Trabalhar com marketing pode ser pecado?

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Hoje falaremos sobre ética cristã do trabalho, principalmente na área de marketing. O que vamos abordar hoje é frequentemente refletido em e-mails que recebemos de cristãos que trabalham não apenas em marketing, mas também na indústria do vestuário e em todas as facetas do mundo da moda. Aqui está a pergunta de um jovem: “Pastor John, olá! Eu trabalho na Nike e muitas vezes lutei com minha posição na empresa, sendo que meu trabalho é em marketing. Eu vendo produtos de luxo para pessoas que não precisam deles e muitas vezes não podem comprá-los e se endividam para poder adquiri-los. Por outro lado, a empresa doa milhões de dólares à pessoas carentes, além de sapatos e roupas. Quero ser excelente em meu trabalho e glorificar a Deus. Também quero honrar meus gerentes como aqueles que têm autoridade sobre mim. Sou contra essa cultura de consumismo da América, mas, no entanto, sinto que estou de certa forma contribuindo para tudo isso. Como equilibro essas tensões e continuo trabalhando duro com as mãos para não ser um fardo para ninguém? Os produtos de uma empresa tão humanista como a minha podem ser redimidos pelo trabalho para a glória de Deus feito por seus funcionários cristãos? Ou, talvez seja necessário eu mudar de carreira e de área?

Cinco perguntas para profissionais de marketing

Se eu trabalhasse com marketing, me faria essas cinco perguntas, pelo menos.

  1. Estou sempre dizendo a verdade? Deus é um Deus de verdade (Isaías 65.16). Ele nos ordenou a dar testemunho da verdade – isto é, não dar falso testemunho (Êxodo 20.16). Ele nos disse em Efésios 4.15 para falarmos a verdade uns aos outros. Seus apóstolos disseram que não podiam fazer nada contra a verdade (2 Coríntios 13.8). Os cristãos são pessoas radicalmente voltadas para a verdade. Nós realmente acreditamos que existe algo como a verdade. Portanto, devemos perguntar regularmente: Minha mensagem é sempre verdadeira?
  2. Se eu tiver sucesso em meus esforços de marketing, estarei ajudando as pessoas? Estou fazendo bem a elas? Jesus disse que quem quiser ser grande deve ser servo de todos, o que significa que buscamos o bem deles (Marcos 9.35). Paulo disse: “Tudo o que fizerdes seja feito em amor” (1 Coríntios 16.14). E acrescentou que “o amor não pratica o mal contra o próximo” (Romanos 13.10). Portanto, devo perguntar: meu serviço ou meu produto está fazendo bem para as pessoas, ou prejudicando-as ou confirmando-as em algum padrão prejudicial de comportamento ou pensamento?
  3. Estou em uma posição tão significativa onde trabalho ao ponto de conseguir mudar significativamente a maneira como minha empresa faz negócios, para que as pessoas sejam ajudadas ao invés de prejudicadas pelo que fazemos e pela maneira como o fazemos? Ou isso é uma expectativa irreal de que, dada a posição que tenho, eu poderia alterar significativamente as coisas para o bem desta empresa e do que ela faz?
  4. Meus esforços e sucessos profissionais estão magnificando a Cristo? Ou seja, o que eu faço e a maneira como faço e seu resultado mostram mais claramente que Cristo é supremamente valioso, mais valioso do que qualquer coisa? Paulo disse que esse era o objetivo de sua vida: engrandecer a Cristo em seu corpo, “seja pela vida ou pela morte” (Filipenses 1.20). Ele disse que considerava tudo como perda em comparação com Cristo (Filipenses 3.8). Não quero afirmar que é simples ou fácil em qualquer trabalho mostrar que Cristo é mais valioso do que o emprego, o salário, a fama, os benefícios ou os relacionamentos. Não afirmo que nada disso seja fácil ou óbvio. Mas eu afirmo que devemos fazer essa pergunta. E eu acho que, ao perguntar isso, Deus nos ajudará a entender se estamos fazendo sua vontade preceptiva, ou seja, tudo aquilo que ele revelou em sua Palavra, em nosso trabalho.
  5. Uma carreira ou vocação diferente está aberta para mim, onde meus dons podem ser usados e essas perguntas podem ser respondidas de maneira mais satisfatória? Faço essa pergunta porque não quero dar a impressão de que um funcionário é responsável por todos os delitos da empresa para a qual trabalha. Quanto mais ele sabe, mais responsável ele é.

Quanto mais poder ele tem, mais responsável ele é. Mas não acho que seja automático que alguém deva deixar um emprego porque há pecado na empresa. Em 1 Coríntios 7.24, Paulo diz que permanecer na posição em que fomos chamados a Cristo é a norma cristã. Devemos permanecer lá, diz ele, com Deus – com Deus. E isso mudaria muitas coisas. Mas isso não significa necessariamente que você deve deixar o cargo. Mas ele também diz, se a porta está aberta para uma mudança, e você pode e deve, então vá em frente; aproveite a oportunidade (1 Coríntios 7.21).

Então, essas são minhas cinco perguntas que eu me faria se estivesse trabalhando com marketing.

Escutando a Consciência

Agora, vamos ser mais específicos. Nosso amigo escreve e diz que duas coisas o estão incomodando, e deveriam. Ele diz: “Eu vendo produtos de luxo para pessoas que não precisam deles e muitas vezes se endividam para comprá-los”. E a segunda coisa que ele diz é o seguinte: “Sou contra a cultura consumista da América e, no entanto, sinto que estou de certa forma contribuindo para tudo isso”.

Portanto, há duas questões aqui: uma é o fato objetivo de que sua eficácia de marketing está confirmando as pessoas em uma mentalidade pecaminosa em relação a dinheiro e posses (ao que parece), e a outra é que ele está ciente disso e se sente mal com isso. Agora, ambas as situações são um problema. A segunda é um problema de consciência.

A Bíblia leva muito a sério não agir contra nossa consciência (Romanos 13.5). Também está claro que uma consciência pode ser distorcida ou precisar ser renovada, recalibrada, de acordo com a vontade revelada de Deus; nossa consciência pode estar pendendo para o que é liberal ou para o que é legalista. Por isso, a Palavra de Deus é que precisa moldar a nossa consciência (Atos 10.9-16). Mas enquanto ela está sendo moldada, enquanto está sendo calibrada de acordo com a Palavra de Deus, também deve, em geral, ser seguida. Ir contra sua consciência é dizer a Deus: “Não me importo em arriscar desagradá-lo”. Isso é uma coisa muito perigosa de se dizer. Não devemos dizer isso; não devemos agir dessa maneira.

O que dizemos ao mundo

Agora, a outra questão, a primeira, é mais objetiva e precisa ser testada pelas Escrituras. Minha eficácia de marketing está realmente confirmando as pessoas em uma mentalidade pecaminosa em relação a dinheiro e posses? E aqui está o que descobri ao longo dos anos enquanto tentava pensar sobre minha própria vida, as pessoas a quem ministro, todas as diferentes maneiras de lidar com o dinheiro: Descobri que a coisa mais útil em fornecer orientação e direcionamento bíblico adequado em relação ao amor ao dinheiro – meu amor ao dinheiro,  meu amor pelo conforto, meu amor pela facilidade – não é simplesmente pegar textos isolados aqui e ali e tentar descobrir aplicações precisas desses textos (o que parece quase nunca funcionar porque você sempre cria algum cenário em que esses textos podem não ser válidos), mas sim deixar o fluxo implacável de textos do Novo Testamento sobre dinheiro tomar conta de mim. Isso tem um efeito muito salutar. O Novo Testamento é implacável em nos empurrar para uma simplicidade e economia em tempo de guerra por causa do Reino, e longe do luxo e longe da riqueza e longe da elegância e da opulência.

Aqui estão algumas das passagens. Aqui está um pouco da cachoeira, o riacho de que estou falando, que precisa passar por cima de nós:

  • Lucas 6.20: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus.”
  • Lucas 6.24: “Mas ai de vós, os ricos! Porque tendes a vossa consolação.”
  • Lucas 8.14: “foram sufocados com os cuidados, riquezas e deleites da vida…”
  • Lucas 9.58–59: “As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça… Siga-me!”
  • Lucas 12.15: “a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui.”
  • Mateus 6.19–20: “Não ajunteis tesouros na terra, …mas ajuntai tesouros no céu.”
  • Lucas 12.20–21, para o construtor de celeiros maiores: “‘Tolo! Esta noite lhe pedirão a tua alma.’ . . . Assim é aquele que acumula tesouros para si mesmo e não é rico para com Deus.”
  • Lucas 12.33: “Vendei os vossos bens e dai esmola; fazei para vós outros bolsas que não desgastem, tesouro inextinguível nos céus, onde não chega o ladrão, nem a traça consome.”
  • Lucas 14.33: “todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo.”
  • Lucas 18.24: “Como é difícil para os ricos entrar no reino de Deus!”
  • 2 Coríntios 8.2: “porque, no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade.”
  • 1 Timóteo 6.7–8: “Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes.”
  • Hebreus 13.5: “Não amem o dinheiro; estejam satisfeitos com o que têm.” (NVT)

E a lista poderia continuar indefinidamente. E o objetivo de todos esses textos, eu acho, é colocar a questão: O que fazemos e dizemos sobre o dinheiro comunica que Cristo é mais precioso do que o dinheiro, que a segurança de Cristo é melhor do que a segurança do dinheiro, que o poder de Cristo é melhor do que o poder do dinheiro e que a preciosidade de Cristo é melhor do que a preciosidade do dinheiro? Nossa vida deve dizer ao mundo que SIM para todas essas perguntas.

Samuel Grafton disse uma vez: “Um centavo esconderá a maior estrela do universo se você segurá-la perto o suficiente do seu olho”. Então, para nós mesmos e para os outros, devemos perguntar muito seriamente: estamos colocando o dinheiro tão perto de nossos olhos e dos olhos deles, que a estrela do valor de Deus fica mais difícil de ver?

 

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Por: JOHN PIPER. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: Is My Career in Marketing Vain? | Tradução, revisão e edição por Vinicius Lima.