O ministério dos meios da graça

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Nota do editor: Este é o décimo segundo de 14 capítulos da série da revista Tabletalk: Instruções para viver no reino: o Sermão do monte.

Jonathan Edwards serviu como pastor-missionário para os índios Mohawk e Moicanos de 1751 a 1758. Apesar dos grandes desafios do ministério na fronteira nordeste, o pastor da Nova Inglaterra não estava obcecado pela contextualização ou por métodos de missão e discipulado centrados no homem. Em vez disso, como os apóstolos, Edwards se dedicou à proclamação do evangelho através dos meios da graça (At 2:42).

O poder que salva através dos meios designados

Edwards acreditava que a palavra da cruz (isto é, o evangelho) é o poder operativo de Deus para a salvação (Rm 1:16; 1 Co 1:18). Além disso, concordava que o poder salvífico de Cristo é mediado por meios divinamente designados. Em outras palavras, recebemos a salvação por meio da Palavra, dos sacramentos e da oração no contexto da igreja local. Apesar do contexto estrangeiro e contrário a toda sabedoria humana, o missionário colonial depositou sua confiança no que Deus prometeu usar e não no que o homem pensa que pode funcionar. Ele realizou o ministério segundo os termos de Deus, não segundo os métodos humanos. Por meio da graça, os eleitos de Deus recebem Cristo e permanecem nEle pela fé.

O exemplo de Jonathan Edwards evidencia o ponto essencial de que o contexto do ministério nunca deve determinar os meios do ministério. A geografia e a cultura nunca devem determinar a teologia e as práticas. Quer trabalhasse nos ambientes sofisticados de Northampton ou nos arredores selvagens de Stockbridge, Edwards exemplificou um compromisso inabalável com a proclamação de Cristo por meio da Palavra e dos sacramentos. Ele permaneceu firme na tradição reformada. Ao acreditar que o Breve Catecismo de Westminster é “um excelente esquema teológico”, Edwards acreditava:

Os meios exteriores e comuns pelos quais Cristo nos comunica os benefícios da redenção são Suas ordenanças, em especial a Palavra, os sacramentos e a oração; as quais todas se tornam eficazes aos eleitos para a salvação (BCW 88).

Ou seja, é através dos meios comuns da graça que o Cristo que ascendeu, pelo Espírito Santo, salva, santifica e consola Seus escolhidos. Os meios da graça são as ferramentas eficazes que Cristo prometeu usar para edificar Sua igreja (Mt 16:18; 28:18-20; At 2:42; 1 Co 1:18-2:5; 4:1; 2 Tm 4:2-5). É claro que não era apenas nas ferramentas que Edwards depositava sua confiança, mas no poder salvador de Cristo que opera nelas e por meio delas. Para Edwards, o formalismo religioso e litúrgico era uma abominação. E também deveria ser para nós.

A estratégia de Deus são os meios da graça

O exemplo de fidelidade de Edwards aos meios de graça serve como um forte lembrete aos pastores e igrejas para não trocar os meios da graça divina pelas estratégias de crescimento do mundo. Muitas vezes nas igrejas de hoje, inclusive entre os reformados, a pregação fiel é eclipsada por homilias moralistas, centradas no homem e orientadas pela sociologia. Em geral, o batismo e a Ceia do Senhor recebem pouca atenção em comparação aos grupos de louvor e aos programas da igreja. A oração é relegada às margens da adoração e da vida congregacional. O desaparecimento do culto noturno do Dia do Senhor acentua ainda mais a necessidade de recuperar a estratégia de Deus para o discipulado centrado em Cristo em nossas igrejas. Os pastores são chamados, antes de tudo, a ser “ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus” (1 Co 4:1). Esses mistérios divinos são os meios de graça instituídos por Cristo, através dos quais Ele nos dá a Si mesmo.

Por que comum?

Alguns podem se perguntar por que os meios de graça são com frequência chamados de comuns. São comuns, pois não possuem a glória exterior e visível dos sinais, milagres e maravilhas do Êxodo, do ministério público de Cristo ou do Pentecostes. Os meios da graça são simples e comuns. Ao mesmo tempo, os meios da graça são bastante extraordinários. Por que? Porque Deus prometeu trabalhar por meio deles para a salvação de Seus eleitos, para trazer pecadores culpados à união e comunhão com Cristo por meio da fé. Portanto, negligenciar os meios comuns de graça no ministério da igreja não é apenas questionar a sabedoria de Deus, é desconsiderar o poder salvífico de Cristo. Isso não significa, é claro, que o ministério da igreja fora do culto público do Dia do Senhor nunca seja apropriado ou benéfico para o povo de Deus. Os programas da igreja no meio da semana e várias atividades ministeriais podem ser uma grande bênção, no entanto, nunca devem ofuscar os meios comuns da graça.

Ferramentas ordenadas para destruir o reino de Satanás

Por último, os meios comuns da graça são as ferramentas através das quais Deus destruirá gradualmente Satanás e o reino das trevas. Em seu famoso livro Uma história da obra da redenção, Edwards afirma que a destruição de Satanás e seu reino “não será realizada de uma só vez”. Em vez disso, ele explica que “é uma obra que será realizada por meios, pela pregação do evangelho e pelo uso dos meios comuns da graça, e assim será feita de forma gradual”.

Caro irmão, pecadores são salvos e Satanás é derrotado não por meio da glória visível do ativismo social, vitórias políticas ou transformação cultural. Por mais benéficas que essas atividades possam ser para melhorar a sociedade, o poder salvador de Cristo não é mediado por elas. Na verdade, é uma das táticas de Satanás para nos fazer acreditar que sim. Em vez disso, o poder salvífico de Cristo opera, pelo Espírito, por meios de salvação escolhidos por Deus: pregação, oração, água, pão e vinho. Administrados por ministros do evangelho ordenados, os meios comuns de graça constituem a principal estratégia de Deus para fazer discípulos. Deus cria e confirma a fé por meio deles, e não à parte deles. Na tradição dos reformadores, Edwards acreditava que um ministério de meios comuns da graça é um ministério do evangelho focado na pessoa e na obra de Cristo e repleto do poder salvífico de Cristo. Que possamos acreditar nisso também.


Este artigo foi publicado originalmente na TableTalk Magazine.