O Seminário e a formação de Pastores – Parte 28

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8. Formando pastores: mestres, evangelistas (Continuação)

 

Apto para ensinar

Entre as qualificações ao presbiterato, Paulo inclui a aptidão para ensinar (didaktiko/j): 1Tm 3.2/2Tm 2.24; Tt 1.9.  É necessário que o presbítero seja “Hábil para ensinar”, “tenha didática”. (*2Tm 2.24). Aqui temos uma habilidade que distingue o presbítero do diácono.[1] Não se exige necessariamente do presbítero regente um profundo conhecimento de teologia. No entanto, ele deve estar habilitado a sustentar as principais doutrinas bíblicas;[2] tenha conhecimento da Palavra e seja hábil para transmitir o ensino visando à edificação do povo de Deus.

Uma possível armadilha pode ocorrer com um consagrado membro da igreja que gosta e tem habilidade para ensinar e, por isso, os irmãos começam a vê-lo como chamado para o ministério da Palavra (Presbítero docente).

Precipitação aqui pode gerar muita frustração. Descobrir que não somos chamados não significa uma diminuição de nossa fé, mas, sem dúvida, uma quebra de expectativas acalentadas com muita intensidade, perda de tempo e investimentos que podem nos deixar amargurados, envergonhados  e sem direção.

Aptidão para o ensino é uma qualificação para o presbiterato (regente e docente). Contudo, essa habilidade, por si só, não se constitui em indicativo suficiente de que alguém foi chamado por Deus para o ministério da Palavra.

Há ateus que são bons professores. Há também “teólogos” que não creem nas Escrituras e mesmo assim falam com muita habilidade sobre as “doutrinas” bíblicas.

A Igreja necessita de pastores vocacionados e bem-preparados. Exorta Calvino:

Ora, como é possível que os pastores ensinem a outrem se eles mesmos não forem capazes de aprender? E se um homem tão excelente é admoestado a estudar a fim de progredir diariamente, não seria maior a nossa necessidade em atender a tal conselho? Ai da indolência dos que não examinam atentamente os oráculos do Espírito, dia e noite, com o fim de aprender neles como desempenhar seu ofício.[3]

Esta é a principal coisa que se exige dos ministros da Palavra. Não só que sejam bem instruídos a fim de que possam ensinar a outros, mas também que sejam firmes e constantes em seu fundamento, para lutar quando a verdadeira doutrina tiver de ser defendida, de modo que permaneça intocada. Eis por que a palavra que Paulo usa significa tanto “reter” quanto “abraçar”. Por isso, devemos ver que nosso ensino seja verdadeiro. Se estivermos fortemente apegados a ela, ela jamais se desvencilhará de nós. Por mais que o diabo faça seu melhor empenho para afastá-la de nosso alcance, jamais nos separaremos dela.[4]

Em carta ao Rei Eduardo VI da Inglaterra (janeiro de 1551), na qual ele o instrui quanto ao uso devido das bolsas acadêmicas nas universidades, Calvino      afirma que “uma vez que as escolas contêm as sementes do ministério, é extremamente necessário conservá-las puras e totalmente livres de toda espécie de erva daninha”. À frente diz que as escolas devem ser pilares do Evangelho.[5]

Os Seminários de uma igreja devem ser cuidados com grande apreço, considerando o nível acadêmico  de seus professores, espiritualidade demonstrada ao longo de seu ministério, fidelidade bíblica e confessional.  De igual forma, antes de um candidato ser enviado ao Seminário deve passar por exames minuciosos que envolvam a sua saúde física, mental e a sua experiência cristã revelada, inclusive em seus estudos anteriores, relacionamento com seus pais e na igreja.

O Seminário mal orientado decreta ao longo dos anos o enfraquecimento de uma denominação. O título acadêmico não credencia ninguém por si só para o ministério docente em nossos Seminários. Por outro lado, a piedade, de forma solitária, também não. Essas características usadas de forma excludentes das outras sempre trazem malefícios.

A observação de Sproul é correta tanto para a edificação como para a desintegração de uma denominação: “Se você quer uma reforma, você deve olhar seriamente ao que os seminários estão ensinando”.[6] Isso é válido para o currículo explícito e, o poderosíssimo currículo oculto que, na maioria das vezes exerce maior influência do que aquele.

 

Ministro aprovado que maneja bem a Palavra da verdade

A Timóteo, Paulo recomenda: Procura (spouda/zw = “esforçar-se com zelo”, “apressar-se”)[7] apresentar-te a Deus aprovado (do/kimoj = “aprovado após exame”),[8] como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem (o)rqotome/w)[9]a palavra da verdade (a)lh/qeia) (2Tm 2.15).

Calvino traduz a metáfora usada por Paulo, “maneja bem” (2Tm 2.15) por “dividindo bem”, fazendo a seguinte aplicação:

Paulo (…) designa aos mestres o dever de gravar ou ministrar a Palavra, como um pai divide um pão em pequenos pedaços para alimentar seus filhos. Ele aconselha Timóteo a ‘dividir bem’, para não suceder que, como fazem os homens inexperientes que, cortando a superfície, deixam o miolo e a medula intactos. Tomo, porém, o que está expresso aqui como uma aplicação geral e como uma referência à judiciosa ministração da Palavra, a qual é adaptada para o proveito daqueles que a ouvem.[10] Há quem a mutile, há quem a desmembre, há quem a distorce, há quem a quebre em mil pedaços, e há quem, como observei, se mantém na superfície, jamais penetrando o âmago da doutrina. Ele contrasta todos esses erros com a boa ministração, ou seja, um método de exposição adequado à edificação. Aqui está uma regra que devemos julgar cada interpretação da Escritura.[11]

O sábio manejo da Escritura significa estudá-la, vivenciá-la e proclamá-la conforme o seu propósito. O manejo sábio da Escritura envolve, necessariamente, fidelidade ao Senhor da Escritura.

Em certa ocasião, enquanto me preparava para escrever um texto, minha esposa me interrompe do lado de fora da casa, batendo na janela de meu escritório, pedindo uma tesoura para cortar alguns arbustos. Perguntei-lhe de forma uma tanto incerta se a tesoura servia para isso. A sua resposta foi objetiva e preocupante: “Serve sim. Amolar é muito barato. Amolei nesses dias a tesoura da cozinha que usava para cortar tudo e custou só dois reais”. Pensei: serve, mas não é adequado. Peguei a tesoura dela na cozinha e lhe passei.

Em geral aquilo que usamos – nosso carro, computador, máquina de lavar roupa, chave de fendas, alicate, etc. –, têm a sua especificidade. Quando usamos algo fora de seus objetivos e especificações, é provável que além de não alcançarmos de forma satisfatória o nosso propósito imediato, o estraguemos para o seu propósito específico.

Em 1551, Calvino fez uma longa dedicatória de seu comentário das Epístolas Gerais ao Rei da Inglaterra, Eduardo VI. Próximo do fim, escreveu:

Para que os fiéis não sejam levados de roldão por todo vento de impostura, que não sejam expostos às astutas cavilações dos ímpios, deixando-se ensinar pela segura experiência da fé, saibam que nada é mais firme ou certo do que o ensino da Escritura, e a este suporte confiantemente recorram.[12]

O presbítero  deve ser fiel à verdade bíblica. A infidelidade, ao contrário do que possa parecer em um primeiro momento, não consiste apenas em acrescentar ensinamentos estranhos à Palavra, mas, também, omitir e, talvez de forma mais sutil, nos contentarmos com amenidades, sem expor com clareza, fidelidade e profundidade a Palavra de Deus, não conduzindo o rebanho a um conhecimento mais elevado de Deus.

Calvino faz uma séria advertência:

Muitos se sentem mais que felizes se conseguem excitar aplauso ou gargalhada. Creem que seu tempo foi bem gasto; contudo, não têm atentado para a edificação, para fazer bom uso do ensino e alimentar as almas dos homens. Pois, assim como somos fisicamente sustentados de pão e alimento, assim também nossas almas devem ser nutridas pela doutrina da salvação.[13]

Como pregadores e mestres, é necessário que não nos contentemos em guiar as pessoas apenas pelo sopé da montanha da glória de Deus; “torne-se um alpinista nos rochedos íngremes da majestade de Deus”, aconselha Piper.[14]

A clareza só é possível se compreendermos adequadamente o texto bíblico. Fidelidade exige o silêncio reverente diante do mistério e a ousadia edificante diante do estudo do revelado. Ambas as atitudes nos previnem da especulação pecaminosa e da ingratidão para com o que Deus nos tem concedido na Escritura.

Calvino nos instrui em frase que emprego de forma recorrente: “As cousas que o Senhor deixou recônditas em secreto não perscrutemos, as que pôs a descoberto não negligenciemos, para que não sejamos condenados ou de excessiva curiosidade, de uma parte, ou de ingratidão, de outra”.[15]

Isto não significa que todos nós conseguimos compreender perfeita e exaustivamente a Palavra, mas, aponta para a responsabilidade que temos de, pela graça, crescer no conhecimento de Jesus Cristo que nos advém pela Escritura (2Pe 3.18).[16] O ensino da Palavra é um privilégio altamente responsabilizador. Deus, por graça, tem se valido de seus servos para a transmissão de sua mensagem.

 

Somos embaixadores não bobos da corte

Somos embaixadores cuja responsabilidade é sermos integralmente fiéis à mensagem do Rei. Não somos autores da mensagem. Ela não nos pertence. No entanto, somos arautos e embaixadores comissionados pelo Senhor[17] a quem devemos representar com integridade e responsabilidade (Mt 10.5-7,16,40; 2Co 5.20; 1Ts 2.13).[18] A pregação não é apenas uma questão de decisão pessoal, antes, é uma ordem divina.[19]

Com conhecimento de causa, em 1956, Lloyd-Jones (1899-1981) lamentava que “muitíssimas vezes os ministros cristãos não têm sido senão uma espécie de Capelão da Corte, declarando vagas generalidades”.[20]

Sem dúvida, a nossa vocação é outra. Deste modo, aquele que prega deve ter consciência de que o púlpito não é o lugar para se exercitar as opiniões pessoais e subjetivas, mas sim, para pregar a Palavra, anunciando todo o desígnio de Deus, sob a iluminação do Espírito. O Espírito honra exclusivamente a sua Palavra, não a nossa.[21]  Se formos fiéis ao texto bíblico, Ele também nos honrará.[22] A linguagem do Espírito é una. A Revelação é múltipla, porém, há uma univocidade orgânica de conteúdo.

Vinet (1797-1847) definiu bem a pregação, ao dizer ser ela “a explicação da Palavra de Deus, a exposição das verdades cristãs, e a aplicação dessas verdades ao nosso rebanho”.[23] Conforme vimos, Calvino escrevera na mesma linha: “A Escritura é a fonte de toda a sabedoria, e os pastores terão de extrair dela tudo o que eles expõem diante do seu rebanho”.[24]

Lloyd-Jones (1899-1981), numa série de sermões pregados (1963) sobre Isaías 1.1-18, declarou corretamente: “Não estou aqui para ventilar minhas próprias ideias e teorias, porém para expor a Palavra de Deus”.[25] Sem a Palavra, o púlpito torna-se um lugar que no máximo serve como terapia para aliviar as tensões de um auditório cansado e ansioso em busca de refrigério para as suas necessidades mais imediatamente percebidas. Ele pode conseguir o alívio do sintoma, mas não a cura para as suas reais necessidades.

Outra verdade que precisa ser ressaltada, é que apesar de muitos de nós não sermos “grandes” pregadores[26] ou existirem pregadores infiéis, Deus fala: A Palavra de Deus é mais poderosa do que a nossa incompetência ou a infidelidade de outros. Deus não conhece empecilho para a sua vontade: nem mesmo um mal pregador. Por isso, há a responsabilidade de ambos os lados: Quem prega, pregue a Palavra; quem ouve, ouça com discernimento a Palavra do Espírito de Deus.

Mais recentemente li Chapell dizendo:

Os esforços pessoais dos maiores pregadores são ainda demasiado fracos e manchados pelo pecado para serem responsáveis pelo destino eterno das pessoas. Por essa razão Deus infunde sua Palavra com poder espiritual. A eficácia da mensagem, mas que qualquer virtude do mensageiro, transforma corações.[27]

A glória da pregação é que Deus realiza sua vontade por intermédio dela, mas somos sempre humilhados e ocasionalmente confortados com o conhecimento de que Ele age além das nossas limitações humanas.[28]

Pode ser que você jamais ouça elogios do mundo, ou seja pastor de uma igreja com milhares de membros, mas uma vida de piedade associada a uma clara explanação da graça salvadora e santificadora da Escritura garantem o poder do Espírito para a glória de Deus.[29]

 

A Igreja como Baluarte de Verdade

Devemos ter sempre em mente que a pregação foi o meio deliberadamente escolhido por Deus para transformar pessoas e edificar o seu povo, preservando a sã doutrina por meio da Igreja que é o baluarte da verdade.[30]

Os presbíteros foram chamados por Deus para pregar o Evangelho de Cristo em sua integridade.

À Igreja foi confiada a Palavra de Deus, a qual ela deve preservar em seus ensinamentos e prática (Rm 3.2; 1Tm 3.15). Calvino entendia que “a verdade, porém, só é preservada no mundo através do ministério da Igreja. Daí, que peso de responsabilidade repousa sobre os pastores, a quem se tem confiado o encargo de um tesouro tão inestimável!”.[31]

Aos ministros é necessário ter habilidade para o ensino. Calvino é enfático quanto a isso. Pregando sobre 1Tm 3.1-4, disse:

Não é dado a todos o dom de pregar e de discursar sobre a doutrina de Deus. Um homem pode ser fiel, pode levar uma vida santa, e ainda assim ele pode não ter essa capacidade de discursar a Palavra de Deus de modo que ela seja bem recebida. A verdadeira doutrina, portanto, não está em todos, e quando essa está ainda assim deve ser aplicada. (…) Temos muitos que, apesar de serem sábios, ainda assim não têm essa graça de conseguir aplicar a doutrina de modo que outros tirem proveito e sejam edificados.[32]

Comentando a mesma passagem, segue linha idêntica:

Não é suficiente que uma pessoa seja eminente no conhecimento profundo, se não é acompanhada do talento para ensinar. Há muitos, seja por causa da pronúncia defeituosa, ou devido à habilidade mental insuficiente, ou porque não estejam suficientemente em contato com as pessoas comuns, o fato é que guardam seu conhecimento fechado em seu íntimo. (…) Os que são incumbidos de governar o povo devem ser qualificados para a docência. E o que se exige aqui não é propriamente uma língua leviana, porquanto nos deparamos com muitos cuja livre fluência nada contém que sirva para edificar. Paulo está, antes, recomendando sabedoria no traquejo de aplicar a Palavra de Deus visando à edificação de seu povo.[33]

Deus comissionou seus ministros para cuidarem de suas ovelhas, de sua igreja. Como fazê-lo se estivermos despreparados? Precisamos nos equipar para esta nobre, urgente e vital tarefa.[34] A graça não elimina nem diminui a nossa responsabilidade (1Co 15.10).

Escrevendo a Thomas Cranmer (1489-1556)[35] (jul/1552?) diz: “A sã doutrina certamente jamais prevalecerá, até que as igrejas sejam melhor providas de pastores qualificados que possam desempenhar com seriedade o ofício de pastor”.[36]

Considerando isso, a igreja deve se deixar dirigir pelo seu pastor:

[Visto] que foi aos pastores incumbida a pregação da doutrina celeste; vemos que todos, a uma, estão sujeitos à mesma disposição, de sorte que se permitam ser dirigidos, com espírito brando e dócil, pelos mestres criados para esta função.[37]

No dia 30 de julho de 1555, em sua série de sermões sobre Deuteronômio (6.15-19), dá o seu testemunho pessoal:

Deus prometeu que suas bênçãos estariam sobre as mãos daqueles que labutam (…). Se eu subisse ao púlpito sem nem olhar para um livro, e levianamente dissesse a mim mesmo: ‘Bem, quando eu for pregar, Deus vai me dar o que dizer’, e viesse aqui sem me dar ao trabalho de ler ou pensar sobre o que devo declarar, e sem considerar cuidadosamente como devo aplicar as Sagradas Escrituras para a edificação do povo, então eu seria um tolo arrogante!.[38]

De passagem, pelo enunciado de Paulo como critério para o presbiterato, podemos observar a relevância da pregação na edificação da igreja. O princípio de Paulo nos parece simples: se um membro da igreja não tivesse evidenciado habilidade no manuseio da Palavra não estaria apto para o presbiterato.

A igreja sempre necessitou de líderes que soubessem manusear bem as Escrituras. Sabemos, contudo, que é Deus mesmo quem os chama e os capacita.

Os falsos mestres, privados da verdade,[39] procuram desviar-nos dela pervertendo os ensinamentos da Palavra.

Paulo cita dois falsos mestres de seu tempo, Himeneu[40] e Fileto, que, seguindo ensinamentos gnósticos, com uma linguagem corrosiva, eliminavam a esperança na ressurreição futura, pervertendo a fé de alguns:

 Além disso, a linguagem deles corrói como câncer (ga/ggraina);[41] entre os quais se incluem Himeneu e Fileto. Estes se desviaram da verdade (a)lh/qeia), asseverando que a ressurreição já se realizou, e estão pervertendo (a)natre/pw = “arruinar”, “virar”[42]) a fé a alguns. (2Tm 2.17-18).

Portanto, devemos estar irmanados na preservação da Palavra de Deus, sempre atentos e combativos aos desvios  que porventura tentem introduzir em nossos Seminários, visando nos distanciar de nossa fidelidade bíblica.

 

O contágio da falsa doutrina

A falsa doutrina é contagiante. Paulo exorta a Tito com veemência a respeito dos insubordinados, especialmente judeus: “É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo (a)natre/pw) casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância” (Tt 1.11).

Por causa disso, o caminho do evangelho seria caluniado, reprovado, “blasfemado”. Pedro, alertando a igreja quanto aos falsos ensinamentos os quais deveriam ser verificados à luz da Palavra, demonstra que assim como houve falsos profetas, surgiriam na igreja, seus sucessores, uma versão atualizada: os falsos mestres que introduziriam heresias, arrastando após si muitos crentes:

Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas (yeudoprofh/thj),[43] assim também haverá entre vós falsos mestres (yeudodida/skaloj), os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. E muitos seguirão as suas práticas libertinas (a)se/lgeia), e, por causa deles, será infamado (blasfhme/w)[44] o caminho da verdade. (2Pe 2.1-2).

Pedro diz que o presbítero, enquanto pastor do rebanho, deve estar em condições de alimentá-lo com a Palavra e, também, saber combater àqueles que tentarão seduzir os fiéis com “palavras fictícias (plasto/j) (2Pe 2.3).

Contudo, o ponto básico da questão está no conteúdo. Mais do que conhecer teoricamente bem a Palavra, o que difere aquele que é “apto para ensinar” (didaktiko/j) dos “falsos mestres” (yeudodida/skaloj) não é a técnica de ensino em si, mas o conteúdo do que é ensinado.

O falso mestre é aquele que ensina a mentira, o engano: cria imagens que nada são para corromper seus ouvintes, conduzindo-os a negar o próprio Senhor Jesus Cristo e, também, à viverem libertinamente (a)se/lgeia), ou seja, de modo dissoluto e lascivo.[45]

A mensagem desses falsos mestres consiste numa corrupção do evangelho, modificando-os conforme seus interesses pecaminosos.

 

Responsabilidade de todos: Treinar nossos ouvidos

Como cristãos,  precisamos treinar os nossos ouvidos, provar o que ouvimos antes de nos saborear com o que não convém,  a fim de não sermos conduzidos ingenuamente por ensinos que mesmo falando o nome de Deus e citando as Escrituras, neguem o Deus das Escrituras: “Porque o ouvido prova (!x;B’)(bahan) (examina, testa) as palavras, como o paladar, a comida” (Jó 34.3/Jo 12.11).

Fazendo uma digressão acentuamos que o biógrafo de Calvino, Wileman  (1849-1941), escreveu: “Como expositor da Escritura, a Palavra de Deus era tão sagrada para ele como se a tivesse ouvido dos lábios de seu Autor”.[46]

Na introdução das Institutas (1541), referindo-se às Escrituras e aos que a ensinam, Calvino escreveu:

Portanto, o ofício dos que receberam mais ampla iluminação de Deus que os outros consiste em dar aos simples o que lhes é necessário neste assunto e em saber estender-lhes a mão para os conduzir e os ajudar a encontrar a essência do que Deus nos quer ensinar em Sua Palavra. Ora, a melhor maneira de fazer isso é com as passagens que tratam dos assuntos principais e, por conseguinte, as que estão contidas na filosofia cristã.[47]

Os presbíteros devem ter consciência da graça de Deus em seu ministério. Eles são servos como os demais, tendo, contudo, uma tarefa especial:

Ministros são aqueles que colocam seus serviços à disposição de Cristo, para que alguém possa crer nele. Além do mais, eles não possuem nada propriamente seu do quê se orgulhar, visto que também não realizam nada propriamente seu, e não possuem virtude para excelência alguma exceto pelo dom de Deus, e cada um segundo sua própria medida; o que revela que tudo quanto um indivíduo venha a possuir, sua fonte se acha em outrem. Finalmente, ele os mantém todos juntos como por um vínculo comum, visto que tinham necessidade do auxílio mútuo.[48]

O ensino da Palavra é um privilégio responsabilizador; consiste em partilhar com o nosso próximo as riquezas que o Espírito tem nos concedido:

Quando o Senhor nos abençoa, também nos convida a seguirmos seu exemplo e a sermos generosos para com o nosso próximo. As riquezas do Espírito não são para serem guardadas para nós mesmos, mas sempre que alguém as recebe deve também passá-las a outrem. Isto deve ter uma aplicação especial aos ministros da Palavra, mas também tem uma aplicação geral a todos os homens, a cada um em sua própria esfera.[49]

Mesmo a igreja tendo a oportunidade de ler as Escrituras individualmente, aos pastores compete a tarefa de ensinar a Palavra com sistematicidade, simplicidade e profundidade, adequando o ensino ao nível de seu público.

Deus preserva a verdade por meio de sua igreja, cabendo aos presbíteros a responsabilidade de ensiná-la com fidelidade. Portanto, como vimos, os pastores não estão a seu próprio serviço, mas de Cristo; eles não buscam discípulos para si mesmos, mas para Jesus Cristo:

A fé não admite glorificação senão exclusivamente em Cristo. Segue-se que aqueles que exaltam excessivamente a homens, os privam de sua genuína grandeza. Pois a coisa mais importante de todas é que eles são ministros da fé, ou seja: conquistam seguidores, sim, mas não para eles mesmos, e, sim, para Cristo.[50]

Entre os presbíteros, provavelmente refletindo a distinção judaica entre os anciãos e os levitas,[51] há, mesmo nas igrejas gentílicas – como sinal de uma total quebra de barreiras entre judeus e gentios –,[52]  aqueles que presidem e outros que, além disso, se dedicam à pregação e ao ensino. Todos devem ser honrados com justiça (1Tm 5.17/1Pe 5.5).

O âmbito do trabalho do Presbítero não se limitava a estas atividades, estando embutida também, a visita solidária aos enfermos (Tg 5.14).

A esfera da autoridade do presbítero é derivada da Palavra e enquanto permanecer fiel a ela. Nenhum ministro tem autoridade vitalícia inerente. Calvino tinha bastante clareza bíblica quanto a isso:

A primeira regra do ministro é não tentar fazer coisa alguma sem estar baseado nalgum mandamento.[53]

A Escritura é a fonte de toda a sabedoria, e os pastores terão de extrair dela tudo o que eles expõem diante do seu rebanho.[54]

As únicas pessoas que têm o direito de ser ouvidas são aquelas a quem Deus enviou e que falam a palavra de boca. Portanto, para qualquer homem exercer autoridade, duas coisas são requeridas: o chamamento [divino] e o desempenho fiel do ofício por parte daquele que foi chamado.[55]

Desta forma, conforme já citamos, todo o ofício do presbítero gira em torno da Palavra:

Porque devemos ter como coisa resolvida que todo o ofício deles se limita à administração da Palavra de Deus, toda a sua sabedoria consiste somente no conhecimento dessa Palavra, e toda a sua eloquência ou oratória se restringe à pregação da mesma. Se se afastarem dessa norma, serão tolos em seus sentidos, gagos em seu falar, traiçoeiros e infiéis em seu ofício, sejam eles profetas, ou bispos, ou mestres, ou pessoas estabelecidas em dignidade mais alta.[56]

Faço uma pergunta: Com o crescimento da membresia da igreja e, consequentemente o aumento de seus recursos, não corremos o risco de, em muitos aspectos, transformar a igreja em uma empresa e o ministro em um “super” ou nem tanto, administrador,  um “gerenciador de vaidades e melindres”,  mas, que não saiba ensinar a igreja?

Outros pontos sensíveis: Ministério não é um “bico” para horas vagas. Ministério não é carreira para que possamos ascender eclesiástica, econômica e socialmente. Ministério é serviço. O trabalhador é digno de seu salário. O presbítero docente deve ser bem remunerado conforme as possibilidades da igreja local, a fidelidade e intensidade de seu ensino – independentemente dos recursos próprios de que tenha[57] –, mas, não como alguém que vê o ministério como fonte de riqueza, poder e influência.[58]

 

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

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[1] Cf. John MacArthur, 1 e 2 Timóteo – Estudos bíblicos de John MacArthur, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 39. Hodge (1797-1878) comentando Rm 12.7, escreve: “Os diáconos (…) deveriam atender aos pobres e doentes e não tentar exercer o ofício de mestres” (Charles Hodge, Romanos,  São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2019, (Rm 12.7), p. 408).

[2]Ver: Samuel Miller, O Presbítero Regente: Natureza, Deveres e Qualificações, São Paulo: Os Puritanos, 2001, p. 42-43.

[3]João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 4.13), p. 123. “A erudição associada à piedade e aos demais dotes do bom pastor lhe sejam uma preparação. Ora, aqueles que o Senhor destinou a tão grande ofício os equipa antes com essas armas que são requeridas para desempenhá-lo, de sorte que não venham a ele vazios e despreparados” (João Calvino, As Institutas, 2016, IV.3.11).

[4]João Calvino, Sermões sobre Tito,  Brasília, DF.: Monergismo,  2019, (Tt 1.7-9), p. 78. (Edição do Kindle).

[5]João Calvino, Cartas de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 88,89.

[6]R.C. Sproul, O Pregador Mestre: In: R. Albert Mohler, Jr., et. al. Apascenta o meu rebanho: um apaixonado apelo em favor da pregação, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 93.

[7]A ideia da palavra é de fazer todo o possível – de modo intensivo, urgente, diligente e zeloso –, para cumprir a sua tarefa. Denota uma diligência que se esforça por fazer todo o possível para alcançar o seu objetivo.

[8] O verbo dokima/zw ressalta o aspecto positivo de “provar” para “aprovar”, indicando a genuinidade do que foi testado (2Co 8.8; 1Ts 2.4; 1Tm 3.10). Este verbo se refere à ação de Deus, nunca é empregado para a “tentação” de satanás, “visto que ele nunca prova aquele que ele pode aprovar, nem testa aquele que ele pode aceitar” (Richard C. Trench, Synonyms of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1985 (Reprinted), p. 281). (Vejam-se mais detalhes sobre a “tentação”, em Hermisten M.P. Costa, O Pai Nosso, São Paulo: Cultura Cristã, 2001).

No entanto, ambos os verbos podem ser usados indistintamente, mesmo não sendo “perfeitamente sinônimos” (Veja-se: H. Seesemann, peira/w: In: Gerhard Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, 8. ed. (reprinted) Grand Rapids, Michigan: WM. B. Eerdmans Publishing Co., 1982, v. 6, p. 23; H. Haarbeck, Tentar: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1983, v. 4, p. 599; Richard C. Trench, Synonyms of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1985 (Reprinted), p. 278ss.).

[9]O verbo o)rqotome/w – “cortar em linha reta”, “endireitar” –, que só ocorre neste texto, é formado por o)rqo/j (“direito”, “reto”, “certo”, “correto”) (*At 14.10; Hb 12.13) e te/mnw (“cortar”), verbo que não aparece no Novo Testamento. Na LXX o)rqotome/w é empregado em Pv 3.6 e 11.5 com o sentido de endireitar o caminho. Analogias e aplicações variadas são possíveis, tais como: a ideia de lavrar a terra fazendo os sulcos em linha reta; construir uma estrada em linha reta a fim de que o viajante alcance com facilidade o seu objetivo sem se desviar por atalhos; o alfaiate que corta o tecido de forma correta a fim de fazer a roupa (Paulo como fabricante de tendas estava acostumado a este serviço no que se refere ao corte dos tecidos de pelo de cabra); o pedreiro que corta a pedra de forma correta para o seu perfeito encaixe, etc. A partir de 2Tm 2.15 várias analogias são feitas, tais como: a ideia de conduzir a Palavra pelo caminho correto para atingir de modo eficaz seu objetivo, manuseá-la bem, ministrá-la conforme o seu propósito, expô-la de maneira correta, ensinar correta e diretamente a Palavra etc. (Vejam-se, entre outros: Helmut Köster, o)rqotome/w: In: G. Friedrich; Gerhard Kittel, eds. Theological Dictionary of the New Testament, 8. ed. Grand Rapids, Michigan: WM. B. Eerdmans Publishing Co., (reprinted) 1982, v. 8, p. 111-112; Joseph H. Thayer, “Thayer’s Greek-English Lexicon of the NT,” The Master Christian Library, Verson 8.0 (CD-ROM), (Albany, OR: Ages Sofware, 2000, v. 2, p. 270; A. Barnes, “Notes on the Bible,” The Master Christian Library, Verson 8.0 (CD-ROM), (Albany, OR: Ages Sofware, 2000, v. 15, p. 795; Adam Clark, “Commentary the New Testament,” Master Christian Library, Verson 8.0 (CD-ROM), (Albany, OR: Ages Sofware, 2000, v. 8, p. 222-223; R. Klöber, Retidão: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1983, v. 4, 215-217; William F. Arndt; F.W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature, Chicago: University of Chicago Press, 1957, p. 584; Russel N. Champlin, O Novo Testamento Interpretado, Guaratinguetá, SP.: A Voz Bíblica, [s.d.], v. 5, p. 379; John R.W. Stott, Tu, Porém, A mensagem de 2 Timóteo, São Paulo: ABU Editora, 1982, p. 59-60; J.N.D. Kelly, I e II Timóteo e Tito: introdução e comentário, São Paulo: Vida Nova; Mundo Cristão, 1983, p. 170; William Hendriksen, 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 323-324; Newport J.D. White, Second Epistle to Timothy: In: W. Robertson Nicoll, ed. The Expositor’s Greek Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), v. 4, p. 165; p. 798-799; R.C.H. Lenski, Commentary on the New Testament, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1998, v. 10, p. 425; W.C. Taylor, Dicionário do Novo Testamento Grego, 5. ed. Rio de Janeiro: JUERP., 1978, p. 152-153; A.T. Robertson, “Word Pictures in the New Testament,” The Master Christian Library, Verson 8.0 (CD-ROM), (Albany, OR: Ages Sofware, 2000, v. 4, p. 703; William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires: La Aurora, 1974, v. 12, (2Tm 2.15-18), p. 183; John F. MacArthur, Jr., Princípios para uma Cosmovisão Bíblica: uma mensagem exclusivista para um mundo pluralista, São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 49-50).

[10]Este era o seu princípio pedagógico: “Um sábio mestre tem a responsabilidade de acomodar-se ao poder de compreensão daqueles a quem ele administra o ensino, de modo a iniciar-se com os princípios rudimentares quando instrui os débeis e ignorantes, não lhes dando algo que porventura seja mais forte do que podem suportar” (João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 3.1), p. 98-99).

[11]João Calvino, As Pastorais, (2Tm 2.15), p. 235.

[12]John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1981 (Reprinted), v. 22/2, (Dedication), p. xix. Em outro lugar, pregando sobre Gálatas: “Quando Deus nos der a graça de compreender a sua Palavra, então que sempre façamos progresso nela e não nos deixemos abalar como canas, nem nos deixemos levar de um lado para o outro, e nem nos comportemos como criancinhas, mas tenhamos tino e discrição, e nos aferremos àquilo que bem sabemos nos ser oferecido por Deus. Observemos isto como sendo um ponto. Mas, a propósito, dado que não podemos ter em nós tal poder, oremos a Deus com toda humildade e solicitude que nos reforme mediante o seu Santo Espírito e nos dê tal prontidão, que nunca nos apartemos dele; e que, quando virmos todas as coisas em confusão neste mundo, não obstante que este fundamento seja inabalável, a saber, sendo que Deus não pode mentir no tocante ao que nos falou, e nos revelou a sua vontade, por isso nos mantenhamos seguros e não nos desviemos dela sequer um mínimo” (João Calvino, Sermões sobre Gálatas, Brasília, DF.: Monergismo, 2022, v. 1, p. 20 (Edição do Kindle).

[13]João Calvino, Sermões sobre Tito,  Brasília, DF.: Monergismo,  2019, (Tt 2.1-3), p. 144. (Edição do Kindle).

[14] John Piper, A Supremacia de Deus na Pregação, São Paulo: Shedd Publicações, 2003, p. 60.

[15]João Calvino, As Institutas, III.21.4.

[16]“Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno” (2Pe 3.18).

[17]“Todo arauto que sobe a um púlpito é diretamente responsável àquele que o comissionou ao dever de pregar. Se você agrada a Deus, não importa a quem desagrada. E, se você desagrada a Deus, não importa a quem agrada” (Steven J. Lawson, O tipo de pregação que Deus abençoa, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2013, p. 71).

[18] Cf. John Stott, Eu Creio na Pregação, São Paulo: Editora Vida, 2003, p. 142-146.

[19]Veja-se: Iain H. Murray, A Vida de Martyn Lloyd-Jones 1899-1981: Uma biografia, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2014, p. 79-80.

[20]D. Martyn Lloyd-Jones, As Insondáveis Riquezas de Cristo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1992, p. 52.

[21] “O Espírito Santo é o poder atuante na Igreja, e o Espírito     Santo jamais honrará coisa alguma senão a Sua Palavra. Foi o Espírito Santo quem nos deu esta Palavra. Ele é o seu Autor.      Não é dos homens! Tampouco a Bíblia é produto da ‘carne’ e do ‘sangue’. (…) O Espírito não honrará nada, senão Sua Palavra. Portanto, se não crermos e não aceitarmos sua Palavra, ou se de algum modo nos desviarmos dela, não teremos direito de esperar a bênção do Espírito Santo. O Espírito Santo honrará a verdade, e não honrará outra coisa. Seja o que for que fizermos, se não honrarmos esta verdade, Ele não nos honrará” (D.M. Lloyd-Jones, O Combate Cristão, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 103). Vejam-se as pertinentes ponderações de Packer. (J.I. Packer, Havendo Deus falado, São Paulo: Cul-tura Cristã, 2009, p. 37ss).

[22] “Deus honrará aqueles que honram a sua Palavra”    (Steven J.  Lawson, O tipo de pregação que Deus abençoa,  São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2013, p. 34).

[23] Alexander R. Vinet, Pastoral Theology: or, The Theory of the Evangelical Ministry, 2. ed. New York: Ivison, Blakeman, Taylor & Co. 1874, p. 189.

[24] João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 4.13), p. 123.

[25] D.M. Lloyd-Jones, O Caminho de Deus não o nosso, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2003, p. 67.

[26]É-nos alentadora a observação de Spurgeon: “O pregador do evangelho pode não ser um bom pregador. Mas o Senhor fala aos pecadores mesmo por meio de pregadores incultos” (C.H. Spurgeon, Sermões Sobre a Salvação, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1992, p. 46). Do mesmo modo, Chapell: “Grandes dons não o tornam grande pregador. A excelência técnica da mensagem pode repousar nas suas habilidades, mas a eficácia espiritual da sua mensagem reside em Deus” (Bryan Chapell, Pregação Cristocêntrica, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p. 25).

[27]Bryan Chapell, Pregação Cristocêntrica, p. 18. À frente continua: “Pregação que é fiel à Escritura converte, convence e amolda o espírito de homens e mulheres, pois ela apresenta o instrumento da compulsão divina, e não que pregadores tenham em si mesmos qualquer poder transformador” (Bryan Chapell, Pregação Cristocêntrica, p. 19).

[28] Bryan Chapell, Pregação Cristocêntrica, p. 25.

[29]Bryan Chapell, Pregação Cristocêntrica, p. 33.

[30]MacArthur acentua com veemência em lugares diferentes: “…. Não ousemos menosprezar o principal instrumento de evangelismo: a proclamação direta e cristocêntrica da genuína Palavra de Deus. Aqueles que trocam a Palavra por entretenimento ou artifícios descobrirão que não possuem um meio eficaz de alcançar as pessoas com a verdade de Cristo” (John F. MacArthur Jr., Com Vergonha do Evangelho, São José dos Campos, SP.: Fiel, 1997, p. 117-118). “Os que desejam colocar a dramatização, a música e outros meios mais sutis no lugar da pregação deveriam levar em conta o seguinte: Deus, intencionalmente, escolheu uma mensagem e uma metodologia que a sabedoria deste mundo considera como loucura. O termo grego traduzido por ‘loucura’ (1Co 1.21) é mõria, de onde o idioma inglês tira a sua palavra moronic (imbecil). O instrumento que Deus utiliza para realizar a salvação é, literalmente, imbecil aos olhos da sabedoria humana. Mas é a única estratégia de Deus para proclamar a mensagem” (Ibidem., p. 130).

[31]João Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.15), p. 97. Veja-se também, As Institutas, IV.1.5.

[32]John Calvin, Sermon 1Tm 3.1-4 (Sermão 22): In: Herman J. Selderhuis, ed. Calvini Opera Database 1.0, Netherlands: Instituut voor Reformatieonderzoek, 2005, v. 53), p. 261.

[33]João Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.2), p. 87.

[34]“Somos pastores, cuidamos de ovelhas, e devemos saber cuidar e proteger essa gente que foi entregue aos nossos cuidados. Nossa tarefa, por conseguinte, é equiparmo-nos para essa grande empresa” (David M. Lloyd-Jones, Pregação & Pregadores, São Paulo: Fiel, 1984, p. 129).

[35]Arcebispo de Canterbury, que em 1549 havia elaborado o Livro de Oração Comum, no qual dava ênfase ao culto em inglês, à leitura da Palavra de Deus e, ao aspecto congregacional da adoração cristã.

[36]Calvin to Cranmer, “Letter,” John Calvin Collection, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), 18. Do mesmo modo, Letters of John Calvin, Selected from the Bonnet Edition, p. 141-142.

[37] João Calvino, As Institutas, IV.1.5.

[38] I. Calvini, Sermon Dt 6.15-19: In: Herman J. Selderhuis, ed. Calvini Opera Database 1.0, Netherlands: Instituut voor Reformatieonderzoek, 2005, v. 26), Colunas  473-474.

[39]“Altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade (a)lh/qeia), supondo que a piedade é fonte de lucro” (1Tm 6.5).

[40] Paulo se referira a este como que alguém que naufragou na fé (1Tm 1.19-20).

[41]Esta palavra só ocorre aqui em todo o Novo Testamento. É deste termo que provém palavra gangrena.

[42] A palavra é usada no sentido literal Jo 2.15: “Em tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou (a)natre/pw) as mesas”.

[43] Jesus Cristo já nos alertara sobre eles. Vejam-se: Mt 7.15; 24.11,24; Lc 6.26. O apóstolo João falaria mais tarde de sua realidade presente (1Jo 4.1).

[44] O verbo Blasfhme/w, que tem o sentido de “injuriar”, “difamar”, “insultar”, “caluniar”, “maldizer”, “falar mal”, “falar para danificar”, etc., é formado de duas palavras, Bla/yij derivada de Bla/ptw = “injuriar”, “prejudicar” (* Mc 16.18; Lc 4.35) e Fhmi/ = “falar”, “afirmar”, “anunciar”, “contar”, “dar a entender”. A Blasfêmia tem sempre uma conotação negativa, de “maldizer”, “caluniar”, “causar má reputação”, etc., contrastando com Eu)fhmi/a (“boa fama” * 2Co 6.8) e Eu)/fhmoj (“boa fama” * Fp 4.8) (Eu)/ & fh/mh). No Fragmento 177 de Demócrito, lemos: “Nem a nobre palavra encobre a má ação, nem é a boa ação prejudicada pela má palavra (Blasfhmi/a)”. Paulo diz que o mal testemunho dos judeus contribuía para que os gentios blasfemassem o nome de Deus (Rm 2.24, citando Is 52.5). Compare este fato com a orientação de Paulo, 1Tm 6.1; Tt 2.5.

A falsa doutrina propicia a prática da blasfêmia (1Tm 6.3,4), bem como os falsos mestres (2Pe 2.1-2,10-12).

[45]A)se/lgeia ocorre nos seguintes textos do Novo Testamento: Mc 7.22; Rm 13.13; 2Co 12.21; Gl 5.19; Ef 4.19; 1Pe 4.3; 2Pe 2.2,7,18; Jd 4.

[46] William Wileam, “John Calvin. His Life, His Teaching & Influence,” John Calvin Collection, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), p. 100.

[47]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 1, p. 33.

[48]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 3.5), p. 102-103. “Não lograremos progresso a menos que o Senhor faça próspera a nossa obra, os nossos empenhos e a nossa perseverança, de modo a confiarmos à sua graça a nós mesmos e tudo o que fazemos” (João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 3.7), p. 106).

[49] João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, São Paulo: Edições Paracletos, 1995, (2Co 1.4), p. 17.

[50]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 3.5), p. 101-102.

[51]Quem me chamou a atenção para esse aspecto, foi Van Dam (Veja-se: Cornelis Van Dam, O Presbítero, São Paulo: Cultura Cristã, 2019, p. 95-112). Calvino comentando Is 66.19-21, escreve: “Que jamais ouviram falar de mim. Ele significa que o conhecimento de Deus seria difundido por todo o mundo; pois os gregos, italianos, partas, cilícios, entre outras nações, ainda não haviam ouvido nada acerca da religião pura e do verdadeiro culto de Deus; e o mundo inteiro jazia mergulhado nas profundas trevas da ignorância. Ele, pois, promete que a glória de Deus seria conhecida por toda parte do mundo. A palavra “nações” é enfática; pois naquele tempo o Senhor não era conhecido a ninguém mais senão a um único povo; agora, porém, ele tem se revelado a todos. (…)  Abraão foi o pai de uma nação, e, no entanto, nem todos os que descendiam dele, segundo a carne, são considerados seus filhos; pois os ismaelitas e os edomitas foram rejeitados [Rm 9.7]. O tempo em que ele veio a ser “o pai de muitas nações” [Gn 17.5; Rm 4.17], foi quando Deus adotou os gentios e os reuniu a si por meio de uma aliança, para que seguissem a fé de Abraão. E assim vemos a razão por que o profeta nos dá o título de “irmãos” dos judeus, nós que outrora éramos alienados da Igreja de Deus. Isso se deve ao fato de previamente ele haver expulsado de seu lugar os falsos e réprobos irmãos. (…)

Ele significa que não mais haveria qualquer diferença entre judeus e gentios; porque Deus derrubaria “a parede da separação” [Ef 2.14] e formaria uma Igreja “dentre todas as nações”. E assim se cumpriu o dito de Davi concernente a Cristo: “Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão” [Sl 2.8]. (…).

“O profeta intensifica a descrição daquilo que já havia declarado acerca da extraordinária graça de Deus. Ele fizera conhecido que a Igreja de Deus seria coletada dentre todas as nações, de modo que, a despeito de toda dificuldade e obstrução, mesmo as nações remotas viriam a eles. Agora, porém, ele segue em frente e os instrui que os gentios não só seriam adotados por Deus, mas também seriam elevados por ele à suprema honra. Já constituía uma grande honra que nações impuras e poluídas fossem consideradas um povo santo; agora, porém, aqui está algo muito mais maravilhoso: que são elevados ao supremo pináculo da distinção.

“Desse fato vemos que o sacerdócio sob Cristo é muito diferente do que ele era sob a Lei; pois sob a Lei uma tribo foi admitida exclusivamente ao sacerdócio, e os gentios, como imundos, viviam tão longe de ter em seu poder o exercício do sacerdócio, que inclusive foram proibidos de entrar no templo; agora, porém, todos são admitidos sem distinção. Há quem explane esta passagem de uma maneira geral: que os gentios seriam sacerdotes; isto é, se ofereceriam a Deus, como a Escritura amiúde denomina todos os crentes “um sacerdócio real” [1Pe 2.9; Ap 1.6; 5.10]. Ele, porém, parece descrever de uma maneira especial os ministros e mestres a quem também o Senhor escolheu dentre os gentios e determinou que executassem este eminente ofício; isto é, pregar o evangelho; tais como Lucas, Timóteo, entre outros da mesma classe, que ofereciam sacrifícios espirituais a Deus pelo evangelho” (John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), v. 8/4, (Is 66.19-21), p. 433-437). Veja-se: Edward J. Young,  The Book of Isaiah,  Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1996 (Reprinted), v. 3, (Is 66.21), p. 535.

[52]Vejam-se: J. Alec Motyer, O Comentário de Isaias, São Paulo: Shedd Publicações, 2016, (Is 66.21), p. 726; John N. Oswalt, Comentário do Antigo Testamento – Isaías – v. 2,  São Paulo: Cultura Cristã, 2011, (Is 66.21), p. 827-828; A.R. Crabtree, A Profecia de Isaías, Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1967, v. 2, (Is 66.21), p. 395.

[53]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 4, (IV.13), p. 52.

[54]João Calvino, As Pastorais, (1Tm 4.13), p. 123.

[55]João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1995, (2Co 1.1), p. 15.

[56]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 4, (IV.15), p. 125.

[57] “Se alguns ministros são agraciados com patrimônio e podem sustentar a si e sua família adequada e honestamente, nem por isso devem ser defraudados do salário de seu ministério”  (François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 3, p. 334).

[58] O tratamento dado à questão da manutenção do presbítero docente é feito de forma primorosa por Turretini (Veja-se:  François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 3, p. 330-336).

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