamos sob a ira de Deus”.[18]

Schaeffer (1912-1984) coloca a questão nesses termos:

Nós pecamos deliberadamente contra o santo de Deus; é por isso que a nossa situação é desesperadora. (…)

O problema não está na quantidade de pecados que praticamos, mas em quem ofendemos. Nós pecamos contra um Deus infinitamente santo, que realmente existe. E, a partir do momento em que pecamos contra um Deus infinitamente santo, que realmente existe, nosso pecado é infinito.[19]

O problema é que o pecado nos impede de perceber suas consequências: estamos totalmente alienados de Deus. O pecado age como certos medicamentos que, como efeito colateral, mascaram os sintomas – tornando a enfermidade imperceptível.

Desde a queda, o homem encontra-se sob o domínio do pecado e, por isso mesmo, é incapaz de responder positivamente ao chamado externo do Evangelho.

O pecado corrompeu o intelecto, a vontade e a faculdade moral de toda a raça humana. Por isso, o homem está morto espiritualmente, sendo escravo do pecado (Gn 6.5; 8.21; Is 59.2; Jo 8.34, 43–44; Rm 3.9–12, 23; Ef 2.1,5; Cl 1.13; 2.13) [20] – e nada pode fazer, nem sequer deseja, retornar à comunhão perdida. Como disse o Senhor Jesus Cristo: “Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34; cf. Is 64.6; Rm 6.6).

Calvino interpreta com precisão: “O homem peca com o consentimento de uma vontade pronta e disposta.”[21]

 

Perdemos a nossa percepção espiritual

 A depravação total é justamente isso: a contaminação de todas as nossas faculdades pelo pecado. Perdemos completamente a capacidade de percepção espiritual. As coisas de Deus nos soam como loucura (1Co 1.18-21; 2.6-8, 12-16).

O homem, por seu próprio conhecimento, não pode conhecer a Deus. Por isso, a “loucura” de Deus – que humilha profundamente o homem em sua pretensa autossuficiência – é o caminho estabelecido por Deus para que o conheçamos salvadoramente (1Co 1.21).

Nossa lógica, fruto da graça comum de Deus, embora hábil para desvendar os mistérios do saber, encontrar aqui e ali elementos de verdade que podem nos auxiliar a melhor compreender aspectos da realidade[22] e desmantelar sofismas, revela-se totalmente inadequada e impotente para perceber a realidade da Palavra que nos fala de Deus e de quem somos.

Calvino resume com precisão:

O intelecto do homem está de fato cegado, envolto em infinitos erros e sempre contrário à sabedoria de Deus; a vontade, má e cheia de afeições corruptas, odeia a justiça de Deus; e a força física, incapaz de boas obras, tende furiosamente à iniquidade.[23]

Ainda que o homem não seja absolutamente mau – não é tão mau quanto poderia ser – é extensivamente mau: todo o seu ser está contaminado pelo pecado.[24] O pecado nos domina por completo.

Na linguagem do profeta Isaías:

Toda a cabeça está doente e todo o coração enfermo. Desde a planta do pé até à cabeça não há nele cousa sã, são feridas, contusões e chagas inflamadas, umas e outras não espremidas, nem atadas, nem amolecidas com óleo (Is 1.5-6).

Calvino é enfático em diversos momentos:

Não teremos uma ideia adequada do domínio do pecado, a menos que nos convençamos dele como algo que se estende a cada parte da alma, e reconheçamos que tanto a mente quanto o coração humanos se têm tornado completamente corrompidos.[25]

Nada, senão a morte, procede dos labores de nossa carne, visto que os mesmos são hostis à vontade de Deus. Ora, a vontade de Deus é a norma da justiça. Segue-se que tudo quanto seja contrário a ela é injusto; e se é injusto, também traz, ao mesmo tempo, a morte. Contemplamos a vida em vão, caso Deus nos seja contrário e hostil, pois a morte, que é a vingança da ira divina, deve necessariamente seguir de imediato a ira divina.

Observemos aqui que a vontade humana é em todos os aspectos oposta à vontade divina, pois assim como há uma grande diferença entre nós e Deus, também deve haver entre a depravação e a retidão.[26]

O pecado como alienação

O homem foi criado essencialmente como ser social,[27] o que trouxe implicações em seu relacionamento com Deus e com os demais homens, como bem destacou Lactâncio (260-330).[28] O pecado alienou-nos de Deus, de nós mesmos, do nosso semelhante e da natureza[29]. Assim, o pecado, de certa forma, desumanizou-nos.

 

Perda do aspecto ético da imagem e semelhança

A Queda trouxe consequências desastrosas à imagem de Deus refletida no homem. Após a queda, mesmo o homem não-regenerado continua sendo imagem e semelhança de Deus (aspecto metafísico):[30] Apesar de o pecado ter sido devastador para o homem, Deus não apagou a sua “imagem”, ainda que a tenha corrompida,[31] alienando-o de Deus.

Conforme já mencionamos, o pecado trouxe como implicação a perda do aspecto ético da imagem de Deus. [32] A nossa vontade, como agente de nosso intelecto, agora, é oposta à vontade de Deus.[33]

O propósito divino de santidade para nós foi contraposto pelo desejo pecaminoso do homem de seguir seu próprio caminho à revelia de Deus e de seus mandamen-tos.

 

Imagem de satanás

A imagem que agora refletimos estampa mais propriamente o caráter de Satanás.[34] O homem está eticamente sob o seu domínio.[35]

Calvino é preciso ao retratar a depravação humana:

Portanto, que os homens reconheçam que, conquanto são nascidos de Adão, são criaturas depravadas, e por isso só podem conceber pensamentos pecaminosos, até que se tornem nova feitura de Cristo, e sejam formados por seu Espírito para uma nova vida. E não se deve nutrir dúvida de que o Senhor declara que a própria mente do homem é depravada e totalmente infectada com pecado; de modo que todos os pensamentos que procedem daí são maus. Se tal é o defeito na própria fonte, segue-se que todos os afetos humanos são maus e suas obras cobertas com a mesma poluição, visto que, necessariamente, têm laivos de seu original. Porquanto Deus não diz meramente que os homens às vezes pensam mal; mas a linguagem é sem fronteira, circunscrevendo a árvore com seus frutos.  (…) Pois visto que sua mente seja corrompida com descaso de Deus, com orgulho, amor-próprio, ambição, hipocrisia e fraude, ela não pode proceder de outra forma, senão que todos os seus pensamentos se acham contaminados com os mesmos vícios. Além disso, não podem tender para um fim correto; donde sucede devam ser julgados como sendo o que realmente são: pervertidos e perversos. Pois tudo quanto há em tais homens, que nos deleita sob o matiz de virtude, é como o vinho deteriorado pelo odor do tonel. Porque (como já se disse) as próprias afeições da natureza, que em si mesmas são louváveis, contudo estão viciadas pelo pecado original, e, em razão de sua irregularidade, têm se degenerado de sua natureza peculiar; tal é o amor mútuo de pessoas casadas, o amor de pais para com seus filhos, e daí por diante. E a cláusula adicionada, ‘desde sua mocidade’, declara mais plenamente que os homens já nascem maus; a fim de mostrar que, tão logo atingem a idade em que começam a formar pensamentos, já revelam a corrupção radical da mente.  (…) Devemos, pois, aquiescer ao juízo de Deus, o qual pronuncia o homem como estando tão escravizado pelo pecado, que não pode produzir nada são e sincero. Todavia, ao mesmo tempo devemos recordar que não se deve lançar nenhuma culpa sobre Deus por aquilo que tem sua origem na defecção do primeiro homem, pela qual a ordem da criação foi subvertida. E, além do mais, deve-se notar que os homens não são isentados de culpa e condenação mediante o pretexto desta servidão; porque, embora todos se apressem para o mal, contudo não são impelidos por qualquer força extrínseca, e sim pela inclinação direta de seus próprios corações; e, por fim, pecam não de outro modo, senão voluntariamente.[36]

 

O boi e o jumento

Por intermédio do profeta Isaías, Deus utiliza uma analogia poderosa para ilustrar nossa condição espiritual. Ele escolhe dois animais de trato difícil – o boi e o jumento – conhecidos por sua teimosia e resistência à condução. Ainda assim, esses animais, por instinto, reconhecem seus donos, aqueles que os alimentam e cuidam.

O homem, por sua vez, criado como coroa da criação,[37] ao ceder ao pecado, perdeu completamente seu discernimento espiritual. Já não reconhecemos nosso Criador; antes, voltamos as costas para Ele e seguimos obstinadamente em outra direção.[38]

 O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende. Ai desta nação pecaminosa, povo carregado de iniquidade, raça de malignos, filhos corruptores; abandonaram o SENHOR, blasfemaram do Santo de Israel, voltaram para trás. (Is 1.3-4).

 

Perdão é essencial

O perdão é essencial ao ser humano. Sem ele, jamais poderemos restaurar nosso relacionamento com Deus. Permaneceremos eternamente separados dele – e isso, de fato, é o inferno.

Por isso, ao nos depararmos com a Lei de Deus e suas exigências, é somente pela graça que tomamos consciência de quão distantes estamos do padrão divino. A Lei revela nossa miséria, mas também prepara o terreno para a esperança.

O salmista compreendia essa realidade com profundidade, e por isso clama:             “Por causa do teu nome, SENHOR, perdoa (xl;s)’ (salach) a minha iniquidade (}oWf()(awon), que é grande(Sl 25.11).

O perdão é o caminho da reconciliação. Sem ele, não há restauração, não há comunhão, não há vida. Somos, de fato, carentes de perdão – e é essa carência que nos conduz à cruz, onde a graça se encontra com a justiça, e o amor se revela em sua plenitude.

 

Algumas Considerações

Ao refletirmos sobre tudo o que foi exposto, não podemos deixar de nos ver diante de um espelho – não aquele que distorce, mas o que revela com precisão a realidade da alma.

Falar sobre pecado, Lei, graça e perdão não é apenas uma tarefa teológica; é um exercício de honestidade espiritual. É reconhecer que, por mais que conheçamos os textos, as doutrinas e os autores, continuamos sendo pessoas profundamente necessitadas da misericórdia de Deus.

A Palavra nos confronta. Ela não nos permite permanecer confortáveis em nossa religiosidade ou em nossa rotina eclesiástica. Ela nos chama à verdade, à humildade, à confissão e à dependência. E, nesse chamado, percebemos que não há outro caminho senão Cristo – o único que pode nos perdoar, restaurar e conduzir à verdadeira vida.

Se há algo que aprendemos ao longo dos anos, é que o Evangelho não é uma teoria, mas uma urgência. Não é uma ideia bonita para ser admirada, mas uma verdade viva para ser abraçada com fé e quebrantamento. E, se hoje podemos escrever sobre essas coisas, é porque fomos – e somos – alcançados por essa graça que nos constrange, nos transforma e nos sustenta.

Que Deus nos conceda olhos para ver, ouvidos para ouvir e corações para crer. Que não sejamos apenas estudiosos da verdade, mas servos moldados por ela. E que, ao final de tudo, nossa vida seja um testemunho da beleza da santidade de Deus, refletida em vasos frágeis, mas redimidos.

Glória somente a Deus

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

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[1]Veja-se: J. Gresham Machen, Cristianismo e Liberalismo, São Paulo: Os Puritanos, 2001, p. 69ss.

[2] Veja-se: João Calvino, As Institutas, II.7.6.

[3] Veja-se: Fórmula de Concórdia, Epítome VI.2-3: In: Livro de Concórdia, 7. ed. (rev. Atual.), São Leopoldo, RS.; Canoas, RS.; Porto Alegre: Editora Concórdia; Editora Sinodal; Editora da Ulbra, 2016, p. 517.

[4]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 4, (IV.16), p. 160.

[5]Cf. João Calvino, As Institutas, II.1.2.

[6]  “Se o leitor separar a lei da pessoa de Cristo, nada ficará nela senão formas vazias. (…) A verdade consiste no fato de que através de Cristo obtemos a graça que a lei não poderia dar” (João Calvino, O Evangelho segundo João,  São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 1.17),  p. 57).Veja-se: João Calvino, As Institutas, II.7.8.

[7] “O Evangelho e a Lei não devem ser separados, constituem uma única entidade no interior da qual o Evangelho é a coisa primordial e a Lei permanece contida na Boa Nova” (Karl Barth, Esboço de uma Dogmática, São Paulo: Fonte Editorial, 2006, p. 22).

[8] João Calvino, A Verdadeira vida cristã, São Paulo: Novo Século, 2000, p. 31.

[9]João Calvino, As Institutas, II.8.57.

[10]Cf. João Calvino, As Institutas, II.1.2.

[11] Erasmo, Opera Omnia, Leyde, 1704, v, col. 145-6, Apud Jean Delumeau, A confissão e o perdão: as dificuldades da confissão nos séculos XIII a XVIII, São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 37. Em outro lugar, também indagou: “Por que se dar ao trabalho de confessar seus pecados a outro ser humano apenas pelo fato de ser um sacerdote, quando pode confessá-los diretamente a Deus?” (Apud Alister E. McGrath, Teologia, sistemática, histórica e filosófica: uma introdução à teologia cristã, São Paulo: Shedd Publicações, 2005, p. 84). Este sentimento não parece ser generalizado: “Depois de tal confissão ser feita, ainda era preciso realizar obras de reparação, antes que a absolvição pudesse ser solicitada. Daí o ativismo febril da religião no fim da Idade Média: a construção de novas igrejas, o comércio de indulgências, o esforço incessante para obter méritos” (Timothy George, Teologia dos Reformadores, São Paulo: Vida Nova, 1993, p. 30).

A experiência de Lutero durante o seu noviciado e depois como monge Agostiniano, se constitui num bom exemplo de que a confissão auricular, os jejuns e as penitências – os quais ele praticava com frequente rigor – , não lhes proporcionava a paz esperada, daí ele se exceder cada vez mais aos da sua ordem – que a partir da reforma de 1503 feita por João von Staupitz (c. 1469-1524), era ainda mais severa –, em penitências, buscando encontrar a paz com Deus e a certeza da salvação de sua alma. (Vejam-se: Vicente Themudo Lessa, Lutero, 3. ed. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1956, p. 30ss.; Albert Greiner, Lutero: Ensaio Biográfico, 2. ed. São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1983, p. 25ss.). O mesmo pode ser dito pelo ex-padre, José Manoel da Conceição. (Veja-se: José Manoel da Conceição, Sentença de Excomunhão e Sua Resposta, Rio de Janeiro: Typographia Perseverança, 1867, p. 8).

 

[12] Michael S. Horton, Os Sola’s de Reforma: In: J.M. Boice;  B. Sasse, Reforma Hoje,  São Paulo: Cultura Cristã, 1999, p. 123.

[13] “É mister graça e iluminação espiritual para crermos que nossos pecados são um problema sério aos olhos de Deus, conforme a Bíblia nos diz. Precisamos orar para que Deus nos torne humildes e dispostos a aprender, quando estudamos esse tema” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 63. Ver também p. 70s.).

[14] Dentro desta perspectiva limitante do sentido do pecado, incluímos, entre outros, Cecil Osborne (1904-1999), que seguindo o pensamento de Erich Fromm (1900-1980), escreveu: “Pecado é essencialmente um erro contra si mesmo ou contra outro ser humano” (Cecil Osborne, A Arte de Compreender-se a Si Mesmo, Rio de Janeiro: JUERP.  1977, p. 139). Fromm escrevera: “Pecado não se dirige primariamente contra Deus, mas contra nós mesmos” (Erich Fromm, Psicanálise e religião, 2. ed. Rio de Janeiro: Livro Ibero-Americano, Ltda.  1962, p. 105). Veja-se também: E. Fromm, Análise do Homem, São Paulo: Círculo do Livro, [s.d.], 218p. De modo semelhante, esse conceito tem sido amplamente difundido por um discípulo de Norman Vincent Peale (1898-1993), o Dr. Robert H. Schuller (1926-2015), que enfatiza: “o pecado é uma ofensa psicológica a si mesmo” (Vejam-se as pertinentes críticas a esta posição em: John MacArthur Jr.  Sociedade sem Pecado, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p. 78ss.).

[15] “O pecado envolve uma certa responsabilidade, por um lado, responsabilidade esta surgida da santidade de Deus, e, por outro lado, da seriedade do pecado como oposição àquela santidade” (John Murray, Redenção: consumada e aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 29).

[16]Veja-se: Anthony A. Hoekema, Criados à Imagem de Deus, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999, p. 101-102.

[17] “O incrédulo despreza o amor de Deus. Se este amor fosse pequeno, seria um pecado pequeno ignorá-lo. Se é grande, é grande pecado rejeitá-lo. Mas o fato é que este amor é infinito. Isso faz da rejeição deste amor um pecado de proporções infinitas” (R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1976, p. 19). “Como o amor de Deus é infinito, desprezar esse amor é pecado de proporções infinitas No entanto, é o que fazem aqueles que, por sua descrença, rejeitam o Filho de Deus, dom do Seu amor. (…) Rejeitar este amor é incorrer no banimento eterno da presença de Deus. Responder com fé e amor é herdar a vida eterna. Nada pode ser mais urgente do que a escolha de uma destas atitudes” (R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, p. 72).

[18]D.M. Lloyd-Jones, O supremo propósito de Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996, p. 227.

[19]Francis Schaeffer, A obra consumada de Cristo, São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 75.  “Jamais compreenderemos o que o pecado realmente é, enquanto não aprendermos a pensar nele em termos de nosso relacionamento com Deus” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 64). “A seriedade do insulto aumenta com a dignidade daquele que é insultado” (John Piper,  A Paixão de Cristo,  São Paulo: Mundo Cristão, 2006, p. 22). Veja-se também: Cornelius Plantinga Jr. Não Era Para Ser Assim, São Paulo: Cultura Cristã, 1998, p. 26.

[20]“Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração” (Gn 6.5). “…. o SENHOR (…) disse consigo mesmo: Não tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem, porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade….” (Gn 8.21). “…. as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Is 59.2). “Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: tudo o que comete pecado é escravo do pecado. (…) Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a minha palavra. Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.34,43,44). “Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3.9-12). “…. todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23). “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; (…) e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, —pela graça sois salvos” (Ef 2.1,5). “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor (…). E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos” (Cl 1.13; 2.13).

[21]João Calvino, Instrução na fé, Goiânia: Logos Editora, 2003, Cap. 5, p. 16.

[22]Calvino em passagem magistral, escreveu:

“Quantas vezes, pois, entramos em contato com escritores profanos, somos advertidos por essa luz da verdade que neles esplende admirável, de que a mente do homem, quanto possível decaída e pervertida de sua integridade, no entanto é ainda agora vestida e adornada de excelentes dons divinos. Se reputarmos ser o Espírito de Deus a fonte única da verdade, a própria verdade, onde quer que ela apareça, não a rejeitaremos, nem a desprezaremos, a menos que queiramos ser insultuosos para com o Espírito de Deus. Ora, nem se menosprezam os dons do Espírito sem desprezar-se e afrontar-se ao próprio Espírito.

“E então? Negaremos que a verdade se manifestou nos antigos jurisconsultos, os quais, com equidade tão eminente, plasmaram a ordem política e a instituição jurídica? Diremos que os filósofos foram cegos, tanto nesta apurada contemplação da natureza, quanto em sua engenhosa descrição? Diremos que careciam de inteligência esses que, estabelecida a arte de arrazoar, a nós nos ensinaram a falar com razoabilidade? Diremos que foram insanos esses que, forjando a medicina, nos dedicaram sua diligência? O que dizer de todas as ciências matemáticas? Porventura as julgaremos delírios de dementes? Pelo contrário, certamente não poderemos ler sem grande admiração os escritos dos antigos acerca dessas coisas. Mas os admiraremos porque seremos obrigados a reconhecer seu profundo preparo.

“Todavia, consideraremos algo digno de louvor ou mui excelente que não reconheçamos provir de Deus? Envergonhemo-nos de tão grande ingratidão, na qual nem mesmo os poetas pagãos incidiram, os quais têm professado que a filosofia é invento dos deuses, bem como as leis e todas as boas artes. Portanto, se esses homens, a quem a Escritura chama [psychikoús naturais, 1Co 2.14], que não tinham outra ajuda além da luz da natureza, foram tão engenhosos na inteligência das coisas deste mundo, tais exemplos devem ensinar-nos quantos são os dons e graças que o Senhor tem deixado à natureza humana, mesmo depois de ser despojada do verdadeiro e sumo bem” (João Calvino, As Institutas (2006), II.2.15). Em outro lugar: “Reconheço que alguns grãos de piedade sempre foram espalhados por todo o mundo, e que não pode haver dúvida – se nos permitir a expressão – Deus semeou, pelas mãos de filósofos e escritores profanos, os excelentes sentimentos que serão encontrados em seus escritos” (João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2015, v. 1, (Jo 4.36), p. 186). Veja um testemunho interessante: Vern S. Poythress, Redimindo a filosofia: uma abordagem teocêntrica às grandes questões, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 39; Vern S. Poythress, O Senhorio de Cristo: servindo o nosso Senhor o tempo todo, com toda a vida e de todo o nosso coração, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 64.  Kuyper  definiu “graça comum” da seguinte forma. É a ação “pela qual Deus, mantendo a vida do mundo, suaviza a maldição que repousa sobre ele, suspende seu processo de corrupção, e assim permite o desenvolvimento de nossa vida sem obstáculos, na qual glorifica-se a Deus como Criador” (A. Kuyper, Calvinismo, São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 38-39). Vejam-se também: John M. Frame, A Doutrina da Vida Cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 818-819; John M. Frame, A Doutrina de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 330-335.

[23]João Calvino, Instrução na fé, Cap. 4, p. 15. Veja-se: D.M. Lloyd-Jones, O supremo propósito de Deus: Exposição sobre Efésios 1.1-23, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996, p. 338.

[24]“Lembremo-nos de que nossa ruína se deve imputar à depravação de nossa natureza, não à natureza em si, em sua condição original, para que não lhe lancemos a acusação contra o próprio Deus, autor dessa natureza” (J. Calvino, As Institutas, II.1.10). Vejam-se: Confissão de Westminster, VI.2; IX.3; Catecismo Menor de Westminster, Questão 18; Catecismo de Heidelberg, Questões 5 e 7; Cânones de Dort, III e IV; L. Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 248; W.J. Seaton, Os Cinco Pontos do Calvinismo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, (s.d.), p. 6-7; Duane E. Spencer, TULIP: Os Cinco Pontos do Calvinismo à Luz das Escrituras, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, p. 39; L. Boettner, La Predestinación, Grand Rapids, Michigan: SLC. (s.d.), p. 55-73; A.W. Pink, Deus é Soberano, São Paulo: Fiel, 1977, p.101-119; Edwin H. Palmer, Doctrinas Claves, Carlisle, Pennsylvania: El Estandarte de la Verdad, 1976, p. 11-36; A.A. Hodge, Esboços de Theologia, Lisboa: Barata & Sanches, 1895, Cap. XX, p. 312-321; John L. Dagg, Manual de Teologia, São Paulo: Fiel, 1989, p. 126-130.

[25]João Calvino, O livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 2, (Sl 51.5), p. 431. Do mesmo modo MacArthur: “A depravação (…) significa que o mal contaminou cada aspecto da humanidade – coração, mente, personalidade, emoções, consciência, razões e vontade (Cf. Jr 17.9; Jo 8.44)” (John MacArthur Jr. Sociedade sem pecado, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p. 81).

[26]João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 8.7), p. 266-267.

[27]“O homem foi formado para ser um animal social” (John Calvin, Commentaries on The First Book of Moses Called Genesis, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1981 (Reprinted), v. 1, (Gn 2.18), p. 128). Em outro lugar: “O homem é um animal social de natureza, consequentemente, propende por instinto natural a promover e conservar esta sociedade e, por isso, observamos que existem na mente de todos os homens impressões universais não só de uma certa probidade, como também de uma ordem civil” (João Calvino, As Institutas, II.2.13).

[28]Veja-se: Lactantius, The Divine Institutes, VI.10: In: Alexander Roberts; James Donaldson, eds. Ante-Nicene Fathers, 2. ed. Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1995, v. 7, p. 173 e passim).

[29]“Pelo pecado estamos alienados de Deus” (João Calvino, Efésios, São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 1.9), p. 32); “Tão logo Adão alienou-se de Deus em consequência de seu pecado, foi ele imediatamente despojado de todas as coisas boas que recebera” (João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 2.5), p. 57). “Como a vida espiritual de Adão era o permanecer unido e ligado a seu Criador, assim também o dEle alienar-se foi-lhe a morte da alma” (João Calvino, As Institutas, II.1.5).  Vejam-se também: Francis A. Schaeffer, Poluição e a Morte do Homem, São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 46-47; John W. R. Stott, O Discípulo Radical, Viçosa, MG.: Ultimato, 2011, p. 43.

[30] Podemos também chamar de aspecto “lato”, “estrutural” ou “formal”. (Para uma visão panorâmica do uso destes termos, veja-se: Anthony A. Hoekema, Criados à Imagem de Deus, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999, p. 84-88).

[31]Vejam-se: João Calvino, As Institutas, I.15.4; II.1.5; Juan Calvino, Breve Instruccion Cristiana, Barcelona: Fundación Editorial de Literatura Reformada, 1966, p. 13; João Calvino, Efésios, (Ef 4.24), p. 142; João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 1, (Sl 8.5), p. 169; v. 2, (Sl 62.9), p. 579.

[32]Podemos também chamar de aspecto “estrito”, “funcional” ou “material”. (Para uma visão panorâmica do uso destes termos, veja-se: Anthony A. Hoekema, Criados à Imagem de Deus, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999, p. 84-88,101). “É verdade que ela não foi totalmente extinta; mas, infelizmente, quão ínfima é a porção dela que ainda permanece em meio à miserável subversão e ruínas da queda” (João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 8.5), p. 169). “Ele é a criatura que, inicialmente, foi criada à imagem e semelhança de Deus, e essa origem divina e essa marca divina nenhum erro pode destruir. Contudo, ele perdeu, por causa do pecado, os gloriosos atributos de conhecimento, justiça e santidade que estavam contidos na imagem de Deus. Todavia, esses atributos ainda estão presentes em ‘pequenas reservas’ remanescentes da sua criação; essas reservas são suficientes não somente para torná-lo culpado, mas também para dar testemunho de sua primeira grandeza e lembrá-lo continuamente de seu chamado divino e de seu destino celestial” (Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara d’Oeste, SP.: SOCEP.  2001, p. 17-18). Vejam-se: João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 2, (Sl 51.5), p. 431-432; John Calvin, Commentaries on the Epistle of James, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996, (Calvin’s Commentaries, v. 22), (Tg 3.9), p. 323; As Institutas, I.15.8; II.2.26,27; Hermisten M.P. Costa, João Calvino 500 anos: introdução ao seu pensamento e obra, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 211ss.; W. Gary Crampton; Richard E. Bacon, Em Direção a uma Cosmovisão Cristã, Brasília, DF.: Monergismo, 2010, p. 27; Herman Dooyeweerd, No Crepúsculo do Pensamento, São Paulo: Hagnos, 2010, p. 260-261; François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 591; Emil Brunner, Dogmática: A Doutrina Cristã da Criação e da Redenção, São Paulo: Fonte Editorial, 2006, v. 2,  p. 88; Cornelius Van Til, Epistemologia Reformada, Natal, RN.: Nadere Reformatie Publicações, 2020, p. 30, E-book  Posição  448 de 715.

[33]Ver: James M. Boice, O Evangelho da Graça, São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 111. Agostinho (354-430), comentando o Salmo 148, faz uma analogia muito interessante: “Como nossos ouvidos captam nossas palavras, os ouvidos de Deus captam nossos pensamentos. Não é possível agir mal quem tem bons pensamentos. Pois as ações procedem do pensamento. Ninguém pode fazer alguma coisa, ou mover os membros para fazer algo, se primeiro não preceder uma ordem de seu pensamento, como do interior do palácio, qualquer coisa que o imperador ordenar, emana para todo o império romano; tudo o que se realiza através das províncias. Quanto movimento se faz somente a uma ordem do imperador, sentado lá dentro? Ao falar, ele move somente os lábios; mas move-se toda a província, ao se executar o que ele fala. Assim também em cada homem, o imperador acha-se no seu íntimo, senta-se em seu coração; se é bem e ordena coisas boas, elas se fazem; se é mau, e ordena o mal, o mal se faz” (Sto. Agostinho, Comentário aos Salmos, São Paulo: Paulus, (Patrística, 9/3), 1998, v. 3, (Sl 148.1-2), p. 1126-1127).

[34]“Moral e espiritualmente, o caráter do homem estampa a imagem de Satanás, e não a de Deus. Ora, é precisamente isso o que a Bíblia quer dizer quando fala sobre o homem caído no pecado como ‘filho do diabo’. (Jo 8.44; Mt 13.38; At 13.10 e 1Jo 3.8)” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 67). “Tampouco é absurdo dizer que a imagem em parte se perdeu e em parte se conservou, e que no mesmo sujeito há a imagem de Deus e a do diabo em diferentes aspectos” (François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 588).

[35]Cf. Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 3, p. 190.

[36]John Calvin, Commentaries on the First Book of Moses Called Genesis, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1981 (Reprinted), v. 1, (Gn 8.21), p. 284-286.

[37]“Não é arrogância humana acreditar que seja a coroa, o alvo da criação. Ela o é, não apenas porque seja a última numa série ascendente, mas porque, pela sua natureza, foi estabelecida para isso” (Emil Brunner, Dogmática: A Doutrina Cristã da Criação e da Redenção, São Paulo: Fonte Editorial, 2006, v. 2, p. 99).

[38]Lloyd-Jones explora com vivacidade a analogia do texto. Veja-se: D.M. Lloyd-Jones, O Caminho de Deus, não o nosso, p. 43-46.

Autor

  • Cativo à Palavra

    Projeto Missionário Teológico e Pastoral. Para um coração cativo e dedicado ao Senhor.

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