
Não sei vocês, mas com esse boom de inteligência artificial e novas tecnologias, ando reflexiva demais sobre o futuro da humanidade. E acabei nostálgica lembrando de Wall-E.
Os leitores assíduos do Brasil Presbiteriano talvez se recordem que ele já apareceu por aqui anos atrás, mas aquilo que é bom precisa ser revisto.
Quando lançado (2008), o filme não me deixou empolgada, talvez pela sua temática profunda demais para uma garota de 12 anos, mas hoje em dia eu sou uma grande admiradora da animação da Pixar.
Wall-E nos apresenta um planeta Terra devastado pelo consumismo desenfreado e pela negligência ambiental – cenário bem atual, né? Nele, a humanidade, incapaz de lidar com os próprios resíduos, abandona a Terra e se refugia no espaço. No entanto, o pequeno robô Wall-E continua sua tarefa solitária de compactar lixo, enquanto desenvolve curiosidade e apreço pelas coisas belas, como música e objetos antigos.
Segundo nossa teologia, uma ideia de um mundo ordenado e belo reflete o mandato cultural dado por Deus em Gênesis 1.28, em que o homem é chamado a governar e cuidar da criação. O problema central do filme, no entanto, não é apenas a destruição ambiental, mas a má administração da criação devido ao pecado humano.
O pecado afeta não apenas a relação do homem com Deus, mas também com o próximo e com a criação. Em Wall-E, isso se reflete na humanidade completamente alienada e dependente da tecnologia, vivendo no espaço em um estado de complacência e consumismo passivo. Os seres humanos perderam sua autonomia, saúde e até mesmo o senso de comunidade, sendo movidos pelo entretenimento e conforto.
Essa condição lembra as advertências bíblicas contra a idolatria e o afastamento de Deus. Em Wall-E, a tecnologia, que deveria servir ao homem, tornou-se sua prisão, revelando um mundo que se esqueceu de sua identidade e propósito.
A chegada de Eve, um robô avançado enviado para encontrar sinais de vida na Terra, inicia um processo de restauração. Wall-E, com sua afeição ingênua e persistente, representa uma espécie de agente da graça comum, despertando em Eve e nos humanos a consciência de que ainda há esperança.
Quando os humanos finalmente percebem a necessidade de retornar à Terra e restaurá-la, há um eco da promessa de redenção encontrada nas Escrituras.
Wall-E nos lembra que somos mordomos da criação de Deus e devemos viver com responsabilidade, buscando restaurar o que foi danificado pelo pecado. O filme também nos desafia a considerar como a tecnologia pode nos afastar da verdadeira comunhão e identidade, e como a graça – mesmo vinda de modos inesperados – pode nos despertar para um propósito maior.
E com essa visão, hoje, aos 28 anos, enxergo o filme “infantil” não apenas como uma crítica ecológica, mas como uma ilustração poderosa da jornada bíblica da Criação à Redenção, que culmina na esperança da restauração de todas as coisas em Cristo.
Ah! Importante reforçar que essa talvez (e muito provavelmente) não seja a intenção do criador do filme. Mas é impossível não olhar para essa criação sem buscar sinais daquele que é o grande Criador e dono do meu coração.
The post Wall-E: uma reflexão sobre criação, queda e redenção appeared first on Blog da Editora Cultura Cristã.