Tentando pensar e viver como um Reformado: Reflexões de um estrangeiro residente – Parte 48

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A Relevância dos cânticos na vivência Reformada

De forma ilustrativa, destacamos que Calvino, considerando a complexidade e a riqueza da experiência cristã, entendia que “os salmos constituem uma expressão muito apropriada da fé reformada”,[1] e que “Tudo quanto nos serve de encorajamento, ao nos pormos a buscar a Deus em oração, nos é ensinado neste livro [Salmos]”.[2]

Portanto, no Livro de Salmos temos um guia seguro para a edificação da Igreja que pode cantá-lo sem correr o risco de proferir heresias melodiosas.[3]

Escreve o Reformador:

Não existe outro livro onde mais se expressem e magnifiquem as celebrações divinas, seja da liberalidade de Deus sem paralelo em favor de sua Igreja, seja de todas as suas obras. (…) Não há outro livro em que somos mais perfeitamente instruídos na correta maneira de louvar a Deus, ou em que somos mais poderosamente estimulados à realização desse sacro exercício.[4]

Do mesmo modo, Lutero considerava o livro de Salmos (1545) como um “espelho fino, claro e puro que te mostrará o que é a cristandade”, a nós também e a Deus: “Dentro deles também tu irás encontrar a ti mesmo e o verdadeiro conhece-te a ti mesmo,  além do próprio Deus e todas as criaturas.[5]

De forma parcialmente análoga, Calvino considerava os Salmos como “uma anatomia de todas as partes da alma”.[6]  Creio que isso explica, ainda que parcialmente, o seu tom tão pastoral no comentário de Salmos, onde, mesmo seguindo o seu estilo sóbrio característico, se expõe de um modo mais pessoal.

Acredito que em nenhum outro de seus comentários temos acesso tão direto ao coração de Calvino como nesses.

Um fato notório é que Calvino na medida em que escrevia os seus comentários da Bíblia, ampliava a sua Instituição da Religião Cristã como resultado do seu aprofundamento bíblico, histórico e teológico, tendo em vista também os novos questionamentos de seu tempo. Por sua vez nos seus comentários não raramente ele remete o leitor às Institutas.[7]

A última edição das Institutas  em latim foi feita em 1559 e, os comentários de Salmos em 1557. É natural supor que ele trabalhou em muitos momentos de modo concomitante em ambas as obras, ainda que com propósitos e estilos diferentes, porém, creio ser possível pensar nos comentários de Salmos como uma espécie de variação pastoral da Institutas,[8] ainda que não se limite a esta.[9]

Os salmos tiveram um papel extremamente marcante na formação espiritual dos reformados, constituindo-se também, em uma de suas grandes demonstrações de fé e de seu fortalecimento em momentos extremos.

Schaff resume:

A introdução do Saltério na língua vernácula foi um dos mais importantes feitos, e o começo de um longo e heroico capítulo na história do culto e da vida cristã. O Saltério ocupa um lugar tão importante na Igreja Reformada como os hinos entre os Luteranos.[10] Ele foi a fonte de conforto e força para a Igreja dos Huguenotes do Deserto, e para os Covenanters[11] presbiterianos da Escócia, nos dias de amargo sofrimento e perseguição.[12]

 

Missão, louvor e martírio

Em 15 de maio de 1553, Calvino, depois de várias tentativas diplomáticas para libertá-los, escreve uma carta de consolo a cinco jovens estudantes de teologia em Lausane que, conforme as evidências pareciam apontar, após serem traídos, foram presos e estavam para serem martirizados em Lyon:

Para onde quer que olhemos daqui debaixo, Deus tem interrompido o caminho. Não obstante, nossa esperança nele, ou nas suas santas promessas não  pode ser frustrada. (…) Agora, no presente momento, a própria necessidade os exorta a elevarem a mente totalmente ao céu. Até agora, não sabemos como será o evento, mas, porquanto parece que Deus utilizará o sangue de vocês para subscrever sua verdade, o melhor é prepararem-se para esse objetivo, suplicando-lhe para submetê-los à sua boa vontade, de modo que nada os impeça de seguirem para onde quer que Ele lhes chame. (…) Uma vez que lhe  [Deus] aprouve consagrar vocês à morte na manutenção  da sua contenda, Ele lhes fortalecerá as mãos no combate e não deixará que nenhuma gota do sangue de vocês seja gasta em vão. E embora o fruto não apareça de imediato, no tempo apropriado produzirá com mais abundância do que podemos expressar. Mas assim como Ele lhes concedeu esse privilégio, para que os laços de vocês sejam renovados e o seu clamor se propague amplamente por toda a parte, é indispensável, a despeito de Satanás, que a morte de vocês ressoe muito mais poderosamente, para que o nome do nosso Senhor seja engrandecido por meio disso. Da minha parte, se foi grato a esse bondoso Pai tomá-los [para] si mesmo, não duvido que Ele lhes preservou até aqui para que o seu prolongado  e contínuo encarceramento  sirva de preparação para despertar melhor a quem Ele determinou edificar com o fim de vocês. Assim, por mais que os inimigos  se esforcem, jamais conseguirá esconder essa luz que Deus fez brilhar em vocês, para que fosse contemplada desde muito longe. (…) O fato de Deus lhes designar como mártires do seu Filho lhes serve de sinal de graça superabundante. (…) Enquanto aprouver a Deus dar o reino aos seus inimigos, nosso dever é ficarmos quietos, embora tarde o tempo da nossa redenção. (…) Há de vir o tempo em que a terra revelará o sangue que tem estado escondido, e nós, depois de nos desembaraçarmos desse corpo corruptível, seremos completamente restaurados. De qualquer modo, que o Filho de Deus seja glorificado na nossa vergonha e que nos contentemos com este fiel testemunho: que, embora sejamos perseguidos e condenados, confiamos no Deus vivo. Assim, temos com o que desprezar o mundo inteiro com a sua soberba, até que sejamos reunidos naquele reino eternal, onde gozaremos plenamente aquelas bênçãos de que agora só temos em esperança.[13]

Certamente esses missionários não receberam a carta de Calvino. No dia seguinte, 16 de maio de 1553, foram martirizados na fogueira. Seguiram tranquilamente para o lugar (Place Terreaux)[14] cantando salmos  e recitando passagens bíblicas. O mais velho, Marcial Alba, com permissão do comandante (tenente), beijou os outros quatro condenados que já estavam amarrados.[15] Sendo também preso, o fogo foi aceso. Assim foram martirizados.

 

Correspondência como os prisioneiros de Lyon

Em 7 de julho de 1553, Calvino escreve mais uma carta aos “prisioneiros de Lyon” que aguardavam a sua condenação por terem aderido à Reforma Protestante. Esta ele dirige em especial a dois deles: Denis Peloquin de Blois e Louis de Marsac. A certa altura, diz:

Meus irmãos (…), estejam certos de que Deus, que se manifesta em tempos de necessidade e aperfeiçoa Sua força em nossa fraqueza,  não vos deixará desprovidos daquilo que poderosamente glorificará o Seu nome. (…) E como você sabe, temos resistido firmemente as abominações do Papado, a menos que nós renunciássemos o Filho de Deus,  que nos comprou para Si mesmo pelo precioso preço. Medite, igualmente, naquela glória celestial e imortalidade para as quais nós somos chamados, e é certo  de alcançar pela Cruz –– por infâmia e morte.  De fato, para a razão humana é estranho que os filhos de Deus sejam tão intensamente afligidos, enquanto os ímpios divertem-se em prazeres; porém, ainda mais, que os escravos de Satanás nos esmaguem sob seus pés, como diríamos, e triunfem sobre nós. Contudo, temos meios de confortar-nos em todas as nossas misérias, buscando aquela solução feliz que está prometida para nós, que Ele não apenas nos libertará mediante Seus anjos, mas pessoalmente enxugará as lágrimas de nossos olhos.[16] E, assim, temos todo o direito de desprezar o orgulho desses pobres homens cegos, que para a própria ruína levantam seu ódio contra o céu; e, apesar de não estar neste momento em suas condições, nem por isso deixamos de lutar junto com vocês em oração, com ansiedade e suave compaixão, como companheiros, percebendo que agradou a nosso Pai celeste, em Sua bondade infinita, unir-nos em um só corpo sob Seu Filho, nossa cabeça. Pelo que eu lhe suplicarei que possa garantir a vocês essa graça; que Ele os conserve sob Sua proteção e lhes dê tal segurança disso que possam estar aptos a desprezar tudo o que é deste mundo. Meus irmãos os saúdam mui afetuosamente, e assim também muitos outros. –– Seu irmão, João Calvino.[17]

            Louis de Marsac, na prisão, responde-lhe:

Senhor e irmão, eu não posso expressar o grande conforto que recebi… da carta que você enviou para meu irmão Denis Peloquin que passou-a a um  de nossos irmãos que estavam numa cela abobadada acima de mim, e leu-a para mim em voz alta, porque eu não pude lê-la por mim mesmo, sendo incapaz de ver qualquer coisa em meu calabouço. Então, eu lhe peço que persevere nos ajudando com semelhante consolação, pois isso nos convida a chorar e orar.[18]

Posteriormente, Louis de Marsac, Etienne Gravot de Gyen, e Marsac, primo de Louis serão condenados à morte, sendo queimados: Morreram cantando o Salmo 9.[19] um hino. Aliás, o canto em meio às chamas tornou-se um testemunho fervoroso da fé calvinista na França, conforme apresentaremos alguns exemplos.[20]

 

Salmos na piedade Reformada

Uma observação muito estimulante. O cantar salmos se constituiu em um ponto fundamental de identidade entre os Calvinistas na Europa e, posteriormente nos Estados Unidos.[21]  Os Salmos se tornaram em “verdadeiros hinos de batalha”;[22] um cântico de combate, mas, também de consolo diante das perseguições e iminente morte.[23] Cottret (1951-2020) resume: “O saltério foi a Reforma francesa”.[24]

Em 1545, com a determinação, devido à falsas informações, ou à revelia[25] de Francisco I (1494-1547), os Valdenses foram massacrados em suas aldeias. Essa perseguição ficou conhecida com o nome de Massacre de  Mérindol quando foram mortos centenas ou milhares de homens, mulheres: velhos, jovens, crianças e mulheres grávidas.[26] Os sobreviventes foram usados em trabalhos forçados.[27]

“Em  1546, a Igreja reformada de Meaux foi dizimada pela perseguição”, informa-nos Delumeau.[28] Aqui, 14 mártires morreram cantando o Salmo 79.[29] John Owen (1616-1683), no leito de morte, teve como últimas palavras, o Salmo 79.8.[30]

Place Maubert nas proximidades da Sorbone em Paris, traz em suas silentes memórias os cânticos de muitos huguenotes ali torturados e martirizados.[31]

Leith (1919-2002) comenta que,

O cântico dos salmos contribuiu para moldar o caráter e a piedade reformada e sua influência dificilmente poderia ser superestimada. Os salmos eram as orações do povo na liturgia de Calvino. Por meio deles, os adoradores respondiam à Palavra de Deus e afirmavam sua confiança, gratidão e lealdade a Deus.[32]

O cântico de salmos tornou-se essencial para a piedade calvinista. Os protestantes franceses, ao serem levados para a prisão ou para a fogueira, cantavam salmos com tanta veemência que foi proibido por lei cantar salmos e aqueles que persistiam tinham sua língua cortada. O salmo 68 era a Marselhesa huguenote.[33]

De fato, na França, em diversas ocasiões os protestantes foram atacados enquanto prestavam culto a Deus, orando, lendo a Palavra e cantando salmos. Depois de narrar algumas dessas perseguições, Baird (1828-1887) constata: “A Liturgia do protestantismo francês foi banhada com o sangue de seus mártires”.[34]

 

Mártires franceses no Brasil

Do mesmo modo, no Brasil, quando os calvinistas franceses Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André Lafon não negaram à sua fé diante de Nicolas Durand de Villegaignon (1510-1571), foram presos.[35]

Crespin (c. 1520-1572) registra: “Entretanto, os condenados consolavam-se e regozijavam-se em suas cadeias, orando e cantando, com extraordinário fervor, salmos e louvores a Deus”.[36]

Na manhã de sexta-feira, 9 de fevereiro de 1558, quando Jean du-Bourdel, o autor da Confissão de Fé,[37] ia sendo conduzido ao rochedo para ser executado, acompanhado por Villegaignon e seu pajem, narra Crespin:

Ao passar junto da prisão em que estavam os seus companheiros, gritou-lhes em alta voz que tivessem coragem, pois iam ser logo libertados desta vida miserável. E, caminhando para a morte, entoava salmos e louvores a Deus, o que causava grande espanto a Villegaignon e ao carrasco.[38]

            Godfrey parece captar bem o espírito desses calvinistas franceses:

Os Salmos eram (…) mais do que inspiração e conforto para os cristãos reformados. Os Salmos eram mais do que uma forma de expressarem suas alegrais e pesares a Deus nas próprias palavras de Deus. O Saltério explicava a vida que eles viviam tanto em relação aos iníquos que se lhes opunham quanto a Deus que os sustentava. Como povo de Deus, eles viviam nos Salmos.[39]

Quanto aos cânticos, devemos observar, contudo, que os hinos da Igreja não precisam limitar-se ao livro de Salmos, mesmo reconhecendo o seu indiscutível valor como Palavra inspirada de Deus. Além disso, deve ser observado que muitos dos salmos refletem de modo evidente, a expressão de fé de servos de Deus na Antiga Aliança, que ainda não se plenificara em Cristo, aquele que selou a Nova Aliança com o seu próprio sangue.

Portanto, o cântico inclusivo, não exclusivo, dos salmos é essencial, visto que os Salmos, por mais ricos que sejam, anteveem realidades que já se concretizaram no Novo Testamento e, por isso também, não dão conta de esgotar aspectos da revelação de Deus e, a experiência teológica e vivencial cristã.

Essa compreensão amplia de forma bíblica a experiência cristã, tão pobremente delineada em muitos de nossos cânticos, proporcionando ao fiel uma dimensão mais intensa da vida cristã em sua mente e emoção, se materializando em sua obediência a Deus no exercício das suas múltiplas vocações em sua existência. Afinal, a piedade, que encontra o seu fundamento na fé,[40] para tudo é proveitosa, por isso, como disse Voetius (1589-1676), “deve ser unida à ciência”.[41]

 

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

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[1] John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, São Paulo: Pendão Real, 1997, p. 336. Na leitura dos comentários de Salmos de Calvino é evidente a sua relação contextual e aplicação para o povo de Deus de todas as épocas (Veja-se: Wulfert de Greef, Calvin as Commentator on the Psalms. In: Donald K. McKim, ed. Calvin and the Bible, Cambridge: Cambridge University Press, 2006, p. 85-106).

[2] João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, p. 34.

[3]Ver: João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 1, p. 35-36.

[4] João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 1, p. 35-36.

[5] M. Lutero, Prefácio ao Livro dos Salmos: In: Martinho Lutero: obras selecionadas, São Leopoldo, RS.; Porto Alegre: Sinodal; Concórdia, 2003, v. 8, p. 36. O Salmo favorito de Lutero era o 118. Temos em português a tradução de seu comentário (1530) com uma enriquecedora introdução histórica (Veja-se: Martinho Lutero: obras selecionadas, São Leopoldo, RS.; Porto Alegre: Sinodal; Concórdia, 1995, v. 5, p. 19-84). Considerava também o Salmo 110 “extremamente encantador” (M. Lutero, Conversas à Mesa, Brasília, DF.: Monergismo, 2017, 28, p. 26).

[6] “…. pois não há sequer uma emoção da qual alguém porventura tenha participado que não esteja aí representada como num espelho. (…) É através de uma atenta leitura dessas composições inspiradas que os homens serão mais eficazmente despertados para a consciência de suas enfermidades, e, ao mesmo tempo, instruídos a buscar o antídoto para sua cura.  Numa palavra, tudo quanto nos serve de encorajamento, ao nos pormos a buscar a Deus em oração, nos é ensinado neste livro” (João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 1, p. 33,34).

[7] Vejam-se, por exemplo os seus comentários dos seguintes textos bíblicos: At 6.3; Rm 3.21,28; 1Co 1.1; 3.9,14; 5.5; 9.5-6; 2Co 4.17; 5.10; Ef 3.18-10; 1Tm 2.6; 3.8; 1Pe 1.20.

[8]Veja-se: Herman J. Selderhuis, Calvin’s Theology of the Psalms, Grand Rapids, MI.: Baker Academic, 2007, p. 283-285.

[9] Veja-se: Richard A. Muller, The Unaccommodated Calvin, New York: Oxford University Press, 2000, p. 103-108.

[10]Lutero foi o criador do primeiro hinário alemão (1524), e, depois, também elaborou o Hinário de Wittenberg (1529). Ele pode ser considerado o fundador da hinologia alemã e o grande difusor da música na Igreja. Lutero compôs 36 hinos e várias melodias, as quais adaptou aos hinos.

[11] Presbiterianos escoceses que lutaram contra o estabelecimento do sistema episcopal de governo na Igreja da Escócia. Sustentavam a manutenção do presbiterianismo, conforme fora acordado pelos Parlamentos da Escócia e Inglaterra, respectivamente em 1638 e 1649.

[12] Philip Schaff, History of the Christian Church, v. 8, p. 374.

[13] In: João Calvino, Cartas de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 107-109. Como o processo foi longo, Calvino teve oportunidade de lhes dirigir anteriormente outras cartas. Vejam-se: João Calvino, Cartas de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 97-99 (10.06.1552) e p. 103-104 (07.03.1553).

[14] Modernamente constitui-se em ponto turístico concorridíssimo em Lyon.

[15] Nome dos demais estudantes:  Pierre Escrivain, de Boulogne; Bernard Seguin, de La Réole; Charles Faure, de Blanzac e Pierre Navihères, de Limoges. Posteriormente foram achadas várias correspondências entre esses jovens, sendo então publicadas em um livro: Pierre Bergier, ed. Correspondance Inédite Des Cinq Étudiants Martyrs Martial Alba, de Montauban, Pierre Escrivain, (Éd. 1854). Hachette Livre Bnf. (Impresso sob demanda). Para uma visão parcial (10 páginas) da edição original em pdf, veja-se:  https://www.furet.com/media/pdf/feuilletage/9/7/8/2/0/1/1/3/9782011314147.pdf   (Consulta feita em 31.01.2024).

[16] Comentando o salmo 56.8, Calvino assim se expressou: “…. Se Deus concede tal honra às lágrimas de seus santos [lembrar-se delas], então pode ele contabilizar cada gota do sangue que eles derramaram. Os tiranos podem queimar sua carne e seus ossos, mas seu sangue continua a clamar em altos brados por vingança; e as eras intervenientes jamais poderão apagar o que foi escrito no registro divino das memórias” (João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 56.8), p. 501).

[17] John Calvin, To the Prisoners of Lyons, “Letters,” John Calvin Collection, [CD-ROM], nº 320.

[18]In: To the Prisoners of Lyons, “Letters,” John Calvin Collection, [CD-ROM], nº 320. Calvino atendeu à solicitação e, em 22/08/1553, escreveu-lhes novamente (Ver: John Calvin, To Denis Peloquin and Louis de Marsache, “Letters,” John Calvin Collection, [CD-ROM], nº 323).

[19]John Ker, Psalms in History and Biography, Edinburgh: Andrew Elliot, 1886, p. 26. (https://archive.org/details/psalmsinhistoryb00kerj/page/26); W. Stanford Reid, The Battle Hymns of the Lord: Calvinist Psalmody of the Sixteenth Century. In: C.S. Meyer, ed. Sixteenth Century Essays and Studies, St. Louis: Foundation for Reformation Research, 1971, v. 2, [p. 36-54], p. 45. (Disponível:  https://www.jstor.org/stable/3003691?seq=10#metadata_info_tab_contents).

[20] Vejam-se: John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, São Paulo: Pendão Real, 1997, p. 299, 301. Encontramos alguns exemplos significativos em: Charles W. Baird, A Liturgia Reformada: Ensaio histórico, Santa Bárbara D’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 67ss.

[21] Cf. Charles Garside, Jr. The Origins of Calvin’s Theology of Music: 1536-1543, Philadelphia: The American Philosophical Society, 1979, p. 5.

[22] W. Stanford Reid, The Battle Hymns of the Lord: Calvinist Psalmody of the Sixteenth Century. In: C.S. Meyer, ed. Sixteenth Century Essays and Studies, St. Louis: Foundation for Reformation Research, 1971, v. 2, [p. 36-54], p. 46.  (Disponível: https://www.jstor.org/stable/3003691?seq=10#metadata_info_tab_contents). (Consulta feita em 31.03.21). Ver: John Ker, Psalms in History and Biography, Edinburgh: Andrew Elliot, 1886, p. 95.121, 184, 188.  https://archive.org/details/psalmsinhistoryb00kerj/).(Consulta feita em 01.04.2021).

[23]Veja-se: John Ker, Psalms in History and Biography, Edinburgh: Andrew Elliot, 1886, p. 121, 184, 188.  https://archive.org/details/psalmsinhistoryb00kerj/).(Consulta feita em 31.03.2021). Daniel-Rops (1901-1965), historiador católico, cujo belo estilo, por vezes, tenta compensar as suas inclinações e o uso das fontes, ironiza o fato de os huguenotes cantarem salmos enquanto se preparavam para as batalhas e, do mesmo modo, as longas rezas. (Veja-se: Daniel-Rops, Igreja da Renascença e da Reforma – V. 2,  São Paulo: Quadrante, 1999, p. 178-179).

[24]Bernard Cottret, Calvin: a Biography, Grand Rapids, Mi.: Eerdmans and Edinburgh: T & T Clark, 2000, p. 172. Cottret prossegue: “Os primeiros reformadores ignoravam a proliferação dos hinos; se contentavam em cantar em voz alta em melodias marciais cuidadosamente cadenciadas, o amor de Deus para com o seu povo,  a destruição dos maus e a beleza do mundo. O canto dos salmos foi para a Reforma da língua francesa o que o coral foi para a Reforma alemã. A música participou intimameente da cultura calvinista. (…) O salmo 114 tornou-se emblemático da Reforma na França” (Bernard Cottret, Calvin: a Biography, p. 172).

[25] “Sem que sua responsabilidade direta estivesse contudo envolvida” (Jean Delumeau, Nascimento e Afirmação da Reforma, São Paulo: Pioneira, 1989, p. 176).

[26] O jesuíta, Maimbourg (1610-1686) – que acabara de ser expulso de sua ordem pelo papa [Inocêncio XI -1611-1689] (1681) quando escreveu sua obra – retratando por meio de crônicas, o calvinismo como uma grande heresia,  fala de 3600 mortos e 900 casas destruídas (Louis Maimbourg, Histoire du Calvinisme,  3. ed. Paris: Chez Sebastien Mabre-Cramoist, 1682, v. 2, Livre II, p. 78ss.).  As estatísticas do número de mortos é bastante variada. Veja-se: R.J. Knecht, Francis I,  Cambridge: Cambridge University Press, 1984, p. 405-406.

[27]Quando Calvino recebeu a informação por parte de um irmão de confiança que, ao que deduzo, foi testemunha ocular desse massacre ou de seus efeitos, Calvino partiu com urgência de Genebra para Berna, solicitando com empenho a Berna e a Zurique a interferência em favor daqueles irmãos que estavam sendo massacrados por intolerância e fanatismo.

Antes porém, escreveu a Farel (04/05/1545), em meio a lágrimas, a respeito das notícias que recebera e da viagem que pretendia fazer:

“Várias aldeias foram consumidas pelo fogo, que a maioria dos velhos foi queimada até a morte, que alguns foram mortos à espada, outros foram carregados para cumprir sua condenação; e que tal era a crueldade selvagem desses perseguidores, que nem moças, nem mulheres grávidas, nem crianças foram poupadas. Tão grande é a atroz crueldade desse procedimento, que fico perplexo quando reflito sobre isso. Como, então, devo expressá-lo em palavras? (…) Escrevo, esgotado pela tristeza, e não sem lágrimas, que tanto irrompem, que de vez em quando interrompem minhas palavras” (To Farel (04.05.1545): In: Selected Works of John Calvin: Tracts and Letters, eds. Henry Beveridge and Jules Bonnet, Grand Rapids, Mi: Baker Book House, v. 4 (Letters, Part 1), 1983,  p. 458-459).

[28]Jean Delumeau, Nascimento e Afirmação da Reforma, São Paulo: Pioneira, 1989, p. 177.

[29]John Ker, Psalms in History and Biography, Edinburgh: Andrew Elliot, 1886, p. 106.  https://archive.org/details/psalmsinhistoryb00kerj/page/106); W. Stanford Reid, The Battle Hymns of the Lord: Calvinist Psalmody of the Sixteenth Century. In: C.S. Meyer, ed. Sixteenth Century Essays and Studies, St. Louis: Foundation for Reformation Research, 1971, v. 2, [p. 36-54], p. 46.  (Disponível: https://www.jstor.org/stable/3003691?seq=10#metadata_info_tab_contents); Carl Lindberg, As Reformas na Europa, São Leopoldo, RS.: Sinodal, 2001, p. 339. O pré-reformador João Huss (c. 1369-1415), pregador da Capela de Belém e professor e Reitor da Universidade de Praga,  foi queimado vivo.  Antes de morrer, recitou diversos salmos, principalmente o 51 e 53 (Cf. John Ker, Psalms in History and Biography, Edinburgh: Andrew Elliot, 1886, p. 54-55.  https://archive.org/details/psalmsinhistoryb00kerj/).(Consulta feita em 01.04.2021).

[30] John Ker, Psalms in History and Biography, Edinburgh: Andrew Elliot, 1886, p. 107-108.  Apresentando uma relação mais ampla, Ker  (1819–1886), como escocês, escreve: “Há uma semelhança notável na maneira de morrer dos mártires franceses e escoceses, decorrente das relações frequentes entre as Igrejas nos primeiros dias da Reforma e de sua devoção comum ao livro dos Salmos” (John Ker, Psalms in History and Biography, Edinburgh: Andrew Elliot, 1886, p. 85).

[31]Vejam-se: John Ker, Psalms in History and Biography, Edinburgh: Andrew Elliot, 1886;  https://fr.wikipedia.org/wiki/Place_Maubert#cite_note-9

[32]John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã,  São Paulo: Pendão Real, 1997, p. 301. Ver alguns exemplos significativos em: Charles W. Baird, A Liturgia Reformada: Ensaio histórico, Santa Bárbara D’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 67ss.

[33]John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, p. 299. Do mesmo modo: Carl Lindberg, As Reformas na Europa,  São Leopoldo, RS.: Sinodal, 2001, p. 339. Ver: Emily R. Brink, The Genevan Psalter: In: Emily B. Brink; Bert Polman, eds. Psalter Hymnal Handbook, Grand Rapids, Michigan: CRC Publications, 1998, p. 34. Foi o próprio Calvino quem adaptou a melodia de um dos corais de Greiter ao Salmo 68. (Cf. Henriqueta R.F. Braga, Contribuição da Reforma ao Desenvolvimento Musical: In: Bill H. Ichter, org. A Música Sacra e Sua História, Rio de Janeiro: JUERP., 1976, p. 77). Matthäus Greiter (c.1495-1550), de grande talento mas, de ética ambígua, foi quem compôs a música, sendo publicado pela primeira vez no Saltério de Estrasburgo em 1539 e foi então incluido na primeira edição do Saltério de Genebra (1542). O Salmo 68 também tornou-se conhecido entre os huguenotes como “Cântico das batalhas”, sendo cantado por eles em muitos de seus conflitos “sangrentos e desesperados” (Cf. John Ker, Psalms in History and Biography, Edinburgh: Andrew Elliot, 1886, p. 95). O hino de Lutero baseado no Salmo 46 foi chamado por H. Heine (1797-1856) de “Marselhesa da Reforma” (Cf. W.J.R.T., Hymnology: In: Rev. John McClintock; James Strong, eds. Cyclopedia of Biblical, Theological and Ecclesiastical Literature, [CD-ROM], (Rio, WI., Ages Software, 2000), v. 4, p. 130).

[34]Charles W. Baird, A Liturgia Reformada: Ensaio histórico, p. 65.

[35] O alfaiate André Lafon terminou por ser persuadido a retratar-se. Foi poupado. Permaneceu então preso na fortaleza “como alfaiate do almirante e de toda sua gente” (Jean Crespin, A Tragédia da Guanabara ou Historia dos Protomartyres do Christianismo no Brasil, Rio de Janeiro: Typo-Lith, Pimenta de Mello & C., 1917, p. 81).

[36]Jean Crespin, A Tragédia da Guanabara ou Historia dos Protomartyres do Christianismo no Brasil, p. 74. Ver também: Jean de Léry, Viagem à Terra do Brasil, 3. ed. São Paulo: Livraria Martins Fontes, (1960), p. 245.

[37] Elaborada entre 04/01/1558 e 09/02/1558. Ver: Jean Crespin, A Tragédia da Guanabara ou Historia dos Protomartyres do Christianismo no Brasil, p. 63-64.

[38]Jean Crespin, A Tragédia da Guanabara ou Historia dos Protomartyres do Christianismo no Brasil, p. 77. O padre Anchieta (1534-1597), dando destaque ao que encontrou ente os huguenotes, relata (01.06.1560): “Grande quantidade de livros heréticos, entre os quais, (se porventura isto é sinal de sua reta fé) se achou um missal, com imagens raspadas” (Joseph de Anchieta, Cartas: Correspondência Ativa e Passiva, 2. ed. São Paulo: Loyola  (Obras Completas, − 6º volume), 1984, p. 168-169). O que me leva a supor que sem dúvida, entre os “livros heréticos” deviam constar exemplares do Saltério de Genebra.

[39]W. Robert Godfrey, Aprendendo a amar os Salmos, Rio de Janeiro: Pro Nobis, 2021, p. 19.

[40] Veja-se: João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Parakletos, 2002, v. 3, (Sl 78.21), p. 213.

[41] Apud Willemien Otten, Religion as exercitatio mentis: A case for theology as a Humanism discipline: In: Alasdair A. MacDonald, et. al. eds. Christian Humanism: Essays in Honour of Arjo Vanderjagt, Leiden: Brill Academic Pub., 2009, p. 60.

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