Apocalipse: O Arrebatamento e a volta de Cristo

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Introdução

O século XIX foi um período da História em que muitas correntes de pensamento distintas surgiram, as quais ainda hoje trazem benefícios ou malefícios para a humanidade. Nesse momento a Revolução Industrial se espalhou pela Europa, levando a um desenvolvimento científico sem igual; a ciência médica também se desenvolvia, e a biologia seria revolucionada graças a publicação de “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin. No campo político muitos países europeus passavam por instabilidade, ideologias como o marxismo, socialismo e anarquismo eram convidativas e ao mesmo tempo caóticas. Se houve então um momento em que o ser humano passou por coisas boas e más ao mesmo tempo e em grande proporção, este sem dúvida foi o século XIX.

Mas na teologia muita coisa também aconteceu nesse momento, desde o surgimento de novas seitas até grandes avivamentos, certamente não houve monotonicidade no seio da cristandade. Dentre esses movimentos e novas ideias, uma influencia a escatologia bíblica até hoje, nos referimos é claro a doutrina dispensacionalista. Essa doutrina teria surgido na Inglaterra do século XIX dentro de um grupo adenominacional conhecido como Irmãos de Plymouth. Dentro desse grupo havia certo homem chamado John Nelson Darby, o qual havia rompido com a Igreja Anglicana da qual fazia parte e se juntou a essa nova seita; uma vez lá, Darby elaborou uma sistematização da escatologia, onde as profecias bíblicas seriam lidas de forma mais literal, assim surgindo o método de interpretação literal do Apocalipse, e consequentemente a crença de que este deveria ser lido de forma literal e cronológica.

A postura de Darby até então era inédita, pois, segundo sua linha interpretativa, haveria um arrebatamento da igreja “secreto”; baseando-se em Mateus 24:40,41, os dispensacionalista criam que Jesus voltaria discretamente e levaria sua igreja, ocasionando assim uma série de desaparecimentos em nível global. Defendiam ainda a separação entre Igreja e Israel, de modo que cada uma simbolizaria uma dispensação ou pacto distintos, de modo que Deus ainda teria um plano separado para o Israel étnico, e um outro diferente para a igreja gentílica. O pensamento de Darby está presente até hoje na escatologia de muitos grupos cristãos, contudo, até que ponto suas ideias estão de acordo com as Escrituras? Neste breve estudo daremos término a esta breve série acerca das profecias apocalípticas, concluindo assim com o arrebatamento da igreja e a volta de Cristo. Afinal, estes são momentos distintos? A igreja será arrebatada e logo virá o fim, ou alguém será deixado para trás para viver aqui na Terra após o arrebatamento? É acerca destas questões que este artigo irá tratar, e isso com o objetivo de conhecer melhor as promessas futuras de Cristo, as quais aprouve a Ele conservar nas Sagradas Escrituras.

Exegese e interpretação

Quando nos debruçamos sobre um texto bíblico devemos fazer a seguinte pergunta: “o que este texto queria dizer para seus leitores originais?”. Tal pensamento é vital pois impede que coloquemos ideias estranhas à Bíblia e assim criemos doutrinas que o Espírito Santo jamais inspirou. É necessário então compreendermos o sentido das profecias e o seu contexto histórico, e não buscar aplicar literalmente o que elas dizem; como vimos em outros artigos desta série, a escrita apocalíptica ou profética muitas vezes se vale de figuras de linguagem e ideias específicas da época em que foram escritas, assim, para que o leitor do século XXI saiba o que está escrito, é necessário compreender o que foi escrito e para quem foi escrito. Com isso não queremos dizer que a interpretação bíblica está limitada a uns poucos intelectuais que estudam a história, mas sim que qualquer pessoa que deseja conhecer as Escrituras deve se empenhar. Tal empenho pode vir de oração e meditação, estudos ou até mesmo o simples ato de perguntar a alguém mais instruído aquilo que não entendeu, tal como certo eunuco etíope certa vez fez com o evangelista Felipe (cf. Atos 8: 30, 31).

Para compreendermos a importância da exegese, isto é, da leitura do contexto original para a interpretação bíblica, nos valeremos de um rápido estudo de caso do próprio livro do Apocalipse. Vejamos o seguinte texto:

Um dos sete anjos que tinham as sete taças aproximou-se e me disse: “Venha, eu lhe mostrarei o julgamento da grande prostituta que está sentada sobre muitas águas, com quem os reis da terra se prostituíram; os habitantes da terra se embriagaram com o vinho da sua prostituição”. Então o anjo me levou no Espírito para um deserto. Ali vi uma mulher montada numa besta vermelha, que estava coberta de nomes blasfemos e que tinha sete cabeças e dez chifres. A mulher estava vestida de azul e vermelho, e adornada de ouro, pedras preciosas e pérolas. Segurava um cálice de ouro, cheio de coisas repugnantes e da impureza da sua prostituição. Em sua testa havia esta inscrição: MISTÉRIO: BABILÔNIA, A GRANDE; A MÃE DAS PROSTITUTAS E DAS PRÁTICAS REPUGNANTES DA TERRA. Vi que a mulher estava embriagada com o sangue dos santos, o sangue das testemunhas de Jesus. Quando vi fiquei muito admirado (Apocalipse 17:1-6).

 

Esse famoso texto de Apocalipse 17 já foi por muitas vezes colocado sob o crivo da interpretação simbólica e até mesmo literal. Mas o que o Senhor estava de fato mostrando a João? Existe algo no contexto da época que nos ajuda a entender tal figura? Quem de fato seria a “Grande Meretriz”?

Podemos obter tais respostas dentro do próprio texto. Primeiramente, o v. 1 nos diz que a tal prostituta está “sentada sobre muitas águas”. Como vimos num artigo anterior, as águas ou mar são um símbolo usado para se referir ao poder político, reinos e impérios que governam sobre os povos da terra; mencionamos inclusive que o profeta Daniel usou essa figura em seu livro ao descrever uma de suas visões (cf. Daniel 7: 1-22). Então, seja quem for a prostituta, ela está ligada a um poder político. No v. 9 João nos diz que as sete cabeças da besta que sustenta a prostituta, são sete colinas. No mundo antigo, sobretudo nos dias de João, qualquer um que ouvisse falar sobre um poder político que se constituiu sobre sete colinas, imediatamente se lembraria de Roma, a qual foi construída sobre sete montes, ou seja, se as muitas águas representam um poder político e a prostituta está assentada sobre elas e se sua besta se firma sobre sete colinas tal como Roma, logo é correto dizer que a Grande Meretriz é a própria Roma; João reforça essa ideia ao dizer que a prostituta “estava embriagada com o sangue dos santos, o sangue das testemunhas de Jesus” (v. 6). Roma era um poder político e estava “embriagada” com o sangue dos cristãos, uma vez que matou muitos crentes pelo simples fato de serem testemunhas de Cristo Jesus. Assim, com estes breves dados contextuais identificamos a Meretriz de Apocalipse 17 como sendo a corrupta e depravada Roma, cujo império naquele momento perseguia e matava os cristãos.

A exegese do texto se constitui então em usar os dados do próprio texto a fim de interpretá-lo, afinal, a bíblia é sua melhor intérprete. Então iremos agora fazer a exegese do texto de Mateus 24, onde Jesus profere seu Sermão Profético, e onde inclusive há o clássico texto do arrebatamento da Igreja; posteriormente abordaremos a teologia bíblica fazendo comparações com outros textos que mencionam não só o arrebatamento, mas também a consumação da história.

Exegese de Mateus 24:36-41

O texto que segue é parte do famoso Sermão Profético de Jesus, quando após a pergunta dos seus discípulos acerca do fim dos tempos, o Senhor explica que uma série de sinais sobreviriam sobre a terra antes da sua gloriosa vinda. O texto em questão traz a seguinte fala de Jesus:

Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai. Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do Homem. Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do Homem. Então, dois estarão no campo, um será tomado, e deixado o outro; duas estarão trabalhando num moinho, uma será tomada, e deixada a outra. (Mateus 24:36-41).

Esse trecho, sobretudo os versos 40 e 41, são utilizados pelos dispensacionalistas a fim de defender um arrebatamento secreto, contudo, olhando o texto apenas com os dados que ele nos fornece, veremos que essa interpretação é impossível de ser aplicada. Primeiramente há o contexto geral: Jesus passa a alertar acerca da vigilância, pois “Quanto ao dia e à hora ninguém sabe” – há aqui uma realidade e ao mesmo tempo uma censura da parte de Jesus, isso porque é natural do ser humano querer saber mais e mais,  até mesmo o que não deve saber; os discípulos de Jesus, após sua ressurreição, também queriam conhecer o futuro e se aquele era o momento da restauração final, contudo, a resposta do Senhor foi “Não lhes compete saber os tempos ou as datas que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade.” (Atos 1:7).

Observamos que a preocupação da exatidão do tempo é algo que o Senhor busca remover imediatamente, o que enfatiza a necessidade de a Igreja estar em alerta, santificando-se, fazendo aquilo para o que Cristo a chamou e ordenou que fizesse, a Igreja antes de tudo, deve estar pronta e aguardando a volta do Senhor.

O exemplo que Jesus nos dá é igualmente sugestivo, ele menciona a época de Noé, que durante muito tempo (anos, talvez), “pregou” o dilúvio através da construção da arca, e ninguém lhe deu crédito; continuaram a casar e a viver suas vidas normalmente, então veio a catástrofe, e somente aqueles que a aguardaram e se prepararam para ela é que foram salvos. Jesus então diz que da mesma forma que aconteceu nos dias de Noé, assim também será na sua segunda vinda.

Podemos então compreender algumas coisas dessa fala de Jesus: 1 – sua segunda vinda não será precedida por algum evento fantástico; Jesus diz que a vida das pessoas estará ocorrendo normalmente a ponto de se casarem, comerem e beberem, ou seja, vivendo uma vida comum. Pode ser que alguém diga “mas o próprio Jesus disse que haveriam sinais da sua vinda: guerras, fomes, terremotos, etc.”. De fato, isso acontecerá, aliás já vem acontecendo há dois mil anos, mas esses sinais são a prova de que Jesus voltará, o que não quer dizer que são sinais da iminência da sua vinda. Hoje não pode estourar uma guerra ou surgir uma nova doença sem que alguém venha marcar a volta de Cristo para o dia seguinte, contudo, o próprio Jesus disse que sua volta seria antecedida pela vida cotidiana, de modo que mesmo em meio aos sinais, as pessoas continuariam a viver normalmente. 2 – não é mencionado aqui qualquer arrebatamento secreto, e o texto em questão não fornece qualquer base para isso. “Dois homens estarão no campo: um será levado e outro será deixado” (v. 40) e “Duas mulheres estarão trabalhando num moinho: uma será levada e a outra será deixada” (v. 41) não são base para um arrebatamento secreto e desaparecimentos em massa, pois dentro do contexto tais versos apenas servem para reforçar a ideia de que quando Cristo voltar as pessoas estarão trabalhando e vivendo normalmente; não está claro, no entanto, se o “levado” aqui seria “levado para julgamento” (CARSON, 2014:590), contudo, dado o exemplo do dilúvio de Noé, é mais provável que os “levados” são aqueles “levados pelas águas do dilúvio”, ou seja, aqueles que foram pegos de surpresa e logo são ímpios, nesse sentido “os deixados para trás” são os que vigiaram, e se abrigaram na “arca” que era Cristo.

Assim, o texto aqui abordado é um alerta e uma exortação à vigilância, e não uma evidencia de uma vinda secreta de Jesus. É o próprio Jesus quem afirma que, após todos os sinais se cumprirem, é que chegaria por fim o Filho do Homem “vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória” (Mateus 24:30b). A volta de Jesus será o maior e mais visível evento da história, e não um sumiço velado que deixará a terra perplexa e sem saber o que ocorreu; de fato “todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Certamente. Amém!” (Apocalipse 1:7). Como o mais brilhante dos relâmpagos, que corta o céu ligando o Oriente ao Ocidente, Cristo também se mostrará glorioso, buscando assim sua igreja num evento único e sem precedentes: o arrebatamento da igreja.

 O arrebatamento e o fim dos tempos

Se entendemos que a volta de Cristo será de maneira visível, e que toda a terra o verá, cabe agora entendermos como tal evento se relaciona com o final dos tempos. Os herdeiros do pensamento de Darby, os atuais dispensacionalistas, creem que a volta de Jesus se dará em duas etapas, a primeira de modo invisível e só serão levados aos céus aqueles que foram fieis até o momento do arrebatamento, e na segunda etapa Cristo voltaria de forma visível com os arrebatados a fim de por fim ao reino do anticristo, o qual subiria ao poder após a primeira fase da segunda vinda, e que teria passado os últimos três anos e meio perseguindo Israel e os cristãos que se converteram após o arrebatamento da “vinda secreta” de Jesus (FERREIRA; MYATT, 2012: 1108).

O grande problema é que uma segunda vinda em duas etapas – uma secreta e outra visível – é um ensino estranho às Escrituras. Nem Jesus e nem os seus apóstolos jamais afirmaram tal coisa, os Pais da Igreja, que em sua maioria eram Pré-Milenistas históricos jamais pensaram assim, e posteriormente, com os escritos de Eusébio de Cesareia e Agostinho de Hipona, os traços do que seria o Amilenismo começariam a surgir (MORAIS, 2021). Os Reformadores não abordaram exaustivamente a escatologia, contudo, através de Calvino, vemos que não havia qualquer ideia de uma vinda secreta de Jesus, sendo o pensamento futurista predominante, e que toda escatologia culminava para o fim dos tempos, ou seja, a volta de Jesus seria um evento único, visível e que a ele se seguiria o fim da presente era, de modo que até o século XIX e o surgimento do Dispensacionalismo, ninguém na história da Igreja e nem nas páginas do Novo Testamento, jamais pretendeu dividir a vinda de Cristo em duas etapas, razão essa que nos leva a reafirmar que tal ensino não encontra lugar nas Escrituras.

Mas o que a Bíblia diz acerca do arrebatamento? Vimos no Sermão Profético que Jesus associa esse evento a sua volta, e ao momento em que ele buscaria a sua Igreja que o aguarda vigilante. Escrevendo aos tessalonicenses, o apóstolo Paulo escreve o seguinte acerca deste evento futuro:

Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança. Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem. Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: nós, os vivos, os que ficarmos até à vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que dormem. Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras. (I Tessalonicenses 4:13-18).

 

Para Paulo, o consolo da perda de algum irmão em Cristo poderia ser remediado pelo conhecimento de que um dia, quando Cristo voltar, esses mortos seriam ressuscitados, e os que estiverem vivos na ocasião da Segunda Vinda, serão levados aos céus e se encontrão com aqueles que haviam partido. O apóstolo parece estar se referindo ao mesmo evento descrito por Jesus nos Evangelhos: a Segunda Vinda, que será gloriosa, “Pois dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus” (I Tessalonicenses 4: 16a); notemos então de que se trata do mesmo momento glorioso em que o Filho do Homem virá dentre as nuvens com poder e grande Glória. Não há espaço então para um arrebatamento secreto, ou ainda uma volta de Cristo em duas etapas, pois quando Jesus vier, levará sua Igreja não restando dúvidas de que isso aconteceu, e isso porque a Segunda Vinda estará atrelada a um outro evento: o fim dos tempos e o juízo final.

Essa relação segunda vinda/fim dos tempos não é muito apreciada nos círculos dispensacionalistas pois, como eles veem a volta de Jesus em duas etapas, acreditam que tal evento estaria separado do arrebatamento da igreja, contudo, essa não parece ser a visão bíblica sobre o tema. Os escritores da bíblia, parecem atrelar a Segunda Vinda ao fim desde mundo, a condenação dos ímpios e a instauração do Reino Eterno de Cristo. Acerca disso, o apóstolo Pedro diz o seguinte:

Antes de tudo saibam que, nos últimos dias, surgirão escarnecedores zombando e seguindo suas próprias paixões. Eles dirão: “O que houve com a promessa da sua vinda? Desde que os antepassados morreram, tudo continua como desde o princípio da criação”. Mas eles deliberadamente se esquecem de que há muito tempo, pela palavra de Deus, existiam céus e terra, esta formada da água e pela água. E pela água o mundo daquele tempo foi submerso e destruído. Pela mesma palavra os céus e a terra que agora existem estão reservados para o fogo, guardados para o dia do juízo e para a destruição dos ímpios. (2 Pedro 3:3-7).

Pedro dá uma resposta àqueles que zombavam da volta de Cristo, e de sua aparente demora. O apóstolo diz que esse dia virá, e será como nos tempos do Dilúvio – uma época de destruição na terra – só que desta vez, ao invés da destruição ser pela água, será pelo fogo. Assim, Pedro associa diretamente a volta do Senhor com a destruição deste mundo.

Mas necessariamente isso teria a ver com o arrebatamento mencionado por Paulo? Certamente que sim. A destruição desta terra se dará para renová-la dos efeitos da Queda adâmica, e isso não será antes da própria renovação e glorificação dos filhos de Deus após o arrebatamento. Sobre isso, o apóstolo Paulo escreveu:

Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada. A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados. Pois ela foi submetida à futilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Sabemos que toda a natureza criada geme até agora, como em dores de parto. (Romanos 8:18-22).

 

De fato há uma expectativa de uma terra renovada, de uma criação redimida após a instauração do Reino Eterno de Cristo após a sua volta; tal realidade já havia sido descrita pelo profeta Isaías quase oito século antes de Cristo, acerca da Era vindoura do Messias, Isaías diz:

O lobo viverá com o cordeiro, o leopardo se deitará com o bode, o bezerro, o leão e o novilho gordo pastarão juntos; e uma criança os guiará. A vaca se alimentará com o urso, seus filhotes se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi. A criancinha brincará perto do esconderijo da cobra, a criança colocará a mão no ninho da víbora. Ninguém fará nenhum mal, nem destruirá coisa alguma em todo o meu santo monte, pois a terra se encherá do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar. (Isaías 11:6-9).

Nesta nova realidade não só o pecado será removido, mas também os animais abandonarão seus instintos predatórios, retornando a uma condição edênica, antes da maldição do pecado recair sobre eles (cf. Gênesis 3:17). É realmente grandioso o alcance da obra de Cristo, pois não só irá redimir o homem caído, mas também toda a natureza caída, de fato, Deus não abandonará sua criação, ela a renovará e aqui reinará eternamente com seus eleitos: “Então vi novos céus e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado; e o mar já não existia.” (Apocalipse 21:1). A fala de João é clara, haverá uma redenção na criação, e uma nova terra surgirá a fim de comportar a morada de Deus, o seu tabernáculo eterno entre os salvos. Como bem coloca George Ladd: “A nova terra de Apocalipse 21 é o termo final na revelação de como acontecerá essa redenção (…) assim podemos falar da redenção da criação, mesmo que a nova ordem seja de fato uma nova terra.” (LADD, 2014:838).

Mas com isso não negamos totalmente alguns pontos apresentados pela linha dispensacionalista; cremos que haverá um arrebatamento, cremos também na figura demoníaca do anticristo e da tribulação final que se abaterá sobre os santos, aqui discordamos apenas quanto a ordem desses acontecimentos; o próprio Paulo menciona que o anticristo, o “homem da iniquidade”, encontrará seu fim no momento da manifestação da vinda de Cristo (cf. 2 Tessalonicenses 2:8). E de fato será um dia de grande juízo, sobretudo para aqueles que exigiram adoração e oprimiram o povo de Deus, os mesmos que aprecem ao longo do Apocalipse; tanto o dragão, quanto as duas bestas, a Grande Meretriz e toda sorte de espírito imundo, serão lançados no lago de fogo eterno, sendo então subjugados pela vitória de Cristo Jesus (JUNIOR, 2011:409).

Conclusão

De fato, a mensagem do Apocalipse é impactante, e como buscamos demonstrar neste artigo, deve ser analisada juntamente com outras partes da Escritura, não sendo aconselhável se valer de interpretações que rejeitam o sentido original do texto. Mas de forma geral a mensagem é mais do que clara, sendo possível resumi-la num dos mais sublimes trechos de todo o livro:

“Eis que venho em breve! A minha recompensa está comigo, e eu retribuirei a cada um de acordo com o que fez. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim. Felizes os que lavam as suas vestes, para que tenham direito à árvore da vida e possam entrar na cidade pelas portas. (…) Aquele que dá testemunho destas coisas diz: “Sim, venho em breve! ” Amém. Vem, Senhor Jesus! A graça do Senhor Jesus seja com todos. Amém. (Apocalipse 22:12-14/20,21).

 

Bibliografia

A Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Editora Vida, 2007.

CARSON, D.A. O Comentário de Mateus. São Paulo: Shedd Publicações, 2010.

FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia Sistemática uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2012.

JÚNIOR, Walter Kaiser. O Plano da Promessa de Deus. Teologia bíblica do Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2011.

LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2014.

Sites e referências on-line

MORAIS, Felipe. Como e quando surgiu o Dispensacionalismo e o Pré-Tribulacionismo?, Disponível em https://www.cursobiblicoonline.com.br/a-origem-do-dispensacionalismo-e-do-pre-tribulacionismo, acessado em 27/06/22.

SANTOS, João Alves dos. O Dispensacionalismo e suas implicações doutrinárias, Disponível em https://www.seminariojmc.br/index.php/2018/01/15/o-dispensacionalismo-e-suas-implicacoes-doutrinarias, acessado em 27/06/22.