O propósito do nosso deserto

Deserto.
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O propósito do nosso deserto parte 1/3

Meus queridos irmãos, a nossa vida é um grande deserto. O deserto é caracterizado ora pela insegurança e escassez; ora pela solidão, pelas provações, pelas tentações e, muitas vezes, pelas perseguições. No entanto, meus irmãos, o nosso deserto também é o contexto em que conhecemos mais sobre o cuidado de Deus, porque ele nos supre material, emocional, psicológica e, sobretudo, espiritualmente. Ainda assim, meus queridos irmãos, estamos peregrinando nesse grande e terrível deserto da vida.

Assim como nós, meus irmãos, os israelitas também estavam peregrinando em um “grande e terrível deserto” (Dt 8.15). Um deserto marcado pela escassez de água e pão, um lugar de medo, ansiedade e de muitas provações. No entanto, por qual motivo eles estavam no deserto?

Os israelitas estavam no deserto porque haviam sido libertados por Deus da escravidão a que estavam submetidos no Egito (Êx 1). Deus trouxe os julgamentos sobre a nação egípcia, a fim de libertar o seu povo, para levá-los à terra da promessa que foi feita a Abraão. Depois de atravessarem o Mar Vermelho, eles foram inseridos no deserto.

Além disso, qual era o propósito de Deus em levá-los para o deserto? E mais: qual é o propósito do nosso deserto?

Para nos ensinar a obedecer a Palavra de Deus (v.1)

Meus irmãos, nós fomos chamados para obedecer à vontade revelada de Deus enquanto estivermos nesse deserto, assim como os israelitas o foram (v.1).

A primeira razão pela qual os israelitas deveriam obedecer à Palavra é por causa da aliança de Deus (v.1). O que é a aliança, meus irmãos? A aliança é o relacionamento que Deus iniciou soberanamente com o seu povo.[1] O casamento é uma excelente ilustração para compreender o significado da aliança, meus irmãos.

Em um relacionamento existem duas partes: o homem e a mulher. Ambos expressam o desejo em se casar, ou entrar em aliança. O que eles fazem para selar esse compromisso? Eles marcam no cartório a data do matrimônio para assinarem um contrato legal com juramento de fidelidade.[2] A aliança, o acessório que é colocado no dedo anelar de ambos, sinaliza que eles estão em um compromisso de fidelidade e quebrá-lo gera graves consequências.

O que nós devemos considerar nessa ilustração, porém, meus irmãos, é que quando Deus entrou em relacionamento com o seu povo, foi ele quem teve a iniciativa de estabelecê-lo. E isso significa que, uma vez que o seu povo está em aliança com Deus, ele lhe deve fidelidade. E a fidelidade se expressa através do cumprimento das condições da aliança: a obediência à sua Palavra.

Quando Deus iniciou essa aliança com o seu povo? Ele iniciou a sua aliança em Gênesis 12, quando chamou Abraão. Em Gênesis 15, através do ritual do pacto, Deus confirma ao seu servo a sua aliança. Em Gênesis 17, Deus dá a circuncisão como sinal da sua aliança.

Depois que o povo saiu do Egito, em Êxodo 19 e 20, Deus renovou a sua aliança com o seu povo no Monte Sinai, onde ele proferiu os Dez Mandamentos. No capítulo 24 de Êxodo, Moisés leu as palavras do Senhor para os israelitas e eles responderam: “Tudo o que falou o Senhor faremos e obedeceremos” (v.7). Em seguida, aspergiu sangue sobre o povo para selar a aliança que Deus fez com ele. A implicação do sangue aspergido sobre o povo aponta para um compromisso absoluto que ele deveria ter com Deus sob pena de morte.[3]

A segunda razão pela qual os israelitas deveriam obedecer à Palavra é por causa da promessa de Deus (v.1). Deus prometeu uma terra a Abraão e à sua descendência (v.1; cf. Gn 12.1-3). Meus irmãos, nós precisamos entender que a promessa da terra de Canaã vai além de uma herança meramente geográfica. Ela consiste, pelo contrário, na promessa de um “lugar de descanso” que Deus estava preparando para o seu povo (Nm 10.33). Observe que há um contraste entre o “cansaço do deserto” (vv.2,4) e um “lugar de descanso” que Deus preparou para o seu povo (vv.1,7-10). E, para alcançar essa promessa, os israelitas deveriam obedecer aos mandamentos de Deus.

Meus irmãos, à semelhança de Adão que fracassou no Éden em sua obediência à Palavra de Deus; à semelhança de Israel que fracassou no deserto em sua obediência à Palavra de Deus; nós, nesse grande deserto em que vivemos, fracassamos em nossa obediência à Palavra de Deus. Quebramos a aliança! Somos infiéis!

Contudo, meus irmãos, “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” nesse grande e terrível deserto (Jo 1.14). Na “plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei” (Gl 4.4). No Evangelho de Mateus, Jesus diz que “toda justiça” deveria ser cumprida (3.15). Paulo diz em Romanos 8.3,4 que “o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado, a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós […]”, porque Cristo “foi obediente até a morte e morte de cruz” (Fp 2.8). Por causa disso, meus irmãos, nós somos livres da condenação da lei para obedecermos a Deus sem temor e com gratidão em nosso coração.

O que Deus exige de nós nesse grande e terrível deserto em que estamos, meus irmãos? O que é mais importante para ele: nossa fidelidade ou o nosso ministério? As duas coisas! No entanto, a nossa fidelidade a ele precede qualquer função que venhamos a desempenhar.


[1] Van Groningen

[2] Referência extraída do livro Aliança do Dr. O. Palmer Robertson.

[3] O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos, ed. Claudio Antônio Batista Marra, trans. Americo Justiniano Ribeiro, 2a edição. (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2011), 16. Edição Logos Bible.