Jesus Cristo é Senhor da história, e é por isso que não precisamos ter medo do Twitter. Ou do Facebook. Ou de adolescentes digitando com os dedões. Jesus é Senhor da história e, por isso, não precisamos nos preocupar com o Google nos deixando estúpidos. Mas não se engane. O Google realmente deixa muitos de nós estúpidos, mas apenas da mesma forma que as bibliotecas nos deixaram estúpidos por séculos. Bibliotecas deixam algumas pessoas muito sábias, e fornecem a muitas outras enfeites artificiais para as suas notas de rodapé.
Para onde quer que a raça humana vá, ela arrasta consigo uma curva de distribuição normal (gaussiana). Nós nos exibimos por causa da nossa posição na curva existente (ou nos sentimos mal por causa da nossa posição nela), mas não reconhecemos que um mecânico hoje em dia trabalha com eletrônicos tão sofisticados que teriam deixado Aristóteles completamente atordoado em um de seus melhores dias. E metade de todos os médicos formados estavam na metade menos estudiosa da sua turma, não é mesmo?
Vivemos em uma época de grande inovação e desenvolvimento, e aparente caos. Há muitas oportunidades para se preocupar com tudo isso e, por isso, quero colocar minhas cartas na mesa e falar sobre por que estou animado com o futuro. Isso vai soar estranho para alguns, mas estou animado com o futuro porque sou pós-milenarista. E sou pós-milenarista porque sou um calvinista que acredita que o Deus soberano sobre todas as coisas é verdadeira, inesgotavel e ferozmente bom. Ele cumpre suas promessas.
Também precisamos lembrar que o futuro escatológico prometido pelo profeta Isaías, o futuro que foi moldado pela revolução industrial, e o que continuará a ser moldado pela revolução digital são todos o mesmo futuro. Não acredito em um futuro espiritual invisível, moldado pelo Espírito Santo, cheio de ternura e luz, e em um futuro histórico real moldado pelo Diabo, pela Halliburton, pelos Illuminati e pela lei de Murphy. O mundo, este mundo, está atualmente indo para onde Jesus o está levando. Seja sábio, mas pare de se preocupar.
Parte de ser sábio é não nos esquecermos da doutrina do pecado. O pecado é radical e profundo, e é capaz de muitas aberrações culturais. Nós as vemos e lemos sobre elas o tempo todo. Bem-vindo à guerra espiritual. A crença de que venceremos a guerra não é uma negação da realidade dessa guerra. Meu otimismo não é do tipo que nega a existência da batalha. Meu otimismo é do tipo que afirma que estamos vencendo a batalha.
Mudando de metáfora: acreditar que o carro tem gasolina, está funcionando bem e está na estrada correta não impede que as crianças briguem pecaminosamente no banco de trás.
Isso significa que todo novo desenvolvimento nos apresenta oportunidades para pecar. E, em um mundo pecaminoso, o impulso inicial é pecar. A riqueza obtida pelo trabalho à moda antiga é mantida. A riqueza obtida de forma vã se dissipa rapidamente (Pv 13.11).
E aqui está minha tese central: a tecnologia, em todas as suas formas, é um tipo de riqueza. A Bíblia não contém advertências sobre a tecnologia em si, mas está repleta de advertências sobre o viés da riqueza. Em que posição a riqueza nos coloca? A Bíblia diz que os ricos são tentados à arrogância, à autossuficiência, à falta de preocupação com os pobres, à opressão e a outras coisas do gênero. A riqueza é uma coisa boa, mas traz tentações. Muita riqueza é uma coisa muito boa, mas traz consigo muitas tentações.
Digamos que, ao ficar rico, a primeira coisa que certo homem faz é se associar a três dos clubes mais chiques da cidade. Não é um bom sinal. O mesmo é verdade sobre um homem que obtém sua riqueza e foge para um bairro carente da cidade para se juntar a uma nova comunidade monástica. Isso também é um mau sinal.
De nada adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma no processo (Mt 16.26). Isso continua sendo verdade mesmo que o mundo esteja no processo de ganhar o mundo, mas perca sua alma no caminho. A riqueza não é um salvador substituto. Ela é uma coisa boa, um bem criado, e é algo que somos tentados a transformar em um ídolo (Ef 5.5; Cl 3.5). Até a ressurreição, a riqueza é uma coisa boa que sempre tende a nos distrair de nosso amor por Cristo e da tarefa que temos em mãos.
Agora, o que estamos vendo com a infinidade de aplicativos bobos do Facebook, Twitter, downloads de música, pesquisas com o Google Books e todos os novos aplicativos que você possa imaginar é a resposta dos “novos ricos” à riqueza repentina — uma resposta que é tão antiga quanto o mundo. Não há nada de novo nisso. Não há nada de novo debaixo do sol.
Sempre houve pessoas preocupadas. Platão se preocupava com a palavra escrita. No início da era moderna, outros se preocupavam com a palavra impressa. Agora nos preocupamos com a palavra digitalizada. E, diga-se de passagem, os preocupados sempre têm um pouco de razão. Sempre há exemplos de insensatez que eles podem usar, e eles não estão inventando. Mas o fato de você não estar inventando os maus exemplos não significa que esteja encaixando esses maus exemplos no paradigma correto de interpretação.
Um bom exemplo de um preocupado erudito seria Neil Postman em Amusing Ourselves to Death [Divertindo-nos até à morte]. Mas para cada livro como este, dada a propensão dos calvinistas a se preocuparem desnecessariamente, eu recomendaria que você lesse três, como Tudo que é ruim é bom pra você de Steven Johnson, The Future and Its Enemies [O futuro e seus inimigos] de Virginia Postrel, e O otimista racional de Matt Ridley. Por que os calvinistas deveriam se preocupar? No embate entre a soberania de Cristo na história e a influência do pecado na história, o pecado certamente é o perdedor.
Ora, alguém pode objetar que os livros que citei não foram escritos por cristãos. E eu responderei dizendo que as coisas estão indo muito mal quando os incrédulos conseguem ver o que Jesus está fazendo com mais precisão do que os crentes. Quando os incrédulos, pela graça comum, estão lendo a história do lado certo, por que deveríamos rejeitar isso em favor dos crentes que estão lendo a Bíblia de cabeça para baixo?
Preocupamo-nos com o curso da história porque não estamos no controle dela, e gostamos de fingir que isso significa que ninguém está no controle dela. Mas isso não é verdade. Cristo é Senhor da história. Ele é o Senhor dela.
E ela terminará bem. Isso não significa que tudo terminará bem para todos, mas simplesmente que a insensatez se tornará aparente com o tempo. No longo prazo, a estupidez nunca funciona. Você reclama que um adolescente tolo está animado porque tem 28 “amigos” superficiais no Facebook. Ok, isso é burrice, mas em que isso difere de nossa antiga prática de escrever cartas para um inimigo mortal, certificando-se de que a carta comece com um termo cordial: “Meu caro…”. Caro?
Nada de novo debaixo do sol. Alguns são sábios e muitos são (comparativamente) tolos. A única questão é se estaremos ou não entre os sábios ou os tolos.
Jesus é o Verbo, a Palavra e, por meio de sua encarnação, ele santificou o uso correto das palavras para sempre. A internet nos proporcionou uma torrente de palavras — o que mais há de novo? E o fato da torrente ter aumentado tanto deveria nos encher de empolgação. Nossa responsabilidade como o povo da Palavra é nos dedicarmos ao estudo e à prática de como tudo isso pode ser usado com sabedoria.
Se o seu uso do Twitter se limita a informar a todos os seus seguidores de que você está vasculhando a geladeira em busca de um refrigerante às duas da manhã, então, claro, pare com isso. Mas suponha que você diga aos seus seguidores que a pobreza e a vergonha vêm para aqueles que recusam a instrução, e agora? Como isso é um abuso? Essa é uma mensagem piedosa.
A tentação constante e perene na Igreja é a tentação gnóstica de atribuir o pecado às coisas, à matéria, à riqueza, à tecnologia… em vez de atribuí-lo ao seu devido lugar: o coração do homem.
E porque o evangelho conquista o coração do homem, podemos responder a pergunta: Sim, o mundo está melhorando.
Tradução: Thiago McHertt