O Seminário e a formação de Pastores – Parte 29

Tempo de leitura 25 minutos

Algumas Proposições, Considerações e Perspectivas

Esta não é uma ocupação ordinária, e não é uma diversão. − João Calvino.[1]  

Recentemente reencontrei um grave depoimento de MacArthur que li há alguns anos que muito me impressionou, considerando inclusive o seu longo e abençoado ministério pastoral:

Quando comecei no ministério, cerca de meio séculos atrás, eu esperava com certeza ter de lidar com investidas contra a Escritura por parte dos descrentes e mundanos. Eu estava preparado para isso. Os descrentes, por definição, rejeitam a verdade da Escritura e resistem à sua autoridade. (…) Mas desde o início do meu ministério até agora tenho testemunhado – e tive de lidar com – onda após onda de ataques contra a Palavra de Deus vindos, na maioria das vezes, de dentro da comunidade evangélica. No decorrer do meu ministério, quase todos os mais perigosos assaltos conta a Escritura que tenho visto têm vindo da  parte de professores de seminário, pastores de megaigrejas, charlatães carismáticos da televisão, autores evangélicos populares, “psicólogos cristãos” e bloggers evangélicos extremistas. (…) A Bíblia é tratada como massinha de moldar, espremida e reformada para adaptar-se aos inconstantes interesses da cultura popular.[2]

 

A Autoridade final das Escrituras

A Inspiração e inerrância bíblica[3] são verdades fundamentais da fé cristã, das quais dependem toda a nossa formulação teológica. Essas verdades permeiam toda a História da Igreja. É pura ingenuidade supor que o ensino destas doutrinas seja algo novo, posterior à Reforma, resultante da Ortodoxia do século XVII[4] ou fruto do “fundamentalismo” do século XX.[5] Na realidade, Jesus Cristo e os apóstolos[6] em nenhum momento sugeriram qualquer “engano”, “equívoco” ou “contradição” nas páginas do Antigo Testamento.

Os Pais da Igreja, os reformadores e os cristãos em geral – inclusive os Católicos[7] até o Vaticano II (1962-1965)[8] – jamais atribuíram à Bíblia qualquer tipo de erro. A Inspiração e a Inerrância das Escrituras são verdades que fazem parte do “Antigo evangelho” proclamado por Jesus Cristo, os apóstolos,[9] os reformadores, François Turretini (1623-1687), Archibald Alexander (1772-1851), Charles Hodge (1797-1878), Archibald A. Hodge (1823-1886), A. Kuyper (1837-1920), B.B. Warfield (1851-1921),  H. Bavinck (1854-1921), Louis Berkhof (1873-1957), J.G. Machen (1881-1937), David M. Lloyd-Jones (1899-1981), Boanerges Ribeiro (1919-2003), J.I. Packer (1926-2020), James M. Boice (1938-2000), John MacArthur, John Piper, e tantos outros.[10]

Uma visão relapsa desse ponto[11] determina o fracasso teológico e espiritual da Igreja. “Uma compreensão certa da inspiração e da revelação é essencial para se distinguir entre a voz de Deus e a voz do homem”, observa corretamente MacArthur.[12]

É justamente devido ao fato de muitos cristãos terem negado de modo confessional e/ou vivencial a inspiração e inerrância das Escrituras, que tem havido tantas heresias em toda a história do Cristianismo. Esse desvio teológico, acerca destas doutrinas, tem contribuído de forma acentuada, para que os homens não mais discirnam a Palavra de Deus e, por isso, não possam gozar da sua operação eficaz levada a efeito pelo Espírito (Cf. 1Ts 2.13/Jo 17.17), caindo assim, na “rampa escorregadia”[13] da negação de outras doutrinas.

Entendo, ainda, que qualquer diálogo teológico produtivo deve começar tendo a inerrância bíblica como um pressuposto essencial. Fora disso, sinceramente, não creio que possa haver um colóquio satisfatório, edificante e esclarecedor. Comecemos pois, pela Inspiração e Inerrância das Escrituras, entendendo que a Inerrância e a Infalibilidade da Bíblia são decorrentes da sua Inspiração.

Hoje a questão de nossa Igreja, não é entre “moderados”, “fundamentalistas-puritanos” (“xiitas”) e alguns poucos com “tendências liberais”. Aliás, nunca tivemos em nossa seara teólogos com estrutura intelectual para ser um genuíno e, certamente, danoso liberal. O que talvez tenhamos aqui e ali, são jovens teólogos (e por vezes, nem tão jovens assim: síndrome de Roboão) deslumbrados ou, velhos teólogos em estado inicial ou avançado de decreptude que precisam ser amados e preservados. Ninguém está livre disso.

Dessa forma, a questão divisória está entre aqueles que creem e os que não creem na autoridade única da Escritura, assumindo todas as implicações dessa certeza. Nesse particular, que Deus nos proteja dos moderados, porque os outros nós sabemos  quem são, o que são e o que pensam e desejam. Aqueles, dependerão sempre das circunstâncias favoráveis ou não.

Quando estudante no Seminário Presbiteriano do Sul (1976-1979), meu velho e bom mestre, Rev. Raymundo Loria (1911-1993)[14] falava-nos que competia ao Seminário formar pastores. Eu, com a erudição presumida de um jovem mediano, entendia ao contrário, que o Seminário deveria informar, os alunos é que simplesmente escolheriam dentro de uma feira livre o que desejariam comprar. Lembro-me inclusive de que quando comecei a lecionar (1980), de fazer menção da tese de meu mestre e, ato contínuo, apresentar a minha perspectiva. Não se passou muito tempo (uns 2 anos), para que pudesse perceber que o meu mestre estava certo. O Seminário confessional é formativo. O seu objetivo é formar ministros para a Igreja; e no nosso caso, formar pastores para a Igreja Presbiteriana do Brasil, tendo um quadro de referência Bíblico-Reformado.

 

Culto agradável a Deus

Receber as Escrituras como Palavra inerrante e infalível de Deus, tendo-a como unicamente suficiente para dirigir a nossa fé e a nossa vida, significa tomá-la como padrão de nossa fé e de nosso agir. Desse modo, a formação de pastores deve ser dirigida dentro dessa compreensão, avaliando as suas implicações naquilo que cremos a fazemos. Aqui, destaco de modo especial  a questão do culto. É impossível ser genuinamente Reformado sem uma liturgia coerente com nossa fé.

É preciso que estejamos vigilantes para que não caminhemos em direção oposta à satisfação de Deus, ao seu agrado.

A Confissão de Westminster (1647) capta bem isso ao dizer:

O modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por Ele mesmo, e é tão limitado pela sua própria vontade revelada, que Ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras.(XXI.1).[15]

Adorar a Deus de modo não prescrito em sua Palavra é um ato idólatra, pois deste modo, adoramos na realidade a nossa própria vontade e gosto.[16] tornamo-nos “autoadoradores” (Hug Binning).  Aqui há uma inversão total de valores: em nome de Deus buscamos satisfazer os nossos caprichos e desejos;[17] Deus se tornou um mero instrumento para a expressão de nossa vontade. A lógica dessa atitude é a seguinte: desde que estejamos satisfeitos, descontraídos e leves, é isso o que importa. Quem assim procede, já recebeu a sua recompensa: a satisfação momentânea do seu desejo pecaminoso.

Calvino, comentando a expressão, “Culto racional” (Rm 12.1), diz:

Se Deus só é corretamente adorado à medida que regulamos nossas ações pelo prisma de seus mandamentos, então de nada nos valerão todas as demais formas de culto que porventura engendrarmos, as quais ele com toda razão abomina, visto que põe a obediência acima de qualquer sacrifício.[18]  O ser humano deleita-se com suas próprias invenções e (como diz o apóstolo alhures) com suas vãs exibições de sabedoria; mas aprendemos o que o Juiz celestial declara em oposição a tudo isso, quando nos fala por boca do apóstolo. Ao denominar o culto que Deus ordena de racional, ele repudia tudo quanto contrarie as normas de sua Palavra, como sendo mero esforço insensato, insípido e inconsequente.”[19]

O culto a Deus é caracterizado pela submissão às Escrituras: “É dever de todo crente apresentar seu corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, como indica as Escrituras. Nisto consiste a verdadeira adoração.”[20]

Calvino (1509-1564), nos adverte quanto à tentativa de adorar a Deus conforme o “senso comum”:

Pelo que, nada de surpreendente, se o Espírito Santo repudie como degenerescências a todos os cultos inventados pelo arbítrio dos homens, pois que em se tratando dos mistérios celestes, a opinião humanamente concebida, ainda que nem sempre engendre farto amontoado de erros, é, não obstante, a mãe do erro.[21]

O culto que não tem uma distinta referência à Palavra outra coisa não é senão uma corrupção das coisas sacras.[22]

Deus só aceita a aproximação daqueles que o buscam  com sincero coração e de maneira correta.[23]

 

Teologia e culto

O culto reflete a nossa maneira de perceber a Palavra de Deus, visto que no culto respondemos com fé em adoração e gratidão a Deus.[24] O nosso responder revela a nossa teologia.[25]

Há uma conexão iluminadora.  A nossa adoração é a nossa resposta a Deus conforme o percebemos em Cristo partindo das Escrituras e, concomitantemente, esta compreensão, que nada mais é do que a nossa teologia, é impactada no ato de culto.[26]

O culto reflete a nossa teologia e, ao mesmo tempo a ilumina, vitaliza a nossa reflexão teológica. A pura reflexão sem culto determinará uma fria esterilidade “acadêmica”. A adoração sem reflexão redundará no distanciamento da plenitude da revelação bíblica tendendo ao paganismo, à criação de um deus da nossa experiência, não das Escrituras.

É impossível uma genuína teologia bíblica divorciada de uma adoração bíblica. A  chamada “flexibilidade litúrgica” nada mais é do que uma “flexibilidade teológica” que envolverá sempre uma “teologia” de remendos, distante da plenitude da revelação Bíblica, em acordo, quem sabe, com a cultura que nos circunda.

Num documento  publicado pela Igreja Presbiteriana Ortodoxa, lemos:

O culto, então, não é algo feito superficialmente ou sem séria consideração. No culto os crentes professam e honram o caráter de Deus, em cuja presença eles entram, e quem os tirou de um estado de pecado e miséria. O culto sempre reflete a concepção que as pessoas têm de Deus. A verdadeira teologia produz um culto verdadeiro e aceitável. A teologia imprópria ou errônea produz falsa adoração. O culto não é uma questão de gosto: é uma declaração de convicção teológica.[27]

 

Ministério erudito e piedoso

A visão pastoral não exclui a erudição; necessariamente a envolve, conforme vimos nas palavras de Warfield.[28] Quando falamos que o Seminário se propõe a formar pastores – que cuidem biblicamente de suas ovelhas –, isso não significa um distanciamento alienante dos problemas antropológicos, sociais, econômicos, filosóficos e existenciais; antes, indica a canalização de todo o saber, dentro de uma visão Reformada, para o melhor exercício do Ministério da Palavra. Ser pastor está longe de significar ignorância. Aliás, “Ministros ignorantes e hipócritas são enviados pelo homem, nunca por Deus”, declarou enfaticamente o piedoso bispo Ryle (1816-1900).[29]

 

Calvino, a formação de pastores e o ministério

No que concerne à formação de pastores e ao seu testemunho, como temos demonstrado, Calvino foi bastante incisivo em seus ensinamentos e prática:

A erudição unida à piedade e aos demais dotes do bom pastor, são como uma preparação para o ministério. Pois, aqueles que o Senhor escolhe para o ministério, equipa-os antes com essas armas que são requeridas para desempenhá-lo, de sorte que lhe não venham vazios e despreparados.[30]

O homem que mais progride na piedade é também o melhor discípulo de Cristo, e o único homem que deve ser tido na conta de genuíno teólogo é aquele que pode edificar a consciência humana no temor de Deus.[31]

Deve ser enfatizado que Calvino usou como ninguém de todas as ferramentas então acessíveis para uma boa exegese,[32] dispondo o seu material de forma clara, lógica e simples, sendo chamado, não sem razão, de o “príncipe dos expositores”.[33]

Em sua interpretação bíblica Calvino combinou de forma harmoniosa a análise filológica com a teológica associando tudo isso a um pensamento construtivo que fez com que a sua teologia tivesse seus próprios fundamentos na  Palavra de Deus.[34]  Ele foi de fato o exegeta por excelência da Reforma,[35] sustentando que a Escritura é a melhor intérprete de si mesma.[36]

Portanto, qualquer doutrina ou mesmo profecia, que não se harmonize com  Escritura, “a norma da fé”, será considerada falsa.[37]  Desse modo, como vimos, em nossa interpretação, devemos nos limitar ao revelado:  “Que esta seja a nossa regra sacra: não procurar saber nada mais senão o que a Escritura nos ensina. Onde o Senhor fecha seus próprios lábios, que nós igualmente impeçamos nossas mentes de avançar sequer um passo a mais”.[38]

Calvino entende, que a especulação indevida é um mal.  Devemos observar também, que mal semelhante é negligenciar o estudo daquilo que Deus nos revelou em sua Palavra.[39] O limite de nosso conhecimento está delimitado pela Palavra:

Se alguma vez nos ocorreu ou nos ocorrer este pensamento: que a Palavra de Deus é o único caminho que nos leva a inquirir  tudo quanto nos é lícito conhecer sobre Ele; e mais, que ela é a única luz que nos ilumina para contemplarmos tudo quanto nos é lícito ver – ela nos poderá manter afastados de toda atitude temerária. Porque saberemos que, saindo dos limites próprios, caminharemos fora do caminho e vagaremos na escuridão total. E assim só poderemos errar, tropeçar e nos ferir a cada passo. Tenhamos, pois, em mente que será uma loucura querer conhecer todas as coisas relacionadas com a predestinação, exceto o que nos é dado na Palavra de Deus. Estejamos igualmente apercebidos de que, se alguém quiser caminhar por entre as rochas inacessíveis, irá mergulhar nas trevas.[40]

Em outro lugar, ele observa que a sabedoria consiste em  reconhecer os nossos limites. “Nem nos envergonhemos em até este ponto submeter o entendimento à imensa sabedoria de Deus, que sucumba em seus muitos arcanos. Pois dessas coisas que nem é dado, nem é lícito saber, douta é a ignorância,[41] uma espécie de loucura, a avidez de conhecimento”.[42]  Isto porque, “É estulto e temerário de cousas desconhecidas mais profundamente indagar do que Deus nos permita saber”.[43]

Portanto, a eloquência de Deus deve propiciar a nossa adoração. O seu silêncio, o nosso reverente temor.  Em outro lugar, comenta: “Tudo o mais que pesa sobre nós e que devemos buscar é nada sabermos senão o que o Senhor quis revelar à sua igreja. Eis o limite de nosso conhecimento”.[44] Afinal, tentar ensinar fora das Escrituras é tolice e, o papel do mestre cristão não é outro, senão o de ensinar as Escrituras: “Mestre é aquele que forma e instrui a Igreja na Palavra da verdade.”[45]

Em outro lugar: “A tarefa dos mestres consiste em preservar e propagar as sãs doutrinas para que a pureza da religião permaneça na Igreja.”[46] “O alvo primordial de um bom mestre deve ser a edificação, e a essa questão ele deve pôr toda a sua atenção”.[47]

Por outro lado, tudo o que o Senhor ensinou e fez registrar em Sua Palavra é útil e necessário para a sua Igreja. Comentando o texto de 2Tm 3.16, Calvino diz:

“A Escritura é proveitosa.”[48] Segue-se daqui que é errôneo usá-la de forma inaproveitável. Ao dar-nos as Escrituras, o Senhor não pretendia satisfazer nossa curiosidade, nem alimentar nossa ânsia por ostentação, nem tampouco deparar-nos uma chance para invenções místicas e palavreado tolo; sua intenção, ao contrário, era fazer-nos o bem. E assim, o uso correto da Escritura deve guiar-nos sempre ao que é proveitoso.[49]

“O propósito divino não é satisfazer nossa curiosidade, e, sim, ministrar-nos instrução proveitosa. Longe com todas as especulações que não produzem nenhuma edificação”.[50]

O “proveitoso”, tem a ver com o objetivo de Deus para o seu povo: que tenha uma vida piedosa e santa; seja maduro (perfeito).[51] Por isso, conclui que, “é quase impossível exagerar o volume de prejuízo causado pela pregação hipócrita, cujo único alvo é a ostentação e o espetáculo vazio”.[52]

Tratando da doutrina da Predestinação, delimita o campo da sua teologia: “A  Escritura é a escola do Espírito Santo, na qual, como nada é omitido não só necessário, mas também proveitoso de conhecer-se, assim também nada é ensinado senão o que convenha saber”.[53]

Nas Institutas, orienta e adverte àqueles que querem discutir com Deus, limitando-O ao seu raciocínio:

Ponderem, por uns instantes, aqueles a quem isto se afigura áspero, quão tolerável lhes seja a impertinência, quando, porque lhes excede a compreensão, rejeitam matéria atestada de claros testemunhos da Escritura e inquinam de vício o serem a público trazidas cousas que, a não ser que houvesse reconhecido serem proveitosas de conhecer-se, Deus jamais haveria ordenado fossem ensinadas através de Seus Profetas e Apóstolos. Ora, nosso saber não deve ser outra cousa senão abraçar com branda docilidade e, certamente, sem restrição, tudo quanto foi ensinado nas Sagradas Escrituras.[54]

Em outro lugar, comentando Gálatas 5.9, insiste:

Essa cláusula os adverte de quão danosa é a corrupção da doutrina, para que cuidassem de não negligenciá-la (como é costumeiro) como se fosse algo de pouco ou nenhum risco. Satanás entra em ação com astúcia, e obviamente não destrói o evangelho em sua totalidade, senão que macula sua pureza com opiniões falsas e corruptas. Muitos não levam em conta a gravidade do mal, e por isso fazem uma resistência menos radical. (…) Devemos ser muito cautelosos, não permitindo que algo (estranho) seja adicionado à íntegra doutrina do Evangelho.[55]

Enfatiza a responsabilidade dos ministros:

Em relação aos homens, a Igreja mantém a verdade porque, por meio da pregação, a Igreja a proclama, a conserva pura e íntegra, a transmite à posteridade.[56]

Paulo dá a saber que, para que não pereça a verdade de Deus no mundo, fiel depositária lhe é a Igreja, porquanto por seu ministério e obra quis Deus se conserve pura a pregação de Sua Palavra e, enquanto de alimentos espirituais nos nutre e procura  tudo quanto à salvação nos consulta, um pai de família se nos mostre.[57]

A profundidade teológica estará sempre associada e dependente do conhecimento experimental de Deus em Cristo (Jr 9.24; Os 6.3; Mt 11.27; Jo 14.6,9; 2Pe 3.18).

Calvino faz um comentário a respeito de Davi sobre o qual devemos nos pautar: “A Escritura amiúde designa a Davi pelo título de pastor; mas ele mesmo atribui tal ofício a Deus, assim confessando que ele é totalmente insuficiente para tal ofício, salvo só no caso em que ele é ministro de Deus”.[58]

Portanto, insistimos, sem a aliança constante e vitalizadora da teologia e da vida cristã, fundamentadas na Palavra, cairemos numa aridez teológica  e espiritual. Não nos iludamos, o “dinamismo” espiritual fora da Palavra, cedo ou tarde  mostrará uma área devastada e humanamente irrecuperável. Uma “teologia” sem o Espírito que nos fala por intermédio da Palavra, conduzir-nos-á inevitavelmente a simples “reflexões”, com as quais nós teólogos nos banquetearemos – não impunemente –, com a carne e o sangue da Igreja, o Corpo de Cristo. Que Deus nos livre de ambos os males.

Calvino insiste no fato de que “o bispo é realmente sábio quando retém a fé genuína; e faz um correto uso de seu conhecimento quando o aplica à edificação do povo.”[59]

A vocação para o ministério deve ser zelosamente enfatizada.       Warfield, falando aos estudantes de teologia, traz uma palavra de conforto e de exortação: “Mantenham sempre diante de suas mentes a grandeza do seu chamado”.[60]

Primeiramente, o chamado para o ministério da Palavra não é uma questão de querer ou não querer; depende exclusivamente do poder de Deus; posteriormente, como algo natural, o homem desejará cumprir o ministério recebido, atendendo à vocação de Deus. Deus atua em nossa vontade mediante a sua graça e o seu poder (Jr 1.5; Gl 1.15; Ef 3.7/Fp 2.13).

É o próprio Jesus Cristo, o Senhor da Igreja quem molda seus ministros. Os bons seminários são instrumentos de Deus nesse propósito.

Calvino comenta:

Os pastores genuínos não se precipitam temerariamente ao sabor de sua própria vontade, e, sim, são levantados pelo Senhor. (…) Nenhum homem estará apto para tão excelente ofício, caso não seja ele formado e produzido por Cristo mesmo. O fato de termos ministros do evangelho, é um dom divino; o fato de que se desincumbem da responsabilidade que lhes foi confiada, é igualmente um dom divino.[61] (Destaques meus).

Por outro lado, vemos também a responsabilidade dos Ministros: Usar a Palavra dentro do propósito para a qual Ela nos foi dada.

Calvino (1509-1564), pastoralmente orienta:

Deus mesmo não desce do céu para nós, nem diariamente nos envia mensageiros angelicais para que publiquem sua verdade, senão que usa as atividades dos pastores, a quem destinou para esse propósito.[62]

Pois não devemos ser sábios do jeito que muitas pessoas o são, as quais exigem saber se Deus não pode enviar seus anjos do céu e nos ensinar por revelações, nem do jeito de alguns bisbilhoteiros que pretextam ter o Espírito de Deus à disposição deles (en leur manche, em sua manga), e por isso desdenham receber os dons tais como distribuídos por Deus. Para que não sejamos assim enfeitiçados por Satã, notemos como é dito aqui que é vontade de Deus que o evangelho seja pregado pelas bocas dos homens, e que estes nos são, por assim dizer, testemunhas.[63]

Comentando sobre a necessidade de o bispo ser apegado à Palavra fiel, o Reformador diz: “Este é o principal dote do bispo que é eleito especificamente para o magistério sagrado, porquanto a Igreja não pode ser governada senão pela Palavra”.[64]

 Agostinho (354-430), escreveu: “O pregador é o que interpreta e ensina as verdades divinas”.[65] Em termos de aprendizado, o púlpito é o ponto principal de contato entre a instituição de ensino e a Igreja.

“Cada disciplina bíblica atinge o propósito mais elevado, quando a usamos não simplesmente para dilatar nossa mente, mas para propagar o Evangelho”.[66] O sermão é o alvo da hermenêutica.[67] No entanto, precisamos estar atentos para não confundir a sala de aula com o púlpito.

A exegese visa nos habilitar dentro dos recursos metodológicos, a compreender o texto a fim de podermos transmiti-lo de forma fidedigna. Isto nos conduz à outra disciplina, à Homilética.

A exegese fornece-se a mensagem do texto. A homilética propicia-nos a forma de transmiti-lo de modo claro, fiel e eficaz.

“A função de todo aquele que alega ter sido chamado para ser ministro do evangelho é pregar ‘as insondáveis riquezas de Cristo’.”[68] Portanto, “Um ministro sábio deve determinar qual deva ser o seu método de ensino, e persistir neste plano”.[69]

Quero concluir essas anotações com as palavras de Lutero: “Não há tesouro mais precioso nem coisa mais nobre na terra e nesta vida do que um verdadeiro e fiel pastor ou pregador”.[70]

“Haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças” (2Tm 4.3). O nosso tempo é agora. A Igreja, portanto, não pode abrir mão de sua responsabilidade e privilégio: a formação de seus pastores. Jamais ficaremos impunes se o fizermos ou, simplesmente virarmos às costas a esta responsabilidade. Que Deus nos ajude a trabalhar eficazmente dentro da esfera que Deus nos proporcionou, para que juntos (Conselhos, Presbitérios, Sínodos e Supremo Concílio) assistidos pelo Espírito de Deus, preservemos a sã doutrina anunciando e ensinando o Evangelho de Cristo. Amém.

 

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

_______________________________________

[1] Calvino pregando em 1555 sobre Tt 1.5-6 (João Calvino, Sermões sobre Tito,  Brasília, DF.: Monergismo,  2019, p. 60 [Edição do Kindle]).

[2]John MacArthur, A suficiência da Escritura: Salmo 19. In:  John F. MacArthur, org.  A Palavra Inerrante, São Paulo: Cultura Cristã, 2018, p. 26.

[3]Sobre este ponto, ver: Hermisten M.P. Costa, Inspiração e Inerrância das Escrituras: Uma Perspectiva Reformada, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1998.

[4] Conforme entendia, por exemplo, Karl Barth (1886-1968). (K. Barth, Church Dogmatics, Edinburgh: T. & T. Clark, 1960, I/1, p. 126-128). Também sustentam este ponto Rogers e McKim (Vejam-se: Jack Rogers, Inerrancy: In: Donald W. Musser; Joseph L. Price, eds. A New Handbook of Christian Theology, Nashville: Abingdon Press, 1992, p. 255; Jack Rogers; Donald McKim, Authority of the Bible: An Historical Approach, New York: Harper & Row, 1979, p. 176ss., 273).

[5] Conforme sugere  a ex-freira Karen Armstrong (Ver: Karen Armstrong, Em Nome de Deus: o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo, São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 199).

[6] Veja-se: Edwin A. Blum, The Apostle’s of Scripture: In: Norman L. Geisler, ed. Inerrancy, Grand Rapids, Michigan: Zondervan Publishing House, 1980, p. 39-53.

[7]Encontramos uma descrição objetiva da questão em George: “No século XVI, a inspiração e a autoridade das Escrituras Sagradas não era um ponto de debate entre católicos e protestantes. Todos os reformadores, até mesmo os radicais, aceitavam a origem divina e o caráter infalível da Bíblia. A questão que surgiu na Reforma foi sobre o modo como a autoridade divinamente comprovada das Escrituras Sagradas estava relacionada à autoridade da igreja e da tradição eclesiástica (católicos romanos), por um lado, e ao poder da experiência pessoal (espiritualistas), pelo outro” (Timothy George, Teologia dos Reformadores, São Paulo: Vida Nova, 1993, p. 312). (Do mesmo modo, Gleason L. Archer, Enciclopédia de Dificuldades Bíblicas, São Paulo: Vida, 1997, p. 19).

[8] O Concílio Vaticano II declarou o seguinte: “Deve-se professar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus em vista da nossa salvação quis fosse consignada nas Sagradas Escrituras” (Compêndio do Vaticano II, 5. ed. Petrópolis, RJ.: Vozes, (1971), II.3.11. § 179, p. 129). Todavia, Packer (1926-2020) observa com acuidade, que essa assertiva “foi redigida com o propósito de funcionar como buraco no dique da inerrância bíblica, e é certamente assim que os teólogos católicos romanos a partir do Vaticano II têm feito uso desta afirmação” (J.I. Packer, Confrontando os Conceitos dos Nossos Dias Acerca da Escritura: In: James M. Boice, ed. O Alicerce da Autoridade Bíblica, São Paulo: Vida Nova, 1982, p. 83. Veja-se, por exemplo, De Fraine, Inspiração: In: A. Van Den Born, redator. Dicionário Enciclopédico da Bíblia, 2. ed. Petrópolis, RJ.: Vozes, 1977, seção 4, p. 734.

[9]Richardson (1905-1975), mesmo não compartilhando do conceito de “inerrância”, teve de admitir que “A crença na inspiração total das Escrituras, bem como as próprias Escrituras, herdara-a a Igreja Apostólica do Judaísmo. Nos tempos do Novo Testamento, tanto os judeus da Palestina como em geral os da diáspora achavam que os Profetas e as Escrituras tinham aquela mesma autoridade incondicional que em tempos anteriores somente se dava à Lei (…). Os escritores do Novo Testamento pensavam, como os judeus em geral, nesse assunto da autoridade das Escrituras. Citavam a Bíblia grega, ou Septuaginta, como escritura inspirada: Deus falara pelos seus profetas nas Santas Escrituras, e estas são citadas como sendo a expressão direta do próprio Deus” (Alan Richardson, Apologética Cristã, 2. ed. Rio de Janeiro: JUERP., 1978. p. 163-164).

[10]Vejam-se: R. Laird Harris, Inspiration and Canonicity of the Scriptures, Greenville: SC. A. Press, 1995, p. 55-64; John H. Gerstner, A Doutrina da Igreja Sobre a Inspiração Bíblica: In: James M. Boice, ed. O Alicerce da Autoridade Bíblica, p. 25ss. Para uma visão panorâmica da discussão contemporânea a respeito da autoridade da Bíblia, veja-se: Harvie M. Conn, A Historical Prologue: Inerrancy, Hermeneutic and Westminster: In: Harvie M. Conn, Inerrancy and Hermeneutic, 2. ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1990, p. 15-34.

[11] Uma das formas sutis de desviar a nossa atenção deste ponto, é dizer-nos que este assunto não é algo realmente sério. (Veja-se: Gleason L. Archer, Enciclopédia de Dificuldades Bíblicas, São Paulo: Vida, 1997, p. 30).

[12] John F. MacArthur, Os Carismáticos, São Paulo: Fiel, 1981, p. 19. Veja-se também, J.I. Packer, Confrontando os Conceitos dos Nossos Dias Acerca da Escritura: In: James M. Boice, ed. O Alicerce da Autoridade Bíblica, p. 76-77.

[13]Vejam-se: J.I. Packer, Confrontando os Conceitos dos Nossos Dias Acerca da Escritura: In: James M. Boice, ed. O Alicerce da Autoridade Bíblica, p. 76,77,88,89; P.D. Feinberg, Bíblia, Inerrância e infalibilidade da: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, São Paulo: Vida Nova, 1990, v. 1, p. 182-183. Agostinho (354-430), que na questão do Cânon nem sempre foi dos mais lúcidos, raciocina de forma lógica e objetiva na questão da inerrância, dizendo: “Numa autoridade tão alta (i.é, a Escritura), a admitir uma só mentira oficiosa não deixará sobrar uma só passagem daquelas que parecem difíceis para praticar ou crer, que, segundo a mesma regra altamente perniciosa, não possa ser explicada como mentira feita pelo autor deliberadamente para servir a algum propósito…” (Apud J.I. Packer, Confrontando os Conceitos dos Nossos Dias Acerca da Escritura: In: James M. Boice, ed. O Alicerce da Autoridade Bíblica, p. 88). Para Agostinho, ser “canônico”, significa ser verdadeiro. (Santo Agostinho, A Cidade de Deus Contra os Pagãos, 2. ed. Petrópolis, RJ.: Vozes, 1990, v. 2, XVIII.38. p. 355).

[14]Dediquei a ele o meu livro Inspiração e Inerrância das Escrituras (1998): “Em memória do Rev. Raymundo Loria (2/7/1911-13/5/1993), que nos estimulou com sua vida e ensino, a amar a Deus e a Sua infalível Palavra”

[15]Vejam-se também: Catecismo Maior de Westminster, Perg. 109 e Catecismo de Heidelberg,  Perg. 96. Hodge comentando o Capítulo XXI.1 da Confissão de Westminster, diz: “Por isso, necessariamente segue-se: visto que Deus prescreveu o modo como devemos aceitavelmente adorá-lo e servi-lo, é uma ofensa e um pecado contra ele que negligenciemos seu método ou, em preferência, pratiquemos o nosso próprio.  (…) Como demonstramos anteriormente à luz  da Escritura, não só todo o ensino humano em termos de doutrinas e de mandamentos, mas também toda forma de culto próprio, de atos e formas de culto estabelecidos pelo homem, são abomináveis para Deus. (…) Não temos, em nenhuma circunstância, qualquer direito, com base nos gostos, na moda [fashion] ou conveniência, de ir além da clara autoridade da Escritura”  (Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Comentada por A.A. Hodge, São Paulo: Editora Os Puritanos, 1999, Cap. XXI, p. 369).   “Deus em muitas passagens proíbe qualquer novo culto desprovido da sanção da Sua Palavra, e declara-se gravemente ofendido pela presunção de tal culto inventado, ameaçando-o de severa punição….” (John Calvin, “The Necessity of Reforming the Church,” John Calvin Collection, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), p. 218).

[16] Vejam-se: J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, São Paulo: Mundo Cristão, 1980, p. 37; Paulo Anglada, O Princípio Regulador do Culto, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, (1998), p. 28ss.

[17]Calvino pergunta: “Que pecado cometemos se não queremos aceitar que a maneira legítima de servir a Deus seja ordenada pelo capricho dos homens, o que Paulo ensinou ser intolerável?” (João Calvino, As Institutas, IV.10.9).

[18] Comentado Rm 5.19, Calvino diz: “Só quando seguimos o que Deus nos ordenou é que verdadeiramente o adoramos e rendemos obediência à sua Palavra” (J. Calvino,  Exposição de Romanos, (Rm 5.19), p. 198). Em outro lugar: “Quando os homens se permitem cultuar a Deus conforme suas próprias fantasias, e não observam os Seus mandamentos, pervertem a verdadeira religião”  (John Calvin, Commentaries on the Prophet Jeremiah, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (Calvin’s Commentaries, v. 9), 1996 (reprinted), (Jr 7.31), p. 414). “É evidente, à luz desse fato, que os homens cultuarão a Deus inutilmente, se porventura não observarem o modo correto; e que todas as religiões que não contêm o genuíno conhecimento de Deus são não só fúteis, mas também perniciosas, visto que todas aquelas que não sabem distinguir Deus dos ídolos estão sendo impedidas de se aproximarem dele. Não pode haver religião alguma onde não reine a verdade. Se um genuíno conhecimento de Deus habita os nossos corações, seguir-se-á inevitavelmente que seremos conduzidos a reverenciá-lo e a temê-lo. Não é possível ter genuíno conhecimento de Deus exceto pelo prisma de sua majestade. É desse fator que nasce o desejo de servi-lo, e daqui sucede que toda a vida é direcionada para ele como seu supremo alvo” (João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 11.6), p. 305-306).

[19]João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 12.1), p. 424-425. Para Calvino, a racionalidade legítima, consistia em submeter o nosso intelecto a Deus: “Quanto tem avançado aquele homem que tem aprendido a não pertencer-se a si mesmo, nem a ser governado por sua própria razão, senão que submete a sua mente a Deus! (…) O serviço do Senhor não só implica uma autêntica obediência, senão também a vontade de pôr aparte seus desejos pecaminosos e submeter-se completamente à direção do Espírito Santo.”  (John Calvin, Golden Booklet of the True Christian Life, 6. ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1977, p. 21). A  Confissão Belga (1561), após dizer o que entende por Escritura – os 66 livros Canônicos -, acrescenta: “Cremos, que esta Sagrada Escritura contém de um modo completo a vontade de Deus, e que tudo o que o homem está obrigado a crer para ser salvo se ensina suficientemente nela. Pois, já que toda forma de culto que Deus exige de nós ali está extensamente descrita, assim não é permitido aos homens, ainda que sejam Apóstolos, ensinar de outra maneira que como agora se nos ensina pela Sagrada Escritura. (…) Sua doutrina é perfeitíssima e completa em todas suas formas.” (Art. 7).

Anglada, observa com pertinência, que “A história das religiões demonstra que quando o próprio homem se arroga o direito de conceber formas de adoração a Deus, os maiores absurdos podem acontecer. Prostitutas cultuais, luxúria, sacrifícios humanos, autoflagelação, adoração da própria natureza, culto a demônios e a espíritos imundos, são alguns exemplos”  (Paulo Anglada, O Princípio Regulador do Culto, p. 7-8).

[20] João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo, Novo Século, 2000, p. 29.

[21] J. Calvino, As Institutas, I.5.13. “Portanto, uma vez que, de seguir-se na adoração de Deus, nimiamente fraco e frágil vínculo da piedade seja ou a praxe da cidade, ou o consenso da antiguidade, resta que o próprio Deus dê do céu testemunho de Si” (J. Calvino, As Institutas, I.5.13).

[22] João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 50.5), p. 403.

[23] João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 50.23), p. 420. Horton está correto ao dizer: “É Deus, e não os de fora da igreja, que nos dá o modelo de culto” (Michael S. Horton, O Cristão e a Cultura, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1998, p. 82). Na mesma linha escreve MacArthur: “As igrejas planejam seus cultos de adoração para servir aos ‘sem-igrejas’. Os produtores cristãos imitam a coqueluche mundana do momento em termos de música e entretenimento. Os pregadores se sentem aterrorizados de que a ofensa do evangelho possa fazer alguém se voltar contra eles; então deliberadamente omitem partes da mensagem que o mundo pode não se agradar” (John MacArthur, Jr., Princípios para uma Cosmovisão bíblica, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003, p. 13). À frente: “A busca pela aprovação do mundo é nada mais, nada menos que adultério espiritual” (John MacArthur, Jr., Princípios para uma Cosmovisão bíblica, p. 14).

[24]Vejam-se: João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 56.12), p. 503-504;  As Institutas, II.8.16. O princípio de que devemos ser agradecidos a Deus considerando os seus feitos para conosco, é enfático no pensamento de Calvino: “Depois de Deus nos conceder gratuitamente todas as coisas, ele nada requer em troca senão uma grata lembrança de seus benefícios” (João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 1, (Sl 6.5), p. 129); “Sempre que Deus manifesta sua liberalidade para conosco, também nos encoraja a render-lhe graças; e prossegue agindo em nosso favor de forma semelhante quando vê que somos gratos e cônscios do que ele nos tem feito” (João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 40.9), p. 231). “Embora Deus de forma alguma careça de nossos louvores, contudo sua vontade é que este exercício, por diversas razões, prevaleça em nosso meio” (João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 40.9), p. 232); “Seja qual for a maneira em que Deus se agrada em socorrer-nos, ele não exige nada mais de nós senão que sejamos agradecidos pelo socorro e o guardemos na memória” (João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 40.3), p. 216).

[25] “O culto reflete a teologia eclesiológica e deve marcar a fronteira entre o mundano concupiscente e o sagrado espiritualizado” (Onezio Figueiredo, Culto (Opúsculo II), p. 25).

[26] Veja-se: Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo,  São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 40-41.

[27] A Igreja Presbiteriana Ortodoxa e o Culto, tradução de Sonedi H. Evangelista, p. 8a.

[28] B.B. Warfield, A Vida Religiosa dos Estudantes de Teologia, São Paulo: Editora os Puritanos, 1999, p. 9-10.

[29]J. C. Ryle,  Comentário do Evangelho Segundo S. João,  São Paulo: Imprensa Metodista, 1957, (Jo 1.6), p. 13b.

[30]João Calvino, As Institutas, IV.3.11.

[31]João Calvino, As Pastorais, (Tt 1.1), p. 300

[32]Vejam-se: João Calvino, As Institutas, I.5.2; II.2.12-17;  Hans-Joachim Kraus, Calvin’s Exegetical Principles: In: Interpretation 31 (1977), Virginia, p. 12; Donald K. McKim, Calvin’s View of Scripture: In: Donald K. McKim, ed. Readings in Calvin’s Theology, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1984, p. 64-65; Alister E. McGrath, A Life of John Calvin: A Study in the Shaping of Western Culture, p. 151; Anthony N.S. Lane, John Calvin: Student of the Church Fathers, Grand Rapids, Mi: Baker Books, 1999, especialmente, p. 15-66.

[33]Cf. expressão de Singer. (C. Gregg Singer, John Calvin: His Roots and Fruits, Greenville: Abingdon Press, 1989, p. 6). Os editores das obras de Calvino em Brunswick, comparando Calvino com outros Reformadores, concluem que ele pode, com justiça, ser chamado de o “príncipe e guia [standard-bearer] dos teólogos” (Cf. John Murray, Calvin as Theologian and Expositor, Carlisle, Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, (Collected Writings of John Murray, v. 1), 1976, p. 306).

[34]Ver: Thomas F. Torrance, The Hermeneutics of John Calvin, Edinburgh: Lindsay & Co. Ltd., 1988, p. 61.

[35]“A palma pertence a Lutero como tradutor; a Calvino como intérprete da Palavra” (Jorge P. Fisher, Historia de la Reforma, Barcelona: CLIE., [1984], p. 204). “Lutero foi o príncipe dos tradutores; Calvino, o príncipe dos comentaristas” (P. Schaff, The Creeds of Christendom, v. 1, p. 459). “O maior exegeta e teólogo da Reforma foi indubitavelmente Calvino” (F.W. Farrar, History of Interpretation, London: Macmillan and Co., 1886, p. 342 [Edição fac-símile feita pela Kessinger Publishing]). “Ele foi um dos maiores intérpretes da Escritura que já viveu” (F.W. Farrar, History of Interpretation, p. 343). Murray, acrescenta: “Calvino foi um exegeta e teólogo bíblico de primeira linha” [John Murray, em Introdução à tradução americana da Instituição, (Reformation History Library, [CD-ROM], [Albany, OR: Ages Software, 1997], p. 4). “O maior exegeta do seu tempo….” (Henri Strohl, O Pensamento da Reforma, São Paulo: ASTE, 1963, p. 222). “Ele encontra-se facilmente entre os mais brilhantes (comentaristas) de sua era” (Alister E. McGrath, A Vida de João Calvino, p. 167; Alister E. McGrath,  O Pensamento da Reforma, São Paulo: Cultura Cristã, 2014, p. 66). “João Calvino (1509-1564), o maior exegeta da Reforma….” (David S. Dockery, Hermenêutica Contemporânea à luz da Igreja Primitiva, São Paulo: Editora Vida, 2005, p. 154).

[36] Vejam-se: João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 12.6), p. 430-432; As Institutas, IV.17.32.

[37]João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 12.6), p. 432. “A palavra de Deus, [é] a única norma do genuíno discernimento, a qual é aqui declarada como indispensável a todos os cristãos” (João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 5.14), p. 143).

[38] J. Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 9.14), p. 330. Veja-se também: João Calvino, As Institutas, I.14.4.

[39]Cf. J. Calvino, As Institutas, III.21.4.

[40]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa,  v. 3, (III.8), p. 38. Veja-se também: João Calvino, Cartas de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 93.

[41] Veja-se também: As Institutas, III.21.2.

[42]J. Calvino, As Institutas, (2006), III.23.8. Na edição de 1541, escrevera: “E que não achemos ruim submeter neste ponto o nosso entendimento à sabedoria de Deus, aos cuidados da qual Ele deixa muitos segredos. Porque é douta ignorância ignorar as coisas que não é lícito nem possível saber; o desejo de sabê-las revela uma espécie de raiva canina” (João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa,  v. 3, (III.8), p. 53-54).

[43] J. Calvino, As Institutas, III.25.6. (Vejam-se também: As Institutas, I.5.9; I.14.3; III.21.4; III.23.8; III.25.11; IV.17.36; J. Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 7.3,8), p. 177-178, 183).

[44]João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, (2Co 12.4), p. 242, 243. George comenta: “Com toda sua reputação de teólogo de lógica rigorosa, Calvino preferiu viver com o mistério e a incoerência de lógica a violar os limites da revelação ou imputar culpa ao Deus que as Escrituras retratam como infinitamente sábio, completamente amoroso e absolutamente justo.” (Timothy George, A Teologia dos Reformadores, p. 209). (Ver também: Alister E. McGrath, A Life of John Calvin: A Study in the Shaping of Western Culture, p. 147 e Edward A. Dowey, Jr., The Knowledge of God in Calvin’s Theology, New York: Calumbia University Press, 1952, p. 36ss.). Atitude similar encontramos em Agostinho: “Ignoremos de boa mente aquilo que Deus não quis que soubéssemos.” (Agostinho, Comentário aos Salmos, São Paulo: Paulus, (Patrística, 9/1), 1998, (Sl 6), v. 1, p. 60). (Veja-se: João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 51.5), p. 431-432).

[45] João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 12.7), p. 432.

[46] João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 12.28), p. 390.

[47] J. Calvino, As Pastorais, (2Tm 2.14), p. 232. Ver também: As Pastorais, (2Tm 2.15), p. 235.

[48] “Aquele que não tenta ensinar com o intuito de beneficiar, não pode ensinar corretamente; por mais que faça boa apresentação, a doutrinação não será sã, a menos que cuide para que seja proveitosa a seus ouvintes” (João Calvino, As Pastorais, (1Tm 6.3), p. 165).

[49]J. Calvino, As Pastorais, (2Tm 3.16), p. 263. Ver também: João Calvino, As Pastorais, (2Tm 2.15), p. 233-234.

[50]J. Calvino, As Pastorais, (2Tm 2.14), p. 233.

[51] J. Calvino, As Pastorais, (2Tm 3.16-17), p. 264.

[52]João Calvino, As Pastorais, (1Tm 6.3), p. 164.

[53] J. Calvino, As Institutas, III.21.3. Veja-se também, As Institutas, IV.17.36. “A tal ponto se tem proveito em Sua escola que não há necessidade de acrescentar nada que venha de outros, e se deve ignorar tudo o que não é ensinado nela” (João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, v. 4, (IV.12), p. 24).

[54]João Calvino, As Institutas, I.18.4.

[55] João Calvino, Gálatas, (Gl 5.9), p. 158-159.

[56]João Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.15), p. 98. Veja-se também, As Institutas, IV.1.5.

[57] João Calvino, As Institutas, IV.1.10. Vejam-se também: João Calvino, Gálatas, (Gl 5.9), p. 158-159; João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (2Tm 2.15), p. 235

[58] João Calvino, O Livro dos Salmos,  v. 1 (Sl 28.9), p. 610.

[59] João Calvino,  As Pastorais, (Tt 1.9), p. 314.

[60] B.B. Warfield, A Vida Religiosa dos Estudantes de Teologia, p. 26.

[61]João Calvino, Efésios, (Ef 4.11), p. 120.

[62]João Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.15), p. 97. Do mesmo modo: John Calvin, “Commentary on the Book of the Prophet Isaiah,” John Calvin Collection, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), (Is 41.27), p. 112.

[63]João Calvino, Sermões em Efésios, Brasília, DF.: Editora Monergismo, 2009, p. 29.

[64] João Calvino,  As Pastorais, (Tt 1.9), p. 313.

[65]Stº Agostinho, A Doutrina Cristã, São Paulo: Paulinas, 1991, IV.4.6. p. 217.

[66]Bryan Chapell, Pregação Cristocêntrica, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2002, p. 17.

[67]Cf. Grant Osborne, A Espiral Hermenêutica: Uma nova abordagem à interpretação bíblica, São Paulo: Vida Nova, 2009, p. 561.

[68]D. Martyn Lloyd-Jones, As Insondáveis Riquezas de Cristo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1992, p. 51.

[69]J. Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 4.18), p. 147.

[70]Martinho Lutero, Uma Prédica Para que se Mandem os Filhos à Escola (1530): In:  Martinho Lutero: Obras Selecionadas,  São Leopoldo; Porto Alegre, RS.: Sinodal; Concórdia, 1995, v. 5, p. 336. Falando sobre a sua vocação, Calvino diz: “Deus, me havendo tirado de minha originariamente obscura e humilde condição, considerou-me digno de ser investido com o sublime ofício de pregador e ministro do Evangelho”  (J. Calvino O Livro dos Salmos, v. 1, p. 37). “A pregação é a mais solene e exaltada dessas atividades, sendo, portanto, o supremo teste do ministério de um homem” (J.I. Packer, Entre os Gigantes de Deus: Uma visão puritana da vida cristã,  São José dos Campos, SP.: FIEL, 1996, p. 274).

 191 total views,  23 views today