Quando deixar uma igreja

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Nota do editor: Este é o décimo quinto de 17 capítulos da série da revista Tabletalk: Cristianismo e liberalismo.

Muitos cristãos sentem ansiedade ao se perguntarem: “Quando devo deixar minha igreja?”. É uma pergunta importante que envolve muitos fatores. Em resumo, não há uma resposta fácil e abrangente. Mas espero delinear algumas das considerações sobre a pergunta neste artigo.

Definir o que significa deixar uma igreja é útil para este assunto. Uma das suposições feitas neste artigo é que a filiação à igreja é bíblica e necessária para os cristãos. Não há espaço aqui para argumentar sobre a necessidade de ser membro de uma igreja, porém basta dizer que se você não se filiar a uma igreja, você não poderá de fato deixá-la. Então, se assumimos uma política bíblica adequada da igreja, há apenas três maneiras pelas quais um cristão pode deixar uma igreja: morte, excomunhão e transferência de membresia. Este artigo não abordará morte ou excomunhão. Por “deixar a igreja”, quero dizer transferir sua filiação para outra igreja. Quando é adequado fazê-lo?

A resposta mais breve é que, a menos que você tenha se mudado para um local onde não seja prático continuar como membro, você não deve deixar uma igreja verdadeira. Sempre há ressalvas, exceções e circunstâncias que impedem que esta seja uma resposta fácil e abrangente. No entanto, o princípio básico permanece: em geral, você não deve deixar uma igreja verdadeira. Mas se a sua igreja local não atinge os requisitos básicos de uma igreja verdadeira, então você deve considerar sair.

A Confissão Belga nos ajuda a discernir razões legítimas para deixar uma igreja, delineando as marcas de uma igreja verdadeira:

As marcas para conhecer a verdadeira igreja são estas: ela mantém a pura pregação do Evangelho, a pura administração dos sacramentos como Cristo os instituiu e o exercício da disciplina eclesiástica para castigar os pecados (artigo 29).

A verdadeira igreja se caracteriza pela doutrina pura, pela administração pura dos sacramentos e pela disciplina eclesiástica. Oferecem aos cristãos três pontos fundamentais para avaliar se devem ficar ou partir.

Devemos reconhecer que deste lado da eternidade não há igreja que esteja livre de todos os erros, pois não há comunhão de cristãos que não seja afetada pelo pecado. A Confissão de Fé de Westminster nos lembra: “As igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas à mistura e ao erro” (25.5). A decisão de deixar uma igreja não deve ser baseada na perfeição da igreja, porque não existem igrejas perfeitas.

Embora não possamos exigir que as igrejas cumpram o padrão de perfeição, é legítimo reconhecer que, às vezes, caem em erros que afetam seus pontos essenciais. Uma igreja deve ensinar e pregar segundo seu padrão confessional declarado, seja Westminster, as Três Formas de Unidade, a Confissão Batista de Londres de 1689 ou alguma outra declaração confessional que o escrutínio da história determinou ser fiel às Escrituras. A falta de padrões confessionais torna quase impossível determinar se uma igreja está permanecendo fiel às suas convicções teológicas. Quase todo herege cristão respondeu às críticas declarando: “Estou apenas ensinando o que a Bíblia de fato diz!”. Uma confissão robusta e comprovada se mantém como um padrão fiel pelo qual o ensinamento de uma igreja pode ser julgado. Esta igreja em particular é fiel em ensinar de acordo com o que ela diz ser verdade? Se a igreja deixar de pregar a doutrina pura, é hora de ir embora.

Para deixar claro, não esperamos perfeição dos ensinamentos e pregações de uma igreja. Um pastor que às vezes afirma algo incorretamente ou comete um erro em seu ensino precisa ser encorajado por sua igreja, e não abandonado. Não abandone uma igreja porque seu pastor não é perfeito. Porém um pastor ou ancião que contradiz consistentemente seus padrões confessionais cria um problema sério. Sua primeira resposta é abordar isso com humildade com os anciãos e depois com as estruturas de responsabilidade dentro das denominações. Se esses líderes não forem capazes de dar uma resposta suficiente, então talvez seja hora de ir embora. Um padrão semelhante deve ser aplicado com relação à administração adequada dos sacramentos.

Talvez não seja a igreja, mas as suas convicções teológicas que mudaram. Você deve determinar se essa mudança é tão importante a ponto de causar atrito contínuo na igreja. Se for insignificante, então apenas ignore a diferença. Contudo, se for uma mudança considerável, você deve se reunir com os pastores e compartilhar sua mudança com humildade. Você deve abordar essa reunião com toda a intenção de se convencer de que suas novas visões estão erradas. Você deve se submeter às suas autoridades no Senhor. Porém se você permanecer convencido pelas Escrituras em sua mudança de opinião, então você deve com respeitoso solicitar uma transferência para uma igreja fiel que esteja alinhada com suas opiniões. Você deve reconhecer livremente que sua igreja anterior foi fiel em ensinar o que disse que ensinaria. Sair nessas circunstâncias não é motivo para denegrir sua igreja anterior.

Talvez não haja problema com o ensino da Palavra, a administração dos sacramentos ou o exercício da disciplina na igreja. Pode ser que você apenas sinta que não tira proveito da igreja, e há uma nova igreja muito atraente e dinâmica na rua ao lado. Talvez, você pense, que isso faria com que a sua família se envolvesse mais na igreja. Se essa é sua situação, você precisa reconhecer que o problema pode não ser a igreja, mas você. Você pode estar abordando a igreja como um consumidor de bens, não como alguém que adora a Deus. Se você sente que suas “necessidades” não estão sendo atendidas em uma igreja verdadeira, pode muito bem ser que você esteja preocupado em satisfazer as “necessidades” erradas.


Este artigo foi publicado originalmente na TableTalk Magazine.