Avivamento espiritual na história

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Avivamento Espiritual na História (Ez 47.1-9)

Por esses dias o mundo acompanhou notícias de um culto que durou mais de 300 horas interruptos na Asbury University, em Wilmore, Kentucky, Estados Unidos. Um culto matinal da universidade se transformou em um encontro com pessoas de todas as idades orando, adorando e jejuando.

O culto que começou com alunos e funcionários, e atraiu pessoas de diversas partes dos Estados Unidos e do mundo. Não era uma programação ou evento, mas, um mover genuíno que têm feito as pessoas continuarem ali adorando a Deus ininterruptamente. Muitos ainda não chamam esse movimento de avivamento, mas é impossível questionar o agir de Deus naquele lugar.

Durante os anos avivamentos marcaram vidas, comunidades e países no decorrer dos anos.

Ezequiel 47 está em um contexto específico, mas o que o profeta relata podem ser aplicadas no que Deus quer fazer com seu povo. Deus mandou muitas vezes um avivamento em sua igreja ao logo da história.

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO (ZAIRE)

Depois que a maioria das pessoas tinha saído do salão, após o término de um culto no domingo de manhã, um jovem professor da escola voltou e sentou-se no banco da frente. Seu semblante era um pouco atemorizado e começou a estremecer.

Uma menina paralítica estava sentada no primeiro banco do lado das mulheres. Não foi lhe dada atenção, pois ela sempre ficava sentada ali até que quase todos tivessem se dispersado. Mas logo que o professor Yoane começou a falar, a menina Biboko se derramou em pranto. Seu choro passou a um grito, e depois a um uivo ruidoso. Não sei que outro nome dar ao que ela fazia. Oh, a agonia daquele uivo! ela cobria seu rosto com suas mãos, mas as lágrimas jorravam através de seus dedos. Quando finalmente ela conseguiu articular algumas palavras, ela clamou: “Que posso fazer? Que farei?” repetindo isto mais de cem vezes. Nesse ínterim toda a congregação havia voltado. Biboko estava derramando seu coração em lágrimas e Yoane estava confessando seus pecados.

Ele disse depois que tinha saído do prédio com seus amigos. Depois de dar uns cinco passos, suas pernas endureceram e ele não podia mais andar. Ele ouviu uma voz no seu coração advertindo-lhe que se ele deixasse a igreja sem consertar a sua vida com Deus, ele seria uma alma perdida. Ele ficou ali mesmo, travando uma batalha consigo mesmo. Depois ele confessou muitas desobediências e no fim da sua confissão ficou transbordante de alegria pelo seu perdão. Ele foi o primeiro caso de “embriaguez” no Espírito que presenciamos. Ele cambaleava, cantava e ria. Mais tarde ele compôs muitos hinos.

Naquele dia à noite, depois de terminada a reunião de oração dos missionários, fui chamado para ir ao alojamento dos operários, pois Deus estava operando ali. Que espetáculo! A pequena construção estava abarrotada de homens (as mulheres estavam do lado de fora) que estavam sentados, em pé, ou nos braços de alguém, chorando, confessando e agonizando. Um dos homens, que se achava nos braços de um outro, sem forças para se mover, clamava incessantemente: “Meu coração é perverso, meu coração é perverso. Oh, o que farei?

Quem pode dar-me um coração limpo? Não posso comparecer diante de Deus com este coração malvado!”

Depois dele proceder desta forma por algum tempo, aproximei-me dele e disse-lhe: “Você nunca encontrará alívio por dizer que seu coração é perverso. Nomeie os seus pecados e saiba que o Senhor perdoará cada pecado que você confessar.” Ele abriu seu coração e confessou falsidade, adultério, bebedice etc. Qual não foi a sua intensa sinceridade e remorso nesta confissão! Não posso transmitir isto por meio de palavras. Mas assim que ele terminou, encheu-se de alegria e louvor, e então se dispôs a ajudar seus amigos que ainda estavam angustiados.

Um missionário descreveu o que Deus estava fazendo naqueles dias da seguinte maneira: primeiro, prostrar-se pela horrível convicção de pecado; segundo, louvor a Deus pelo sangue de Jesus; terceiro, oração, agonizando-se em favor das almas; quarto, pregação, saindo para testemunhar e levar outros a um conhecimento salvador de Jesus; e finalmente, purificação, quando um ou outro se levantava e mostrava por revelação do Espírito, alguém que ainda não estava certo com Deus, e implorava-lhe que consertasse sua vida antes que fosse tarde demais.

ÍNDIA

Em janeiro de 1905, Pandita Ramabai falou com as jovens de Mukti a respeito da necessidade de um avivamento e pediu voluntárias para se reunirem com ela diariamente para orar nesse sentido. Setenta pessoas responderam e periodicamente outras mais se ajuntaram, até formar um grupo de 550 pessoas que se reuniam duas vezes por dia no início do avivamento.

No dia 29 de junho, às 3h00 da madrugada, o Espírito foi derramado sobre uma das voluntárias. A jovem que dormia ao seu lado acordou-se quando isto aconteceu e vendo o fogo que envolvia completamente o seu corpo, correu para o outro lado do dormitório, buscou um balde cheio de água, e estava quase arremetendo o conteúdo sobre sua companheira quando percebeu que ela realmente não estava incendiada pôr fogo natural.
Dentro de uma hora, quase todas as jovens estavam reunidas, chorando, orando e confessando seus pecados a Deus.

Após um forte arrependimento, confissão de pecados e certeza de salvação, muitas voltavam depois de um ou dois dias dizendo: “Somos salvas, e nossos pecados foram perdoados”.

Finalmente uma segurança e um gozo completo tomavam o lugar do arrependimento. Algumas que estiveram estremecendo violentamente sob o poder da convicção de pecados, agora cantavam, louvavam e dançavam de alegria, às vezes saltando por horas a fio sem sentir cansaço.

ALEMANHA

Por volta de 1722, o Conde Zinzendorf liderou os morávios num fervor missionário que se espalhou pelo continente europeu e chegou a América; com sua ênfase na “religião do coração”, houve um grande despertar na busca do poder de Deus, principalmente, voltado para as missões mundiais.

Conde Zinzendorf criou uma campanha de oração que durou 100 anos interruptos. Existem relatos de missionários morávios que se vendiam como escravos para evangelizar os escravos nas fazendas.

INGLATERRA

Por volta de 1740, John e Charles Wesley e George Whitefield atuaram com grande fervor missionário, buscaram o poder de Deus, a unção do Espírito e pregaram contra o formalismo sem poder das igrejas daquele tempo. Um grande avivamento desceu sobre a nação inglesa.

PAÍS DE GALES

Evan Roberts, um adolescente de 13 anos, reuniu seus colegas e lhes falou da visão que recebeu de Deus, num domingo, dizendo que enviaria um avivamento, mas todos precisavam abandonar a prática do pecado. Aos 26 anos foi para o seminário, mas sentiam o chamado de Deus para que voltasse a sua cidade e pregasse e clamasse por um avivamento. Foi tão grande o impacto daquela visão de Deus que, por volta de 1904 e 1905, o avivamento começou a espalhar-se pela cidade, pelo país e alcançou muitos países do mundo.

ESTADOS UNIDOS

Deus também queria avivar os Estados Unidos da América. Por isso, houve vários avivamentos na grande nação americana. Charles Grandison Finney foi usado por Deus para um grande despertar espiritual. Teve grande influência de G. Campbell Morgan, do Movimento de Vida Profunda, que pregava um viver pleno da presença de Deus contra uma vida morna que dominava muitas igrejas evangélicas daquele tempo

No ano de 1900, Charles Fox Parham, obreiro leigo e pregador itinerante, resolveu fundar um trabalho com o propósito de preparar obreiros leigos para evangelizar, fundou o Instituto Bíblico Bethel College, na cidade de Topeka, no Kansas, EUA. Os alunos estudaram Atos 2, e a partir desse estudo, a promessa de Atos alcançou a vida daqueles estudantes.

Em 1901, em Houston, Texas, o pastor negro, filho de escravos da Louisiana, William Joseph Seymour, pertencente a um grupo ‘santidade’ (holiness), foi atraído pelo trabalho iniciado por Parham. Em 1906, Seymour se transferiu para a Califórnia. Ali, começou a pregar, na sua própria casa, na Bonnie Brae Street, 216.

As reuniões atraíram muitas pessoas e através disso muitas pessoas foram alcançadas e impactadas com o evangelho e o avivamento.

BRASIL

No Brasil, o primeiro culto protestante foi realizado no dia 10/03/1557, no Rio de Janeiro. No dia 21/03/1557 aconteceu a primeira celebração da Ceia do Senhor, conforme o historiador Dr. Alderi Souza de Matos. Mas como tudo aconteceu?

A história conta que Nicolas Durand de Villegaignon requereu protestantes para contribuírem no estabelecimento da França Antártica, no Brasil. Para isso João Calvino mobilizou 12 cristãos de Genebra para fazerem parte da comitiva. No início, Villegaignon mostrou-se simpático aos recém-chegados. No primeiro culto protestante foi lido e explanado o Salmo 27.4. Por ocasião da celebração da primeira Santa Ceia em terras brasileiras, Villegaignon chegou a confessar publicamente sua fé, porém, logo mudou de opinião, acusando-os de heresia.

O resultado disto foi que os calvinistas foram expulsos com exceção de cinco deles. Os que ficaram presos cantavam hinos de louvor dia e noite, mesmo sabendo que seriam mortos. Villegaignon, a fim de condená-los, formulou um questionário teológico e intimou para que respondessem no prazo de apenas 12 horas.

Este ficou conhecido como “Confissão de Fé da Guanabara”, a primeira confissão de fé no Brasil. Enquanto escreviam encorajavam uns aos outros a permanecerem inabaláveis para não negarem a fé em Cristo. A história afirma que alguns assinaram com seu próprio sangue a sua sentença de morte. No dia seguinte, três deles foram executados. Um foi poupado por ser o único alfaiate da colônia e o quinto, Jacques le Balleur conseguiu fugir, mas logo depois preso e morto por enforcamento. (Pr Eliézer)

O protestantismo entrou no país como um movimento religioso apoiado por questões econômicas e políticas e se desenvolveu durante o período republicano. De início não foi uma questão pacífica, pois tentar penetrar em um país onde o pensamento religioso da sociedade estava fundamentada na tradição religiosa estabelecida pela Igreja Católica desde o descobrimento, não era uma coisa simples. Desta forma, “Durante o período colonial não foi possível devido ao monopólio do catolicismo” (RAMALHO, 1976, p.52). Contudo, houve algumas tentativas que não alcançaram êxito. A primeira delas foi em 1555, quando chegou ao Brasil a expedição de Villegaignon, o qual pretendia fundar a França Antártica e construir um refúgio onde os huguenotes pudessem praticar livremente o culto reformado, (MENDONÇA, 1984, p. 18).

Uma segunda tentativa foi realizada “no período holandês”, na Bahia (1624-30), quando reformadores se estabeleceram no nordeste com toda sua organização eclesiástica à moda genebrina. Durante 15 anos Pernambuco e algumas áreas do nordeste foram protestantes. (MENDONÇA, 1984, p.18,19). Mas também não houve espaço na sociedade para continuar divulgando o protestantismo em outras regiões. Ainda não foi desta vez que o protestantismo iria ser implantado no Brasil.

A situação ficou mais restrita com uma lei estabelecida em 1720, proibindo qualquer pessoa de entrar no Brasil, se não estivesse a serviço da Coroa ou da Igreja. As tentativas de se implantar uma nova religião no Brasil, seja por expedições ou por presença, não deram certo e nem deixaram traços, pois da mesma forma que grupos protestantes tentaram entrar no país, saíram sem deixar influências.

Aproveitando o momento histórico da política de boas relações sociais e econômicas, os protestantes chegam ao Brasil junto com a imigração. Eram, na maioria, de origem norte-americana e europeia. Isso aconteceu em meados do século XIX. Apesar de o monopólio católico ainda existir, encontraram brechas na sociedade para penetrar e se desenvolver. “Até 1824, ingleses, alemães, suecos e americanos foram chegando e vivendo sua fé conforme a situação lhes permitia” (MENDONÇA, 1984, p.20).

De acordo com RIBEIRO, em 1824 desembarcaram os futuros componentes da primeira colônia de protestantes e, neste mesmo ano, realizaram o primeiro culto evangélico em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro (1973, p.12). Esta colônia era formada por 334 imigrantes, os quais tinham como líder espiritual o Pastor Fridrich Oswaldo Sowrbronn. Depois desta, outras se fixaram nas regiões de São Paulo (1827 – 1829), Santa Catarina (1828 – 1850) e Paraná (1829). (REILY, 1993, p. 50,51).

Através da Constituição de 1824 os protestantes, de forma inibida, conseguiram conquistar espaço na sociedade.

Hoje podemos cultuar livremente, mas os fatos histórico, nos faz refletir sobre o nosso compromisso com Deus e com a fé que professamos. Será que estaríamos no grupo de adoradores que em meio a muitos desafios e até mesmo martírio seguiram com fé nas suas convicções doutrinárias e bíblica?

Isso é avivamento, um reconhecimentos de seus pecados e necessidade de um arrependimento genuíno. Isso é avivamento, um despertar para a palavra de Deus, para oração, cultuar e conhecer mais Deus. Isso é avivamento, ativos, dedicados em levar a palavra de Deus mesmo com todos os desafios.

No capítulo 47 Ezequiel relata sua visão das águas que saiam da casa e o profeta começou andar para dentro dessa água, primeiro no seu calcanhar, depois andou mais até seus joelhos, foi mais para dentro das águas até seus ombros, até não deu para andar mais e ele teve que nadar. Precisamos também buscar, aprofundar, mergulhar no Espírito Santo, para temos intimidade e sermos cheios, avivados.

Avivamento não é movimento, mas gera movimento, uma igreja ativa. Avivamento traz vida onde não há, traz fervor onde há frieza espiritual. Avivamento é necessidade da igreja de Cristo, é indispensável para o crescimento, desenvolvimento e cumprimento de sua missão no mundo.