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Fiquei muito alegre no Senhor porque, agora, uma vez mais, renasceu o cuidado que vocês têm por mim. Na verdade, vocês já tinham esse cuidado antes, só que lhes faltava oportunidade. Digo isto, não porque esteja necessitado, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Sei o que é passar necessidade e sei também o que é ter em abundância; aprendi o segredo de toda e qualquer circunstância, tanto de estar alimentado como de ter fome, tanto de ter em abundância como de passar necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece. (Filipenses 4:10-13).
Nesse texto conhecemos um pouco da vida do apóstolo Paulo. Ele se encontrava preso nesse momento, e como bem sabemos, por pregar o Evangelho. O apóstolo Paulo foi de fato uma das pessoas que mais trabalhou – e que mais sofreu – pelo Reino de Deus depois do Senhor Jesus.
E nesse texto em questão o apóstolo revela alguns detalhes de sua vida e ministério, algo que muitos hoje considerariam como sendo a “parte ruim’, mas para Paulo seria justamente o oposto, pois suas cadeias, difamações e privações eram aquilo que lhe traziam verdadeiro motivo de alegria (Gl 6 11-18/ 2 Co 11: 24-28/ Fp 3:8/ 2 Co 10:17). De fato, a vida de Paulo parece ser o extremo oposto da vida que muitos ditos cristãos hoje dizem ser a ideal. Há um sentimento moderno de autossuficiência e desejo de bem-estar e conforto em todo o tempo. Contudo, para o apóstolo, a vida não seguia esse ritmo tão tranquilo; Paulo sofria e passava por privações, mas apesar de tudo persistia firme em Cristo.
O apóstolo então se coloca como grato e dependente da ajuda dos irmãos, tendo inclusive instigado a igreja quanto ao auxílio financeiro aos irmãos necessitados (I Co 9: 4-10), mas ainda assim, mesmo sendo grato por toda a ajuda recebida, Paulo diz que ainda que não houvesse ajuda da igreja, ele havia aprendido a “viver contente em toda e qualquer situação” (v. 11). Curiosamente, a palavra usada por Paulo nesse verso, e foi traduzida por “contente”, é a palavra autarkés, a qual era muito utilizada pelos filósofos estoicos, e simplesmente significava “autossuficiência”. Então Paulo está dizendo que aprendeu a viver autossuficiente como os pagãos, e que por isso não necessitava da ajuda dos irmãos sempre? Não, certamente não é a isso que o apóstolo se refere. O estoico buscava esta autossuficiência por várias privações, de modo que sua autarkés viria de seu próprio esforço, mas Paulo, por outro lado, atribui sua força para passar por toda e qualquer situação – seja boa ou ruim – a Deus. Como o próprio Paulo já havia escrito: “… a nossa suficiência vem de Deus” (II Co 3:5).
O v. 13 – que se diga de passagem é uma das frases mais conhecidas de Paulo – nos diz o porquê Paulo conseguia suportar tantas coisas, até mesmo a iminência de sua execução. Paulo escreveu que podia passar por todas as coisas naquele que o fortalecia; desde já é valido dizer que esse texto não defende a “onipotência” do crente em fazer o que lhe der na telha por que Deus estaria com ele. O sentido aqui é de que podemos passar pelas piores circunstâncias, pois Deus coloca em nós a capacitação para tal. A palavra endunamoó, que for traduzida por “fortalece”, é a junção da preposição grega en (dentro) e dynamis (poder), ou seja, Paulo diz que pode todas as coisas naquele que o empodera, ou que coloca poder dentro dele. Do começo ao fim, a vida cristã é um empoderamento de Deus, se não for a ação dele em nossa vida, não há força humana que consiga resistir até o fim da caminhada.
Hoje muito se fala de empoderamento, contudo, quem aplica poder nessas pessoas? Empoderamento hoje é nada mais do que a herança estoica da autossuficiência e de conquistar tudo por méritos próprios. Mas o cristão é um empoderado em outro sentido. Nós somos dependentes do poder de Deus em nossas vidas, de modo que sequer pregamos o Evangelho sem que antes venha sobre nós o poder do alto (Lc 24:49). Assim, que como Paulo possamos entender que o nosso contentamento não deve ser em relação ao que conquistamos por nós mesmos, mas sim pelo que Cristo fez, e que pelo poder Dele, podemos suportar as maiores tribulações, pois é Ele quem nos torna emponderados.
