Marie Dentière c. 1495–1561

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Nascida em 1495 em uma família nobre em Tournai, França, Marie Dentière foi bem educada, entrou em um convento agostiniano (a mesma ordem de Lutero) e provavelmente serviu como prioresa no início da década de 1520. Cativada pela teologia inovadora de Martinho Lutero, Marie deixou o convento em 1525 e mudou-se para Estrasburgo para se juntar oficialmente ao movimento da Reforma. Nesse mesmo ano, ela fez um segundo movimento radical quando se casou com um ex-padre, Simon Robert.

Renunciar ao celibato clerical e exaltar as alegrias do casamento das Escrituras tornaram-se temas fortes no ministério de Marie, especialmente em suas controversas tentativas de converter freiras em Genebra. Um reformador escreve que Marie e Simon Robert “foram o primeiro casal francês a aceitar uma designação pastoral para a Igreja Reformada”. O casal teve cinco filhos, mas Robert morreu em 1533. Em 1535, Marie se casou com Antoine Froment, outro pastor reformado, e a família mudou-se para Genebra.

A vida em Genebra

A maior parte do que sabemos sobre Dentière, que não é muito, é obtida a partir de três documentos atribuídos a ela. A primeira das obras escritas relata os eventos de 1532-1536 em Genebra do ponto de vista dos reformadores. Dentière pode ter sido a primeira escritora protestante a dar um relato de testemunha ocular daquela época tumultuada, e ela foi uma das primeiras mulheres, se não a primeira, a articular e defender a teologia reformada em francês.

Mas muito mais do que uma historiadora, Marie Dentière era uma evangelista articulada (embora inflamatória). Ela amava e reverenciava a Bíblia, estava angustiada porque a Igreja Católica havia retido tanto dela do povo e pregava que todas as pessoas, incluindo as mulheres, deveriam ser capazes de ler as preciosas e gloriosas palavras de Deus por si mesmas.

Uma professora reformada?

A obra mais famosa e controversa de Dentière foi uma carta à rainha de Navarra, intitulada “Uma carta muito benéfica”. A carta é uma defesa bíblica robusta da teologia reformada e um ataque apaixonado contra a Igreja Católica.

É um trabalho enérgico e envolvente que demonstra extraordinário conhecimento bíblico e compreensão teológica. A agitação pública que isso causou resultou na prisão de quem imprimiu as cópias da obra e na destruição da maioria das cópias impressas. Não apenas sua carta condenou o catolicismo romano, e não apenas sua carta foi escrita por uma mulher, mas Dentière também defendeu o direito igual das mulheres de serem teólogas e professoras. Ela escreve,

Pois o que Deus vos deu e revelou a nós, mulheres, não devemos escondê-lo e sepultá-lo na terra. E mesmo que não tenhamos permissão para pregar em congregações públicas e igrejas, não estamos proibidas de escrever e admoestar uns aos outros com toda a caridade. (Epistle to Marguerite de Navarre (Epístola à Margarida de Navarra), 53)

Calvino e Marie

Embora Marie apoiasse e defendesse fortemente os líderes reformados, incluindo João Calvino, Calvino estava claramente irritado, pelo menos durante os primeiros anos de seu ministério, por sua maneira franca, ambições teológicas e críticas abertas à liderança clerical masculina.

No entanto, em 1561, ano em que Marie morreu, a tensão entre os dois diminuiu e o respeito e apreço de Calvino por Marie cresceram manifestamente. Ele até pediu que ela escrevesse o prefácio de seu sermão impresso sobre a modéstia feminina em 1 Timóteo 2.8–12. Ironicamente, talvez se pudesse argumentar que Calvino lhe pediu para ensinar sobre uma passagem bíblica que expressamente a proibia de fazê-lo.

Uma mulher na parede

Para Marie Dentière, a notícia surpreendente da graça salvadora e a poderosa mensagem de igualdade diante de Deus eram verdades que haviam sido suprimidas pela Igreja Católica e precisavam ser gritadas dos telhados por qualquer um que as tivesse visto por si mesmas na Palavra de Deus.

Não há dúvida de que ela carecia do que, na época, era considerado a modéstia e humildade femininas apropriadas, mas como sua paixão foi incendiada pelas páginas das Escrituras, seus escritos tocaram e transformaram corações não apenas em sua própria época, mas também na nossa, hoje. Em 2002, Marie Dentière tornou-se a única mulher a ter seu nome gravado no famoso Muro dos Reformadores em Genebra.

 

Para saber mais sobre Marie Dentière:

Epistle to Marguerite de Navarre and Preface to a Sermon by John Calvin editado por Mary B. McKinley

Women and the Reformation por Kirsi Stjerna

 

Publicado originalmente em DesiringGod.org e traduzido e distribuído em Português em parceria com o Ministério Fiel e Voltemos ao Evangelho.
Produção de audio por DBVoz Studios (voz de Duda Baguera). Revisão e edição por Vinicius Lima.