No segundo domingo de dezembro e no dia 17, comemoramos respectivamente o Dia da Bíblia e o Dia do Pastor Presbiteriano. Este dia está associado à Ordenação ao Sagrado Ministério do primeiro pastor brasileiro, o presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição (1822-1873) em 17 de dezembro de 1865.[1]
A proximidade dessas comemorações é bastante representativa. O ministério pastoral está inextrincavelmente associado em todo o seu âmbito à Escritura. Reflitamos um pouco sobre isso
Biblicamente, a Palavra de Deus é a semente por meio da qual Deus gera espiritualmente novas criaturas, constituído, assim, a sua igreja. (1Pe 1.23[2]/Tg 1.18[3]). Desse modo, podemos pensar em Seminário como a Instituição de ensino que semeia a Palavra, formando pastores para que, nutridos pela Palavra, alimentem as suas ovelhas com a semente do Evangelho. Aliás, pastor no Novo Testamento, poimh/n, é aquele que alimenta, apascenta, conduz e protege (poimai/nw)[4] o rebanho (poi/mnh) e (poi/mnion).
Tratando de modo mais específico do ofício de pastor, Paulo fala aos presbíteros de Éfeso: “Atendei por vós e por todo o rebanho (poi/mnion) sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes (poimai/nw) a igreja de Deus, a qual Ele comprou com o seu próprio sangue” (At 20.28).
A Igreja é de Deus. O Sumo Pastor; o modelo perfeito, é Jesus Cristo. Percebam a nossa responsabilidade. Enquanto escrevo esse parágrafo, sinto-me duplamente pequeno. Primeiro por ser pastor. Segundo, por ter a responsabilidade de “formar” pastores. Certamente Deus tem sido misericordioso para que meus pecados e limitações não sejam perpetuados em meus alunos e em seu ministério e, ao mesmo tempo, tem me corrigido…. vagarosamente, mas, tem corrigido.
O emprego da figura do pastor
Na Antiguidade o nome pastor é empregado de forma literal e figurada. White explica de forma simples: “Uma vez que, desde tempos remotos, a ocupação comum na Palestina era o pastoreio, o termo é fundamental para a descrição das pessoas do campo em todos os períodos da história”.[5]
Essa figura quando empregada para governantes, indica, por analogia, a sua responsabilidade de cuidado, proteção, paciência e honestidade para com o seu “rebanho”.[6] “O pastor devia cuidar incansavelmente dos animais indefesos. A devoção ao dever era posta à prova ao montar-se guarda sobre o rebanho, noite após noite, contra as feras e os salteadores. Neste aspecto, os pastores mercenários frequentemente decepcionavam os seus empregadores”, comenta Beyreuther (1904-2003).[7]
De fato, esta metáfora é bastante usada para juízes, sacerdotes, chefes do povo, príncipes e reis no Antigo Testamento, por vezes indicando a sua infidelidade (2Sm 5.2; 7.7; 1Cr 11.2; 2Cr 18.16; Jr 2.8; 3.15; 10.21; 22.2; 23.1-4; 25.32-38; Ez 34.1-9; Zc 10.3; 11.5,15-17; 13.7).
Nesses casos, entre os pagãos, a figura era associada às divindades e a governante. No caso, como aquele que deveria cuidar, guiar e proteger os que estão sob o seu comando. Tal utilização não se restringia à Palestina; antes, era comum, por exemplo, entre os babilônios, assírios, egípcios e gregos.[8]
Conforme atesta Homero, esse é um emprego comum também entre os gregos, que por vezes se referem aos líderes como “pastor do povo”.[9]
Em passagem extremamente curiosa, Deus se refere ao rei pagão, Ciro, que iria ser agente no cumprimento de sua vontade, como pastor: “Ele é meu pastor e cumprirá tudo o que me apraz; que digo também de Jerusalém: Será edificada; e do templo: Será fundado” (Is 44.28).
A figura do pastor aplicada a Deus
Ainda que talvez não tenhamos dado a devida atenção, no Antigo Testamento a figura de Deus como pastor não é exclusividade do Salmo 23.1.
Jacó na velhice, dias antes de morrer, recapitula o cuidado e a provisão de Deus:[10] “E abençoou a José, dizendo: O Deus em cuja presença andaram meus pais Abraão e Isaque, o Deus que me sustentou (h[‘r’) (ra’ah) (pastoreou) durante a minha vida até este dia” (Gn 48.15/Gn 49.24).
O salmista Asafe o faz da mesma forma em sua súplica: “Dá ouvidos, ó pastor (h[‘r’) (ra’ah) de Israel, tu que conduzes a José como um rebanho; tu que estás entronizado acima dos querubins, mostra o teu esplendor” (Sl 80.1).
O Senhor apascenta seu povo (Sl 28.9). Israel é o rebanho do Senhor. O Senhor como Pastor vai à frente do seu rebanho guiando, protegendo e alimentando (Sl 23; 68.7).[11]
O profeta Isaías, bem antes do cativeiro de Judá, considera que Deus como pastor e senhor apascenta o seu rebanho, cuidando carinhosamente dele. Escreve então consolando o povo que seria tirado de sua terra: “Como pastor (h[‘r’) (ra’ah), apascentará (h[‘r’) (ra’ah) o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos e os levará no seio; as que amamentam ele guiará mansamente” (Is 40.11).
Posteriormente Jeremias e Ezequiel escrevem demonstrando que Deus como pastor busca suas ovelhas e ajunta o rebanho:
Ouvi a palavra do SENHOR, ó nações, e anunciai nas terras longínquas do mar, e dizei: Aquele que espalhou a Israel o congregará e o guardará, como o pastor (h[‘r’) (ra’ah), ao seu rebanho. (Jr 31.10).
Como o pastor (h[‘r’) (ra’ah) busca o seu rebanho, no dia em que encontra ovelhas dispersas, assim buscarei as minhas ovelhas; livrá-las-ei de todos os lugares para onde foram espalhadas no dia de nuvens e de escuridão. (Ez 34.12/Is 56.8; Zc 10.8).
A figura do pastor assume um status messiânico, apontando para aquele que viria como o Pastor, o “Davi Ideal”, da semente de Davi, que cuidaria definitivamente de seu povo:[12]
21 Visto que, com o lado e com o ombro, dais empurrões e, com os chifres, impelis as fracas até as espalhardes fora, 22 eu livrarei as minhas ovelhas, para que já não sirvam de rapina, e julgarei entre ovelhas e ovelhas. 23 Suscitarei para elas um só pastor, e ele as apascentará; o meu servo Davi é que as apascentará; ele lhes servirá de pastor. 24 Eu, o SENHOR, lhes serei por Deus, e o meu servo Davi será príncipe no meio delas; eu, o SENHOR, o disse. (Ez 34.21-24).
22 Farei deles uma só nação na terra, nos montes de Israel, e um só rei será rei de todos eles. Nunca mais serão duas nações; nunca mais para o futuro se dividirão em dois reinos. 23 Nunca mais se contaminarão com os seus ídolos, nem com as suas abominações, nem com qualquer das suas transgressões; livrá-los-ei de todas as suas apostasias em que pecaram e os purificarei. Assim, eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus. 24 O meu servo Davi reinará sobre eles; todos eles terão um só pastor, andarão nos meus juízos, guardarão os meus estatutos e os observarão. 25 Habitarão na terra que dei a meu servo Jacó, na qual vossos pais habitaram; habitarão nela, eles e seus filhos e os filhos de seus filhos, para sempre; e Davi, meu servo, será seu príncipe eternamente. (Ez 37.22-25).
No Novo Testamento Jesus Cristo encarna perfeitamente a figura do pastor, aplicando a si mesmo o texto de Zc 13.7:[13] “Então, Jesus lhes disse: Esta noite, todos vós vos escandalizareis comigo; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas” (Mt 26.31/Mc 14.27/Jo 10.11).
A igreja, desde bem cedo, reconheceu a Jesus como o seu Supremo e Bom Pastor que conduz as suas ovelhas em segurança (Sl 23.1; 28.9; 78.71-72; 80.1/Hb 13.20; 1Pe 2.25; 5.4),[14] inclusive, vocacionando e preparando seus pastores auxiliares para que cuidem do seu rebanho: A “Igreja de Deus” (At 20.28).[15]
Van Dam, exulta:
É maravilhoso ver que Deus usa essa imagem compassiva e positiva do pastor para descrever suas expectativas básicas para vários ofícios de liderança, incluindo o de presbítero. A mensagem é clara. O presbítero, ou ancião, juntamente com outros ofícios de liderança, como o rei, o profeta e o sacerdote, deveriam refletir características do supremo Pastor que é o Senhor.[16]
A poderosa Palavra de Deus
O apóstolo Paulo, diante dos presbíteros de Éfeso, quando se despede em caráter definitivo, traz à lembrança de seus ouvintes um dos aspectos fundamentais de seu ministério: “Jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus” (At 20.27). Esse foi o seu ministério durante os três anos nos quais ali passou. (At 20.27,31).
Tendo aprendido com o Cristo, Paulo não se deteve em sabedoria humana, em debates frívolos ou em exibicionismo de saber, antes, anunciou o Evangelho da graça de Deus (At 20.24).[17]
Ele prevê as dificuldades que viriam, surgidas muitas delas dentro da própria Igreja,[18] até mesmo, é possível, da parte de presbíteros (At 20.29-30).[19] No entanto, ele não estabelece nenhum método extravagante, antes os orienta a ficarem atentos – contínua e perseverantemente[20] – e os encomenda à Palavra (At 20.31-32).[21] Demonstra também a necessidade de autovigilância (At 20.28).
Stott (1921-2011) comenta:
Notamos que os pastores efésios devem primeiro vigiar a si mesmos, e só depois ao rebanho que lhes foi confiado pelo Espírito Santo. Pois eles não podem dar um cuidado adequado aos outros se negligenciarem o cuidado e a instrução de suas próprias almas.[22]
A Palavra de Deus é um antídoto contra os lobos vorazes que desejam se apossar do rebanho e contra os homens pervertidos que procuram corromper o povo de Deus.
A Palavra é poderosa para nos edificar e santificar. Por isso, caberia àqueles presbíteros, pregar a Palavra, assim como Paulo o fizera. “A Igreja e o evangelho são inseparáveis. (…) A Igreja é tanto o fruto como o agente do evangelho, visto que por meio do evangelho a igreja se desenvolve e por meio desta se propaga aquele”, comentam Stott (1921-2011) e Meeking (1929-2020).[23]
Em outro lugar, o apóstolo diz: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, (didaskali/a = “instrução”) para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2Tm 3.16). Entre outras coisas, isto significa que o nosso pensar teológico deverá estar sempre conectado com a fidelidade à Escritura e com o ensino da Palavra. Este aspecto realça a nossa responsabilidade como intérpretes, discípulos, mestres e expositores da Palavra.
O alto conceito a respeito de nós mesmos e de nossos pensamentos tendem a corromper totalmente a nossa compreensão da Escritura e, consequentemente, de toda a realidade. É preciso que reconheçamos Deus como Deus a partir da plenitude de sua revelação. A sua revelação é para ser recebida com uma fé inteligente e uma inteligência submissa à Palavra. Isso é graça abundante.
Trabalho e modéstia
Entre tantos princípios valiosos com os quais Paulo instrui os presbíteros de Éfeso, destaco um depoimento que pode nos servir de padrão: “33De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes; 34 vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para o que me era necessário a mim e aos que estavam comigo” (At 20.33-34).
O trabalhador é digno de seu salário. A igreja deve manter seu pastor condignamente, sem constrangê-lo. Paulo sabia e ensinava isso. Contudo, conforme a igreja vai enriquecendo, o princípio da modéstia tende a ir sendo esquecido.
Por isso, devemos destacar com o apóstolo, que o pastor deve evitar ser pesado à igreja devido aos seus gastos desnecessários, muitas vezes porque deseja ostentar um padrão superior ou seguir o padrão de determinados irmãos que tem uma situação econômica mais elevada.
O princípio da modéstia e o da moderação devem reger a vida do pastor. A igreja por sua vez, tendo condições, deve suprir de forma satisfatória as necessidades de seu pastor.
Comentando Fp 2.21, escreve:
Pode estar em seu poder viver em outro lugar com maior opulência; Deus, porém, o ligou à Igreja, a qual lhe propicia apenas um bem moderado sustento; é possível que em outro lugar você tenha mais honra; Deus, porém, lhe destinou uma situação na qual você viverá num estilo humilde; talvez em outro lugar você desfrute de um céu azul, ou de uma região mais agradável; mas é aqui seu lugar designado. É possível que você desejasse conviver com pessoas mais humanas; é possível que se sinta ofendido com sua ingratidão, ou com seu barbarismo, ou orgulho; em suma, pode ser que não simpatize com a disposição ou as maneiras da nação onde se encontra, porém deve relutar consigo mesmo e de certa maneira reprimir as inclinações opostas, para que você mantenha a tarefa que recebeu; porquanto você não é livre, nem se acha à sua própria disposição. Enfim, esqueça a si próprio, caso queira servir a Deus.[24]
Aos pastores e aos crentes em geral, Calvino apresenta uma recomendação:
Os ministros devem viver contentes com uma mesa frugal, e devem evitar o perigo do regalo e do fausto.[25] Portanto, até onde suas necessidades o requeiram, que os crentes considerem toda a sua propriedade como à disposição dos piedosos e santos mestres.[26]
A Reforma e a pregação
Compete ao ministro do Evangelho, pregar a Palavra. Essa vocação não muda de foco. A pregação é a nossa missão.
A Reforma não inventou a pregação, contudo, a colocou no centro do culto e, esforçou-se por falar na língua nativa de suas congregações e, aos poucos, procurou preparar bem os futuros pregadores, crendo sempre na autoridade da Palavra e na total dependência do Espírito Santo.[27]
Quando um jovem pregador que, desanimado reclamava que não conseguia fazer sermões mais longos, achava que teria sido melhor seguir sua antiga profissão, Lutero aconselhou:
Tenha em vista apenas a honra de Deus e não os aplausos. Ore para que Deus lhe dê boca [para falar] e ouvidos à sua audiência. Posso lhe dizer que pregar não é obra de homens. Embora eu já seja velho [ele estava com 48 anos de idade] e experiente, sinto medo toda as vezes que preciso pregar. (…) Por isso, ore a Deus e deixe todo o resto em suas mãos.[28]
Algo que chama a atenção na teologia de Calvino, expressa em sua ampla e profícua obra composta por sermões, cartas, comentários, tratados e nas Institutas, é o apego dele às Escrituras. Ele amava a Bíblia. As Escrituras não constituíam para ele um livro qualquer, sem relevância, muito menos a colocava no mesmo nível de outras obras que ele mesmo apreciava. Não. A Escritura é um livro único e singular. Tem-se ali a Palavra de Deus para o homem em todas as épocas e para todas as suas necessidades.
Nas Escrituras, Calvino aprendeu sobre a soberania de Deus. Ele aprendeu que o Senhor é sobre todas as coisas. A Escritura é o cetro de Deus por meio do qual ele governa e rege a Igreja.[29] Surge, daí, a necessidade de se ler, meditar, ensinar e pregá-la de forma fiel, perseverante e sistemática.
É por meio da Palavra que se é instruído, corrigido e governado. Ela deve ser o manual de vida e culto do cristão. A piedade começa pela instrução que é fornecida por meio da Escritura. “A piedade está sempre fundamentada no conhecimento do verdadeiro Deus; e isso requer ensino”.[30]
A pregação é o meio estabelecido por Deus para conduzir o seu povo, portanto, a responsabilidade da igreja enquanto mensageira e ouvinte: “Devemos entender que Jesus Cristo deseja governar sua igreja mediante a pregação de sua Palavra, à qual nós devemos dar toda devida reverência”.[31]
Poucos ministros. Dos poucos, poucos dispostos
Já nos primeiros meses de sua estada em Genebra (1536), Calvino lamenta a existência de tão poucos ministros para cuidarem da igreja do Senhor. Na ocasião em que esteve em Lausanne em companhia de Pierre Viret (1511-1571) e Guilherme Farel (1489-1565), tendo participado do Debate de Lausanne, iniciado no dia 2 de outubro, escreve ao seu amigo Francis Daniel no dia 13 de outubro de 1536:
Se os ventres preguiçosos que estão com você, que gorjeiam juntos tão docemente à sombra, fossem tão dispostos quanto são faladores, correriam juntamente para cá para tomarem parte do labor para si mesmos, visto que há tão poucos de nós. Quase não dá para acreditar no número tão pequeno de ministros, comparado ao tão grande número de igrejas que carecem de pastores. Como desejo, ao ver a extrema necessidade da igreja, que, embora sejam poucos em número, houvesse ao menos entre vocês alguns homens de coração reto que pudessem ser induzidos a ajudar! Que o Senhor o guarde.[32]
Devido à gravidade da mensagem do Evangelho, e a nobreza da tarefa que temos, os pastores devem ensinar a Palavra com decoro: “Mantenhamos bem nitidamente conosco que, se os atores no palco observam o decoro, o mesmo não deve ser negligenciado pelos pastores em sua sublime posição”.[33]
Do mesmo modo, em total dependência do Espírito: “O Senhor não quer que exerçam [ministros] seu ofício com tibieza e langor, senão que avancem com todo vigor, confiando na eficácia do Espírito”.[34] Portanto, a fiel perseverança é fundamental ao ministro bem como ao cristão em geral, no testemunho da verdade, Cristo ressurreto:
Toda verdade proclamada referente a Cristo é completamente paradoxal pelo prisma do juízo humano. Entretanto, o nosso dever é prosseguir em nossa rota. Cristo não deve ser suprimido só porque para muitos ele não passa de pedra de ofensa e rocha de escândalo. Ao mesmo tempo que ele prova ser destruição para os ímpios, em contrapartida ele será sempre ressurreição para os fiéis.[35]
Se o Espírito não pode ser separado da Palavra, da mesma forma, a pregação também não: “O ‘Espírito’ está unido com a Palavra, porque sem a eficácia do Espírito, a pregação do Evangelho de nada adiantará, mas permanecerá estéril”.[36]
Em 1546, no segundo prefácio à tradução da Bíblia feita pelo primo dele Pierre Olivétan (1506-1538), escreveu:
[A Escritura] é o mais importante e precioso bem de que dispomos nesse mundo, uma vez que ela é a chave que nos abre o reino de Deus e nele nos introduz para que saibamos qual o Deus que devemos adorar e para quê Ele nos chama; (ela) é o caminho certo que nos conduz de tal modo que não vaguemos errantes, de lá para cá, durante todo o tempo de nossa vida; é a norma verdadeira para que possamos discernir entre o bem e o mal e nos exercitar no correto serviço de Deus, para que não ajamos irrefletidamente, indo atrás de mesquinharias de nenhum valor e, por vezes, buscar nossa devoção em coisas que Deus condena e reprova como sendo maléficas.[37]
Autoridade relativa de quem prega
Calvino acentuou a responsabilidade do ministro: Deus se dignou em consagrá-los a si mesmo “as bocas e línguas dos homens, para que neles faça ressoar sua própria voz”.[38] Assim sendo, os pastores não estão a seu próprio serviço, mas de Cristo. Eles não buscam discípulos para si mesmos, mas para Jesus Cristo.[39]
A esfera da autoridade do ministro é derivada da Palavra:
A primeira regra do ministro é não tentar fazer coisa alguma sem estar baseado nalgum mandamento.[40]
A Escritura é a fonte de toda a sabedoria, e os pastores terão de extrair dela tudo o que eles expõem diante do seu rebanho.[41]
Há uma regra prescrita para todos os servos de Deus: não tragam suas próprias invenções, mas simplesmente entreguem, como que de mão a mão, o que receberam de Deus.[42]
Porque, se acompanharmos a todos em ordem, não acharemos que foram dotados de qualquer autoridade de ensinar ou responder, a não ser no Nome e pela Palavra do Senhor. Ora, onde são chamados para o ofício, ao mesmo tempo se lhes ordena que algo não tragam de si próprios, antes falem pela boca do Senhor. Nem ele mesmo os põe diante do público, para que sejam ouvidos pelo povo, antes que lhes haja preceituado o que devam falar, para que nada falem senão sua Palavra.[43]
O segredo dessa fidelidade está nesse princípio: “Todos os verdadeiros pastores da Igreja devem ser discípulos, para que nada ensinem senão o que houver recebido”.[44] E mais. Eles devem crer no que ensinam:
Seria mera tagarelice, ou uma profanação da Palavra de Deus, caso alguém subisse a um púlpito para falar como um anjo; mas, simultaneamente, não estivesse movido no coração nem persuadido daquilo que diz. Ser-lhe-ia melhor ser afogado cem vezes do que dar o mais excelente testemunho da salvação e da verdade de Deus em todo lugar e, ao mesmo tempo, não estar convencido em si mesmo do que prega.[45]
Portanto, todo o ofício do ministro deve estar intimamente conectado com a Palavra:
Porque devemos ter como coisa resolvida que todo o ofício deles se limita à administração da Palavra de Deus, toda a sua sabedoria consiste somente no conhecimento dessa Palavra, e toda a sua eloquência ou oratória se restringe à pregação da mesma. Se se afastarem dessa norma, serão tolos em seus sentidos, gagos em seu falar, traiçoeiros e infiéis em seu ofício, sejam eles profetas, ou bispos, ou mestres, ou pessoas estabelecidas em dignidade mais alta.[46]
Os ministros são vocacionados por Deus não para pregarem suas opiniões, mas o Evangelho de Cristo. E mais, o Evangelho deve ser anunciado em sua inteireza, sem misturas, adições e cortes. Essas características distinguem essencialmente os ministros verdadeiros dos falsos mestres:
“A verdade do evangelho” deve ser considerada como sendo sua genuína pureza ou, o que vem a ser a mesma coisa, sua pura e sólida doutrina. Pois os falsos apóstolos não aboliam totalmente o evangelho, mas o adulteravam com suas noções pessoais, de modo que ele logo passava a ser falso e mascarado. Isso é sempre assim quando nos apartamos, mesmo em grau mínimo, da simplicidade de Cristo. Quão impudentes, pois, são os papistas ao se vangloriarem de que possuem o evangelho, pois ele não só é corrompido por uma infinidade de invenções, mas também é mais que adulterado por dogmas infindáveis e pervertidos.[47]
Mestre é aquele que aprende ensinando. Começa-se por pregar para si mesmos. Pregando sobre o livro de Jó, disse:
Quando eu subo ao púlpito não é para ensinar os outros somente. Eu não me retiro aparte, visto que eu devo ser um estudante, e a Palavra que procede da minha boca deve servir para mim assim como para você, ou ela será o pior para mim.[48]
Por meio dessa breve revisão de algumas de suas colocações, pode-se entender melhor a importância que Calvino atribui à pregação e à necessidade dela ser uma exposição fiel das Escrituras. A autoridade do ministro é determinada por sua fidelidade ao Espírito que nos deu a sua Palavra,
O conselho que o próprio Calvino emitiu no prefácio à edição francesa da Instituição (1541), permanece para todas as suas obras, também como princípio avaliador de qualquer labor humano: “Importa em tudo quanto exponho recorrer ao testemunho da Escritura, que aduzo para ajuizar da procedência e justeza do que afirmo”. Aqui Calvino revela o seu mais alto apreço pela Escritura. Ela procede de Deus, por isso, somente ela é infalível. Calvino cria nas reivindicações que as Escrituras fazem de si mesmas.
Consequentemente, a autoridade daquilo que ele dizia era relativa. A autoridade do teólogo é decorrente de sua seriedade para com a Palavra e interpretação fidedigna. Somente as Escrituras são absolutas.
Kruger capta bem o espírito dos Reformadores:
Os Reformadores (…) estavam bastante dispostos a confiar nos pais da igreja, nos conselhos da igreja e nos credos e confissões da igreja. Tal embasamento histórico foi encarado não apenas como um meio para manter a ortodoxia, mas também como um meio para manter a humildade. Ao contrário da percepção popular, os Reformadores não se viam como se estivessem trazendo algo novo. Em vez disso, eles entendiam que estavam recuperando algo muito antigo – algo que a igreja tinha acreditado inicialmente, mas que depois havia se torcido e distorcido. Os Reformadores não eram inovadores, mas escavadores.[49]
De forma decorrente, como temos insistido, a autoridade de quem prega, não é derivada do fato de ser pregador, mas de sua fidelidade na transmissão da Palavra. Portanto, não cabe à igreja nem ao ministro forjar nenhuma nova doutrina:
Todavia, entre os apóstolos e seus sucessores, como já disse, existe esta diferença: que aqueles foram infalíveis e autênticos amanuenses do Espírito Santo, e por isso seus escritos devem ser tidos como oráculos de Deus; os outros, porém, não têm outra função, senão que ensinem o que foi dado a conhecer e consignado nas Sagradas Escrituras. Concluímos, pois, não é permitido aos ministros fiéis que forjem algum dogma novo, mas simplesmente que se apeguem à doutrina à qual Deus a todos sujeitou, sem exceção. Ao afirmar tal coisa, meu intuito é mostrar não apenas o que se permite a cada indivíduo, mas também o que se permite a toda a Igreja. (…) Evidentemente, se a fé depende somente da Palavra de Deus, que somente para ela volvamos nossos olhos e nela reclinemos, que lugar fica para a palavra do mundo inteiro? Tampouco se poderá aqui hesitar, quem quer que conheça bem o que é a fé, pois importa que ela esteja sustentada por essa firmeza, mercê da qual subsista inquebrantada e destemida contra Satanás todas as maquinações dos infernos e o mundo todo. Esta firmeza só acharemos na Palavra de Deus. Além disso, é universal a razão que convém ter aqui em vista: que Deus por isso detrai aos homens a faculdade de proferir dogma novo, para que somente ele seja nosso Mestre na doutrina espiritual, como somente verdadeiro [Rm 3.4] é Aquele que não pode mentir, nem enganar. Esta razão diz respeito não menos a toda Igreja que a cada um dos fiéis.[50]
E para que os leitores entendam melhor em que repousa, acima de tudo, esta questão, exporei em poucas palavras que é que nossos adversários pretendem e em quê lhes resistimos. Sua afirmação de que a Igreja não pode errar, a interpretam nestes termos: quando ela é governada pelo Espírito de Deus, pode avançar com segurança sem a Palavra; para onde quer que avance, não pode sentir nem falar senão o que é verdadeiro; daí, se algo além ou fora da Palavra de Deus precisa ser preceituado, tem de ser considerado como se fosse oráculo direto de Deus. Nós admitimos que a Igreja não pode errar nas coisas necessárias para a salvação, porém deve ser entendido no sentido de que a Igreja, ao não fazer caso de toda sua sabedoria, se deixa ensinar pelo Espírito e pela Palavra de Deus. Esta, pois, é a diferença: esses colocam a autoridade da Igreja fora da Palavra de Deus; nós, porém, unimos ambas as coisas inseparavelmente. (…).
Agora é fácil concluir quão extraviados andam nossos adversários, os quais se gabam unicamente do Espírito Santo, para entronizar em seu nome doutrinas estranhas e muitíssimo contrárias à Palavra de Deus, quando o próprio Espírito quer ser associado à Palavra de Deus por um vínculo indivisível. E assim o afirma Cristo ao prometê-lo a sua Igreja, pois ele deseja que ela guarde a sobriedade que lhe tem recomendado, e lhe proibiu que acrescente ou tire qualquer coisa a sua Palavra [Dt 4.2; Ap 22.19, 20]. É este decreto inviolável de Deus e do Espírito Santo que nossos adversários tentam anular, quando imaginam que a Igreja é governada pelo Espírito Santo sem a Palavra.[51]
Entre tantos outros autores, Calvino também nos ensina sobre o mensageiro e a mensagem que ouvimos:
As únicas pessoas que têm o direito de ser ouvidas são aquelas a quem Deus enviou e que falam a palavra de sua boca. Portanto, para qualquer homem exercer autoridade, duas coisas são requeridas: o chamamento [divino] e o desempenho fiel do ofício por parte daquele que foi chamado.[52]
A Segunda Confissão Helvética (1566)[53] declara:
Cremos e confessamos que as Escrituras Canônicas dos santos profetas e apóstolos dos dois Testamentos são a verdadeira Palavra de Deus (…) Portanto, quando a Palavra de Deus é pregada atualmente na igreja por pregadores legitimamente vocacionados, nós cremos que a própria Palavra de Deus é anunciada e recebida pelos fiéis; e que nenhuma outra Palavra de Deus pode ser inventada, nem esperada que venha dos céus: e que hoje o que deve ser considerado é a própria Palavra anunciada e não o ministro que prega, pois, embora este seja mau e pecador, contudo a Palavra de Deus permanece boa e verdadeira. (I.1,4).[54]
A compreensão Reformada da autoridade bíblica, fundamenta-se na convicção de sua procedência conforme o próprio testemunho bíblico. A Escritura procede do único Deus da verdade. Por isso, ela não precisa de nosso testemunho para ser o que é. O nosso testemunho ilustra a graça de Deus que possibilita a nossa compreensão da Palavra, mas, nada lhe acrescenta. Por isso, ela é autoritativa porque Deus é o seu autor, quem lhe confere autoridade. A Palavra é autenticada por si mesma (au)to/piston). Ela é totalmente digna de crédito.[55]O Espírito de Deus é O intérprete e comunicador da Escritura. Portanto, compreender a Palavra é graça![56] Somente o Espírito pode de fato nos convencer da autoridade da Escritura.[57]
Como pastores, cabe a nós ensiná-la continuamente, com integridade e firmeza. A Palavra de Deus quando proclamada com integridade é o próprio Deus falando a nós e a nossos ouvintes de forma eficaz e poderosa.
Ser incumbido dessa responsabilidade é um grande privilégio. Que Deus que nos agraciou com sua vocação, nos continue dando graça no desempenho de nosso ministério. Amém.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
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[1] Atas do Presbitério do Rio de Janeiro, p. 4-5; B. Ribeiro, O Padre Protestante, 2. ed. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1979, p. 138-141.
[2] No texto de Pedro a palavra utilizada é spora/, termo que só ocorre aqui. É da mesma raiz de spe/irw, “semear”.
[3] No texto de Tiago a palavra é spe/irw. (Mt 6.26; 13.3,4,18,19,20,22,23,24,27,31,37,39; 1Co 9.11; 2 Co 9.6,10; Gl 6.7,8).
[4] * Mt 2.6; Lc 17.7; Jo 21.16; At 20.28; 1 Co 9.7; 1 Pe 5.2, Jd 12; Ap 2.27; 7.17; 12.5; 19.15.
[5] Willian White, Rã‘â: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1438.
[6] Cf. Louis Jonker, Rhl: In: Willem A. VanGemeren, org., Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 3, [p. 1132-1137], p. 1134-1135;
[7] E. Beyreuther, Pastor: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 3, [p. 469-474], p. 470.
[8] Cf. E. Beyreuther, Pastor: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 3, [p. 469-474], p. 469; J. Jeremias, poimh/n, etc.: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, 8. ed. Grand Rapids, Michigan: WM. B. Eerdmans Publishing Co., (reprinted) 1982, v. 6, [p. 485-502], p. 486-487; G. Wallis, Ra’ah: In: G.J. Botterweck, Helmer Ringgren, eds., Theological Dictionary of the Old Testament, Grand Rapids, MI.: Eerdmans, © 2004, v. 13, [p. 544-553], p. 547-549.
[9] “Pois já eu com homens mais valentes que vós me dei — e nunca esses me desconsideraram. De resto nunca homens assim eu alguma vez verei: homens como Pirítoo e Driante, pastor do povo; Ceneu e Exádio e o divino Polifemo” (Homero, Ilíada, São Paulo: Companhia das Letras (Penguin), 2013, I.260-264).
“Por seu lado se levantaram e obedeceram ao pastor do povo os reis detentores de cetro; e por seu lado se apressava o povo” (II.85-86).
“Hermes soberano, que o deu a Pélope, condutor de cavalos; por sua vez de novo o deu Pélope a Atreu, pastor do povo” (II.104-105).
“Assim falou Tersites, insultando Agamêmnon, pastor do povo” (II.243)
“Mas ele encontrava-se junto das naus recurvas, preparadas para o alto-mar, encolerizado contra Agamêmnon, pastor do povo, filho de Atreu” (II. 771-773).
[10]“O idoso pastor reconhece o pastoreio especial de Deus em sua vida” (Bruce K. Waltke, Comentando o Antigo Testamento: Gênesis, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, (Gn 48.15) p. 747). Veja-se: Cornelis Van Dam, O Presbítero, São Paulo: Cultura Cristã, 2019, p. 30.
[11] “Ao saíres, ó Deus, à frente do teu povo, ao avançares pelo deserto” (Sl 68.7). “Como pastor, apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos e os levará no seio; as que amamentam ele guiará mansamente” (Is 40.11).
[12] “Ora, quem pode ser esse Davi senão Cristo? Qual Davi é príncipe eternamente, senão aquele que é o filho de Davi e o Senhor de Davi? Consequentemente, ele é chamado de a Raiz e a Geração de Davi. Ele é sua Raiz como Deus, sua Geração como homem que dele descende. É evidente que, por Davi, se pretende indicar Cristo” (Matthew Meade, Sermons, 104-105. In: Carl L. Beckwith, Comentário Bíblico da Reforma – Ezequiel e Daniel, São Paulo: Cultura Cristã, 2014, p. 225). “’Davi’ não pode ser uma referência a Zorobabel, pois Zorobabel não foi rei. Mesmo que tivesse sido rei, o fato é que ele não foi príncipe deles para sempre, como é dito deste ‘Davi’. ‘Davi’, aqui, é uma referência a Cristo, como ocorre com frequência na sagrada Escritura (Ez 34.23; Os 3.5; Is 37.35; 2Rs 19.34; Jr 30.9” (William Greenhill, Exposition, 750. In: Carl L. Beckwith, Comentário Bíblico da Reforma – Ezequiel e Daniel, São Paulo: Cultura Cristã, 2014, p. 224). Bauer sustenta a mesma posição quanto ao fato do texto se referir messianicamente a Jesus Cristo. (J.B. Bauer, Pastor: In: Johannes B. Bauer, Dicionário de Teologia Bíblica, 4. ed. São Paulo: Loyola, 1988, v. 2, [p. 821-823], p. 821).
[13] “Desperta, ó espada, contra o meu pastor e contra o homem que é o meu companheiro, diz o SENHOR dos Exércitos; fere o pastor, e as ovelhas ficarão dispersas; mas volverei a mão para os pequeninos” (Zc 13.7).
[14]As catacumbas cristãs dos primeiros séculos, registram com frequência a imagem do Bom Pastor, associando-a a Jesus Cristo que se identificou como Bom Pastor (Jo 10.11), aquele que cuida permanentemente de suas ovelhas, voluntariamente dando a sua vida por elas. Essas imagens, por vezes, eram estilizadas com uma mistura da figura cristã com as vestes pagãs (Veja-se: W.H. Withrow, Catacombs of Rome, and their Testimony Relative to Primitive Christianity, 3. ed. London: Hodder & Stoughton, Paternoster Row, 1877, p. 213, 243-251, 312, 328, passim).
[15] A igreja não foi instituída por causa de nossa vocação e trabalho, a fim de atender uma demanda, como um bairro que cria uma praça com brinquedos a fim de atender a carência de lazer em uma região populosa e com poucos recursos. Antes, nós fomos chamados para servir a Deus por meio da igreja. De outro modo, nós existimos para o bem da igreja. O povo que nos foi confiado pertence a Deus que é o Senhor da Igreja (1Pe 5.3). Não há como servir positivamente à igreja sem nos tornarmos servos da sua Palavra. Essa fidelidade prazerosa proporciona frutos magníficos para a igreja porque Deus é misericordioso nos chamando, equipando e abençoando o nosso, por vezes, rude e frágil trabalho.
[16]Cornelis Van Dam, O Presbítero, São Paulo: Cultura Cristã, 2019, p. 27. Por sua vez, continua Van Dam: “Os portadores de ofício, como os estabelecidos sobre o rebanho, devem imitar esse amor pastoral. Na verdade, eles precisam fazer ainda melhor. Eles precisam adotar o padrão do amor de Deus, seu interesse pelo rebanho como o interesse de Deus para com seu povo. Afinal, o Senhor Deus é o Pastor das ovelhas, e o padrão de trabalho dos portadores de ofício. E ele quem dá aos diferentes ofícios de seus pastores auxiliares seu conteúdo e significado. Eles devem representar e refletir os desejos, os critérios e os interesses de Deus. É a agenda do Senhor que eles devem promover” (Cornelis Van Dam, O Presbítero, São Paulo: Cultura Cristã, 2019, p. 29).
[17] “O método ordinário de Cristo de ensinar – isto é, com comum simplicidade – aqui se contrasta com o exibicionismo e brilhantismo a que os homens ambiciosos se apegam tanto” (João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 3.12), p. 128).
[18]“Se existe algo que a história nos ensina, este ensino é que os ataques mais devastadores desfechados contra a fé sempre começaram com erros sutis surgidos dentro da própria igreja” (John F. MacArthur Jr., Com Vergonha do Evangelho, São José dos Campos, SP.: Fiel, 1997, p. 11).
[19] 1Tm 1.3; 2Tm 1.15; Ap 2.1-7.
[20] O presente imperativo do verbo (grhgore/w) (de onde vem Gregório), vigiar, ficar acordado, desperto, indica uma vigilância contínua e perseverante.
[21] “Grande prudência é requerida daqueles que têm a incumbência da segurança de todos; e grande diligência, daqueles que têm o dever de manter vigilância, dia e noite, para a preservação de toda a comunidade” (João Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo: Paracletos, 1997, (Rm 12.8), p. 434).
[22] John R.W. Stott, A Mensagem de Atos: Até os confins da terra, São Paulo: ABU, (A Bíblia Fala Hoje),1994, (At 20.28-35), p. 369.
[23]John R.W. Stott; Basil Meeking, editores, Dialogo sobre la mision, Grand Rapids, Michigan: Nueva Creación, 1988, p. 62.
[24]João Calvino, Gálatas-Efésios-Filipenses-Colossenses, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2010, (Fp 2.21), p. 430-431.
[25] No entanto, Calvino não era indiferente à necessidade dos ministros serem mantidos condignamente (Veja-se: João Calvino, Cartas de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 91-92; 156).
[26]João Calvino, Gálatas, São Paulo: Paracletos, 1998, (Gl 6.6), p. 181.
[27]“A pregação externa da Palavra é por si só infrutífera, a não ser que ela fira mortalmente os réprobos, de modo tal que os faça indesculpáveis diante de Deus. Mas quando a graça secreta do Espírito vivifica [a mente dos réprobos], todos os sentidos inevitavelmente serão afetados de tal maneira que a pessoa se sente preparada a ir aonde quer que Deus a chame. Devemos, pois, orar para que Cristo derrame em nós o mesmo poder do evangelho” (João Calvino, O evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 1.43), p. 79). “A pregação é o instrumento da fé, por isso o Espírito Santo torna a pregação eficaz” (João Calvino, Efésios, São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 1.13), p. 36). É muito esclarecedora a obra de George: Timothy George, Lendo as Escrituras com os reformadores: como a Bíblia assumiu o papel central na Reforma religiosa do século XVI, São Paulo: Cultura Cristã, 2015, p. 181-201.
[28] Citado em: Roland H. Bainton, Cativo à Palavra: a vida de Martinho Lutero, São Paulo: Vida Nova, 2017, p. 353.
[29]“O cetro pelo qual ele nos governa é seu evangelho” (João Calvino, Sermões sobre Tito, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, (Tt 1.1-4), p. 19). (Edição do Kindle).
[30]João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, v. 1, (Dn 3.28), p. 225. “Não existe piedade sem devida instrução” (John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), v. 19/1, (At 18.22), p. 198).
[31]João Calvino, Beatitudes; sermões sobre as bem-aventuranças, São Paulo: Fonte Editorial, 2008, p. 77.
[32]João Calvino, Cartas de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 30.
[33]João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 5.1), p. 129. Do mesmo modo: Juan Calvino, Autoridad y Reverencia que Debemos a la Palabra de Dios: In: Sermones Sobre Job, Jenison, Michigan: T.E.L.L., 1988, p. 203.
[34]João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (2Tm 1.7), p. 204.
[35] João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 6.1), p. 201-202.
[36]John Calvin, Commentary on the Book of the Prophet Isaiah, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, (Calvin’s Commentaries), 1996, v. 8/4, (Is 59.21), p. 271.
[37]In: Eduardo Galasso Faria, ed. João Calvino: Textos Escolhidos, São Paulo: Pendão Real, 2008, p. 34.
[38] João Calvino, As Institutas, IV.1.5.
[39]Veja-se: J. Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 3.5), p. 101-102.
[40] João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, v. 4, (IV.13), p. 52.
[41] João Calvino, As Pastorais, (1Tm 4.13), p. 123.
[42]John Calvin, Commentaries on the Book of the Prophet Jeremiah and Lamentations, Grand Rapids, MI.: Baker, 1996, (Calvin’s Commentaries, 9/1), (Jr 1.9-10), p. 43.
[43]João Calvino, As Institutas, 2006, IV.8.2.
[44]John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), v. 3, (Ex 31.18), p. 328.
[45]João Calvino, Sermões em Efésios, Brasília, DF.: Monergismo, 2009, p. 129-130. Veja-se também: João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 3.11), p. 125-126.
[46]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, v. 4 (IV.15), p. 125.
[47]João Calvino, Gálatas, São Paulo: Paracletos, 1998, (Gl 2.5), p. 52. Dargan (1852-1930) comentando sobre o trabalho de Calvino como exegeta e expositor das Escrituras, diz: “Na pregação de Calvino o método expositivo dos pregadores da Reforma encontrou ênfase. Seus comentários eram frutos de sua pregação e aula, e seus sermões eram comentários ampliados e aplicados. (…) (O seu estilo) mostra-nos como o comentarista obteve o melhor do pregador. Contudo os seus sermões não eram meros comentários. Ali temos uma agilidade de percepção, uma firmeza no posicionamento, um poder de expressão que aliados fazem o pensamento da Escritura marcar e produzir sua impressão sem o auxílio da arte do orador” (Edwin C. Dargan, A History of Preaching, Grand Rapids, Mi.: Baker Book House, 1954, v. 1, p. 449). Para um estudo sobre a pregação de Calvino: método, estilo e mensagem, bem como sua influência sobre os pregadores de fala inglesa, Ver: T.H.L. Parker, The Oracles of God: An Introduction to the Preaching of John Calvin, Cambridge, England: James Clarke; Co. 1947, (2002) Reprinted, 175p.
[48]Sermão 95 Apud Bernard Cottret, Calvin: A Biography, Michigan; Cambridge, U.K.; Edinburgh: Eerdmans; T & T. Clark, 2000, p. 294.
[49] Michael Kruger, Sola Scriptura. Disponível: https://ministeriofiel.com.br/artigos/sola-scriptura/ . Acessado em 15.12.2024.
[50] João Calvino, As Institutas, (2006), IV.8.9.
[51] João Calvino, As Institutas, (2006), IV.8.13. Calvino comenta de forma mais genérica que, “os que são apóstatas na igreja e em seu frenesi rejeitam a Palavra de Deus, não obstante alegam que de boa vontade se submetem à santa mãe igreja, e em nome da humildade deflagram guerra, à semelhança de bestas dementes, contra Deus e contra sua Palavra. Todavia, querendo promover a honra de Deus, se submetem à tirania dos homens!” (João Calvino, Sermões sobre Tito, Brasília, DF.: Editora Monergismo, p. 15. (Edição do Kindle).
[52] João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1995, (2Co 1.1), p. 15.
[53] A Segunda Confissão Helvética, foi primariamente elaborada em latim, em 1562, pelo amigo, discípulo e sucessor de Zuínglio (1484-1531), Henry Bullinger (1504-1575).
[54] Segunda Confissão Helvética: In: Joel R. Beeke; Sinclair Ferguson, Harmonia das Confissões Reformadas, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 11-12.
[55] Cf. François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 111.
[56] “O Espírito Santo abre nosso coração para confiarmos, crermos e obedecermos à Palavra de Deus na Escritura. A submissão continua sendo uma luta, inclusive intelectual. Devemos reconhecer nossas limitações, a realidade do mistério, a fraqueza de nossa fé, sem nos desesperarmos de todo o conhecimento e verdade” (Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Prolegômena, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 1, p. 389).
[57]“Não buscamos argumentos, nem evidências comprobatórias, sobre os quais se firme nosso critério. Pelo contrário, sujeitamos-lhe nosso juízo e entendimento como algo que está além do processo aleatório do juízo” (João Calvino, As Institutas, I.7.5).
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