§ 141 SUFRÁGIO PARA CHEFES DE FAMÍLIA
Por um instante, poderia surgir a questão de saber se o sufrágio universal, isto é, o direito de voto para todos os homens adultos, não seria o instrumento natural para que a nação se exprimisse. Mas apenas por um instante.
Pois, se parar para refletir, percebe imediatamente que uma forma de sufrágio como a existente na França, que concede o voto a cerca de oito milhões de habitantes e, no entanto, nega o voto a outros vinte e oito milhões, pode chamar-se “universal”, mas está longe de o ser.
Um sistema de sufrágio universal que começa excluindo todas as mulheres — isto é, um pouco mais da metade da comunidade — já transmite, de início, uma estranha mensagem sobre a sua “universalidade”. E se, em seguida, se afasta novamente a maior parte da metade menor que resta, para deixar a decisão a um quarto muito reduzido — ou, na realidade, à maioria dos homens desse pequeno quarto, isto é, apenas a um oitavo — então, com toda a seriedade, esse tão louvado sufrágio “universal” torna-se tão inexplicavelmente exclusivo e limitado que se pode poupar o trabalho de combatê-lo.
Não, o sufrágio só pode ser verdadeiramente universal se for concedido aos chefes de família ou àqueles que sejam declarados seus iguais, isto é, aos chefes, aos porta-vozes, aos intérpretes naturais daquelas pequenas células ou esferas que fazem de uma nação uma nação. Afinal, não são os solitários meditativos em seus quartos alugados, mas as pessoas em seus círculos familiares que alimentam o pensamento que governa o espírito de um povo. Um filósofo solitário pode ordenar esse pensamento posteriormente; um poeta pode interpretá-lo em canção; um estadista pode exprimi-lo em uma teoria constitucional — mas, assim como “a língua é a alma de um povo”, uma língua que não é ensinada ao povo pelo professor, mas é por ele escutada dos lábios do próprio povo, assim também ocorre com o espírito político que anima um povo.
Inconscientemente e imperceptivelmente, um povo, como um todo, molda esse espírito ao redor de seu lar e de sua lareira, e somente depois de a vida doméstica ter produzido o resultado desse mundo de pensamento é que começa a tarefa do especialista de traduzir em formas jurídicas o que amadureceu no seio da nação.
Nós também, portanto, exigimos o sufrágio nacional, o sufrágio “universal”, mas então estabelecido sobre o único fundamento em que pode tornar-se verdadeiramente universal, a saber, atribuindo-o a todos os chefes de família, sem restrições.
Fonte: Abraham Kuyper, Our Program: A Christian Political Manifesto, org. Jordan J. Ballor, Melvin Flikkema, e Harry Van Dyke, trad. Harry Van Dyke, Abraham Kuyper Collected Works in Public Theology (Bellingham, WA: Lexham Press; Acton Institute for the Study of Religion and Liberty, 2015), 175–176.
Tradução: João Batista de Araújo