Nota do editor: Este é o décimo segundo de 17 capítulos da série da revista Tabletalk: Cristianismo e liberalismo.
Para muitos cristãos, participar da Ceia do Senhor é um momento de comunhão pessoal muito profunda com seu Senhor e Salvador. Obviamente, não há nada de errado nisso. Porém, fazemos bem em reconhecer que a Ceia do Senhor é muito mais uma refeição que deve demonstrar e fortalecer a unidade da igreja do que um assunto pessoal.
Isso está por trás da severa repreensão que o apóstolo Paulo expressa em 1 Coríntios 11:17-34. Ao que tudo indica, os cristãos em Corinto não demonstraram o amor apropriado pelos outros membros da igreja. Naquela época, a Ceia do Senhor talvez era administrada junto com uma refeição compartilhada entre os membros da igreja. Os que chegaram cedo começaram a comer e alguns até ficaram bêbados. Outros — muito possível escravos — provavelmente tiveram que trabalhar até tarde e, quando chegaram, toda a comida havia acabado. Esse tipo de negligência com os outros membros da igreja transformou o sacramento em algo indigno de ser chamado de Ceia do Senhor, como lemos nos vv. 20-22:
Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a ceia do Senhor que comeis. Porque, ao comerdes, cada um toma, antecipadamente, a sua própria ceia; e há quem tenha fome, ao passo que há também quem se embriague. Não tendes porventura, casas onde comer e beber? Ou menosprezais a igreja de Deus e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto, certamente, não vos louvo.
Embora não esteja completamente claro se a severa advertência de Paulo no v. 29 sobre “o corpo” se refere à igreja, ao Senhor Jesus Cristo ou a ambos, faremos bem em prestar atenção às suas palavras: “Pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si”. Sem dúvida, a Ceia do Senhor deve reunir toda a igreja enquanto o corpo de Cristo se lembra da morte sacrificial de seu Cabeça, o Senhor Jesus.
Hoje, os elementos são administrados de modo que ninguém precise ficar sem pão, e a quantidade de vinho (ou suco) é tão pouca que ninguém fica alcoolizado. No entanto, ameaças à unidade do corpo permanecem. É tão fácil seguir o exemplo do mundo em que vivemos e nos separar física ou emocionalmente de outros com quem não compartilhamos a mesma classe socioeconômica, a mesma idade, a mesma cor de pele ou a mesma política. Alguns pontos mais sutis da teologia podem até nos separar dos outros membros da igreja. Mas como cristãos, somos um em Cristo. Ele amou a todos nós com Seu mesmo amor sacrificial. Somos todos pecadores que fomos salvos somente pela graça. Portanto, deveríamos ter uma preocupação verdadeira em demonstrar essa unidade espiritual por meio de mais do que apenas coexistir na mesma igreja. Devemos ser rápidos em amar uns aos outros com o amor com que fomos amados primeiro.
Se nos aproximarmos da Ceia do Senhor com essa postura de verdadeiro amor cristão e demonstrarmos a unidade que temos em Cristo, apesar de nossas diferenças, celebraremos a Ceia do Senhor com toda a sua importância. Tal reunião pode servir como um grande testemunho para o mundo observador que não conhece tal unidade operada pelo Espírito Santo.
Este artigo foi publicado originalmente na TableTalk Magazine.