A espantosa história de Sabatai, o Messias
[Andrei Cornea]
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Prefácio à edição brasileira
A trama do livro se passa em dois períodos distintos e amiúde contrapostos: a troca de populações entre a Grécia e a Turquia, pelo tratado de 1924 — que determinava fossem deportados para a Grécia gregos islamitas que já estavam fazia gerações na Turquia e não falavam grego, em troca de turcos cristãos ortodoxos, que também já estavam fazia gerações na Grécia, e não falavam turco, serem deportados para a Turquia.
No meio dessa situação confusa surgem duas personagens, um médico, religioso, e seu amigo de longa data, um advogado, voltairiano.
Entre as desgraças que se narram no livro está a da seita dos sabataianos, à qual pertence o médico, os quais são seguidores de Sabatai, que, no século XVII foi aclamado na Turquia como o Messias, e após várias conversões, foi preso pelo governo islamita que condicionou a vida dele e a de seus seguidores à conversão dele ao islamismo. Então, sob a capa do Islã, os sabataianos, desde então, empregam práticas judaicas mescladas com islâmicas, sendo mal vistos tanto por uma quanto por outra comunidade.
Daí em diante o autor conta a história do surgimento de Sabatai, misturando-a, de vez em quando, com o conflito que vive o filho do advogado, apaixonado por uma mulher casada, agente da KGB, e fascinado pelo comunismo.
O livro em momento algum perde o ritmo, contendo várias intervenções do Autor, ora para esclarecer algo, ora para fazer um comentário. Não bastasse a história das quatro personagens principais, há ainda uma série de informações culturais e históricas que são passadas de maneira natural, no curso da trama.
O final, realmente espantoso, é seguido de um posfácio em que o autor diz o que foi inventado e o que era verdadeiro na história, levando muitas vezes o leitor ao espanto, pois às vezes o que parecia criação era real, e o que parecia real era criação.
Tomei contato com esse romance por intermédio de uma mensagem eletrônica, que recebi do próprio autor, em 11 de setembro de 2015, na qual ele, sabendo de outras traduções que eu fizera para o português de autores romenos, indagava se eu teria interesse em conhecer o livro, e, caso eu dele gostasse, em traduzi-lo para o português.
Pouco mais de um mês se passou e, tendo recebido o livro, li-o de uma assentada, pois é cativante a maneira como, interligando as peripécias de personagens afastadas por 4 séculos, o livro mantém desperta a atenção do leitor para o que se sucederá com cada uma delas, conseguindo o autor a proeza de, em momento algum, perder o fôlego narrativo.
Na troca de correspondência eletrônica que se estendeu por mais de um ano (até o final de 2016), pude obter esclarecimentos do autor acerca do livro e do que nele se contém, sendo o primeiro o próprio título: Mesia, em romeno, pode significar tanto “Messias”, empregado apenas como nome próprio de família, ou como “O Messias”, no sentido próprio de ungido por Deus. O autor esclareceu-me que intencionalmente mantivera essa ambiguidade no título do livro, mas, que, como eu bem observara, em português, eu teria de rompê-la, afirmando que a solução que encontrei era a melhor: Sabatai, o Messias.
Passado um tempo, a meio da tradução, o autor escreveu-me dizendo que, embora tivesse um português rudimentar, estava curioso de ver como soava em português o seu romance, tendo-lhe eu então prontamente enviado algumas dezenas de páginas que ele leu, fazendo pequenas observações quanto à manutenção de certos nomes no original hebraico, concluindo, por fim, que eu dera bem o tom geral e o ritmo do texto romeno, o que lhe parecia essencial.
Outro passo interessantíssimo de nossa troca de correspondência eletrônica foi o em relação à romança Meliselda, a filha do rei, traduzida com muita propriedade em romeno pelo autor, mas escrita originalmente em ladino. Enviando-me ele os dados do livro Romanceros Sefardi, de Moshe Attias, Jerusalem, 1961 (2.ª edição), tratei imediatamente de encomendá-lo pela internet, traduzindo-o para o português e pedindo, como sempre, a caridade dos bons serviços poéticos de meu amigo, o poeta Silvério Duque, que a transcriou magistralmente, como se pode ver da leitura que de tal romança fez meu amigo Roberto Mallet.[1] Adquiri também o livro de Gershom Scholem acerca de Sabatai.
Passados dois anos, muito embora eu já tivesse terminado a tradução, a situação financeira do Brasil impediu que duas editoras, que então se haviam interessado pelo livro, o publicassem.
Em novembro de 2023, novamente o autor voltou a entrar em contato comigo, lamentando que a minha “maravilhosa” tradução de seu romance acerca de Sabatai Zevi não tivesse sido publicada, o que me fez recorrer de novo ao editor Felipe Sabino, homem de visão cultural ampla e que se vem revelando um dos maiores amigos da cultura romena nos últimos anos, tendo já comprado e publicado algumas das muitas traduções que fiz.
De imediato Felipe Sabino se dispôs a publicar o livro pela editora Monergismo, assinando contrato com o autor e aguardando que eu preparasse o material suplementar (este pequeno prefácio e as legendas para uma das entrevistas do autor, em 2015).
Passados quase nove anos meio deste primeiro contato de Andrei Cornea comigo:
Prezado senhor Elpídio Mário Dantas Fonseca
Há alguns meses foi lançado pela editora Humanitas um romance histórico, A espantosa história de Sabatai Zevi, o célebre “falso” Messias do século XVII, convertido ao Islã. O livro parece gozar de algum sucesso de público e de crítica. Perguntei-me se ele poderia interessar a um público falante de português, mas a essa pergunta o senhor está em melhores condições de responder, certamente, não antes de ler o livro. Por isso, em caso de o senhor ter a curiosidade de lê-lo, eu teria o prazer de enviá-lo se o senhor mandar seu endereço. A pedido, a editora Humanitas lhe enviará todo o material de imprensa do livro.
Com os melhor pensamentos,
Andrei Cornea, 11 de setembro de 2015.
Eis que os leitores de língua portuguesa poderão enfim ter a oportunidade de ler uma das mais espantosas histórias que já ocorreram em anos de milenarismo.
O romance, lançado em julho de 2015, está entre os mais vendidos na Romênia, e é a primeira obra ficcional de Andrei Cornea, que é professor de filosofia na Universidade de Bucareste, tradutor de Platão e Plotino, além de historiador.
Boa leitura!
São Paulo, na Segunda-Feira de Páscoa do Ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2024.
Elpídio Mário Dantas Fonseca