Cultivar a paciência

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Nota do editor: Este é o décimo primeiro de 14 capítulos da série da revista Tabletalk: Instruções para viver no reino: o Sermão do Monte.

No final dos anos oitenta, o ketchup Heinz lançou uma campanha publicitária com o slogan “as melhores coisas acontecem para aqueles que aguardam com paciência”. Quantas empresas hoje tentariam comercializar seus produtos incentivando as pessoas a terem paciência? A última coisa que queremos fazer é esperar. Queremos o que queremos e queremos sem demora. As ocasiões em que manifestamos impaciência são várias. Se tivermos acesso apenas à internet discada, podemos esperar que um site carregue, embora não gostemos disso, porém depois de ter desfrutado do privilégio de provedores de serviços de internet DSL, a cabo ou fibra óptica, ficamos cada vez mais frustrados se clicamos em um link e a página não aparece na tela de imediato. Quando o sinal abre e o motorista da nossa frente está olhando para o celular; quando um funcionário de uma loja ou um agente de atendimento ao cliente parece incompetente ou lento; quando nossos filhos interrompem nossos planos de uma noite tranquila; quando alguém não responde às nossas mensagens ou e-mails em tempo hábil, em todos esses casos e em muitos outros, seja em relação às pessoas, às circunstâncias ou, em última análise, a Deus, desabafamos nossa impaciência tanto interna quanto externamente.

Contudo, o Senhor ordena que Seu povo exiba o fruto da paciência do Espírito (Gl 5:22; 1 Ts 5:14; Tg 5:7-8). É para moldar nossos relacionamentos com outras pessoas (1 Co 13:4; Ef 4:2; Co 3:12), nosso sofrimento (2 Co 1:6; Cl 1:11; Tg 5:10; 1 Pe 2:20) e nossos ministérios para com os perdidos e os achados (2 Co 6:6; 2 Tm 2:24; 3:10; 4:2). Então, como cultivamos essa virtude tão difícil?

  1. Como a natureza da impaciência é, em grande parte, a pressa, cultivamos a paciência observando as áreas da vida nas quais somos propensos a querer que as coisas aconteçam com rapidez, até mesmo de forma imediata. Satanás nos tentará onde estamos menos protegidos, portanto, ao identificar as ocasiões de tentação, seremos capazes de resistir ao pecado com maior atenção. A exortação de Salomão à vigilância sobre nossos desejos é fundamental para nos tornarmos pessoas mais pacientes: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4:23).
  1. Ao contrário da sabedoria convencional que de maneira imprudente nos alerta a não orar por paciência, cultivamos a paciência implorando com fervor ao Senhor por ela. Depois de ter buscado a graça do Senhor, não precisamos evitar as situações difíceis que a exigem. Isso pode parecer contradizer o primeiro ponto, porém se estivermos alertas, então, em espírito de oração e cuidado, teremos oportunidades de estar em situações complicadas perto de pessoas difíceis, pelo poder do Espírito Santo, para exercitar o músculo da paciência.
  1. A paciência, como tantas outras virtudes, cresce melhor no inverno. “Através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (At 14:22), e assim aprendemos a esperar com paciência, suportar o sofrimento com os olhos fixos na esperança que teremos quando Cristo retornar, e crer que “os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Ro 8:18). Nesta vida, gememos em nosso íntimo e suportamos angústias até que, junto com a criação, entramos na liberdade da glória que Deus reservou para Seus filhos (Rm 8:19-23).
  1. Uma maneira pela qual o Espírito nos capacita a abandonar o pecado e a nos revestir da justiça é nos fazendo ver quão pecaminoso é o pecado (ver Rm 7:13). Portanto, cultivamos a paciência ao perceber a pecaminosidade da impaciência e, com temor santo, nos lembramos com frequência não apenas de que a impaciência é em si pecado, mas também que conduz a mais pecados. A impaciência levou Saul a desobedecer a Deus, ao oferecer o holocausto que o sacerdote Samuel deveria oferecer (1 Sm 13:8-15). A impaciência levou os israelitas a murmurar contra Deus e a imputar o mal a Ele e ao Seu servo (Nm 21:4-5). A impaciência provoca ansiedade, preocupação, e a questionar se o tempo providencial de Deus é o melhor.

No fundo, toda impaciência é impaciência com Deus, Sua vontade, Sua sabedoria, Seu plano e Seus caminhos. Quando a agenda de Deus não é a nossa, reagimos com nossos corações egoístas, vontades rebeldes e com palavras furiosas. A trajetória de impaciência que nos afasta de Deus e de Seus mandamentos nos mostra o quanto é importante nos revestirmos de paciência.

  1. Cultivamos a paciência ao relembrar todas as vezes em que fizemos exatamente as coisas que nos deixavam frustrados e impacientes com os outros. Já ficamos olhando para o celular quando o sinal fica verde. Já fomos incompetentes e lentos. Já interrompemos os planos de alguém. Já demoramos a responder um e-mail. Quantas vezes os outros foram pacientes conosco? Visto que fomos favorecidos com paciência, devemos ter graça e compaixão pelos outros.
  1. Mais do que qualquer outra pessoa que nos mostrou paciência, Deus o fez. Sua bondade, tolerância e paciência para conosco foram criadas para nos levar ao arrependimento (Rm 2:4). Seu perdão paciente e amor em Jesus Cristo têm o objetivo de nos levar ao perdão paciente e ao amor (Mt 18:21-35; Lc 7:36–50; Ef 4:32-5:2). Sua graça eletiva deve encher nossos corações com compaixão, bondade, humildade, gentileza e paciência (Cl 3:12).

À medida que buscamos a paciência, falharemos várias vezes. Contudo, seguros no conhecimento de que nossa impaciência já foi perdoada em Jesus Cristo e que estamos vestidos com a justiça de Deus pela fé em nosso Salvador, esqueçamos com coragem o que ficou para trás e avancemos para o que está à nossa frente em nossa jornada para a perfeita paciência que será nossa na glória (Fp 3:8-14).


Este artigo foi publicado originalmente na TableTalk Magazine.